quarta-feira, novembro 28, 2007

Tá aqui, alguém traz o saco?

O vídeo da menina de quem eu falo no post abaixo...

Não quero desrespeitar nenhuma crença, de maneira alguma, mas meu único questionamento é: até onde eu sei, o tal Senhor ouve até oração por telepatia, ou seja, mudo também fala diretamente com Ele, então... Pra quê gritar?????

Pede pra sair!!!!

Feliz com a ressurreição da MH, cheguei ao blog dO MH, e vi um post que me intrigou... Ele enumera 5 pessoas em quem ele colocaria o saco plástico na cabeça... Lógico que logo me vieram as tais figuras, roxas, arrependidas ou amedrontadas, não sei, mas roxas enfim.

Antes de mais nada, devo confessar que ainda não assisti ao filme Tropa de Elite. Eu tenho a tendência de fugir de tudo que é "in", por algum motivo desconhecido da minha consciência. Especialmente quando já sei de cor e salteado o enredo, as personagens e até a porra da musiquinha que embala as torturas... Não tem um dia que eu não entoe "pará pá pará pá pará pá pá...". Uso a metáfora do Capitão nascimento com meus alunos e brincando, mando pedir pra sair.
Pra quê ver o filme, então?

Conhecendo-me como conheço, quando sair em DVD e todos já tiverem esquecido o filme eu pego, como fiz com o Código Da Vinci, e quem sabe um dia farei com o Caçador de Pipas. Detesto Best Seller e Blockbusters...

Mesmo por que tenho a obrigação de um trato que fiz com a minha irmã. Se ela assistisse a três episódios do The Office eu assistiria ao Tropa. Ela já conhece Michael Scott, Dwight Schrute, Jim e Pam, e eu ainda não cumpri minha parte. Mas vou...

Enfim, as pessoas em quem eu colocaria o saco na cabeça são:

1- Renan Calheiros, pra dar exemplo...

2- Hugo Cháves, just for fun...

3- As madames que descrevi em post de março, que levam a babá para a praia e nem sequer lhes proporcionam o prazer de usar um maiô e se divertir também. Enquanto as tais moças de branco cuidam dos "brats" mimados (os mesmos que quando crescerem darão perda total na Ferrari que papai lhes deu.... Quer atenção ou o quê?) elas madamemente folheiam (e lêem, por incrível que pareça) a mais nova edição de Caras. Pelo princípio da coisa...

4- Paulo Coelho, pelo bem da litaratura...

5- Numa menina cuja voz sai do meu rádio quando chego em casa, e minha empregada escuta quando não estou. Ela me lembra o Exorcista, deve ter uns 10 anos e prega (ou melhor, GRITA a palavra Dele...) Entro e tenho que trocar a rádio logo, se não tenho medo de ter pesadelo. A pequena pastora é carioca, e profundamente agressiva e histérica. Me dá medo. "Senhooooooorrrrr, abre a poooooooorta, Senhoooorrrr.... Moisééééééééééiixxxxxxx eixxxxxtááááá defronte o Mar Verrrrrmeeeeeeeelho, Senhooooooorrrrrr".
Saco nela...
Por quê?
Pra eu ir pra fogueira, né, imagina e legião de seguidores me perseguindo por resto da vida. E é capaz dela ainda furar o saco plástico com os agudos e atribuir o milagre à "mão diviiiiiiiãããna Senhooooooorrrrr"...

Pode deixar, eu mesma peço pra sair...

Inté!!

segunda-feira, novembro 26, 2007

O quartinho

Deixo aqui uma fotinho do quarto do Romeo, pintado neste final de semana. Faltam móveis e a cortina, mas o básico já está pronto. Na parede, um poema do Mario Quintana.
Inté!!


sexta-feira, novembro 23, 2007

Sobre carros...

Foi-se o tempo da simplicidade. Foi-se o tempo em que a palavra de honra de uma pessoa valia mais que sua própria vida. Foi-se o tempo em que o homem acreditava no... homem.

Pensei nisso ontem, em meio ao difícil processo de se trocar um carro velho por um novo. Quase um escambo... Algo tão antigo quanto nossos ancestrais portugueses e indígenas.
A negociação inicial parecia tão simples: você deixa seu carro, pelo valor de tanto, e leva o novo, pagando a diferença de tanto.
Simples, não?
Mais ou menos.

O passo seguinte vem por fax, acho que para evitar o xingamento do cliente e uma possível agressão física. (É como ter que ligar para alguém com quem você não quer falar, o grande alívio de se cair na caixa postal... Ufa...) Uma lista imensa de documentos que devem ser entregues para se liberar o produtinho novo... Claro que certos itens são até compreensíveis.

