domingo, julho 29, 2007

O Morro dos Ventos Uivantes

Não, não é um post sobre literatura, não...
É sobre nossa casa nova...
Mudamos ontem, hoje consegui um computador ligado ao mundo na casa da sogra e resolvi falar um oi para vocês.
Um oi gelado, de cabelos embaraçados, e cara dura, do vento...
Nossa casa fica no terreno mais alto do condomínio. A vista mais bonita, mas certamente o canto mais frio do lugar.
Para piorar, o marceneiro ainda não entregou a porta da entrada, então o vento tem passagem livre pela casa.
Mas sobrevivemos à primeira noite, com foundue, DVD, manta no sofá e edredon na cama.

Mudança é algo profundamente interessante. Quando eu tinha meus 20 e poucos anos, saí de uma casa de 300 e poucos metros quadrados para um apartamento de seus 80. Lembro que metade dos nossos móveis ficaram em um depósito, e que nos sentíamos apertadas e presas, amontoadas em coisas que não tinham espaço para se acomodarem.

Desta vez, foi dramaticamente o oposto...
Saímos de um "apertamento" de uns 60 e pouquíssimos metros para uma casa de... bem digamos que é uma casa beeem grande. Todos os nossos móveis couberam na sala de jantar, pois ainda não podemos usar a sala de estar por causa da umidade do piso. Mas sinto que assim que o piso ficar seco e mudarmos o sofá de lugar, ele vai magicamente sumir, no tamanho do cômodo.
Se o mobiliário enchia confortavelmente nosso "apê", faz com que a casa pareça um enorme galpão...

Sei que com o tempo vamos adequando os móveis à casa, quero é ver se com o mesmo tempo eu me acostumo com outras coisinhas...
Em primeiro lugar, eu não vejo mais o Sr. Jeca.
Se eu estou no quarto e ele na cozinha, posso berrar que o zuiiiim do vento me abafa. É estranho não topar com ele a cada metro da casa. Solitário...

Casa tem barulhos típicos, que não se ouvem em prédio. Em prédio, qualquer passo escutado é imediatamente atribuído a um vizinho barulhento.
Em casa, ouviu algo bater na garagem? Pega o machado e vai ver... Só ontem à noite desci umas 10 vezes para constatar que era o vento que balançava os plásticos da caçamba da obra...
(sim, ainda estamos em obra... Amanhã voltam pedreiro, marceneiro, pintor, encanador, etc.)

Por outro lado, não acordar com o barulho dele no banheiro, com a TV na sala e com o ônibus na rua é espetacular.
Saber que você pode andar de salto sem que o interfone toque também...
E melhor, saber que quando seus amigos não tiverem dinheiro para passar frio em Campos de Jordão ou em São Joaquim eles poderão se encapuzar no seu ninho, se entregar ao vento e te fazer companhia, então... Sem preço!
Inté!!

quinta-feira, julho 26, 2007

Questão de tempo...

Essa semana estava na loja da minha operadora, esperando atendimento... Loja vazia, eu era a próxima, então esperei pouco, coisa de 30 minutos, tops....

Uma moça simpática senta-se ao meu lado e começa a falar... Moça tagarela...

Conta-me a vida, tem um filho liiindo, trabalha ali mesmo, no shopping, estuda Direito... Tem 19 anos.

Bom, as perguntas de sempre a uma menina de 19 anos que tem um filho de 2:

"O pai é envolvido?"

"Não, não é... Mas meu namorado!!! Nossa, ele é como se fosse o pai dele, eu fico suuuper tranquila, sabe, por que ele é óóótimo! Nossa, é o anjo que caiu na nossa vida"

"Ah, que bacana, quantos anos ele tem? Tem filhos também?"

"Não, ele tem 18 anos. Mas olha, tem uuuuma cabeça, iiiimpressionante, nem parace ter só 18 anos..."

(flashback.....)

"Ah, tá... Bacana, né?" (olho a senha, ansiosa pra sair dali...)

