quarta-feira, novembro 01, 2006

"No escurinho do cinema..."

Hoje a tempestade invadiu São Paulo, e lá estava eu, no meio do trânsito, tentando voltar para a roça..... Aqui não tem dessas coisas, sabe? Trânsito é um máximo de 7, 8 carros num cruzamento esperando passagem... Mas enfim, a chuva de hoje me levou pra um tempo muito bom da infância...

Morávamos no Morumbi, em uma casa de três andares, bem naquela fase insuportável de adolescência.... Paracem detalhes bestas de se dar, mas são fundamentais para este post:

Morumbi: é campeão de ficar sem luz em dia de chuva......

Casa de três andares: coisa mais fácil pra uma adolescente chata se esconder da família e tentar passar o mínimo de tempo junto....

Fase insuportável de adolescência: só para vocês terem uma noção, tive que ouvir, dia desses, de um primo:

"Naquela fase sempre gostei mais da sua irmã..... Você era muito metida".......

Mas tudo bem, pago caro a terapia pra superar essa imagem... Hoje em dia, até que sou uma pessoa legal..... (Pelo menos é o que minhas amigas me dizem, snif snif...)

Mas enfim, nos idos dos anos 80 e 90 morávamos nessa casa, e virava e mexia a luz acabava.... E nós tínhamos uma dinâmica que hoje percebo como das mais maravilhosas da minha vida em família: Eu tinha que sair da toca, íamos os 4 pra sala, minha mãe espalhava velas e nós ficávamos ali, no escuro, simplesmente batendo papo.......

Sem televisão..... Sem amigas no telefone...... Sem rádio, ouvindo fitas gravadas repletas de Erasure, Legião, New Order, etc.

Só nós quatro, botando o papo em dia......

Lembro das risadas, das piadas infames do meu pai (parece que pai é feito pra isso, né? contar as piadas mais infames...) das histórias que D. Dora e S. Antonio contavam sobre a vida deles.... Acho que foi nessas sessões de escuro que aprendi que eles não nasceram no momento em que eu cheguei pra iluminar a vida deles...

Meu pai, às vezes, contava histórias de terror, de sua época de anos 30 em Portugal, e vinha com a mão por baixo pegar nosso pé, pra assustar.......... Até hoje eu e minha irmã tentamos, sem sucesso, fazer isso...

Lembro desses apagões com muita saudade e carinho, e fico orgulhosa de nós....

Outro dia ouvi um educador dizer que ouve constantemente de pais: "Detesto quando acaba a luz em casa! Não sei o que fazer com as crianças, pra elas ficarem quietas......"

Que triste.... Parece que estão tão apoiados no computador, na tv, no som, que deixam morrer a tradição mais antiga da humanidade:

Sentar-se em volta da fogueira pra contar histórias....

Que venham meus filhos..... E que, se a luz daqui da roça for eficiente mesmo e nunca acabar, eu já sei o que fazer! É só..... apertar o interruptor.....

Inté!

4 comentários:

Anônimo disse...

Nossa tati que lindo o que vc escreveu prima, relamente, SEMPRE qdo falta luz, o pai fica perto de mim e começa a me contar suas histórias.. do tempo do nono.. e dos tempos que a nona criava os filhos sozinha.. Realmente a gente sente falta de tudo isso..

Um beijao, saudades!

Gastón disse...

Meu, ainda hoje passo na frente daquela casa e é, pra mim, a sua casa. Não importa quem more ali.

Sabe o que eu tava lembrando? Do dia que eu deixei um recado zuando na secretária eletronica da sua casa e sua mãe ouviu e ficou assustada. Era um recado pra Caia onde eu tava imitando um cara do Capão Redondo, chamando ela de minha nêga, etc...

Tati disse...

Pois é Gastón, olhando pra trás, acho que ali, naquela casa passei os melhores anos da minha vida..... Sexta feira à noite era um pulo pro Simbiose, outro pulo pra chopperia morumbi e mais um pulinho pra chácara...... E você nem imagina como fico feliz de saber que você fez parte dessa fase, de maneira tão forte e amiga!
E lógico, fazendo todos nós rolarmos de rir.....
Ps: o recado foi apenas o começo, vc só preparou minha mãe para as amizades MANAS da caia, hahaha
E por falar em lembrar, vira e mexe pego o texto do "República De Bananeiralles" e rolo de rir com a Alexandra...... "Não... Não....." Parece que ouço aquela sua fala, você pulando, fugindo do Junior......
ê laiá..... sôdade, sô
Beijo

Anônimo disse...

Nossa, me emocionei, Tati... lembro direitinho de tudo isso, eram mesmo momentos maravilhosos.. E Leo, eu tb lembro desse recado q vc deixou na secretária!!KKKKKKKK... tinha que ser pra mim, se fosse pra Tati ninguem ia acreditar mesmo!! HAHAHAHAHHAA
Caia