-Manual do carro, chave reserva, documento original transferido e autenticado, porte obrigatório (sim, como o de armas... O documento que você lava na carteita se chama porte obrigatório...), DPVAT pago e guia de multas pagas. Então você se depara com os seguintes itens:

-Revisão de motor, feita no posto DINHEIRO FÁCIL, na avenida BUROCRACIA, número X! Valor a ser pago: 40 reais.
-Certificado de IPVA pago de 2005, 2006, 2007..... (caso o cliente não possua, pagar taxa de 30 reais na Secretaria da Fazenda para adquirir)

A grande vantagem de ser Jeca, nessas horas, é a facilidade em se resolver tais questões.
Cartório sem fila, cidade sem trânsito, você no balcão às 10h30 e sua aula começa às 10h50. Você chega atrasada? Não... Chega uns minutinhos antes, com tudo resolvido, e ainda toma um cafezinho.

Então deve ir à cidade vizinha onde está o tal posto da secretaria da fazenda... Outra vantagem de ser um paulistano morando no interior é a capacidade impressionante de se locomover em lugares desconhecidos. Para quem morava no Morumbi e teve que ir até Arthur Alvim ver o boleiro do casamento, ir de Itatiba a Jundiaí é melzinho na chupeta. Umas referências dadas e pimba, chega lá em 25 minutos.

Aí o bicho pega. Pode ser da metrópole, da roça ou de qualquer outro canto desse Brasil Baronil, somos todos filhos da burocracia nacional!

Fila na Secretaria da Fazenda? Nenhuma. O senhor de óculos que mal te olha no rosto preenche o pedido dos comprovantes de 3 anos de IPVA, você acreditando que serã tão fácil quanto chegar até lá. De repente, ele muda o tom, e diz:

"Olha, aqui é assim que funciona. Você leva estes formulários, preeenche, traz uma cópia dos seus documentos autenticada e paga as taxas no banco. Aí volta, protocola e nós encaminhamos para fazer o comprovante."

Você olha de novo o pedaço falho de fax com as instruções e pergunta:

"As taxas? Não são só 30 reais?"
"Sim, 30 reais para cada ano solicitado..."

Ah, váprapatacapara!

Mais urbana que Jeca, você sai em direção à concessionária, que fica ali perto. Irada, bufando e ensaiando no carro o discurso.
Chega e vê o vendedor que vem falando com você há dias, e todo dia faz a mesma pergunta: "E o bebê? Como está?"

"Olha, até onde chequei ainda está aqui. De ontem pra hoje ainda não saiu, e acho que ainda vai demorar pra sair."

Claro que isso você só pensa, mas já chama o rapaz na chincha, que papo é esse de me fazer gastar 90 reais de comprovantes mais 40 de inspeção no carro, se tenho os documentos aqui? Se o governo me deu os documentos quer dizer que paguei a porra do IPVA, então se ele quer mesmo que eu busque os comprovantes, vai ter que descontar do preço do carro!

Jeca geralmente tem medo de bronca, não gosta muito de conflito, e logo o rapaz resolve, e "pra você a gente dá um jeito..."

Dar jeito? Não estou pedindo tratamento especial, mas justo.

Saí mais calma, porém não menos revoltada com nossa cultura burocrática.
Em homenagem a isso, deixo com vocês um vídeo excelente dos meus portugueses queridos, para o final de semana...

Inté!

quarta-feira, novembro 21, 2007

Sinais da Idade

Não se trata de rugas, apenas, não...
São alguns sinais perceptíveis que te fazem suspirar e pensar:
Nossa, estou ficando velha...

-Acordar às 8 da manhã no final de semana e falar "que delícia, é tão bom acordar tarde..."

-Passar por uma rua e notar que a casa onde você fazia aulas de inglês foi demolida e em seu lugar há um prédio comercial.

-Ouvir uma pergunta com o seguinte começo: "Pro, antigamente, quando você era criança..."

-Perguntar a um aluno mais alto que você em que ano ele nasceu e ficar horrorizada ao descobrir que foi em 1996... Não 1986, 1996!!!!!

-Constatar que amigos de adolescência ficaram carecas.... (antes dos devidos revides, preciso dizer que muito mais interessantes, mas incontestavelmente carecas...)

-Lembrar que "antigamente" não se passavam traillers no cinema, mas a Semana do Presidente e lembrar da frase:
"Nesta semana, o excelentíssimo presidente da república João Figueiredo esteve".....

-Ter plena consciência da evolução da Madonna.... Alguém quem nasceu em 1990 entende essa frase???? Duvido!!!!