"Nossa, nem fale, e eu quero ter uma menininha com ele! Ele seeeeempre fala 'Amor, quando a gente vai ter uma menininha?'"

"Vocês estão há quanto tempo juntos?"

"Dois meses! Mas parece que é uma eternidade!!! (flashback) A gente já era amigo há muuuuuito tempo, faz já um ano que a gente se conhece!"

Ah.....

Flashback......

A senha apita, eu pulo!

Rio por dentro, talvez como minha mãe fazia quando eu dizia, aos 19 anos:

"Meu namorado tem 17, mas tem uma cabeeeeça, maravilhosa!!! A gente VAI casar e ter dois filhos!!!"

Um dia essa mesma menina vai lembrar de suas falas, e rir sozinha, feliz que se passaram anos e ela compreendeu algumas coisas que não era capaz de compreender aos 19. E valorizar o poder do tempo, que no fim das contas, é o grande sábio!!!


Inté!!

PS: Amanhã começo vida nova na roça.... Ficarei algum tempo sem internet, mas tentarei postar ou ao menos responder comentários em outros terminais da vida!


Ponte de Asfalto

Hoje cedo li que as empresas de ônibus estão lucrando horrores com a crise aérea...
Um motorista inclusive disse "temos passageiros mais bem educados, mais bem vestidos, até mais bonitos..."
Eu sempre tive mais medo de ônibus que de avião...
Na época da escola, eu ia pro Rio duas vezes por mês, e ia sempre de "busão". Pegava o Cometa e ia até a garagem da empresa, onde meu tio me pegava. Eu não descansava, a Dutra me apavorava e eu sonhava com as turbinas do avião.

Lembro que uma vez, íamos nos aproximando de uma praça de pedágio que tinha passagem livre, e à medida que aquele espacinho minúsculo de concreto chegava, o motorista acelerava.... Acho que era a diversão dele, sei que quando passamos, a uma velocidade recorde, sem nos estribucharmos na mureta, todos os passageiros bateram palmas, naquele típico movimento de alívio de medo extremo!

E agora, essa mesma Dutra é a opção mais segura, aos olhos dos viajantes.
Eu torço apenas para que o sucesso das empresas não "suba à cabeça" e que caprichem na manutenção dos carros e no treinamento dos motoristas...
Para que daqui há algum tempo, os passageiros apavorados não comecem a ir pro Rio de bicicleta.....

Inté!!

terça-feira, julho 24, 2007

Plano Pós Pago

Hoje, pelos postes das chiques ruas dos Jardins:

"Vidente do Amor. Pagamento Pós Resultado!"

É a crise, até as videntes estão arrumando jeitos de atrair clientela...
Parcelamos em 10 vezes fixas no cartão, pague uma sessão e veja Jim Morrison pelado na bola de cristal, faça nosso plano de 10 sessões e ganhe uma coca cola, e por aí vai!

Plano Vidente Pós Paga é genialidade de marketing....

Inté!!!

domingo, julho 22, 2007

Espírito Esportivo

Claro que ganhar dos argentinos tem um gosto especial...
Assim como ganhar do Corinthians, para nós palmeirenses.
E o outro lado também é verdadeiro! Perca a Copa na semi-final, mas nunca numa final contra os Hermanos... Perder pro São Paulo até vale, se garantir que não vai perder pro Corinthians...

Mas acho inconcebível desrespeitar qualquer jogador ou torcida como fizeram hoje no handebol masculino, contra a Argentina...

Não é apenas "saber perder", tem que saber ganhar com dignidade, também. Não condeno o argentino que jogou uma garrafa contra a torcida, ela neste caso, passou dos limites.
Um "olé" já não bastava?
Posso até ser careta demais, mas uma vitória assim, para mim, tem gosto amargo...
Mesmo comendo alfajor...

Inté!!

quinta-feira, julho 19, 2007

Pergunte ao pó...

