quinta-feira, março 29, 2007
Férias em Natal. Episódio 4. O Contraponto
Foto: Rodolpho Machado
Naquela mesma noite, as três amigas jantaram em um restaurante vegetariano, recomendado pelo consiérge do hotel. Rita estava avoada, sorrindo de vez em quando e continuava mexendo no dedo anelar vazio.
-“Ainda não voltastes da praia, não é, Rita?”, perguntou Lúcia com certa ironia.
-“Como? Claro, claro que voltei. Não estou aqui?”
-“Sim, teu corpo sim, mas tua cabeça ficou...” riu Sónia, achando graça em ver a amiga ruborizar.
Lúcia, que não perdia uma chance de animar a viagem, atirou:
-“Ah, mas pelo visto o corpo só veio por que foi obrigado, aposto que é ele o que menos queria estar aqui!”.
Rita sorriu e voltou a comer. Estavam cansadas do vôo, queria dormir cedo para aproveitar a praia no dia seguinte.
Mas não deixou de dar razão às amigas. Tivera uma tarde espetacular, o estranho que se aproximara não saiu do seu lado, e conversaram até perceberem que não havia mais sol. Diego era seu nome, e ainda não conseguia acreditar que ele ia viver em Portugal. Quanta coincidência! Ao se despedirem, Diego prometeu que as levaria no dia seguinte a um bar na Lapa, para conhecerem o famoso samba carioca. Rita não queria confessar, mas estava ansiosa em revê-lo.
Voltaram cedo para o hotel e foram descansar. Na manhã seguinte iriam a pé até Copacabana e lá curtiriam a praia.
Assim fizeram. O dia se alongou mais que o comum para Rita. Enquanto as amigas relaxavam bebendo água de côco, Rita olhava a posição do sol para tentar adivinhar a hora. Sentia-se adolescente.
Chegaram ao hotel e receberam um bilhete do recepcionista:
“21 hs no hall. Beijos. Diego”
Rita sentiu o estômago virar. “Que vestido uso? Ou vou de calça? Não, calça neste calor nem pensar. Tenho uma saia vermelha linda! Não, não vou de vermelho, ele vai pensar que quero alguma coisa! E eu não quero! Quero? Não, lógico que não! Ou quero?”
Às nove horas desceram, e logo viram Diego acompanhado de um amigo na recepção. Assim que a avistou, o carioca sorriu.
-“Você está linda, Rita. As três estão lindas!”
-“Rita levou horas para escolher este vestido!”, disse-lhe ao pé do ouvido Lúcia.
-“Você está uma gata de verde! Combina com você!”
Verde e rosa, já que ela logo corou...
Partiram rumo ao bar, e Alexandre, amigo de Diego, ofereceu o banco da frente à Rita.
-“Os intelectuais na frente!”
Lúcia logo gostou de Alexandre, foram até a Lapa dando risada e conversando. Alegre e divertido, Alexandre mal parava para respirar, de tanto que falava.
-“Ah, então Sónia acabou de se separar? Pô, aí... Olha só Diego, o Fred não é perfeito pra ela, não? Ah, Sónia, muito tempo com o mesmo aparelho não rola! Pó deixá com o Xandão aqui, desta viagem você não escapa! Cumpadi, passa o celular do Fred aí, vou ligar pra ele encontrar com a gente lá!”
-“Adorei teu amigo, Diego! Rita, ele é a minha versão maculina e brasileira!” comemorou Lúcia.
Tiveram uma noite maravilhosa, Fred logo chegou e se uniu ao grupo. Tímido como Sónia, Fred era piloto da marinha brasileira. Moreno de lábios carnudos, ele chamava atenção pela altura, e Sónia reparou que as mulheres no bar o seguiam com os olhos.
Rita e Diego engataram uma conversa sobre filosofia que afastou o resto do grupo. Os rapazes resolveram ensinar as portuguesas a sambar e deixaram o par na mesa.
De repente, Rita se assustou. Viu Alexandre curvado sobre Lúcia e suas mãos enroladas na cintura da amiga. Mais chocada ainda, ficou quando percebeu que Lúcia se entregava sem o menor sinal de culpa aos beijos do brasileiro. Sentiu-se sem ar. Sabia que Lúcia brincava e era despachada, mas não acreditava que ela pudesse realizar nada do que pregava. Ela era casada. Fonseca era amigo de seu marido.....
Seu marido.....
Seu marido......
Naquele momento percebeu que há dois dias não pensava em Luis. Estava tão envolvida naquele flerte infantil que se esquecera totalmente de sua vida em Portugal. De sua vida toda não, apenas de uma parte dela. Uma parte importante. Uma grande parte. Um marido.
Sentiu-se tonta e resolveram ir embora. Diego percebeu que havia algo errado, avisou os amigos, e Fred se ofereceu para levar as meninas ao hotel. Rita sentiu-se gelada, não queria ir sozinha com Diego. Olhou suplicante para as amigas, mas Lúcia apenas acenou e voltou ao samba, nos braços e nos lábios de Alexandre. Sónia parecia começar a se divertir com Fred, e nenhuma pareceu entender o pedido da amiga. Ou entenderam muito bem....
Durante a volta, Rita não parava de pensar em Luis. Parecia que todo o esquecimento voltava com o dobro de peso e culpa, e mal ouvia o que Diego falava.
Chegaram à porta do hotel e Rita se despediu rapidamente. Ele saiu do carro e gritou:
-“Amanhã vamos juntos à Barra da Tijuca, sim? Passamos aqui lá pelas 10. Você vai, né, Rita?”
-“Sim, acho que sim, às 10. Sim, às 10. Boa noite, até amanhã!”
Ipanema Plaza, 3:30 da manhã
-“Rita!!! Acorde!!!! Como foi? Vai, acorde, quero saber! Sónia beijou Fred e foi para a casa dele.”
-“Como? Como assim? Pra casa dele?” respondeu ainda sonolenta. Sentou-se na cama e se irritou com a agitação de Lúcia.
-“Claro! Vai tirar o atraso de anos de Reis! Finalmente! Mas e tu? Como foi com Diego? Que é isso em seu dedo? Tu pegastes a aliança de novo?”
-“Lúcia, não sei como consegues. Não pensas no Fonseca? Para mim, chega, amanhã conto que sou casada e páro de fingir que tenho 18 anos. O Luís. O Luís. Ele morre se souber!”
Rita havia se levantado e andava pelo quarto. Parecia histérica.
-“Rita, calma. Vou fazer uma única pergunta. Tu tens vontade de sair com o Diego, não?”
-“NÃO! Eu sou CASADA!”
-“Não perguntei isso. Perguntei se tens vontade!”
-“Ah, não sei, Lúcia! Acho que sim, não sei!”
-“Sim ou não?”
-“Sim!!!!! SIM, SIM! Lógico. Ele é lindo, muito mais culto que o Luis, e aquele sotaque..... Ai, meu Deus, aquele sotaque!!!”
Lúcia suspirou, sentou-se na cama e disse:
-“Então, amiga. Senta-te. Preciso contar-te algumas coisinhas. Vamos ver como ficas depois de escutar o que tenho a dizer...”
Continua semana que vem.....
terça-feira, março 27, 2007
Jeca´s Rehab
Voltei de São Paulo, na semana passada, com uma triste tarefa:
Guardar minha "fila" de livros...
Sendo "livros" minha única droga, meu grande vício, a "fila" deles é como se fosse meu pequeno estoque para uso pessoal. Enquanto leio um, três ou quatro estão na fila. Se a fila diminui muito chegando a um, por exemplo, tenho crise de ansiedade. Nunca cheguei a zero. Nunca cheguei a falar:
"Preciso ir à livraria, estou sem nada para ler."
Meu criado mudo é uma pilha de livros esperando para serem consumidos.
E agora tive que guardá-los.
Ou melhor, tive que trocá-los...
Eles se foram para o armário, com a promessa de voltarem para consumo em 2008....
Lá se foi o O Caminho de Swann, traduzido pelo Mário Quintana....
Lá se foi O Pai Goriot, do Balzac...
Para estante, Fausto, do Goethe, que eu muito pretensiosamente tentava ler um pouquinho por noite.