-Ter vergonha de dizer que precisa de um carro maior U-R-G-E-N-T-E-M-E-N-T-E pois vai ter nenê e P-R-E-C-I-S-A de um porta mala gigante para as coisas dele. Vergonha por que se lembra muitíssimo bem de sair de viagem em um Fiat 147 sem ouvir gritos desesperados dos pais por causa de falta de espaço.

E claro, o sinal último da chegada da idade:

-Chamar as filhas de suas amigas de "nora".........

ai, ai....

Inté!!

terça-feira, novembro 20, 2007

Quem resiste?....


Todos sabemos que mulher não precisa achar um homem perfeitamente lindo para o achar irresistível... Isso é sabido e notório, olhamos charme, postura, etc e etc. Ok...
Tudo já muito falado e discutido...
Mas certos casos são quase lendários...

Um deles é o Chico Buarque.

Eu nunca havia caído nas malhas de sua aura magnética, apesar de ser fã de carteirinha.
Amo sua música mas nunca vi nada nele além disso.
Se formos observar de perto, ele tem um nariz feio, uma pele furadinha e é do tipo magrelinho. Eu sou grande demais para homem magrelo...

Olhando as fotos antigas, sempre achei que se eu freqüentasse Ipanema nos anos 60, o Tom Jobim teria tido muito menos trabalho para arrancar minha tanga que o Chico, que eu deixaria de boa vontade para a Marieta...
Até hoje.

Comprei um box de DVDS dele, e estou há dois dias os assistindo.

Ouvi-lo cantar com o Edu Lobo e falar da ditadura é de arrepiar.
Vê-lo humildemente se esconder com os backing vocals para deixar a Velha Guarda da Mangueira brilhar é de encher os olhos de lágrimas.

Agora...

Vê-lo cantar, olhando para a câmera (ou para VOCÊ, dependendo do seu nível de absorção utópica):

"Te dei meus olhos pra tomares conta", enquanto aquelas duas bolas de gude azuis, embaixo de sobrancelhas pedintes urgem por um colo, é de entender a magia dele.

Tá bem Chico, eu provavelmente teria me danado nas mãos do sedutor e malandro Tom, mas se topasse com esse seu olhar de cachorro sem dona ao sair dos braços dele, já sei que seus braços pequeninos e ossudos poderiam me embalar, facilmente...

"Dizer que não quero, teus beijos nunca mais...."

Inté!!

segunda-feira, novembro 19, 2007

Soluções Urbanas para Problemas Jecas!

O que você faria se encontrasse, grudada à parte interior da sua janela do closet um princípio de casa de marimbondo?

a) Chamaria o jardineiro para removê-la e passar SBP.

b) Muniria-se de uma vassoura e descontaria sua raiva contra a CPMF nela.

c) Tamparia a entrada dos marimbondos com creme de barbear.

d) Nada, eles chegaram antes!
(Como bem nos disse em reunião uma ecologista do Ibama, ao tentarmos chegar a uma solução sem sangue, mortes ou extinção das 200 capivaras que moravam no condomínio!

"Vocês não podem fazer nada, elas chegaram ali antes..."

Um morador raivoso respondeu em melhor estilo urbano:

"Mas elas não pagama IPTU!!")


Enfim, você teve tempo para pensar? Abaixo segue a resposta...



















quarta-feira, novembro 14, 2007

Desafio de Rubina

Recebi o seguinte desafio de nossa amiga Rubina:

1º) Pegue um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2º) Abra-o na página 161;
3º) Procure a 5ª frase completa;
4º) Poste essa frase no seu blog;
5º) Não escolha a melhor frase nem o melhor livro;
6º) Repasse para outros 5 blogs.

"E a denúncia desse absurdo se faz através de um outro absurdo: o que resulta da subversão não só das leis naturais que nos regem, mas principalmente da linguagem. Indiscutivelmente, o grande valor literário de Alice no país das maravilhas está em sua invenção de linguagem, correspondendo essencialmente à natureza das fantásticas aventuras ali concretizadas."

Nelly Novaes Coelho, em Panorama Histórico da Literatura Infantil/ Juvenil.
(Em época de qualificação de mestrado, os livros mais próximos são os teóricos mesmo. Se pudesse escolher, a Ana Karienina está bem atrás, guardada para a licença maternidade, rsrsrs.)

Repasso aos seguintes amigos:

Cláudia
MC
Gatta
Capitão
Carolzinha.

Último capítulo do Funeral abaixo...
Bom feriado!!