Nada melhor em um momento de tristeza como o que estamos vivendo que... fazer mudança...
Pois é, hoje me vi prostrada em frente à tv e à internet atrás de mais notícias sobre o acidente, correndo o risco de me incorporar ao sofá e ali apodrecer, triste, lacrimejante...
Foi quando resolvi hidratar outra parte do meu corpo, o nariz....
É, isso mesmo, o nariz... Comece a encaixotar livros, cadernos e papéis que há pelo menos 2 anos estão guardados para ver se seu nariz não começa a pingar, desesperado com o pó que o invade...
É o que estou fazendo, e me sinto melhor. Pelo menos não fico pensando a cada segundo em como se sentiram as pessoas a bordo, o que viram, contando em minha cabeça até 4, e percebendo que 4 segundos é uma eternidade para quem percebe a iminência de um desastre... 18 funcionários a bordo, mais tripulação.... Estes, pelo menos, sacaram que algo estava diferente....

Mas de volta aos livros...
À tão esperada mudança...
A casa está nos finalmentes, depois de 1 ano e 9 meses de construção e 3 de planejamento, sonho, projetos, nos preparamos para mudar. Mais umas duas semanas e estaremos lá!
Aí, sim, vou virar jeca. A Telefônica ainda não chegou no condomínio, vou me virar com celular direto... A não ser que consiga uma linha de... "telefone rural"... Sério...
Assim sendo, a opção virtual é internet a rádio, que parece funcionar bem. Então poderei usar Skype para ligar para a civilização.
Televisão? Bom, ainda não liguei para a Sky, mas como usam antena, estou mais tranqüila.
Será que minha Folha de São Paulo chega?.....

Bom, por enquanto já fechei 8 caixas de livros... Fora os que ainda repousam sossegados na casa da minha mãe. E fora os que ainda uso para o mestrado.

Amigos, se eu sumir, não foi só por falta de tempo, não, tá?
Ou a internet não funcionou ou alguém me lacrou em uma das caixas e aí, só Shiva sabe quando me acharão...

Inté!!

terça-feira, julho 17, 2007

Tristeza

Eu vivia em Nova York na época dos ataques. Não estava no dia, mas assim que o aeroporto reabriu, fui no primeiro vôo. Fui com o coração na mão por meus amigos que estavam lá, e pela Luli, minha amiga-irmã que estava nos ares e precisou voltar...
Tenho tantas péssimas e tristes lembranças...
Lembro de ver, do JFK a fumaça subindo lá em Manhattan...
Lembro do cheiro de ferro e carne queimada que senti de longe....
Lembro da chuva de papéis no Battery Park...
Lembro de ir depois ao meu prédio, com a Cris, e não reconhecer minha própria rua...

"É aqui, sim Tati, é que agora não tem mais prédio para bloquear a luz".

Andar, com a Luli, na 5a avenida e não ver vivalma..... Só as bandeiras hasteadas.
Sair na porta do hotel e dar de cara com tanques do exército...
Ter que dormir com uma mochila contendo muda de roupas e passaporte ao lado da cama, pronta para qualquer fuga.

Tantas, que dóem...

Mas uma das mais chocantes foi uma cena que vi na TV local. Uma equipe médica, de braços cruzados na porta do hospital, esperando feridos.

"Estávamos prontos para receber milhares de feridos. Eles não vieram."

Hoje sinto a mesma dor ao ver as dezenas de ambulâncias na Av. Washington Luís. Uma tristeza profunda ao ouvir que as equipes médicas dos hospitais da região estão a postos, para "receber os feridos"....

Tomara que venham....

O pecado

Eu já falei aqui antes que não tenho nada de religiosa. Pelo menos acho que não...
No entanto, como sou parte do ocidente, não escapei da famosa culpa judaico-cristã que assola nossa cultura.
Prazer sem culpa não é prazer...

Esse final de semana quebrei um recorde do qual muito me orgulhava.
Há anos não ia ao McDonald´s.

Pois é, eu enchia a boca para dizer que nem me lembrava do último lanche que havia comido lá... Exceção feita aos sorvetes, claro!

Então descobri que eles finalmente aderiram ao mundo veggie e criaram um sanduíche feito de empanado de legumes.