Até 2008, coletânea de contos do Primo Levi... Sentirei saudades de suas páginas rosadas me dando bom dia ao acordar...
E que venham os livros teóricos do Mestrado...
Bem-vindo Marxismo e Filosofia da Linguagem, do Bakhtin...
Bem-vindo, Discurso, Texto e Significação...
Acomode-se, A Idéia de Cultura!
Sinta-se em casa, A Violência e o Sagrado...
Só não garanto que não dê uma escapadinha de vez em quando, afinal, vício é vício e ninguém é de ferro...
segunda-feira, março 26, 2007
Pequena Diversão
Hoje deixo um link para o blog da Rubina, que com muito carinho dedicou um post a mim.
O post é um video dos comediantes "Gatos Fedorentos" em que fazem um sketch com a Maitê Proença, sobre as novelas brasileiras em Portugal.
Vale conferir.
Para Tati :)
Inté!!
O post é um video dos comediantes "Gatos Fedorentos" em que fazem um sketch com a Maitê Proença, sobre as novelas brasileiras em Portugal.
Vale conferir.
Para Tati :)
Inté!!
quinta-feira, março 22, 2007
Férias em Natal. Episódio 3. O Contraponto
Mal entraram no quarto do Ipanema Plaza, as três correram para praia.
-“Preciso de sol com urgência, o inverno português me deixa mais branca que o próprio branco.”, disse Lúcia, enquanto vestia o biquíni.
-“Esses biquínis que você nos fez comprar, Lúcia, são pequenos demais, não sei se vou me sentir confortável. E desde antes do divórcio não visto um, me acho estranha, quase nua.”
-“Sónia, os nossos biquínis jamais combinariam com praia carioca! Estamos as três muito bem fisicamente, não temos nada a esconder.”, respondeu Rita, animando a amiga.
-“ELA não tem nada a esconder, Rita! Nós duas podemos começar pela aliança! Aqui, guardei a minha na nécessaire, guarde a sua junto!”
-“Hã?? Lúcia, imagine que eu vou ficar sem aliança, que besteira.”
Lúcia não deu ouvidos à amiga e, seriamente, abriu a nécessaire em frente a ela.
-“Aqui.”
Rita hesitou, deu um longo suspiro, e obedeceu. Mais por medo da amiga que por qualquer outra coisa.
Caminharam 100 metros até as areias mais badaladas do Brasil, finalmente estavam em Ipanema. Pararam embasbacadas. Não mais com a beleza da praia, mas com os corpos esculturais dos brasileiros ali. Sungas quadradas escondiam o pouco que restava para ser escondido. Homens cheirosos, com cabelos arrepiados e braços sarados desfilavam pelo calçadão.
Ainda paradas, a observar o movimento, ouviram de Lúcia:
“-Ué, que coisa mais bizarra. Como são vaidosos esses brasileiros. Olhem só, eles se depilam!! Olha as pernas daquele loiro ali!!”
“-É, estranho mesmo. Mas mais estranho é que aqui só há homens. Pelo que eu entendo onde há homens é por que há caça no meio, e aqui não há.... A não ser que...”
Sónia parou de falar e olhou para cima. Viu dançando no ar uma linda e enorme bandeira colorida, em forma de arco íris. Perguntou à Lúcia:
-“Você que viajou bem mais que eu, Lúcia, qual era mesmo o símbolo que você viu em São Francisco?”
-“Ah, o símbolo da comunidade homossexual, a bandei....” e também calou-se. Olhou para cima, processou a imagem da praia e sentiu a ficha cair. “É isso!! Não é à toa que Ana Maria disse que nunca havia visto tantos homens lindos no mesmo lugar!!! Eu não acredito, estamos no meio do point gay do Rio de Janeiro!!”
Rita não se agüentou e caiu na risada. Haviam tirado as alianças e estavam todas felizes em achar uma diversão para Sónia, e deram com os burros n´água. Era, no mínimo, engraçado. Era como se mergulhassem em uma piscina de chocolate e sentissem a boca costurada.
-“Pelo menos teremos colírio. Não é o fim do mundo”, disse Rita já caminhando para a areia.
-“Não, não, não!!! Claro que não é o fim do mundo, mas pelo simples fato de que a praia é enorme. Venham vamos andar um pouco mais e sentir o clima. Paramos onde acharmos que vale a pena.”
Não caminharam muito e resolveram se sentar. Ali o público estava mais animador para as três turistas.
Depois de um longo mergulho, voltaram e se sentaram nas toalhas. Observaram, no entanto, que ninguém mais usava toalhas na praia, mas panos coloridos.
-“Iremos providenciar esses panos hoje mesmo! Quero me sentir A carioca!”, planejou Lúcia.
Engataram em uma longa conversa, ainda meio inebriadas pelo cheiro de cidade nova. Rita não conseguia tirar os olhos da ponta direita da praia.
-“É o Morro dos Dois Irmãos, vi no guia.”
De repente, em meio à conversa, Rita percebeu alguém se aproximar. Não sabia se era o efeito da viagem, mas sentiu algo estranho, muito estranho. Mais tarde, no hotel, disse às amigas:
-“Foi como se o tempo parasse, sabe, deixei de ouvir o que vocês estavam a falar... Acho que é o fuso horário...”
Um rapaz alto se agachou perto delas e disse:
-“Desculpem a intromissão, mas percebi que são portuguesas. Vocês estão visitando o Rio, ou moram aqui?”
Lúcia logo se empinou, e respondeu com muita graça:
-“Acabamos de chegar, viemos do aeroporto para a praia, ainda nem conhecemos os pontos turísticos.”
Ele sorriu e se dirigiu à Rita:
-“Só vim falar com vocês por que preciso me acostumar com o português lusitano, vou passar uma longa temporada em Lisboa a partir de fevereiro.”
-“Que coincidência, que vais fazer na nossa terra?”, perguntou timidamente Sónia.
-“Sou professor de literatura, vou fazer um intercâmbio com um professor português, que vem para o Rio.”
Rita engasgou. Ainda não havia se recuperado da bela visão agachada à sua frente. Engoliu seco e perguntou, com um leve temor da resposta:
-“Literatura? Mas..., é....., vais lecionar onde? Alguma escola, suponho?”
-“Não, não... Sou professor universitário. Irei para a Universidade de Lisboa.”
Lúcia e Sónia se viraram imediatamente para Rita. Um silêncio cinematográfico tomou toda Ipanema. Rita sentiu que, não só os cariocas, mas todos os brasileiros a olhavam.
-“Universidade de Lisboa?.... é... eu..... eu também dou aulas lá...”
Ele sorriu.
Nervosa, Rita segurou o dedo anelar da mão esquerda. Suspirou.
Olhou para Lúcia, agradecida....
Continua semana que vem
terça-feira, março 20, 2007
Mais uma da elite....
Eu não sou muito fã da palavra "elite". Penso em atiradores, "atiradores de elite".
Mas também me incomoda o tom pejorativo que leio neste termo, talvez por um mea culpa judaico-cristão da idéia de que possa, de alguma maneira, fazer parte dela.
Não gosto de me identificar com a "brava elite brasileira" por um único motivo: Acho que nossas elites são prepotentes, hipócritas e principalmente, ignorantes. Falei sobre isso no post sobre a praia, e ouvi mais um caso que ilustra isso muito bem. Ao ouví-lo, vi que tinha "POST" escrito "all over it".
Minha mãe é corretora de imóveis, e vira e mexe tem um caso peculiar para nos divertir. Casais que brigam na frente dela, maridos manipulados pelas mulheres para comprar o que elas querem, etc, etc.
A última é de chorar...
Sra. Patricinha de Beverly Hills (assim a chama minha mãe) quer um apartamento grande, pois está se sentindo "sufocada" no de 170 m2. Não fala em valores, mas em área útil. Corretora experiente precisa saber onde está pisando, então presta atenção em cada detalhe que lhe é falado.
-"Este é um apartamento maravilhoso, são 400 m2 de área útil"
-"Ah, 400 m2? E quanto vale?"
-"1 milhão e 200 mil."
Patricinha respira e diz:
-"400 é muito grande, não preciso disso tudo."