Blogsérie: O Funeral, capítulo final

Acabou tudo muito tarde. Sílvia se esquecera de que certos eventos páram a cidade, que na falta de lazer, usam até os funerais para se encontrar e bater papo. Não suportava mais, também, os discursos que sua irmã pedira ao pastor. Sentia-se enganada, suja, vendo sua mãe ali, obrigada a uma bênção que não era dela.

Quando finalmente D. Lourdes descansou, rumaram para casa, juntos, caminhando pelas ruas de terra da cidade. Paula ia à frente, buscando as mãos de Nelson. Sílvia observava os sobrinhos, que eram totais desconhecidos, apesar de traços familiares. Marta parecia aliviada, quase feliz. Será que se sentia vitoriosa, por ter imposto, no último momento, sua fé à mãe?

Viu o ônibus, quis entrar nele. Tinha feito o que precisava, não queria mais entrar pelo portão de ferro daquela casa. Casa de ninguém.

Jantaram em silêncio, sem fome, à beira da tensão.

Sílvia foi a última a se levantar, e secou a louça que a sobrinha lavara.

Cansada de todos, foi para seu quarto, de onde esperava sair direto para São Paulo. Mal fechou a porta e ouviu alguém bater.

-Posso entrar?

-Pode, Paula, achei que você tinha desistido de conversar.

-É, eu pensei nisso. Mas o que você me disse hoje antes do velório ficou na minha cabeça, e não quero deixar isso assim. Você acha mesmo que eu queria ter a sua vida?
Paula não parecia tão ameaçadora quanto antes.

-Acho, desculpe mas acho. É a única coisa que posso pensar pela maneira como você me trata. Apesar de que você não é lá muito melhor com a Marta.

-A Marta é uma tola, eu tenho é pena dela.

-Pena? A voz de Marta apareceu por trás das duas. – A porta estava aberta, ia descer para beber água e ouvi vocês. Pena, Paula? Por que eu precisaria de sua pena, se tenho o apoio Dele?...
Paula falou rispidamente:

-Dele? Dele, quem, Marta???? Quero só ver o que você vai fazer agora, que não tem mais a mãe como desculpa para não viver! Nem freira pode ser, por que na sua igreja não tem isso. E vai ficar sentada esperando um homem de bem, que aceite você com quase 40 anos, ainda virgem. Pena sim, por que isso nunca vai acontecer.
Marta ficou em silêncio, e só pôde responder depois de engolir o nó de choro.

-Olha pra você, Paula. Tem tudo isso que você acha que eu deveria ter e é infeliz. Seus filhos estão crescendo, cada vez mais afastados de você; sua beleza já foi embora há muito tempo e se ficar sozinha seus antigos casos não iam te querer nem no escuro. E a chance de você ficar mesmo sozinha é grande, já que seu marido ama sua irmã mais velha! Pois é, irmã, acho bom você engolir sua pena, por que daqui a uns 20 anos, vamos estar as duas, sentadas nessa mesma varanda onde a mãe morreu, tricotando para ninguém! Juntas e sozinhas!

Sílvia sentiu a espinha gelar, pois sabia que a conversa ia agora para o assunto que menos queria discutir.

Tentou consertar antes de ser confrontada.
-Marta, não é verdade... Eu fui colega do Nelson há muitos anos, eu mal lembrava dele.

-Mas ele lembrava, e pelo que vi hoje no velório, muito bem, murmurou Paula, enquanto fingia dobrar a colcha na cabeceira da cama.

Ficaram as três em silêncio, por algum tempo. Marta olhava pela janela, talvez na tentativa de vislumbrar algum sinal Dele que a provasse certa.
Paula mordia o lábio inferior e tinha uma sobrancelha levantada, enquanto se ocupava com um pedaço de cutícula. Tivera sempre mãos nervosas.
Sílvia as observava, enquanto abraçava o travesseiro, quando teve a consciência plena de que aquelas mulheres ali ao seu lado eram estranhas com quem estava forçando laços inexistentes. Ouviu um copo se quebrar na cozinha.

-Talvez você tenha razão, Sílvia, talvez eu realmente gostaria de ter tido a coragem de ir embora daqui. Mas eu não invejo você. Não queria a SUA vida. Queria simplesmente outra vida...

-Você tem tempo, Paula. Não precisa largar tudo, seus filhos, mas pode mudar o rumo, ajustar a vela...

-E você poderia ter um pouco mais de fé, Sílvia. Tem essa pose toda de fortona, de independente, mas tenho certeza de que se sente frágil, desamparada.- Marta interveio, sem tirar os olhos das nuvens noturnas. Já era tão tarde...