Sabadão, geladeria vazia, marido fazendo um curso, e eu cansadíssima do shopping spree de sapatos do dia anterior, lá fui eu, rumo ao McDonald´s da roça.

Confesso que me senti mal.
Optei pelo Drive Thru, com medo de comer o lanche ali e ser vista por alguém...
Enquanto esperava o carro da frente pedir, me certifiquei que não o conhecia, antes de tirar os óculos escuros e soltar os cabelos...

Na minha vez, percebi que não sabia mais pedir lanche. Esqueci que havia "números", que facilitam ainda mais a vida do comedor de fast food. Tão fast que você nem perde tempo falando "big mac, batata frita grande e coca cola grande", já entra no speed dial: Número 1!

Pedi meu hambúrguer vegetariano, com queijo extra e uma batata frita pequena.
Pequena, para me sentir menos culpada...
E pra piorar, fui esperando falar com o microfone, não com uma moça de carne e osso.
Ao perguntar se podia colocar um pouco mais de queijo, ela se vira para a gerente e fala:

"A mulhé tá perguntando se pode colocar queijo no vegetariano?"

Mulhé???

"Olha, pode mas eu vou ter que te cobrar, viu? 80 centavos!!!"

Ao pagar, me senti dinossaura do Mac! Segurava uma bela nota de 10 reais crente que teria ainda algum troco. Afinal, era apenas um sanduíche e uma batata... pequena....!

"10 reais e 35 centavos!"

O que??? Na minha época lanche do McDonald´s era a opção de estudante sem grana, baratinho, baratinho... 10 pilas por um sanduba???? Que absurdo!

Bom emparelhei com o guichê seguinte, e mais uma vez me escondi... Vai que alguém na fila de dentro me conhece!
Me sentia como se estivesse no puxadinho de filme pornô do locadora, ou numa loja de dentadura, apavorada de ser vista por algum conhecido!

Saí dali aliviada, por não ter visto nenhum rosto familiar.
Já na rua, segura, fui acometida pelo cheiro do lanche de dentro do saquinho.... Coloquei-o no colo, e avancei na batatinha.... Esqueci da culpa... Não me lembrava do quão boa é a batata frita do McDonald´s.
Sem igual! Talvez nenhuma outra tenha tanta gordura e sal quanto ela, mas ainda assim.... De salivar!
Em casa, protegida dos olhares alheios, comi meu lanche. Sem graça... nada demais.
Não voltarei tão cedo pelo hambúrguer vegetariano, mas pela batatinha.....

Já vou até comprar aqueles óculos de fantasia de criança, que vêm com o nariz e o bigode...

Inté!

A penitência...

No mesmo dia em que pequei contra os bons hábitos alimentares, pude me penitenciar indo ao melhor restaurante francês de Campinas, do meu querido amigo Henri!
Além de um extraordinário chef de cozinha, ele é uma pessoa humilde e divertida que mesmo com dor no joelho, mancando e de operação marcada, não perde uma oportunidade de fazer piada!
Mais chique foi dizer ao garçom, ao fazer o pedido:

"O meu prato não está no cardápio, o Henri disse que faria um especial para mim..."

E veio...

Peixe ao molho de curry, abacaxi e figo do Afeganistão......

Uau, se todas as penitências fossem assim, eu pecaria mais, rsrsrs

Inté!!

sábado, julho 14, 2007

Shoes are a girl´s best friends... NOT!!!


Foto: Olhares.com

Eu definitivamente não sou uma garota de sapatos...
Não, eu não ando descalça, claro, mas sou absurdamente pouco ligada a eles.
Quando era criança, lembro de ficar chocada com a coleção de pisantes da Imelda Marcos, e acho que isso me traumatizou. Além disso, sempre achei meu pé a coisa mais feia do meu corpo, então nunca lhe dei muita atenção.
Há quase três anos, para ver se os valorizava, fiz uma tatuagem linda no pé direito, e comecei a cuidar um pouco melhor deles. Mas não foi o suficiente para gastar minha pequena fortuna de professora com sapatos...

