sábado, novembro 11, 2006

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.....

Eu acredito que certas profissões proporcionem grandes remunerações emocionais, daquelas que produzem frases como

“Ganho mal mas sou feliz”

Muita gente acha isso pataquada, especialmente aqueles que ganham fortunas sem ter prazer no trabalho.... Tive um namorado assim, há muito tempo... Ele detestava falar do que fazia, e eu não entendia por que... Pra mim, no auge dos meus 21 anos, fazer “Factoring” e ganhar a grana que ele ganhava só podia ser algo ligado ao mercado financeiro, bancário, sei lá, então, qual o problema?... Ele era super arredio quando a pergunta era

“Querido, como foi seu dia?”

Até que minha sábia mãe me esclareceu, que “factoring”, era um eufemismo moderno para o ofício milenar de agiotagem.....

oops, ok, i get it.....

Bom, mas o meu percurso foi bem diferente.... Sabia que seria professora acho que desde que nasci... Do jeito que sou, devo ter orientado o médico sobre a melhor maneira de me dar a palmada, mas enfim..... Isso é fato comprovado, quer ver?

-aos 6 anos, em férias em casa de família em Maceió, os moradores do prédio da minha prima vieram reclamar com minha mãe que eu estava organizando as crianças em torno de uma lousa e dando aulas.... de educação sexual...... Eu até hoje lembro dos desenhos que eu fazia em giz verde, a fim de elucidar a mente daqueles jovens de 4, 5 anos....

-aos 11, passando para a 5a série, eu voltava à tarde pra escola, já sem uniforme, para ser assistente da professora de artes, e comecei a ter gosto pela coisa. Lembro que minha tarefa era super simples, ajudar com o material, dar assistência para as crianças, etc, mas a que mais gostava era fazer a chamada.... Lembro de fazer as bolinhas nos quadradinhos ao lado dos nomes... Me sentia ainda mais poderosa quando era a sala da minha irmã, aí já viu, né, o poder subir à cabeça, mas tudo bem.....

-aos 14 anos ingressei efetivamente na profissão, na escola de inglês em que tinha estudado até então... Minha primeira turma na “Pink and Blue” era de crianças de 9 anos, e eu com 14.... As mães ficavam ao lado de fora da sala, fingindo tricotar e ficavam escutando, pra ver até que ponto a doideira da diretora ia... E ela era tão doida que se irritou com isso e me passou pra outra turma: de 11 anos! Chuta que é macumba!
(ps: meu pai chorou ao ver meu primeiro cheque... Queria enquadrar.... Gastei tudo em 4 cds dos Beatles, hehe)

E assim foi, até minha fase comissária de bordo, que foi uma tentativa torpe de fugir do destino... Assunto para vários outros posts, essa fase foi fundamental para eu ser quem hoje sou, mas principalmente para me mostrar que não há fuga daquilo que nasce com a gente....

E então voltei à sala, com meus pequerruchos de 2 e 3 anos. Maravilhoso, escola de vida, morro de saudades.... Me preparou para ser uma professora, uma mãe e um ser humano melhor.

E aqui estou, com meus demoniozinhos de 11 anos, 5a série interiorana que tem me alimentado muito neste ano.

Tudo isso, por causa de uma aula específica, que dei essa semana.....

Li com eles, em sala, O Pequeno Príncipe, o livro de toda Miss. Mas não foi numa leitura plana, fomos simbologia por simbologia, lemos em níveis bem profundos de interpretação, e fiquei muito surpresa com a capacidade que eles adquiriram de abstrair no plano da arte. Muito bem! Saí satisfeita da aula em que lemos o final, pois eles entenderam a mensagem (e não, Caia, o Pequeno Príncipe NÃO é uma viajem de ácido, pelo menos por enquanto, para eles, não.....) e alguns até choraram.... Nossa, auge de remuneração emocional, né?

Não... tem mais.....

Ontem fomos assistir à peça, com a global Luana Piovani. Quesito “produção” e “atuação” de lado, ganhei meu 13o afetivo quando ouvi, em unânime coro dos meus pupilos:

“Ai, pro, mas o livro é miiiiiiilllllll vezes melhor que a peça”

Não é tudo que qualquer professor de literatura quer ouvir?

Inté!

6 comentários:

Anônimo disse...

Sem palavras...
Emocionante de ler e de imaginar!
Da pra sentir o seu olhar e o seu sorriso em cada frase...
é como se eu tivesse nessa sala de aula,participando de cada passo,de cada fala, de cada texto...
sem duvida uma realização pra qq professor apaixonado pela profissão, sinceramente acho que somente na 2º série tive uma professora com essa paixão,a vejo em vc (foi lendo o Barquinho Amarelo,simples ++lindinho)
Bjuuuuuu

Anônimo disse...

Um dia tambem pretendo dar aulas... não sei quando , quem sabe quando eu tiver meus 60 anos... Esses pequenos de 11 anos não tem ideia da sorte que eles tem em ter alguem como voce como professora ! te imagino "brilhando os olhos" na sala de aula. Parabens "tia Tati"

Anônimo disse...

Tati, estou esperando ansiosamente o dia em que vc escreverá sobre as maldades cometidas contra sua irmazinha durante a infância... esse negócio de ser professora deve ter algo a ver com se redimir por ter maltratado criancinhas ehehehe!
Mas verdade seja dita: parabéns pela escolha de uma profissão tão linda, tão importante e tão desvalorizada por este Brasil injusto! Desejo que sua estrela brilhe muito, para que nosso futuro brilhe também!
mil beijos

Cláudia disse...

Poucas pessoas podem se dar ao luxo de fazer o que gosta como trabalho. Algumas até podem, mas em condições tão precárias que o prazer vem mesclado com o medo, a angústia e o desânimo.
Enquanto houver professoras entusiastas como você, haverá caminho a ser seguido na educação.
Minhas lembranças dos meus professores são as melhores possíveis, até dos que eu não gostava eu me lembro com carinho.
Porque não é mole não...
beijo e parabéns!

PS: tb, o livro concorrer com a Luana... fala sério né?

Anônimo disse...

Tati não tinha tido a oportunidade de ler antes... adorei! Li para o Rafa o pequeno principe e foi tão bacana... vimos o filme tb...
Estou com saudades!!! Eterna apaixonada teacher!!! Te adoro...

Tati disse...

que bom querida... que bom que vc e o rafa curtiram... venham sempre, viu??? adoro vocês! beijos