Bom, máscara caiu, é muito caviar arrotado para pouca mortadela ingerida.
mas não pára por aí.
-"Eu não aguento mais onde moramos, você tem que ver a cara das pessoas que moram lá, é um h-o-r-r-o-r! Eu detesto o cheeeiro deles, faço meu marido colocar um pano no pé da porta pra evitar o cheeeiro dos vizinhos!"
-"Nossa, mas que armários medonhos! Imagine que EU ia colocar a MINHA roupa num armário de plástico assim. A-P-O-S-T-O que o dono é nordestino, pra fazer uma coisa assim só pode ser ceraense. Credo!"
-"Esse closet é muito pequeno, não cabem nem as minhas meias!!!"
Minha mãe observa que o quarto de empregadas é pequeno demais e ela responde:
-"Ah, mas elas se viram. Põe um beliche aí e tudo bem!"
Mas as meias, coitadas.....
-"Bom, Sra. Patricinha, vamos marcar então na semana que vem, temos outros apartamentos pra mostrar. Que tal segunda feira?"
-"Segunda? Segunda não posso, tenho grupo de oração"
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Grupo de oração?????
Pai nosso que estais no céu
Santificado seja o meu nome.
Venha a mim o seu reino
Seja feita a minha vontade
Assim na Terra como no Céu.
A Daslu nossa de cada dia nos dai hoje.
Perdoai as minhas unhas mal feitas
Assim como eu perdôo meu marido que me tem traído.
Não me deixes sem tentações
E livrai-me da pobreza.
Amém!
...
PS: post número 100!!!!!!!!
Inté!!
Mas também me incomoda o tom pejorativo que leio neste termo, talvez por um mea culpa judaico-cristão da idéia de que possa, de alguma maneira, fazer parte dela.
Não gosto de me identificar com a "brava elite brasileira" por um único motivo: Acho que nossas elites são prepotentes, hipócritas e principalmente, ignorantes. Falei sobre isso no post sobre a praia, e ouvi mais um caso que ilustra isso muito bem. Ao ouví-lo, vi que tinha "POST" escrito "all over it".
Minha mãe é corretora de imóveis, e vira e mexe tem um caso peculiar para nos divertir. Casais que brigam na frente dela, maridos manipulados pelas mulheres para comprar o que elas querem, etc, etc.
A última é de chorar...
Sra. Patricinha de Beverly Hills (assim a chama minha mãe) quer um apartamento grande, pois está se sentindo "sufocada" no de 170 m2. Não fala em valores, mas em área útil. Corretora experiente precisa saber onde está pisando, então presta atenção em cada detalhe que lhe é falado.
-"Este é um apartamento maravilhoso, são 400 m2 de área útil"
-"Ah, 400 m2? E quanto vale?"
-"1 milhão e 200 mil."
Patricinha respira e diz:
-"400 é muito grande, não preciso disso tudo."
Bom, máscara caiu, é muito caviar arrotado para pouca mortadela ingerida.
mas não pára por aí.
-"Eu não aguento mais onde moramos, você tem que ver a cara das pessoas que moram lá, é um h-o-r-r-o-r! Eu detesto o cheeeiro deles, faço meu marido colocar um pano no pé da porta pra evitar o cheeeiro dos vizinhos!"
-"Nossa, mas que armários medonhos! Imagine que EU ia colocar a MINHA roupa num armário de plástico assim. A-P-O-S-T-O que o dono é nordestino, pra fazer uma coisa assim só pode ser ceraense. Credo!"
-"Esse closet é muito pequeno, não cabem nem as minhas meias!!!"
Minha mãe observa que o quarto de empregadas é pequeno demais e ela responde:
-"Ah, mas elas se viram. Põe um beliche aí e tudo bem!"
Mas as meias, coitadas.....
-"Bom, Sra. Patricinha, vamos marcar então na semana que vem, temos outros apartamentos pra mostrar. Que tal segunda feira?"
-"Segunda? Segunda não posso, tenho grupo de oração"
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Grupo de oração?????
Pai nosso que estais no céu
Santificado seja o meu nome.
Venha a mim o seu reino
Seja feita a minha vontade
Assim na Terra como no Céu.
A Daslu nossa de cada dia nos dai hoje.
Perdoai as minhas unhas mal feitas
Assim como eu perdôo meu marido que me tem traído.
Não me deixes sem tentações
E livrai-me da pobreza.
Amém!
...
PS: post número 100!!!!!!!!
Inté!!
sábado, março 17, 2007
Música visual...
Certas músicas marcam épocas...
E certos lugares no mundo possuem suas músicas tema. Esta que aqui postei é uma delas.
Na minha cabeça existem duas "Nova Yorks".
Uma eu conheci adulta, uma NY acolhedora, segura, e cheia de novidades a cada esquina. A Big Apple me acolheu por alguns anos de minha vida, e dela tenho muita saudades.
Saudades dos sanduíches com Honey Mustard que comia no PAX, dos iogurtes gregos do Amish, dos pretzels massudos e salgados que comia quando o frio não me deixava ir além da esquina do hotel, das baladas, dos supermercados, e de tantas outras coisas que fizeram parte da minha fase Sex and the City.
À outra, volto quando escuto esta música. Uma NY que não conheci pessoalmente, uma NY dos anos 70 e 80 retratada nos filmes de Sessão da Tarde que via na infância, e sobre a qual a letra do The Boxer fala.
Esses filmes começavam sempre da mesma maneira.
Um carro atravessava alguma das pontes, geralmente a Ponte do Brooklyn enquanto a câmera abria o ângulo até desvelar a cidade toda. Neste instante o letreiro do filme aparecia, em letras psicodélicas amarelas, seguidas de:
Starring Tony Danza
Dentro dele, voavam rebeldes os cabelos compridos de algum policial à paisana.
De óculos Ray Ban, o galã estacionava o carango e víamos a calçada suja e marcada pela violência das décadas, prévias ao programa Tolerância Zero.
Descia, então, e nos mostrava suas calças de cintura baixa, cinto de couro e boca de sino.
E a música diminuia, encerrava, e a história começava.
Mas todas as músicas-tema desta época ficaram na minha cabeça, especialmente esta do Paul Simon. A minha NY antiga ficou gravada como uma cidade meio turva, como as cores dos tais filmes, em que letreiros apareciam do nada e músicas te acompanhavam de acordo com seu papel na cidade...
Duas cidades completamente diferentes... Sons e cores de infância e vivências adultas...
Para ilustrar, a abertura da série Taxi, que tinha o fenomenal Andy Kaufmann. Não é a Ponte do Brooklyn, mas tem até as letras amarelas e o próprio Tony Danza...
Inté!
quinta-feira, março 15, 2007
Férias em Natal. Episódio 2. O Contraponto
Finalmente chegou dezembro... Os últimos meses desde a decisão haviam sido de grande ansiedade e planos. Quando soube que os maridos tiveram a mesma idéia e se preparavam para ir a Natal, Rita mudou seu intinerário. Nada de nordeste, elas iriam para a Meca da beleza masculina: o Rio de Janeiro.
Luis teve uma reação tipicamente marciana ao saber da viagem da esposa. Sem comentar nada, atacou mais que nunca o Brasil, esquecendo-se de que ia ao mesmo destino.
“Vou por amizade aos gajos. Só por isso!”
“Eu por minha vez, vou para me divertir. Só por isso!”, respondia ela, com a mesma ironia.
Luis tentou de tudo, especialmente ao ver a brochura do hotel em cima da mesa:
“Rio???? Estás fora de si, o que vão lá fazer 3 mulheres sozinhas no meio do tiroteio carioca? Não vês as notícias??”
Rita sabia que, se houvesse alguma tecla tradutora daquela frase, o que ela mostraria é:
“Não quero que você vá para o Brasil por que seu ex-namorado é brasileiro e eu sinto ciúmes.”
“Rio?????? Por que não vão a Paris, é mais perto e vocês mulheres gostam mesmo é de compras, então voi la.”
A tradução...
“Se o tal Adriano já deixava as mulheres com calores ao passar, não quero nem pensar no que vão ver no Rio. Ficas mais segura com os franceses.”