Eu apelo pro conforto. Como trabalhei anos de salto alto, o evito a todo custo. No meu casamento, por exemplo, as lindas sandálias prateadas sobreviveram apenas à cerimônia. Depois da dança do casal, (forró, diga-se de passagem) entrou em cena meu chinelo, que me levou linda e sem bolhas até às 5 da manhã... E a Espanha, no dia seguinte.

Mais que isso, eu sou obsessiva... Se compro uma coisa que adoro, uso até enjoar. Roupa, cd, qualquer coisa. Sapato, mais ainda, por que quanto mais velho.... mais confortável...

Eu tenho um tamanco indiano VERMELHO, que chama a atenção de todos quando ando no shopping. Conversando com minha sogra, há um tempo atrás, ela me perguntou com que roupa eu iria a um evento, e me disse:
"Você não vai com aquele treco vermelho de novo, né??? AAAHHH, chega!!! Não agüento mais aquele tamanco!!!"

E para piorar a pressão, o Universo me deu uma con-cunhada que A-D-O-R-A sapatos, e que mora ao lado de Jaú! Pra quem não sabe, Jaú tem fábricas baratérrimas de sapatos, que vendem para lojas do país inteiro... O mesmo par que custa 150,00 em São paulo, sai por 30,00 por lá.

E lá fomos nós, para um shopping spree...

Eu até invejo aquelas pessoas que olham o sapato e já visualizam mil situações, mil roupas combinatórias para o par. Eu não... Minha cunhada tinha que me afastar dos mocassins confortabilíssimos e das sandálias rasteirinhas, que combinam com tudo que tenho no armário! Eu acho...

Mas me entreguei ao seu conhecimento, e me deixei guiar por seu bom gosto. Ela me apresentou um saltinho 5 prata lindo, e outro de couro trançado super delicado, também...
Mas não abri mão de uma rasteirinha, claro! E aposto que é ela que vai virar meu próximo tamanco vermelho...

Superar o trauma Imelda Marcos? Só com terapia...

Inté!!

Autismo Social

Eu não tenho nada contra tecnologia.
Adoro meu celular que toca o tema do Plantão do Jornal Nacional ou a música do Homem Berinjela quando meu marido liga...
Adoro saber que posso ver meu cunhado que mora em Berlim pela web cam e que ele vai me dar um tour pela janela dele para eu matar a saudade da linda cidade alemã...
Amo pegar minhas receitas no site da Ana Maria Braga sem precisar assistir ao programa...
E claro, amo saber que posso correr 15 maratonas sem ouvir uma música repetida sequer, no meu MP3 do tamanho de um toco de lápis...

Mas me choco com o uso que se deu a esse utensílio musical...
Já vivemos em uma Era de comunicação falha, ainda que os meios para tal sejam mais e mais eficazes. O ser humano não se entende... Haja vista a necessidade absurda de advogados, ou seja, eu preciso de um intermediário para me entender com o outro!
Crianças passam a tarde nos msn da vida, e se entendem mil vezes pior que na minha época, quando o grande barato não era "ler" minhas amigas em uma tela, mas fofocar deitadas na cama, comendo Mix Vigor e sanduíches feitos pelas mamis.
E agora os IPods...

No final de semana passado estava na praia, e como venho observando isso há algum tempo, resolvi escrever.
Eu, como paulistana e Jeca, curto praia pelo barulhinho típico do mar, do burburinho das pessoas, do vendedor de picolé Rochina, etc. E claro, o papo com quem está ao lado. Se estiver sozinha, o papo dos outros, que amo escutar...
Mas vejo que isso está acabando. As pessoas andam lindas, de biquínis e sungas da moda, em grupos de amigos enormes... Cada um com seu fonezinho nas orelhas...
Sábado passado tinha um japa dançando sozinho, balançando os braços e rindo pros amigos, como se eles também escutassem seu provável tum tum tum...
Ao lado, uma menina do mesmo grupo, balançava o corpo como se ouvisse uma balada romântica...
Só faltou um headbanger deliciando-se ao som do Sepultura...