Sílvia teve vontade de responder, de dizer que sua fragilidade não era em nada mística, que não precisava do oculto, ou “dele” para se sentir protegida. Quis dizer que vivia na realidade, e que na realidade, o homem que a guiava na igreja dela estava era bem rico, enquanto ela contava trocado pro pão. Quis berrar que, como Paula, também tinha pena da irmã, que a achava ignorante e cordeira, e que ela cheirava a mofo. Disse apenas:

-Pode ser.

Depois de mais um buraco silencioso, Sílvia olhou o relógio e se angustiou com aquela conversa circular.

-Por que não continuamos amanhã? Estou super cansada e pra ser bem sincera, acho que esse pronto socorro de feridas não está resolvendo nada. Vivemos em três mundos diferentes, e se nem com mamãe viva nos aproximamos, sem ela é praticamente impossível.

-Então pra que continuar a conversa? Vou ter que olhar o Nelson todos os dias e me lembrar de você... É o que me sobra.

-Isso é com você, Paula. Eu não posso te ajudar em nada. É sua escolha.

Marta voltou o rosto para o quarto, enquanto se dirigia à porta:

-Amanhã nos vemos?

Paula já estava fora.

-Talvez. Acho que saio bem cedo.

-Boa viagem, então. Que Ele te acompanhe.

-Obrigada, Marta. Se cuida.

Sorriram aquele sorriso em que o lábio inferior simplesmente empurra o superior, sorriso inventado para essas situações, em que nem se ama, nem se odeia.

Sílvia ficou sozinha, mais uma vez. Em meia hora abriria a porta do carro, e sumiria na noite. Aliviada, resolvida.
Para nunca mais.

sexta-feira, novembro 09, 2007

Rosa ao mar...

Vi em um documentário na GNT um exemplo clássico de desrespeito religioso, mais um que me faz ter a certeza das minhas convicções ecumênicas!

Em um templo na Índia, indianas que cuidaram de seus cabelos durante 15, 20 anos em nome da religião os cortam como oferenda aos seus deuses. OFERENDA! Aos DEUSES.....

Sempre que via as moedas de Ienes jogadas nos templos Budistas no Japão me perguntava para onde ia aquele dinheiro. As pessoas o atiravam para Buda, mas nunca vi Buda comprando comida ou roupa, então não era ele quem gastava...

Será que as tais indianas nunca se perguntaram se sua oferenda chega mesmo às mãos de Krishna, Vishnu ou Shiva?

Por que se o fizerem, vão perceber o enorme engodo a que se submetem.

Os cabelos são recolhidos dos templos e vendidos a fábricas italianas de apliques, sofisticadíssimas, que os tratam, tingem, e revendem a preço de trufa aos salões de beleza da Europa e EUA.

Os "temple hair", como são chamados, saem da categoria oferenda e voam direto para as lindas cabeças das socialites, que pagam absurdos e duvido que elas agradeçam a Shiva pelo empréstimo da oferenda feita a ele...

Patético, triste a revoltante exemplo da exploração humana...

Inté!!

Plim Plim!

Eu fui loira uma vez.

Uma vez mesmo, por que quando tive que refazer as luzes deu uma preguiça desgraçada e eu voltei à forte morenice. Gosto de ser morena, afinal, é com elas que os homens se casam né?... Mas durante os três meses que eu aderi ao look "femme fatale", pude notar o quanto uma simples cor de cabelos muda a percepção das pessoas com você.

Não é preciso ser liiiinda não, basta ser loira, que os primeiros olhares serão seus. É batata.

A morena precisa, para receber esta tal atenção imediata, de atributos chamativos, sejam lábios jolinianos, altura de assustar anão, um belíssimo par de airbags ou um amortecedor traseiro de torcer pescoço. Como grande parte de nós, mortais, possui isso tudo em proporções normais, ganhamos em outros quisitos, como "conjunto de obra", "harmonia" e "evolução".

Para tal avaliação ser feita, entretanto, não basta o soar da bateria, mas a escola tem que passar inteira.

Isso leva mais tempo.

Eu sempre fui desta classe de mulheres, das que não chegam a parar o comércio mas ganham fregueses bons e fiéis. Assim sendo, nunca proferi frases como:

"Nossa, ele falou comigo olhando meus peitos", ou

"Ele nem olhou na minha cara, só pra minha bunda".

Claro que esta situação mudou....

Não, não siliconei nada, nem mesmo os finos lábios. E também não voltei a ser loira.

Simplesmente engravidei.

"Ah, a Jeca deve estar usando sutiã 50 double cup, arrasando no decote!!!"

Foi o que você pensou? Pensou errado!

