Peço desculpas aos leitores que esperam um post natalino, com os costumeiros desejos, reflexões, etc., mas eu sou um pouco empapuçada desta temática que já permeia minha vida diária. Vou falar então, de outra coisa...
Acabei de acabar (perdoem-me, mais uma vez, agora pela expressão quase pleonástica) um livro que vinha me desafiando há algumas semanas: O Cemitério de Praga. Por que escrever sobre um livro, dentre tantos outros maravilhosos que passaram pela minha cabeceira em 2011? Talvez porque ele tenha me mostrado um sentimento antagônico que há tempos eu não vivia: amor-ódio, assim, juntos pelo hífen. Uma coisa só.
Já disse por aí antes que não estava apaixonada por ele. E não estava, mesmo. Foi árido, foi difícil e por vezes pensei em desistir dele. Mas algo me fazia seguir em frente, e ao fechar a última página, ssenti necessidade de registrar essa sensação, talvez para fechar em mim o famoso "gostei ou não gostei".
Seria loucura da minha parte dizer que o Umberto Eco fez um livro ruim. O livro é genial nos aspectos formais e da própria ideia do enredo. Fiquei impressionada com a erudição do autor, com a profundiade da pesquisa histórica e com a habilidade fora do normal de juntar as personagens verídicas em um texto ficcional. Gênio.
Amei a estrutura narrativa, o afastamento e criação de um narrador praticamente misturado ao autor e da personalidade típica na escrita dos outtros narradores. Preferi ler o Abade ao falsário, preferi o Abade ao narrador. De tirar o chapéu.
Fenomenal também é a capacidade de se criar um pensamento que naturalmente não seja o do autor. Eco é canônico ao se afastar tanto de seus protagonistas a ponto de mostrar seus pensamentos preconceituosos que hoje fariam dele um vilão. Quase um Dostoiévsky. Falar mal dos judeus e maçons da maneira como "Simonini" fala incomoda, remexe nossas enranhas e mostra que o livro não é para qyalquer um, mesmo. É necessário ter a consciência de que quem fala não é o autor. Ele apenas transforma em protagonista um típico antagonista.
E talvez justamente isso tenha sido meu terreno árido. Muita conspiração, muito ódio, muita preparação para o que Hitler fez no século XX.
Mas não vou falar do árido. Muita gente vai ler e formular sua própria relação com o livro. E essa é a magia do natal, oops, quer dizer, a magia da literatura, da Arte: a relação que criamos com o texto.
Esta foi a minha.
Inté!
sábado, dezembro 24, 2011
domingo, dezembro 04, 2011
Sonho de desconsumo
Eu acabei de chegar do Shopping. Pois é, fui comprar uma blusa verde para passar o reveillon. Durante anos passei de rosa, até que achei que o amor estava bem resolvido. Agora, quero saúde, então visto a família toda de verde.
TEM que ser verde. E TEM que ser nova... Sei lá por que, mas é assim que minha superstição capitalista funciona.
Enquanto eu lia este texto aqui, a blusinha me olhava, deitada ao meu lado na cama. E ela me lembrava de um percurso que eu tenho percorrido nos últimos tempos, em uma tentativa de simplificar minha vida e meus valores...
Seria hipocrisia demais, da minha parte, dizer que eu tenho uma essência hippie que nega a cultura capitalista e que me "enjoo" de ver o consumismo ocidental... Me enjoo é de ver quanta coisa meu bolso impede meu bom gosto de realizar, isso sim... Entretanto, tenho me questionado muito sobre o quanto eu compro e pra que tanta coisa... Esse questionamento aconteceu com mais força depois da minha viagem à Itália, em junho. Sempre fui fanática por viagens, mas tinha me esquecido do valor delas depois de uns anos parada.
Filhos, casa, papagaio, enfim, o estereótipo completo do "brazilian dream" me envolveu exatamente como a jornalista do texto supracitado descreveu.
