Seus olhos assustados olham o relógio. São três e meia da manhã. Ela está sozinha num quarto que não é o seu, numa cama desconhecida, atemorizada pelas paredes. Faz frio, muito frio. O hálito gélido da madrugada toca seu pescoço, e ela sente medo.
Encolhe-se por baixo do lençol, não se move. Abraça os joelhos. Deixa as luzes acesas, na esperança de ganhar um pouco de segurança e, quem sabe, pegar no sono.
Sente-se estranha, acuada. Finca as unhas no lençol, como que em represália pela prisão. Busca ajeitar a cabeça no travesseiro duro e pede ao sono que venha rápido. Só ele a salvará daquela sensação. Em sua companhia, as horas passarão rápido e logo a luz do dia a livrará da solidão.
Treme, não sabe se de frio ou de medo...
Como chegou ali? Não se lembra mais... Quem trancou a porta? Não fora ela, certamente.... Não se lembra de ter andado por aquele piso, não sabe o que há no fim do corredor. Parece viver em sonho....
Com outro travesseiro no rosto parece cochilar. A dor passa por um instante, e ela avista um lobo. Seus olhos são verdes e cintilantes, refletem sua própria roupa. Ele se vira para ela e ruge...... Despertada pelo som, o medo volta, incrementado pelo rugido do leão na boca do lobo.
Precisa virar-se, seu braço adormecera, e ela se sente traída por ele. Não quer mudar de posição, muito menos dar as costas para a porta. Teme-a, majestosa, ao final do corredor iluminado.
O que era aquele lugar?
Em meio ao peso da madrugada ela ouve vozes. Parecem brigar. Quer gritar para que venham buscá-la mas está fraca demais. Será que sabem que está ali? Portas se abrem e se batem, sente que alguém vai entrar, a qualquer momento....
As horas não passam.....
Precisa fugir, e em meio aos seus pensamentos, nota uma leve claridade vinda da janela. Anima-se. Sabe que ao renascer o sol, renascerá também sua coragem.
Aguarda, ainda sem se mover.
Já não quer mais dormir, o sono lhe trouxe mais medo.
Mais claridade....
Os quadrados do piso parecem lama e sente frio.......
Claro, amarelo.....
Sairá pela porta? Não sabe o que há por trás, não quer andar naquele corredor.
Sol.....
Vira-se e, finalmente, dá as costas ao corredor.
Rola até a janela e não reconhece o lugar.
Vê-se ave, e começa a bicar o vidro, com a força que lhe faltou antes. Sente a pele rasgar e engole sangue.
Bica mais forte.
Ouve o vidro cair na calçada e respira o ar da rua. Continua bicando, e já tem o corpo atravessado, quase liberta daquele quarto.
Seu coração pára, ao ouvir um rugido atrás de si. O medo lhe rouba a respiração. Sabe que se olhar em direção ao som, os olhos esmeralda queimarão sua retina, e perderá a força.
O rugido fica mais próximo...
Reúne a última vontade e cai na calçada. Enquanto cai, sente algo cortar seu pé, mas já não teme. Está fora, livre. O rugido cessa, e ela se levanta. O pé e o bico sangram, mas caminha segura.
Tem fome. Acha um ramo de hortelã em um canteiro e o coloca na boca, amarga de sangue.
Não olha o pé. Não quer saber o que o rasgou, se foi um pedaço de vidro, ou os dentes do lobo.
Agora já não importa.
Agora já não tem medo.
Agora está livre, esquentando o corpo com o sol nascente.
5 comentários:
que lindooo
Sem.palavras!
Simplesmente,lindo!
ó.dom!
dom.do.magnífico...da.percepção...
das.palavras...
lindo...simplesmente.lindo!
nossa, Jeca.. vc conseguiu me levar àquele quarto e juro que senti medo e frio.. muito vivo!!!
Sua mana
Não gostei.... detesto ser sincero, mas posso. Acho. Mas respeito. Mas como escrevo muito mal, se comparado a mim, esta otimo. Mas não gosto.
adoro sinceridade, tenho dito.... nem posso sonhar em agradar a todos, deixe sempre sua opinião!
beijo
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