Entretanto, confinado em sua dificuldade em ligar palavras e emoção, Luis simplesmente atacava o país, como se este fosse culpado por seus pesadelos com o tal Adriano.
Luis e seus amigos partiram um dia antes. Na manhã da viagem, ainda tentou dissuadir Rita da “perigosa empreitada”, e só consegui sair irritado com a esposa. Brigaram e mal se despediram. Luis se atrasou, mas antes de embarcar deu um jeito de ligar para casa e se desculpar.
“Desculpe, não quero que viajemos com raiva. Só me prometa que tomará cuidado no Rio, sim?”
“Claro, e você me prometa que tomará cuidado com o Ferrei... quero dizer, me prometa que se comportará.”
“Não preciso de nenhuma brasileira, Rita, tenho a portuguesa mais linda em casa...”
E assim partiram, eles para Natal, e elas felizes no dia seguinte para o Rio de Janeiro.
O vôo até a Cidade Maravilhosa foi tranqüilo, Lúcia dormiu protegida por sua máscara e tampões de ouvido e Rita se entregou à leitura. Tinha consigo “Assim falou Zaratrusta”, de Nietzsche e, claro, o guia turístico do Rio. Sónia mal pregou os olhos, preocupada e triste em deixar os filhos sozinhos com a avó. Suspirava de tempos em tempos, convencendo-se de que essa viagem lhe faria muito bem.
De manhã, não resistiram e sacudiram a amiga que dormia.
“Lúcia, acorde, você não pode perder isto!”
As três perderam as palavras, frente à vista aérea da cidade. Que visão magnífica... A Baía da Guanabara, a orla recortada e o céu.... Simplesmente o céu mais lindo que jamais haviam visto.
Ainda sob o efeito da vista aérea, desceram e pegaram as malas. Logo na alfândega perceberam que apesar do nome em comum, o português que falavam era muito diferente do que ali escutavam, mas tinham confiança na famosa amabilidade brasileira, especialmente com três mulheres sozinhas.
“Estou com uma intuição M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A sobre esta semana, meninas!” disse Lúcia, de maneira um pouco afetada, enquanto colocava seus óculos escuros Prada. “E o hotel em que vamos ficar. Um L-U-X-O!!! Ana Maria veio com o marido em janeiro e o recomendou com uma especial piscadela para você, Sónia! Segundo Ana, foi a maior concentração de homens lindos que viu na vida!”
Entraram no táxi e mais uma vez a cidade as encantou. A partir do Flamengo nada mais falaram, embasbacadas com a beleza da cidade. Nem a velocidade assustadora do taxista as tirou da contemplação. Em certo momento ouviram do motorista:
“Esta é a praia mais famosa do mundo, Copacabana!”
Rita sentiu um arrepio subir pela coluna, ouvia falar de Copacabana desde que era criança, e ali estava finalmente, respirando sua maresia.
Logo depois o táxi parou:
“R. Farme de Amoedo, senhoras! Ipanema Plaza! Espero que gostem do Rio!”
Continua...
Para checar a versão do Capitão-Mor, clique aqui.
terça-feira, março 13, 2007
A inveja é uma m.
Cansei de tentar ser a Mulher Maravilha! Joguei o shortinho vermelho e o cinto dourado no chão!
Aceito, agora, EU NÃO POSSO ABRAÇAR O MUNDO COM AS PERNAS!
Então desisti de ser a dona de casa perfeita... Bom, na verdade nunca tentei... Meu marido fica fora de casa uma semana e se bobear não me encontra na volta, perdida em meio à pilha de roupa pra passar, à biblioteca de Alexandria espalhada pela casa e à possível poeira acumulada.
Mas eu tentei! Juro que tentei! Nesses dois anos de roça eu assumi a limpeza da minha casa, a roupa e a cozinha. Só não incorporei o lencinho no cabelo por que me dá dor de cabeça, mas de resto fiz tudo!
Agora chega.
Percebi que meu mestrado ficou relegado às últimas, e que a vassoura estava ganhando a competição contra os livros!
Pronto, chamei uma moça para fazer o que precisa.
Ah, e o porque do título deste post????
Por que ela se chama JÔ!!!!!!!!
Mas ao contrário do querido Gastón, eu SIM, descobri o nome da MINHA Jô, Joselene!!!
Tomara que de igual seja só o apelido, não as mãos de quiabo!.....
Inté!
Aceito, agora, EU NÃO POSSO ABRAÇAR O MUNDO COM AS PERNAS!
Então desisti de ser a dona de casa perfeita... Bom, na verdade nunca tentei... Meu marido fica fora de casa uma semana e se bobear não me encontra na volta, perdida em meio à pilha de roupa pra passar, à biblioteca de Alexandria espalhada pela casa e à possível poeira acumulada.
Mas eu tentei! Juro que tentei! Nesses dois anos de roça eu assumi a limpeza da minha casa, a roupa e a cozinha. Só não incorporei o lencinho no cabelo por que me dá dor de cabeça, mas de resto fiz tudo!
Agora chega.
Percebi que meu mestrado ficou relegado às últimas, e que a vassoura estava ganhando a competição contra os livros!
Pronto, chamei uma moça para fazer o que precisa.
Ah, e o porque do título deste post????
Por que ela se chama JÔ!!!!!!!!
Mas ao contrário do querido Gastón, eu SIM, descobri o nome da MINHA Jô, Joselene!!!
Tomara que de igual seja só o apelido, não as mãos de quiabo!.....
Inté!
sexta-feira, março 09, 2007
Férias em Natal. Episódio 1. O Contraponto
Este texto é escrito atravessado com Capitão-Mor, que lançou o desafio a suas leitoras femininas. Ele escreveu em seu blog e história sob o ponto de vista dos maridos....
O relógio da sala de aula bateu o meio dia daquela quarta feira. Rita se despediu dos alunos e guardou seus livros. Professora de filosofia, alimentava-se da sede dos pupilos do terceiro ano da Universidade de Lisboa, que se envolviam nas discussões com entusiasmo . Adorava seu trabalho.
Já no corredor, seu celular tocou.
-Oi meu bem, como foi a aula?
-Foi ótima, Luis, hoje discutimos Nietzsche, estou com o coração a mil. A que horas você chega? Quero te contar os detalhes.
-Hoje é dia do jantar mensal com os rapazes. Acho que chegarei tarde.
-Jantar mensal? O Reis estará?
-Claro.
-Não acredito, depois de tudo que ele fez pra Sónia, você ainda vai se encontrar com ele?
-Rita, não tome partido, você não ouviu o lado dele. E eu acho que ele fez o correto, sei que você gosta dela, mas ela chegou no limite do suportável.
Rita ensaiou uma voz de choro, sabia que a reunião servia para falarem mal das esposas e articularem mais alguma contra elas. Aquele Ferreira era uma companhia péssima.
-Bom, já que tenho a noite só para mim, vou sair também. Não me espere acordado.
-Rit...
Fechou o flip do celular enquanto ouvia a vogal final da boca de seu marido.
Conheceram-se na rua. Luis a viu em frente a uma vitrine e se encantou com seu perfil angelical. Morena de cachos brilhantes, seus olhos azuis eram protegidos por imensos cílios. Luis aproximou-se, ela se assustou. Homem alto, Luis logo lhe chamou a atenção por suas mãos.
Rita gostava de mãos. Via nelas um traço da alma. As de Luis eram fortes, de falanges salientes e unhas roídas. Gostava de unhas roídas. Imaginou-o ansioso, um pouco tímido.
Dois anos depois estavam casados.
Viviam bem, apesar do ciúme exagerado que ele sentia. Perguntava sobre seus alunos, aparecia de surpresa na Universidade. Tinha ciúme especial de um antigo namorado, Adriano. Brasileiro, muito bonito e bronzeado, o rapaz um dia os encontrou no cinema, e desde então, Luis fazia comentários sarcásticos sobre o Brasil. Referia-se ao suposto rival por “brazuca”, “índio” e jurava que jamais iria “àquele país infernal.”
“Brasil, nunca!”, era seu slogan.
Puro ciúme.