Continuo abaixo das expectativas peitorais, mas há algumas semanas, as pessoas não me olham primeiro no rosto.

Descem pra barriga!

É engraçadíssimo perceber tais nuances, é um simples piscar de olhos, da rapidez da sinapse feita do seguinte pensamento:

"Jeca chegou / Jeca está grávida/ Como será que está a barriga da Jeca?"

Plim, olho no umbigo! E sei que eu faço a mesma coisa, é tão gostoso acompanhar a evolução de uma barriga, não?....

Por isso deixo aqui, hoje, uma breve demontração... A barriga de 6 meses e meio! Enjoy! Inté!! Boa semana!!

Blogsérie: O Funeral, capítulo VI

O dia começou com um estalido. Era o som do caixão de madeira barata se abrindo, enquanto as filhas em volta esperavam para ver a silhueta da mãe.

Marta, chorando, segurava seu livro santo, e o apertava contra o peito. Sílvia sentia ternura pela irmã, cujo único mal era acreditar demais. Não sem uma certa arrogância, a achava pequena. Mas boa.

Paula estava ereta e sua expressão era de força, quase indiferença. Mas Sílvia notava suas mãos nervosas, inquietas, trêmulas. Era filha, antes de tudo.

E Sílvia não sabia o que esperar. Até aquele momento, tinha ido velar uma idéia, um conceito de ser humano que há alguns anos não via. D. Lourdes era um conceito, nada mais.

Até escutar o estalido, e mudar sua atenção das irmãs para dentro da caixa. Sentiu frio. Frio interior, daqueles que murcham o estômago e tiram a força das pernas. Perdeu o ar para a garganta fechada.
Foi a primeira a se aproximar do corpo, e tocar-lhe a face. O calor do abraço não estava mais ali. Sua mãe não estava mais ali. O que via era uma senhora enrugada e com semblante triste, que a maquiadora da funerária tentou rejuvenecer.

-Mamãe parece uma puta, quem é a maquiadora?
-Paula, por favor, calma... Isso lá é jeito de falar!

Sílva caminhou em silêncio até a bolsa e pegou um creme. Enquanto Paula esbravejava e Marta chorava começou a limpar o rosto da mãe.

-Desculpa, mãe, desculpa, tá? Sei que não fui a melhor das filhas, mas sempre te amei... Desculpa, mãe, desculpa...

Enquanto falava com a mãe, não reparou que começou a chorar. Também não se deu conta de que suas irmãs haviam parado de discutir e a escutavam. Só voltou a si quando Paula falou:

-Ah, agora adianta, né, Sílvia, agora que ela não te escuta mais. Fácil pedir desculpas pra morto, né?

Em uma fração de segundo Sílvia se esqueceu de onde estava. Esqueceu-se de que aquela pessoa era sua irmã e que seu ataque era na verdade parte de uma amargura sem fim. Esqueceu-se de tudo, e agarrou-a pelo pescoço, empurrando-a contra a parede, raivosa, febril.

-Escuta aqui, sua mal amada, não vou mais admitir que você me trate assim. Chega, se a sua vida é uma merda e a minha não, não é problema meu! É problema SEU! SEU!! Ninguém mandou você ficar nessa cidade, ninguém mandou você se casar com o primeiro trouxa que apareceu só por que ele não sabia a vadia que você era, ninguém mandou você se encher de filhos e desistir da sua vida! NINGUÉM!!!

Paula ficou grudada na parede, atordoada com uma represália que ninguém ousava contra ela.
As pessoas começaram a chegar e a briga ficou para depois.

Tudo era estranho para Sílvia. As pessoas que um dia a conheceram a abraçavam como velhos amigos, e ela não agüentava tanta pele. Tanto beijo e tanto aperto. Por que toda esta intimidade agora? Não queria nada disso, queria apenas rever a mãe, mesmo que fria e deitada. Encostou-se no caixão e ali ficou, horas a fio, até ser acordada pelo cunhado.

-Estou indo buscar comida pra Paula, você quer alguma coisa? Sabia que já tem Mc´Donalds na cidade?

Sílvia sorriu, feliz com a tentativa de Nelson de alegrá-la um pouco. Era a única pessoa que era doce com ela.

-Obrigada, estou bem.
-Você vai embora quando? perguntou ele, enquanto passava os dedos na borda do caixão, e olhava para a sogra.
-Não sei, acho que hoje mesmo. Nem sei por que vim.
-Hoje? Imagine, não vou deixar você pegar estrada à noite.
-Não agüento mais, queria ficar uma semana, mas não tem clima. Não imaginei que as feridas fossem tão grandes.
-Não deixo, é final. Pelo menos dorme e vai amanhã cedo.