Olhando a massa à beira do mar, vejo casais, amigas e amigos caminhando lado a lado, mas dificilmente juntos, já que cada um carrega seu mundo musical nas orelhas...

Imagino as boates do futuro próximo... DJs, comecem desde já a procurar outra profissão, logo mais não serão necessários, garanto.
Cada um entrará com seu MP3, com sua seleção pessoal. Enquanto um ouve techno, outro curte MPB e outro viaja ao som de Mozart. Todas as tribos em um mesmo lugar, cada um na sua, ninguém na de ninguém...
Quem olha de fora, reacionário à revolução individualista, vê loucos movendo-se no silêncio, urrando sons incompreensíveis, alheios à presença do outro...

Inté!!

sexta-feira, julho 06, 2007

Dia D!

Demorou...
Demorou mas chegou...
Dois anos e três meses, para ser mais específica...

Pela primeira vez, ao chegar em São Paulo, senti fisicamente a poluição...
Eu nunca tinha sentido isso... Uma aluna minha, no último passeio, me disse ainda na estrada, já pertinho da cidade:

"Nossa, pro, nós nem entramos em São Paulo é já está ardendo meu nariz..."

"Que sensível", pensei...

Sensível, pois paulistano que é paulistano é imune a esta sensação, paulistano da gema tem capa protetora no nariz e nos olhos...

Eu já não tenho mais... Senti-me marginal, em plena Tietê... Será que deixei de fazer parte da metrópole? Sou menos paulistana por sentir falta de ar e os olhos ardendo? Serei oficialmente desgarrada do meu rebanho por acordar no dia seguinte com uma tremenda dor de cabeça?...

Por outro lado, surpreendi-me ao pensar em como vivi assim por quase 30 anos. Três décadas achando que aquilo é ar, que o cinza do horizonte era apenas uma tonalidade de azul...

Outro dia ouvi na CBN, saindo cedinho de São Paulo, a seguinte frase de uma repórter:

"A zona Norte hoje tem o privilégio de ver um amanhecer de céu rosado, Heródoto! Rosado ou alaranjado, deixe sua imaginação escolher o tom!"

Privilégio? Imaginação?
Lembrei-ma daquela propaganda da Fiat, em que as pessoas saem correndo para ver um beija-flor....

Sim, sou paulistana nata, sinto-me parte daquela loucura inebriante, mas pela primeira vez me vi distanciada da realidade natural da cidade...

Ponto para a roça.... e para meus pulmões....

Bom feriado.
Inté!!

quarta-feira, julho 04, 2007

Para Rubina


Perdoe-me, Rubina! Aqui vai uma breve explicação do que é o chimarrão!
Não é nada alucinógeno, não, é uma bebida quente típica do gaúcho, ou seja, do morador do sul do Brasil. Como é a região mais fria do país, eles inventaram uma maneira de se esquentar, e usam uma erva mate, uma cuia e uma bomba, como se fosse um canudo! Como são vizinhos da Argentina e Uruguai, existem também os equivalentes "hermanos", chamados "tererê".

E claro, já respondendo aos comentários sobre "chima" e praia, lembrem-se: Gelado no calor dá choque térmico! Nada melhor para resfriar o corpo que um belo chimarrão no praia!!!!!!!!

Espero que dê para entender. Caso contrário, Rubina, fica o convite para uma roda, aqui no Brasil! Quando quiser nos visitar, terei a erva pronta e a água quente!!!

Inté!!

Legalize it...

Esta semana fiquei eufórica quando recebi minha erva.....
Calma, não é um post de apologia às drogas, nem sou daquelas que têm plantação escondida em casa. Sou filha de gaúcha, e a única erva que me deixa eufórica é a de chimarrão!
E com certeza a erva mate é, aqui em São Paulo, mais difícil de achar que a própria prima ilegal. Principalmente da boa...
De vez em quando encontro uma ou outra marca em mercados, mas como é de pouca saída, está velha e sem cor. Gaúcho que é gaúcho sabe que se o verde virou quase cinza, a erva já era!