Naquela tarde, Rita sentou-se para trabalhar em sua tese de doutorado, mas não conseguia se concentrar. Sabia muito bem que de um encontro com Ferreira, nada de bom poderia sair. Os desajustados dos amigos do Luis já haviam feito a cabeça do Reis contra Sónia, e agora ela estava sozinha, com Ana e Lucas para criar. Rita a ajudou durante a viagem que os maridos fizeram à Espanha, pois a pequena Ana teve pneumonia. Passaram três dias no hospital, e Reis não se dignou a voltar para a família. Inconformada, Rita não teve vontade de se dirigir a Luis por duas semanas. Ele seria assim também com ela, quando tivessem filhos?
Ligou para Sónia. Não ficaria em casa sozinha, e sabia que a amiga precisava de um ombro. Além de Sónia, chamou Lúcia, esposa de Fonseca.
-Quero ir a ao bistrô, já faz muito tempo que não como Foi Gras, disse Lúcia ao telefone.
-O bistrô é caro demais, replicou Rita. Estamos guardando dinheiro para comprar um carro no final do ano, acho que não posso ser assim tão extravagante.
-Ah, mas amiga minha não paga, Rita. Você e Sónia são minhas convidadas. Pago nosso jantar no cartão de Fonseca. Pensando bem, faz tempo, também, que não tomo champagne.
Bistrô, Lisboa, 22:55h
Sónia lamentava-se, inconformada com as atitudes de Reis. Não tanto com o divórcio, mas com pequenas posturas dele desde a decisão.
-Parece um adolescente, agora. Coloca a camisa para dentro da calça, usa perfume. Disse que ia pintar os fios brancos que começam a aparecer.
-Pintar os fios brancos? Ah, aqueles dois restantes em volta da reluzente pele craniana, disse rindo Lúcia, que sempre levantava o astral das amigas. Vamos, amiga, você se livrou de uma bomba. Sempre achei que você era mulher demais para aquele chato. Até Fonseca dizia isso – Reis é meu amigo, mas Sónia sempre foi muita areia para seu pequeno caminhão.-
Sónia riu baixo, um pouco envergonhada. Para conter a gargalhada, engasgou-se com Veuve Clicquot que regava o trio, às custas de Fonseca.
-Pequeno caminhão.... Pequeno caminhão..... – explodiu num riso libertador- Pequeno não era o caminhão, mas a mangueira.
- E você o confortava com aquela baboseira de que "tamanho não importa"?
-Siiimm!!
E as três explodiram em riso!
Riram tanto que os elegantes vizinhos de mesa se voltaram para elas.
Após enxugarem as lágrimas das gargalhadas, respiraram fundo e decidiram que era a vez delas.
-Vamos sair de férias juntas! Chega de agüentar as histórias deles, sempre eles, juntos, Espanha, Londres, cansei. Luis não pensa duas vezes antes de se enfiar em um quarto com aqueles brutamontes, por que tenho que ficar em casa à espera? Nós três. Agora seremos nós. Iremos em dezembro! Para onde?
-Taiti. Taiti, Rita, Sónia lá achará mangueiras dignas de assim se chamarem e ficaremos cozinhando nas águas azuis. Ai, aqueles bungalows de frente ao mar...
-Lúcia, por que você acha que este é o destino de sonhos de todo habitante da Terra? Por que é o mais caro. Não, não posso gastar, vamos comprar o carro, Sónia acabou de se divorciar, pensei em algo mais acessível, mas ainda assim inesquecível. Pensei em Brasil.
-Brasil?!!!! Levamos o Adriano como guia particular! Sónia, aposto mil euros que Adriano rega bem mais longe que Reis!
-Pára, Lúcia, que maldade, respondeu Rita, enquanto notava que Sónia esboçava um sorriso pensante...
-E Luis? O que dirá sobre o Brasil?? Já nos basta uma divorciada!
-Nada, não dirá nada. Eu não reclamei de Espanha, ele não poderá reclamar de Brasil.
Juntas, deram um gole da comprida taça. Fecharam os olhos, para melhor sentir as bolhas coçando a garganta. Aproveitaram a escuridão para sonhar um pouco com dezembro.
Na saída, Lúcia trombou uma moça que chorava. Loira, miúda, usava batom cereja e tinha os lábios carnudos. As lágrimas levavam o rímel preto, que manchava seu rosto.
-Jasmim! Jasmim, querida, o que houve?
Jasmim era irmã de uma aluna de Rita. Tinha seus 20 e poucos anos, bebia muito e não estudava. Rita a conheceu em uma reunião de Natal na universidade, e sentiu muita pena da garota, parecia frágil e assustada.
Sentaram-na em um bar e lhe ofereceram água.
-Conheci um homem na semana passada, dizia ela entre soluços, um homem de verdade, não esses moleques da minha idade. Já faz uma semana, estou desde cedo telefonando e ele não me atende.
Jasmim parecia alcoolizada.
-Calma, ele deve estar ocupado, ou deixou o celular em algum lugar. Bateria! Pode ter acabado a bateria, sugeriu Sónia.
-Qual bateria qual nada. Estou desconfiada, ele me convenceu a usar um esquema para ligar, tenho que usar um número confidencial. Não gosto nada disso, e não sei onde ele mora.
-Esses homens... suspirou Lúcia.
-Pois é... Esses homens...
Continua semana que vem...
O relógio da sala de aula bateu o meio dia daquela quarta feira. Rita se despediu dos alunos e guardou seus livros. Professora de filosofia, alimentava-se da sede dos pupilos do terceiro ano da Universidade de Lisboa, que se envolviam nas discussões com entusiasmo . Adorava seu trabalho.
Já no corredor, seu celular tocou.
-Oi meu bem, como foi a aula?
-Foi ótima, Luis, hoje discutimos Nietzsche, estou com o coração a mil. A que horas você chega? Quero te contar os detalhes.
-Hoje é dia do jantar mensal com os rapazes. Acho que chegarei tarde.
-Jantar mensal? O Reis estará?
-Claro.
-Não acredito, depois de tudo que ele fez pra Sónia, você ainda vai se encontrar com ele?
-Rita, não tome partido, você não ouviu o lado dele. E eu acho que ele fez o correto, sei que você gosta dela, mas ela chegou no limite do suportável.
Rita ensaiou uma voz de choro, sabia que a reunião servia para falarem mal das esposas e articularem mais alguma contra elas. Aquele Ferreira era uma companhia péssima.
-Bom, já que tenho a noite só para mim, vou sair também. Não me espere acordado.
-Rit...
Fechou o flip do celular enquanto ouvia a vogal final da boca de seu marido.
Conheceram-se na rua. Luis a viu em frente a uma vitrine e se encantou com seu perfil angelical. Morena de cachos brilhantes, seus olhos azuis eram protegidos por imensos cílios. Luis aproximou-se, ela se assustou. Homem alto, Luis logo lhe chamou a atenção por suas mãos.
Rita gostava de mãos. Via nelas um traço da alma. As de Luis eram fortes, de falanges salientes e unhas roídas. Gostava de unhas roídas. Imaginou-o ansioso, um pouco tímido.
Dois anos depois estavam casados.
Viviam bem, apesar do ciúme exagerado que ele sentia. Perguntava sobre seus alunos, aparecia de surpresa na Universidade. Tinha ciúme especial de um antigo namorado, Adriano. Brasileiro, muito bonito e bronzeado, o rapaz um dia os encontrou no cinema, e desde então, Luis fazia comentários sarcásticos sobre o Brasil. Referia-se ao suposto rival por “brazuca”, “índio” e jurava que jamais iria “àquele país infernal.”
“Brasil, nunca!”, era seu slogan.
Puro ciúme.
Naquela tarde, Rita sentou-se para trabalhar em sua tese de doutorado, mas não conseguia se concentrar. Sabia muito bem que de um encontro com Ferreira, nada de bom poderia sair. Os desajustados dos amigos do Luis já haviam feito a cabeça do Reis contra Sónia, e agora ela estava sozinha, com Ana e Lucas para criar. Rita a ajudou durante a viagem que os maridos fizeram à Espanha, pois a pequena Ana teve pneumonia. Passaram três dias no hospital, e Reis não se dignou a voltar para a família. Inconformada, Rita não teve vontade de se dirigir a Luis por duas semanas. Ele seria assim também com ela, quando tivessem filhos?