Sílvia olhou com carinho para Nelson, e agradeceu-lhe a atenção com um afago no braço. Era bom tê-lo ali, pelo menos um dia fora seu amigo...

Nelson saiu e Sílvia viu que Paula os observava. Desviou o olhar, suspirando.
Sentiu a irmã se aproximar, e tomar ao seu lado o lugar em que antes estivera Nelson. Com o mesmo movimento de acariciar a borda de madeira, Paula perguntou, em voz baixa, quase amável:

-Você e ele já se conheciam, né?

Sílvia não respondeu, só a olhou.
Paula levantou os olhos, e pela primeira vez Sílvia a viu frágil, chorando e suplicante.

-Já... Há muitos anos. Ele fez faculdade comigo. Só acho que este não é o momento de...
-Sim, eu sei. Não é o momento. Podemos conversar à noite?
-Eu ia embora, Paula. Ia depois do enterro.
-Vai amanhã. Conversamos à noite.

Paula se afastou e Sílvia olhou o relógio, acima do Cristo crucificado.
Já era quase hora do enterro.
O dia passara rápido, mas sabia que tinha uma longa noite pela frente....


Último capítulo, semana que vem... Inté!!

quinta-feira, novembro 08, 2007

"Ê, ôô, vida de gado...."

Uma chuva forte...
Um vendaval poderoso....
Um barulho do inferno...
Um beiral destelhado...
Uma Jeca desesperada.....







Por essas e outras do campo, O Funeral só amanhã, tá?......
Inté!!

quarta-feira, novembro 07, 2007

Desculpas...

Devo desculpas a meus leitores, pela falta de tempo, tanto para postar, quanto para ler meus queridos blogs que visito todos os dias. Ou visitava...

A correria é grande, especialmente final de ano em escola! Só para terem uma idéia, eu sempre fui muito boa de cama, daquelas que dormem 10 horas sem levantar pra fazer xixi, e em uma família de insones, sempre fui a ovelha negra! De segunda para terça feira, acordei às 2 da manhã e não dormi mais. Às 6 me levantei para ir trabalhar como se jamais tivesse me deitado, e durante essas quatro horas, fiquei enrolada na "to do list" que me tira da Jeca!

-A Feira Cultural da escola, que teremos no dia 01!
-A preocupação em vender meu carro para comprar outro maior, pra caber tudo que o Romeo exigirá!
-Tudo o que o Romeo exigirá! Fomos ao Brás comprar enxoval na segunda feira, e por mais que tenhamos lotado a Land Rover até o teto, falta muuuuiiiita coisa! E, claro, dindin pra tudo... O quarto, em plena 26 semana nem começou a tomar forma de quarto de bebê! O berço chega na sexta, mas como bem se sabe, quarto de bebê é bem mais que isso!
-E finalmente, a preocupação maior de todas, que deve me afastar por alguns dias da Jeca: o mestrado!
Hoje, finalmente, marcamos a data da qualificação: Dia 15 de dezembro! Ou seja, pouco mais de um mês....

Peço que não desistam do blog. Peço que segurem a respiração comigo para que, após este período de mergulho intelectual no universo da literatura infanto-juvenil a Jeca volte a ganhar fôlego! Sem vocês ela simplesmente não existe!

Um beijo grande e inté amanhã à tarde, quando postarei a penúltima cena do Funeral!

quinta-feira, novembro 01, 2007

Blogsérie: O Funeral capítulo V

-Se você quer falar comigo entra, Nelson, eu não tenho nada a esconder. Ficar falando baixo atrás do galinheiro não é comigo... Entra, eu não vou sair.

Nelson retrucou, disse que não queria que Paula ouvisse, que queria conversar com ela longe das irmãs.

-Aqui dentro! Eu não saio! E fechou a porta de tela.

Em seguida viu Nelson entrar, cabisbaixo, com medo e nitidamente ainda assustado. O sol baixava por trás do quintal de barro de D. Lourdes, e Sílvia lembrou-se da ternura que sentia pelo antigo namorado. Nelson tinha sido tão bonito na faculdade, fazia o tipo sedutor. Não via mais o moço de 19 anos no agora cunhado. Envelhecido e triste, Nelson parecia mais um dos comerciantes da vila, podia bem passar por Seu Jaílson, o dono da farmácia...

-Ainda não acredito que você é a Sílvia irmã da Paula. A Sílvia de quem ela fala com tanta mágoa. Nunca imaginei que fosse você.

-E eu? E o susto que levei quando te vi entrar na sala? Mas fico feliz em saber que, de alguma maneira, somos família. Tenho boas lembranças daqueles tempos.

