terça-feira, novembro 14, 2006

Ora, Direis


Madrugada fria de segunda feira, Olívia chega cansada e se assusta com o manto negro acima de sua cabeça..... Nascera na cidade, sua relação com o céu era fragmentada, o via ora cortado por prédios, ora coberto pela poluição... Ali, apoiado pelos vales baixos e respirando ar limpo, ele não se esconde e brilha. Um brilho tão intenso que Olívia se curva, súdita....

Deita-se na grama, esquecida do frio, e se une ao orvalho em sua contemplação. Tem medo daquela imensidão, ela parece sufocar em meio ao aberto.... Ameaçador, sem bordas. Insustentável para seu corpo franzino.

Olha as estrelas....Procura escutá-las, entendê-las. Fixa o olhar e vê um enorme lençol negro, esticado, por cujos buracos feitos por agulhas passa uma luz intensa, forte....
Pensa em desejos, desejos que não pôde realizar. Parece ouvir aquela luz gritando, empurrando o manto escuro, buscando estourar aquelas mínimos corredores e sair de vez.....
Decepciona-se, esperava aquilo com ansiedade e se viu como aquela luz, intensa por dentro mas presa aos finos túneis........

Fecha os olhos e busca a sensação..... Fica nela por uns instantes, e logo torna a olhar.

Agora as estrelas se posicionam à frente de um vazio profundo, e já não precisam dele para se apoiar. Flutuam sozinhas, são independentes, e dominam o céu. Já não explodem pelos fios abertos, mas brilham nucleares, magnânimas....
Olívia arregala os olhos e percebe que elas agora não gritam mais, mas sussurram para serem olhadas, sussurram com uma força descomunal. Uma força de amizade renovada, de uma confiança ganha e de barreiras transpostas.
Sim, elas pularam o lençol, deixaram-no para trás, e agora cintilam ali, em espetáculo único para Olívia.....

Ela mais uma vez fecha os olhos, entregue, e lembra-se de um poema. Nunca ele fizera tanto sentido quanto agora.

Sentindo o orvalho gélido nas costas, Olívia ainda ouve mais alguns sons daquele céu povoado, e logo adormece.....

"Ora, direis".....

7 comentários:

Anônimo disse...

Lindo, Jeca... é incrível seu talento para casar as palavras.. vc percebeu que usou o nome da sua sobrinha????
Caia

Tati disse...

não sabia que tinham optado por olívia...... usei em referência ao autor do poema de que ela se lembra...
que bom que gostou...
beijos

Anônimo disse...

O.dom...
de.escrever.com.a.alma!
bjus.Vivi

Ana Flá disse...

ficou mto lindo
isso sim que é a beleza
super meigo
beijos Ana e Ricardo

Carol Passos disse...

oi pro.....
eu li algunns textos seus

Carol Passos disse...

amei todos!!!

Carol Contreras disse...

Ai! Que post meigo,tão bem descrito, falando até do último fio de cabelo da moça.
Muito legal!
Inspirador!

Parabéns