Ligou para Sónia. Não ficaria em casa sozinha, e sabia que a amiga precisava de um ombro. Além de Sónia, chamou Lúcia, esposa de Fonseca.
-Quero ir a ao bistrô, já faz muito tempo que não como Foi Gras, disse Lúcia ao telefone.
-O bistrô é caro demais, replicou Rita. Estamos guardando dinheiro para comprar um carro no final do ano, acho que não posso ser assim tão extravagante.
-Ah, mas amiga minha não paga, Rita. Você e Sónia são minhas convidadas. Pago nosso jantar no cartão de Fonseca. Pensando bem, faz tempo, também, que não tomo champagne.
Bistrô, Lisboa, 22:55h
Sónia lamentava-se, inconformada com as atitudes de Reis. Não tanto com o divórcio, mas com pequenas posturas dele desde a decisão.
-Parece um adolescente, agora. Coloca a camisa para dentro da calça, usa perfume. Disse que ia pintar os fios brancos que começam a aparecer.
-Pintar os fios brancos? Ah, aqueles dois restantes em volta da reluzente pele craniana, disse rindo Lúcia, que sempre levantava o astral das amigas. Vamos, amiga, você se livrou de uma bomba. Sempre achei que você era mulher demais para aquele chato. Até Fonseca dizia isso – Reis é meu amigo, mas Sónia sempre foi muita areia para seu pequeno caminhão.-
Sónia riu baixo, um pouco envergonhada. Para conter a gargalhada, engasgou-se com Veuve Clicquot que regava o trio, às custas de Fonseca.
-Pequeno caminhão.... Pequeno caminhão..... – explodiu num riso libertador- Pequeno não era o caminhão, mas a mangueira.
- E você o confortava com aquela baboseira de que "tamanho não importa"?
-Siiimm!!
E as três explodiram em riso!
Riram tanto que os elegantes vizinhos de mesa se voltaram para elas.
Após enxugarem as lágrimas das gargalhadas, respiraram fundo e decidiram que era a vez delas.
-Vamos sair de férias juntas! Chega de agüentar as histórias deles, sempre eles, juntos, Espanha, Londres, cansei. Luis não pensa duas vezes antes de se enfiar em um quarto com aqueles brutamontes, por que tenho que ficar em casa à espera? Nós três. Agora seremos nós. Iremos em dezembro! Para onde?
-Taiti. Taiti, Rita, Sónia lá achará mangueiras dignas de assim se chamarem e ficaremos cozinhando nas águas azuis. Ai, aqueles bungalows de frente ao mar...
-Lúcia, por que você acha que este é o destino de sonhos de todo habitante da Terra? Por que é o mais caro. Não, não posso gastar, vamos comprar o carro, Sónia acabou de se divorciar, pensei em algo mais acessível, mas ainda assim inesquecível. Pensei em Brasil.
-Brasil?!!!! Levamos o Adriano como guia particular! Sónia, aposto mil euros que Adriano rega bem mais longe que Reis!
-Pára, Lúcia, que maldade, respondeu Rita, enquanto notava que Sónia esboçava um sorriso pensante...
-E Luis? O que dirá sobre o Brasil?? Já nos basta uma divorciada!
-Nada, não dirá nada. Eu não reclamei de Espanha, ele não poderá reclamar de Brasil.
Juntas, deram um gole da comprida taça. Fecharam os olhos, para melhor sentir as bolhas coçando a garganta. Aproveitaram a escuridão para sonhar um pouco com dezembro.
Na saída, Lúcia trombou uma moça que chorava. Loira, miúda, usava batom cereja e tinha os lábios carnudos. As lágrimas levavam o rímel preto, que manchava seu rosto.
-Jasmim! Jasmim, querida, o que houve?
Jasmim era irmã de uma aluna de Rita. Tinha seus 20 e poucos anos, bebia muito e não estudava. Rita a conheceu em uma reunião de Natal na universidade, e sentiu muita pena da garota, parecia frágil e assustada.
Sentaram-na em um bar e lhe ofereceram água.
-Conheci um homem na semana passada, dizia ela entre soluços, um homem de verdade, não esses moleques da minha idade. Já faz uma semana, estou desde cedo telefonando e ele não me atende.
Jasmim parecia alcoolizada.
-Calma, ele deve estar ocupado, ou deixou o celular em algum lugar. Bateria! Pode ter acabado a bateria, sugeriu Sónia.
-Qual bateria qual nada. Estou desconfiada, ele me convenceu a usar um esquema para ligar, tenho que usar um número confidencial. Não gosto nada disso, e não sei onde ele mora.
-Esses homens... suspirou Lúcia.
-Pois é... Esses homens...
Continua semana que vem...
quinta-feira, março 08, 2007
Dia Internacional das...
MULHERES DA MINHA VIDA!!!!!!!!!
Se você não está entre as clicadas, é pela simples falha fototográfica minha, não tenho fotos de todas as mulheres importantes da minha vida!
Se você é mulher e está na Jeca, certamente é uma delas!!!
Beijos a todas e que um dia, não precisemos mais comemorar um dia assim.
Neste dia, teremos vencido a batalha contra o paternalismo secular!
Inté!!
PS: amanhã, aqui na Jeca, a primeira parte do contraponto feminino da blogsérie Férias em Natal. A versão masculina você confere no blog do Capitão-Mor. Vale a pena!!! Espero vocês aqui!
Se você não está entre as clicadas, é pela simples falha fototográfica minha, não tenho fotos de todas as mulheres importantes da minha vida!
Se você é mulher e está na Jeca, certamente é uma delas!!!
Beijos a todas e que um dia, não precisemos mais comemorar um dia assim.
Neste dia, teremos vencido a batalha contra o paternalismo secular!
Inté!!
PS: amanhã, aqui na Jeca, a primeira parte do contraponto feminino da blogsérie Férias em Natal. A versão masculina você confere no blog do Capitão-Mor. Vale a pena!!! Espero vocês aqui!
quarta-feira, março 07, 2007
Obrigada.
É incrível o poder das palavras. Parece clichê, mas é verdade absoluta.
Especialmente das palavras "desculpe" e "obrigada". Se tivéssemos mais consciência disso, o mundo seria certamente melhor.
Fiquei pensando nisso depois de um episódio na escola, hoje. Um aluno começou um "diz que disse" entre mim e a coordenadora da tarde, e com as palavras erradas, criou um mal entendido chato. Ela ficou triste comigo por algo que eu não havia dito. Fiquei péssima.
Chamei o aluno e, junto à diretora, esclarecemos. Ele afirmou que tinha se expressado mal e que eu não havia dito aquilo. Nada de mais. Em seguida me encontrei com a coordenadora e ela e eu ficamos aliviadas em resolver a questão.
Mas o que mais me tocou, na verdade, foi que ao fim de tudo, o aluno me chamou na sala de aula e disse:
"Pro, desculpa por aquilo, tá? Eu não tive a intenção de criar confusão!"
"Desculpa". Ele reconheceu, não apenas o ato errado dele, mas o fato de ter me deixado chateada.
"Desculpa", palavra mágica, que usada com sinceridade, é mertiolate para algumas feridas.
Saí da escola e fui almoçar. Fui a um restaurante, ou melhor, fui AO restaurante decente da cidade, em que eu sempre peço o mesmo prato, com um molho de maracujá DIVINO.
Ainda com o poder do reconhecimento na cabeça, me dei conta de que aquele molho foi feito por uma determinada pessoa, e que eu nunca lhe reconheci o trabalho.
Na hora da conta, pedi ao garçom que agradecesse o pessoal da cozinha por mim, pois aquele era o melhor molho de maracujá que comi na vida.
Ele se aproximou da janelinha da cozinha e, depois de algumas palavras, vi 5 cabeças com chapéus de cozinheiro se espremendo para ver de que mesa veio o agradecimento.
Elogiamos tão pouco, né? Agradecemos tão pouco, nos desculpamos tão pouco... E é um ato simples, que tem grande poder.