Nelson não parecia acreditar na simplicidade com que Sílvia falava, justo ela...

-Pois eu não estou nada feliz com isso, eu até hoje penso em você, pôxa, eu saí de São Paulo por sua causa!

-Nelson, nós tínhamos 18 anos! Que é isso, já faz tanto tempo! Eu nem lembro por que você veio embora, não foi por causa da sua mãe, não era uma coisa assim?

-Não, vim embora por que você não quis casar comigo. Não queria nem pensar em ficar na mesma cidade que você, sussurrou bravo Nelson, olhando por trás da cortina da cozinha.

Sílvia não agüentou e gritou com o cunhado.
-Casar! Nelson, não acredito... Não, você definitivamente merece a Paula, é tão descompensado quanto ela... Casar!!!! 18 anos, ser humano, 18 anos!!!!! Eu hoje com quase 40 não me casei, por que cargas d´água eu ia me casar com 18 anos!

Sílvia virou-se de costas para ele, e ficaram um tempo em silêncio.
-Se você não contar para sua esposa de onde me conhece conto eu. Eu não vou ficar de segredinho com você pelos cantos, ainda mais sobre um assunto tão passado. Hoje! Ou conta hoje ou amanhã depois do enterro eu mesma conto.

-Você é louca, se ela sabe disso morre de desgosto. Você não entende, Sílvia, se fosse qualquer outra mulher não tinha tanta importância, mas é você! A irmã que trabalha, que mora longe, que é independente.... Depois que ela te viu, então, só piorou! Eu subi e ela estava se olhando no espelho, se arrumando, se comparando a você! Ainda disse que ela é que deveria ter ido embora, não você! Que você mais velha parece a mais nova, e que EU acabei com ela, a enchi de filhos e a enterrei nesse fim de mundo! EU! A culpa é MINHA! E agora, eu, muito bom marido, vou subir e dizer: sabe a sua irmã, aquela, que você inveja até o último pó de maquiagem cara, até a última gota de perfume importado? Então, ela é o grande amor da minha vida, ela foi a namorada que acabou comigo e que me fez vir pra cá. É a dor de cotovelo dela que você tenta curar há anos e não consegue! Pronto, agora vamos todos viver felizes por que eu fui sincero, e no fundo é isso que importa, né? Não é Sílvia? É isso que você quer que eu fale? Hoje?!

Saiu da cozinha em disparada, e nem reparou que deu de encontro com Marta, parada, pálida, fitando os dois que berravam por trás de uma cortina de pano como se estivessem protegidos.

Sílvia se apoiava na pia, pertificada com o que ouvira. Não se importou com a presença da irmã, e ainda perguntou:

-É isso mesmo? É isso que ela sente por mim? É por isso que ela me trata como se eu fosse culpada pela vida dela?

-Pode ser... Mas ela me trata assim também, Sílvia, acho que ainda pior. Só que se ela descobrisse que eu namorei o Nelson não doeria tanto quanto sendo você... É verdade tudo isso?

-É, mas foi coisa de criança, Marta, eu pra ser sincera nem lembrava direito!

-Mas para ele não parece tão de criança assim... Que coisa, se eu acreditasse em coincidências essa seria a maior delas.

-Não acredita?

-Eu? Imagine, isso é obra Dele. Ele quer nos mostrar alguma coisa, ainda mais isso tudo acontecendo hoje, no dia da morte da mamãe! Eu se fosse você ia pro quarto orar, irmã, pedir auxílio...

-Ai, Marta, por favor... Tudo menos isso, que auxílio o que! Isso é problema deles, se ele vive há anos à sombra de fantasmas é problema dele!!! Não meu!!! Boa noite, Marta, vou tomar banho e dormir. Estou quebrada!

-Orar ia te fazer bem...

-Já disse que não sei fazer isso. Esqueci como se faz no dia em que entrei no ônibus, e não quero me lembrar... Até amanhã...

Entrou no quarto que era dela e de Paula na infância. Desde pequenas brigavam muito, mas sempre achou que era coisa natural de irmãs, gostava de acreditar que por trás disso havia algum sentimento bom. Já deitada pensou que se houvesse mesmo algo bom, ela teria voltado antes. Se houvesse carinho ou mesmo consideração, teria ligado para saber notícias. Não havia nada. Nem raiva, nem carinho.
Só pressa em passar pelo dia seguinte.
Pressa em enterrar a mãe e voltar para casa.
Pressa em sair dali.
De novo...


Inté!! Bom feriado. Penúltimo capítulo, semana que vem...