Ao voltar de viagem, já reservei outra, que vou fazer em companhia das minhas cunhadas e de uma prima, e o simples ato da reserva me tirou o tesão de fazer compras. Achei meu high de novo... Achei a motivação de que preciso para viver com mais simplicidade... Ter uma viagem à vista me põe os pés no chão e me faz querer cortar cada vez mais. Pra quê tanta coisa no armário? Em que meu "estilo" me define? Prefiro me definir pelos lugares que visito, pelos pratos que experimento, pelas pontes que atravesso... De verdade.
Meu sonho de consumo é, no fim das contas, um sonho de "desconsumo", com o perdão do neologismo: ter uma casa MENOR, em que as crianças também tomem as rédeas da manutenção para que dispensemos a figura cômoda, porém incômoda da empregada doméstica. Assim, poderemos, além de proporcionar aos nossos filhos mais oportunidades de viajar e de conhecer outras culturas, ensiná-los a ter uma visão diferente da vida, com maior consciência e mais afastados da banalidade do "ter" para "ser".
Não faça essa cara de "ah, tá... até parece"... Acho isso possível mesmo... O que nos falta é força de vontade de colocar em prática um movimento que vai contra a corrente de nossa cultura. É difícil, mas possível... Meus filhos já ajudam a secar a louça (de plástico, lógico), já colocam a roupa no cesto, já arrumam (do jeito deles) os brinquedos... E eu estou me policiando quando entro em Shopping... É um caminho longo, mas eu estou bem ansiosa por ele. Afinal, a "metáfora da jornada,. é a metáfora da vida"...
Inté!
TEM que ser verde. E TEM que ser nova... Sei lá por que, mas é assim que minha superstição capitalista funciona.
Enquanto eu lia este texto aqui, a blusinha me olhava, deitada ao meu lado na cama. E ela me lembrava de um percurso que eu tenho percorrido nos últimos tempos, em uma tentativa de simplificar minha vida e meus valores...
Seria hipocrisia demais, da minha parte, dizer que eu tenho uma essência hippie que nega a cultura capitalista e que me "enjoo" de ver o consumismo ocidental... Me enjoo é de ver quanta coisa meu bolso impede meu bom gosto de realizar, isso sim... Entretanto, tenho me questionado muito sobre o quanto eu compro e pra que tanta coisa... Esse questionamento aconteceu com mais força depois da minha viagem à Itália, em junho. Sempre fui fanática por viagens, mas tinha me esquecido do valor delas depois de uns anos parada.
Filhos, casa, papagaio, enfim, o estereótipo completo do "brazilian dream" me envolveu exatamente como a jornalista do texto supracitado descreveu.
Ao voltar de viagem, já reservei outra, que vou fazer em companhia das minhas cunhadas e de uma prima, e o simples ato da reserva me tirou o tesão de fazer compras. Achei meu high de novo... Achei a motivação de que preciso para viver com mais simplicidade... Ter uma viagem à vista me põe os pés no chão e me faz querer cortar cada vez mais. Pra quê tanta coisa no armário? Em que meu "estilo" me define? Prefiro me definir pelos lugares que visito, pelos pratos que experimento, pelas pontes que atravesso... De verdade.
Meu sonho de consumo é, no fim das contas, um sonho de "desconsumo", com o perdão do neologismo: ter uma casa MENOR, em que as crianças também tomem as rédeas da manutenção para que dispensemos a figura cômoda, porém incômoda da empregada doméstica. Assim, poderemos, além de proporcionar aos nossos filhos mais oportunidades de viajar e de conhecer outras culturas, ensiná-los a ter uma visão diferente da vida, com maior consciência e mais afastados da banalidade do "ter" para "ser".
Não faça essa cara de "ah, tá... até parece"... Acho isso possível mesmo... O que nos falta é força de vontade de colocar em prática um movimento que vai contra a corrente de nossa cultura. É difícil, mas possível... Meus filhos já ajudam a secar a louça (de plástico, lógico), já colocam a roupa no cesto, já arrumam (do jeito deles) os brinquedos... E eu estou me policiando quando entro em Shopping... É um caminho longo, mas eu estou bem ansiosa por ele. Afinal, a "metáfora da jornada,. é a metáfora da vida"...