No Yôga chamamos isso de PUJÁ, ou seja, "retribuição ética de energia!" Parece complicado, mas não é. A energia que você envia a uma pessoa, seja em forma de elogio, de desculpas ou de votos bons estabelece o tipo de relação que você terá com ela. E faz bem para as duas pontas...
Há tanto para se agradecer... tantos "obrigada" para se dizer...
Obrigada Dora, por ser "A" mãe que você é.
Obrigada Antonio, obrigada pelo que somos hoje.
Obrigada Caia, pela sua mera existência na minha vida.
Obrigada Fe, por seu amor, pela caminhada ao meu lado e pela paciência...
Obrigada grandes e amadas amigas, Luli, Carol, Ciça, Ju, Karina, Elô, Marcelo, pelos sins e pelos nãos, pelas palavras e risadas. Pelo simples silêncio confortável da amizade.
Obrigada Carmen e Geraldo, por tratarem suas noras como filhas.
Obrigada Dani e Gui, por serem irmãos mais velhos.
Obrigada Marília e Carol, cunhadas-irmãs, pela amizade, pelo companheirismo e por todos os papos furados e nem tão furados assim!!!
Obrigada Pepe, por fazer minha irmã feliz.
Obrigada Família Colla, por me fazer sentir as raízes.
Obrigada Vinicius e Rogério, pela família por perto.
Obrigada Tia Gladys, por enseñarme la lengua que hoy me es tan importante!
Obrigada Kinder Kampus, por me ensinar o que é ser professora.
Obrigada Cris Melo e Dani Reston, por serem amigas mesmo tão longe.
Obrigada Marla, por todos os anos de amor e brigas e por fazer o amor ganhar!
Obrigada Vera, pelas esfihas de zattar feitas com tanto carinho, e pelo Kibe de soja "criado" especialmente para nós. E por me ensinar sua coalhada!!!
Obrigada Nicolau, por acreditar em mim.
Obrigada Renata e Camila, pelas "cajazeiras". Não poderia ser melhor.
Obrigada TriAção, por todos os dias, pelo clima maravilhoso de trabalho e pela crença CABAL na Educação!
Obrigada Equipe Uni-Yôga, Berti, Samir, Pedro e Thaís, pelos ensinamentos e pela jornada no Yôga.
Obrigada comentaristas assíduos da Jeca!!! TD, pelo mistério. Mônica e Sofia, pelo comentário com sotaque de carioca. Rubina e Capitão, pelo belo português de além mar aqui escrito. Cláudia, pelos comentários de voz suave. GZ, pelo ar jovem e descontraído. Taubrós, pelos sempre bons tempos, guardados no coração. Carolzinha, por matar a saudades pelo blog.
Obrigada Gastón, por me inspirar a escrever.
Obrigada aos leitores assíduos, que não deixam comentários mas que sei que vêm.
Obrigada, de coração. Cada um de vocês faz de mim um pouco que eu sou.
Um grande beijo
Tati
Inté!
Especialmente das palavras "desculpe" e "obrigada". Se tivéssemos mais consciência disso, o mundo seria certamente melhor.
Fiquei pensando nisso depois de um episódio na escola, hoje. Um aluno começou um "diz que disse" entre mim e a coordenadora da tarde, e com as palavras erradas, criou um mal entendido chato. Ela ficou triste comigo por algo que eu não havia dito. Fiquei péssima.
Chamei o aluno e, junto à diretora, esclarecemos. Ele afirmou que tinha se expressado mal e que eu não havia dito aquilo. Nada de mais. Em seguida me encontrei com a coordenadora e ela e eu ficamos aliviadas em resolver a questão.
Mas o que mais me tocou, na verdade, foi que ao fim de tudo, o aluno me chamou na sala de aula e disse:
"Pro, desculpa por aquilo, tá? Eu não tive a intenção de criar confusão!"
"Desculpa". Ele reconheceu, não apenas o ato errado dele, mas o fato de ter me deixado chateada.
"Desculpa", palavra mágica, que usada com sinceridade, é mertiolate para algumas feridas.
Saí da escola e fui almoçar. Fui a um restaurante, ou melhor, fui AO restaurante decente da cidade, em que eu sempre peço o mesmo prato, com um molho de maracujá DIVINO.
Ainda com o poder do reconhecimento na cabeça, me dei conta de que aquele molho foi feito por uma determinada pessoa, e que eu nunca lhe reconheci o trabalho.
Na hora da conta, pedi ao garçom que agradecesse o pessoal da cozinha por mim, pois aquele era o melhor molho de maracujá que comi na vida.
Ele se aproximou da janelinha da cozinha e, depois de algumas palavras, vi 5 cabeças com chapéus de cozinheiro se espremendo para ver de que mesa veio o agradecimento.
Elogiamos tão pouco, né? Agradecemos tão pouco, nos desculpamos tão pouco... E é um ato simples, que tem grande poder.
No Yôga chamamos isso de PUJÁ, ou seja, "retribuição ética de energia!" Parece complicado, mas não é. A energia que você envia a uma pessoa, seja em forma de elogio, de desculpas ou de votos bons estabelece o tipo de relação que você terá com ela. E faz bem para as duas pontas...
Há tanto para se agradecer... tantos "obrigada" para se dizer...
Obrigada Dora, por ser "A" mãe que você é.
Obrigada Antonio, obrigada pelo que somos hoje.
Obrigada Caia, pela sua mera existência na minha vida.
Obrigada Fe, por seu amor, pela caminhada ao meu lado e pela paciência...
Obrigada grandes e amadas amigas, Luli, Carol, Ciça, Ju, Karina, Elô, Marcelo, pelos sins e pelos nãos, pelas palavras e risadas. Pelo simples silêncio confortável da amizade.
Obrigada Carmen e Geraldo, por tratarem suas noras como filhas.
Obrigada Dani e Gui, por serem irmãos mais velhos.
Obrigada Marília e Carol, cunhadas-irmãs, pela amizade, pelo companheirismo e por todos os papos furados e nem tão furados assim!!!
Obrigada Pepe, por fazer minha irmã feliz.
Obrigada Família Colla, por me fazer sentir as raízes.
Obrigada Vinicius e Rogério, pela família por perto.
Obrigada Tia Gladys, por enseñarme la lengua que hoy me es tan importante!
Obrigada Kinder Kampus, por me ensinar o que é ser professora.
Obrigada Cris Melo e Dani Reston, por serem amigas mesmo tão longe.
Obrigada Marla, por todos os anos de amor e brigas e por fazer o amor ganhar!
Obrigada Vera, pelas esfihas de zattar feitas com tanto carinho, e pelo Kibe de soja "criado" especialmente para nós. E por me ensinar sua coalhada!!!
Obrigada Nicolau, por acreditar em mim.
Obrigada Renata e Camila, pelas "cajazeiras". Não poderia ser melhor.
Obrigada TriAção, por todos os dias, pelo clima maravilhoso de trabalho e pela crença CABAL na Educação!
Obrigada Equipe Uni-Yôga, Berti, Samir, Pedro e Thaís, pelos ensinamentos e pela jornada no Yôga.
Obrigada comentaristas assíduos da Jeca!!! TD, pelo mistério. Mônica e Sofia, pelo comentário com sotaque de carioca. Rubina e Capitão, pelo belo português de além mar aqui escrito. Cláudia, pelos comentários de voz suave. GZ, pelo ar jovem e descontraído. Taubrós, pelos sempre bons tempos, guardados no coração. Carolzinha, por matar a saudades pelo blog.
Obrigada Gastón, por me inspirar a escrever.
Obrigada aos leitores assíduos, que não deixam comentários mas que sei que vêm.
Obrigada, de coração. Cada um de vocês faz de mim um pouco que eu sou.
Um grande beijo
Tati
Inté!
segunda-feira, março 05, 2007
Brava Elite Brasileira...
Este fim de semana fui sozinha pra praia! Marido foi viajar com pai e irmãos, se enfiou na neve, e eu na areia!... Saí no lucro...
Praia é uma das diversões mais democráticas que há, na minha opinião! Todo mundo tem seu espaço, é gratuito e o sol brilha para todos do mesmo jeito. E nestes espaços de convivência social eu me divirto observando as pessoas...