Meu estoque geralmente vem da padaria da minha tia lá no sul. Mas como sou consumidora diária, ela logo acaba.
Agora achei um lugar que vende erva de primeira! Como não é lá muito mão para mim, (é no centro da mini-metrópole aqui perto) achei um intermediário eficaz, que também é viciado na verdinha e me trouxe cinco pacotes... A sensação de abrir o saquinho e cheirar aquela erva verdinha, novinha, é indescritível...

Mas o mais interessante mesmo, é observar as rodas de chimarrão fora de seu habitat natural. Roda de chimarrão com paulista não é roda de chimarrão! Desculpem, mas não é! (ontem meu desavisado marido, que está sendo iniciado na arte de ser gaúcho, ofereceu a cuia para outra pessoa antes de mim e quase dormiu no sofá!!!)

Eu já contei aqui, em outro post, sobre minha primeira roda de chimarrão na família! É uma aceitação do grupo, um momento de iniciação! As crianças não tomam chimarrão! Tomam o mate de leite! Minha tia Terezinha fazia em uma cuia menorzinha, e ao invés de água, era leite com açúcar queimado, canela e cravo! Maravilhoso. Mas à medida que eu crescia, queria entrar na roda adulta, deixar minha irmã e meus primos mais novos na roda do mate de leite e ser tratada como a adulta que eu achava que era na roda do meu tio! Quando me primo Alan, mais velho que eu, foi pro chimarrão, então... Fervi!

Logo fui aceita, e nunca esqueço deste momento. Meu tio Silon me ofereceu a cuia, e (música da Carruagem de Fogo no fundo) lá fui eu, deixando "as crianças" para trás, com o doce e confortável leitinho, para iniciar-me na arte do amargo e detestável chimarrão! Mas mantive a coragem, torci a cara com o gosto ruim e finquei o pé! Imagine, que eu ia voltar para o leite, deixar meu primo ali, triunfante, adulto...

Viciei! Hoje tenho crises de ansiedade se vejo o estoque de erva acabar!

Mas como dizia, roda de chimarrão tem algumas regras, que precisam ser explicadas.

1- O chimarrão roda, portanto, não largue a cuia na sua vez para bater papo com o vizinho. Se for na minha família vai ouvir um irônico "A véia morreu com a cuia????". Dê continuidade, o seguinte estará atento à sua velocidade...

2- Nunca, sob hipótese alguma, mexa na bomba!!!!!!! Um amigo querido ultrajou a bomba na minha frente de tal forma que eu precisei ir ao banheiro para respirar! Bomba não é palitinho de caipirinha, Roma, não precisa mexer nem socar a erva! Se entupiu, de uma leve virada rotatória e tudo fica bem! Uma vez vi um gaúcho colocar um prego na erva. Prego?
"Sim, tu mexe no prego mas não mexe na bomba!"

3- Termine sua cuia! É uma tremenda falta de educação passar a cuia com água ainda! A cuia tem que chiar, fazer aquele barulhinho de copo de sundae no último gole. Está amargo? Não gostou? Seja macho e aguente o tranco, entrou na roda é pra se molhar!! Novamente seu vizinho estará atento ao chiado! É a deixa para o seguinte!

4- Quem ofereceu o chimarrão é quem enche a cuia. É como se fosse um mestre de cerimônia da roda, sempre entregue a ele a cuia. Ele saberá a ordem da roda.

5- Se você tiver a honra de ser o mestre de cerimônia da roda, lembre-se: ao encher a cuia, a água tem que espumar! Aperte a garrafa térmica com força, para ver a erva borbulhando com a água! Se não borbulhar, o mate está lavado. Troque por um novo! Urgente! Antes que os gaúchos comecem a ter convulsões, rápido, corre....

Bom, para iniciantes estas regras são fundamentais. Primos, se lembrarem de mais alguma escrevam nos comments!
E dá licença que minha água está quase fervendo e água de chimarrão não pode ferver, pois queima a erva... E erva, por aqui, é artigo de luxo!

Inté!!