Inté!
domingo, novembro 06, 2011
Uma reacionária na USP...
Oi, eu me chamo Tatiana, e eu fui aluna da FFLCH da USP...
Oi Tatiana.....
Eu entrei pela primeira vez na FFLCH (Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas) em 1995. Aquilo era um sonho, estava pronta para me aprofundar na minha amada literatura e de quebra sairia com a licenciatura de inglês também... Um sonho. Entretanto, os ares me chamaram com força além do esperado, a faculdade não era assim tão excepcional e eu acabei deixando pra trás.
Três anos depois voltei. Em 1998 decidi que inglês tinha sido um lindo caminho até ali (comecei a dar aulas de inglês com 14 anos...) mas que meu coração estava mesmo no seio da Flor do Lácio. Resolvida, sem sonhos idealizados, e já voando, comecei meu percurso ali. Preciso dizer, antes de mais nada, que eu AMEI os anos que passei na USP. Tive colegas maravilhosos, professores fantásticos que me levaram a um Mestrado fenomenal reodeada de discussões profundas. Morro de saudades. Adoraria ter tempo e motivação para fazer meu doutorado, mas não é para já...
Mas não foi pra louvar minha amada FFLCH que estou escrevendo agora. É para demosntrar minha vergonha com relação aos atos pseudo-revolucionários da parcela de estudantes que ainda se sente no direito de brincar de "ditadura"... Só falta eles irem até o Mackenzie birgar com os "burgueses" que representam a "direita" nacional.... Blagh!!! E digo isso com conhecimento de causa.
Conto aí de 1995 até 2008 13 anos de USP, entre graduação e mestrado. Não me lembro mais de quantas greves, ocupações e montes de blá blá blá que presenciei. Lógico que algumas coisas deveriam ser mesmo resolvidas, mas eu nunca fui partidária desse tipo de violência.
Me lembro bem de um figura, que em 1995 já parecia ter uns 40 anos. Moreno, bigodudo, nunca estava em sala de aula, mas vivia agitando Assembleias, manifestações, protestos. Lembro de ter sido IMPEDIDA de ir à aula pois a faculdade estaria FECHADA para discussões sobre eleição de DCE... JURO por todos os orixás e deuses pagãos e não pagãos que esse SER continuava agitando em 2008. Qual a função daquela criatura ali??? Não devia ser mais aluno, já teria sido jubilado há anos... E ali estava ele. Sempre de figurino guerrilheiro, pixando a cada mandato FORAS diversos. Vi pixado FORA FHC, vi pixado FORA LULA, vi pixado FORA PSTU e FORA ALUNOS QUE QUEREM ESTUDAR E SER BONS PROFESSORES. Ok, esse último não chegou a ser pixado, mas que foi pensado foi.
Sempre me senti uma pária ali. Nunca ia às tais Assembleias, cheias de manifestações políticas que dado nosso contexto, não deveriam paralizar aulas. Discutir, sim, lógico, a Universidade sempre foi um berço para as novas ideias, mas será que já não deveríamos ter aprendido com a História a ser mais eficazes em nossas lutas?
NUNCA, em 13 anos de FFLCH, vi uma manifestação que paralizasse a faculdade por melhor formação. NUNCA vi DCE nenhum lutando por mudar a grade da Licenciatura, que é ultrapassada e nos forma mal. JAMAIS fui chamada para refletir o sistema escolar brasileiro, ou proposta alguma que nos tornasse cientistas da educação, e não meros reprodutores de conhecimento. Podem me chamar eles de reacionária, ou de qualquer termo que eles usam enquanto fumam maconha no carro ao invés de assistir às aulas.
Se ser reacionária é estar cansada de FALSA ideologia, sou reacionária... Se ser reacionária é não comprar esse papo de "ainda vivemos uma ditadura capitalisa", sim, guilty as charged. Assim mesmo, em inglês imperialista.