As areias do litoral norte de São Paulo são tidas como "elitistas". As pousadas são caras, as praias são mais longe da capital então os conhecidos "farofeiros" de um dia geralmente não chegam lá! Eu disse "geralmente"...
Assim sendo, logo cedo você vê os caseiros montando barracas gigantes para as famílias que ainda dormem. Parecem latifundiários marcando terreno.
Levam cadeiras, pranchas das crianças e até mini piscinas de plástico. Tais famílias chegam lá pelas 11 da manhã, se amontoam em baixo da sombra e ficam a ler Caras enquanto as babás cuidam da prole... Afinal, madame que é madame precisa descansar, então quem brinca com os filhos é a babá... Enfim.
Ontem vi uma cena das mais engraçadas. Cheguei às 8 horas na praia, eu e os caseiros montando as barracas!
Lá pelas 9 horas, ouço uma gritaria digna de torcida de futebol:
"Maaaaano, dá pra jogar um futebolzão aqui!!!"
Abro os olhos.... Crianças de biquini verde limão, mães com a cooler e as "bóia das criança" na mão, pais já com latinha gelada! Óculos escuros na testa e a galera chegou pra passar o dia. Sem exagero, eram uns 20! Os mais jovens fincaram os chinelos pra marcar as traves e começaram o "Curínthia versus Pêxe".
De repente, uma senhora avista o oásis! Em meio ao sol escaldante ela descobriu o paraíso!
"Ah, fia, vem aqui na sombra, tem uma barraca que cabe nóis tudo!"
Pronto, estava criado o primeiro assentamento de barraca de praia!
MSB, Movimento dos Sem barraca, ou MPSD, Movimento Pela Sombra Democrática!
A partir deste momento virei minha cadeira de frente para a cena. Se vendessem ingresso e pipoca eu comprava. Fiquei na ansiosa espera pelos "donos" da barraca. Sim, donos, por que se a areia é pública, a barraca foi comprada por alguém.
A galera se instalou como o diabo gosta! Às 11 horas, a cooler já estava aberta, os atletas já estavam brincando de croquete na sombra e a senhora, nitidamente cansada, deitou na areia e dormiu. Se sentindo em casa, penduraram as camisetas na ferragem da barraca e se sentaram nas cadeiras que ali estavam.
Qual não foi a surpresa do casal que chegou em "seu" território e se deparou com aquele "terreiro". Precisei segurar o riso, pois gente sozinha não dá gargalhada, pode parecer maluca de pinel. Achei muita graça na reação do casal.
Petrificados.
Com medo.
A galera, como é típico deles, democraticamente achou lugar para aqueles dois que chegaram.
"O Zéfa, espreme aí pra eles entrá!"
A senhora parecia ter parado de respirar. Sentou-se e olhou para o marido como quem pede "pelo amor de Deus, me salva!"
Acredito que em nenhum momento eles pensaram em pedir pra galera sair dali, com educação, claro. Pareciam ter sido jogados pra fora do carro no Simba Safári. A senhora deu um pulo quando um meninote pendurou sua camiseta naquela alça da cadeira de praia em que ela se sentava. A que dormia no chão teve um espasmo de sono e jogou areia em cima do senhor.
Patético... Pro casal, claro, que do alto de sua compostura, do alto de sua educação suíça, não sabia como interagir com o outro.
Desesperado, o senhor se pendurou no telefone. Em cinco minutos o caseiro veio em socorro, e mudou a barraca de lugar. Respirando aliviados, eles voltaram a sorrir.
Descontraídos, batiam papo com o caseiro, que prendia a armação na areia.
"Ah, o cara da casa 4? Ele quer que você trabalhe pra ele??? Ah, não vai não, o cara é francês, e esse povo é tudo sujo, olha Cícero, esse pessoal lá da Europa não toma banho não!" disse o Barão...
Ao que a Baronesa da educação completa:
"E fora, né, Cícero, que você já tem dono! Avisa ele lá, você é nosso, hein, já tem dono! hahaha"
Triste elite....
Inté!
Praia é uma das diversões mais democráticas que há, na minha opinião! Todo mundo tem seu espaço, é gratuito e o sol brilha para todos do mesmo jeito. E nestes espaços de convivência social eu me divirto observando as pessoas...
As areias do litoral norte de São Paulo são tidas como "elitistas". As pousadas são caras, as praias são mais longe da capital então os conhecidos "farofeiros" de um dia geralmente não chegam lá! Eu disse "geralmente"...
Assim sendo, logo cedo você vê os caseiros montando barracas gigantes para as famílias que ainda dormem. Parecem latifundiários marcando terreno.
Levam cadeiras, pranchas das crianças e até mini piscinas de plástico. Tais famílias chegam lá pelas 11 da manhã, se amontoam em baixo da sombra e ficam a ler Caras enquanto as babás cuidam da prole... Afinal, madame que é madame precisa descansar, então quem brinca com os filhos é a babá... Enfim.
Ontem vi uma cena das mais engraçadas. Cheguei às 8 horas na praia, eu e os caseiros montando as barracas!
Lá pelas 9 horas, ouço uma gritaria digna de torcida de futebol:
"Maaaaano, dá pra jogar um futebolzão aqui!!!"
Abro os olhos.... Crianças de biquini verde limão, mães com a cooler e as "bóia das criança" na mão, pais já com latinha gelada! Óculos escuros na testa e a galera chegou pra passar o dia. Sem exagero, eram uns 20! Os mais jovens fincaram os chinelos pra marcar as traves e começaram o "Curínthia versus Pêxe".
De repente, uma senhora avista o oásis! Em meio ao sol escaldante ela descobriu o paraíso!
"Ah, fia, vem aqui na sombra, tem uma barraca que cabe nóis tudo!"
Pronto, estava criado o primeiro assentamento de barraca de praia!
MSB, Movimento dos Sem barraca, ou MPSD, Movimento Pela Sombra Democrática!
A partir deste momento virei minha cadeira de frente para a cena. Se vendessem ingresso e pipoca eu comprava. Fiquei na ansiosa espera pelos "donos" da barraca. Sim, donos, por que se a areia é pública, a barraca foi comprada por alguém.
A galera se instalou como o diabo gosta! Às 11 horas, a cooler já estava aberta, os atletas já estavam brincando de croquete na sombra e a senhora, nitidamente cansada, deitou na areia e dormiu. Se sentindo em casa, penduraram as camisetas na ferragem da barraca e se sentaram nas cadeiras que ali estavam.
Qual não foi a surpresa do casal que chegou em "seu" território e se deparou com aquele "terreiro". Precisei segurar o riso, pois gente sozinha não dá gargalhada, pode parecer maluca de pinel. Achei muita graça na reação do casal.
Petrificados.
Com medo.
A galera, como é típico deles, democraticamente achou lugar para aqueles dois que chegaram.
"O Zéfa, espreme aí pra eles entrá!"
A senhora parecia ter parado de respirar. Sentou-se e olhou para o marido como quem pede "pelo amor de Deus, me salva!"
Acredito que em nenhum momento eles pensaram em pedir pra galera sair dali, com educação, claro. Pareciam ter sido jogados pra fora do carro no Simba Safári. A senhora deu um pulo quando um meninote pendurou sua camiseta naquela alça da cadeira de praia em que ela se sentava. A que dormia no chão teve um espasmo de sono e jogou areia em cima do senhor.
Patético... Pro casal, claro, que do alto de sua compostura, do alto de sua educação suíça, não sabia como interagir com o outro.
Desesperado, o senhor se pendurou no telefone. Em cinco minutos o caseiro veio em socorro, e mudou a barraca de lugar. Respirando aliviados, eles voltaram a sorrir.
Descontraídos, batiam papo com o caseiro, que prendia a armação na areia.
"Ah, o cara da casa 4? Ele quer que você trabalhe pra ele??? Ah, não vai não, o cara é francês, e esse povo é tudo sujo, olha Cícero, esse pessoal lá da Europa não toma banho não!" disse o Barão...
Ao que a Baronesa da educação completa:
"E fora, né, Cícero, que você já tem dono! Avisa ele lá, você é nosso, hein, já tem dono! hahaha"
Triste elite....
Inté!
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