Gostaria de ver uma geração de alunos da FFLCH que me orgulhasse propondo alternativas novas à educação. Que tivesse na faculdade para ESTUDAR, REFLETIR e MUDAR efetivamente a nossa profissão. Eles, aqueles ali, que estão tomando cerveja em um prédio invadido, protestando contra uma parceria com a PM que só AJUDA a Cidade Universitária são os futuros professores do país. Os mesmos que serão sindicalizados a ponto de não aceitarem a melhoria necessária ao currículo das escolas. Os mesmos que vão fazer piquete contra a NECESSÀRIA meritocracia na educação. Os professores que querem, exigem ser valorizados, mas que não perdem uma licença, que não deixam de faltar quando bem entendem e que não querem ser exonerados por maus resultados. Alíás, são os futuros professores que NÃO querem nem ouvir falar de resultados... "E educação é empresa privada??? Resultados??""
SIIIIMMMMM
Resultados, Técnicas. Metodologia. Tudo o que a faculdade hoje não oferece. Então que tal eles mudarem o foco e cobrarem isso?
Quero ver pixado nos muros da FFLCH
"MANIFESTAÇÃO POR UMA EDUCAÇÃO SUECA",
"QUEREMOS AULAS DE METODOLOGIA EFICIENTES!".
Aí sim... Aí eu não preciso dessas sessões de desabafo, aí vou ter certeza de que estaremos em um caminho realmente democrático e maduro... Pois é, maduro....
Oi Tatiana.....
Eu entrei pela primeira vez na FFLCH (Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas) em 1995. Aquilo era um sonho, estava pronta para me aprofundar na minha amada literatura e de quebra sairia com a licenciatura de inglês também... Um sonho. Entretanto, os ares me chamaram com força além do esperado, a faculdade não era assim tão excepcional e eu acabei deixando pra trás.
Três anos depois voltei. Em 1998 decidi que inglês tinha sido um lindo caminho até ali (comecei a dar aulas de inglês com 14 anos...) mas que meu coração estava mesmo no seio da Flor do Lácio. Resolvida, sem sonhos idealizados, e já voando, comecei meu percurso ali. Preciso dizer, antes de mais nada, que eu AMEI os anos que passei na USP. Tive colegas maravilhosos, professores fantásticos que me levaram a um Mestrado fenomenal reodeada de discussões profundas. Morro de saudades. Adoraria ter tempo e motivação para fazer meu doutorado, mas não é para já...
Mas não foi pra louvar minha amada FFLCH que estou escrevendo agora. É para demosntrar minha vergonha com relação aos atos pseudo-revolucionários da parcela de estudantes que ainda se sente no direito de brincar de "ditadura"... Só falta eles irem até o Mackenzie birgar com os "burgueses" que representam a "direita" nacional.... Blagh!!! E digo isso com conhecimento de causa.
Conto aí de 1995 até 2008 13 anos de USP, entre graduação e mestrado. Não me lembro mais de quantas greves, ocupações e montes de blá blá blá que presenciei. Lógico que algumas coisas deveriam ser mesmo resolvidas, mas eu nunca fui partidária desse tipo de violência.
Me lembro bem de um figura, que em 1995 já parecia ter uns 40 anos. Moreno, bigodudo, nunca estava em sala de aula, mas vivia agitando Assembleias, manifestações, protestos. Lembro de ter sido IMPEDIDA de ir à aula pois a faculdade estaria FECHADA para discussões sobre eleição de DCE... JURO por todos os orixás e deuses pagãos e não pagãos que esse SER continuava agitando em 2008. Qual a função daquela criatura ali??? Não devia ser mais aluno, já teria sido jubilado há anos... E ali estava ele. Sempre de figurino guerrilheiro, pixando a cada mandato FORAS diversos. Vi pixado FORA FHC, vi pixado FORA LULA, vi pixado FORA PSTU e FORA ALUNOS QUE QUEREM ESTUDAR E SER BONS PROFESSORES. Ok, esse último não chegou a ser pixado, mas que foi pensado foi.
Sempre me senti uma pária ali. Nunca ia às tais Assembleias, cheias de manifestações políticas que dado nosso contexto, não deveriam paralizar aulas. Discutir, sim, lógico, a Universidade sempre foi um berço para as novas ideias, mas será que já não deveríamos ter aprendido com a História a ser mais eficazes em nossas lutas?
NUNCA, em 13 anos de FFLCH, vi uma manifestação que paralizasse a faculdade por melhor formação. NUNCA vi DCE nenhum lutando por mudar a grade da Licenciatura, que é ultrapassada e nos forma mal. JAMAIS fui chamada para refletir o sistema escolar brasileiro, ou proposta alguma que nos tornasse cientistas da educação, e não meros reprodutores de conhecimento. Podem me chamar eles de reacionária, ou de qualquer termo que eles usam enquanto fumam maconha no carro ao invés de assistir às aulas.
Se ser reacionária é estar cansada de FALSA ideologia, sou reacionária... Se ser reacionária é não comprar esse papo de "ainda vivemos uma ditadura capitalisa", sim, guilty as charged. Assim mesmo, em inglês imperialista.
Gostaria de ver uma geração de alunos da FFLCH que me orgulhasse propondo alternativas novas à educação. Que tivesse na faculdade para ESTUDAR, REFLETIR e MUDAR efetivamente a nossa profissão. Eles, aqueles ali, que estão tomando cerveja em um prédio invadido, protestando contra uma parceria com a PM que só AJUDA a Cidade Universitária são os futuros professores do país. Os mesmos que serão sindicalizados a ponto de não aceitarem a melhoria necessária ao currículo das escolas. Os mesmos que vão fazer piquete contra a NECESSÀRIA meritocracia na educação. Os professores que querem, exigem ser valorizados, mas que não perdem uma licença, que não deixam de faltar quando bem entendem e que não querem ser exonerados por maus resultados. Alíás, são os futuros professores que NÃO querem nem ouvir falar de resultados... "E educação é empresa privada??? Resultados??""
SIIIIMMMMM
Resultados, Técnicas. Metodologia. Tudo o que a faculdade hoje não oferece. Então que tal eles mudarem o foco e cobrarem isso?
Quero ver pixado nos muros da FFLCH
"MANIFESTAÇÃO POR UMA EDUCAÇÃO SUECA",
"QUEREMOS AULAS DE METODOLOGIA EFICIENTES!".
Aí sim... Aí eu não preciso dessas sessões de desabafo, aí vou ter certeza de que estaremos em um caminho realmente democrático e maduro... Pois é, maduro....
quarta-feira, novembro 02, 2011
Escola ideal...
Respondendo a um desafio da Mamatraca, resolvi escrever aqui um pouco sobre a tão difícil tarefa da escolha da escola...
Confesso que é bastante difícil escrever sobre isso por alguns motivos bem óbvios:
Primeiro, sou professora. Professores tendem a sser muito críticos com relação a isso.
Segundo, meus filhos estudam na escola onde dou aulas, então rola todo um lance Apple + Facebook que pode complicar se eu quiser falar do que não acho bom. E eu costumo ver a rosa por trás dos espinhos, então foco sempre no que acho de bom.
Mas vá lá, digamos que eu fosse uma médica aterafada que não tivesse nenhum vínculo com escola alguma. O que a Dra. Tatiana Neurocirurgiã procuraria?
Bom antes de ser neurocirurgiã, a Dra. Tatiana estudou um pouco de pedagogia, e teve contato com duas filosofias que a encantaram. O construtivismo e mais radicalmente, a pedagogia Waldorf... Dentro dessas duas práticas, há algo que agrada bastante a nossa médica, que é o contato maior da criança com seu próprio aprendizado e com a natureza. Em uma escola assim, a aproximação da criança com elementos artísticos é feita de maneira MUITO pensada, desde artes plásticas até a musicalização. A Dra. acha que que a maneira construtivista de se pensar nas atividades, sem interferência escrita do professor, sem margens que comportem os alunos, sem enquadrar nada no processo de descoberta da criança seriam ideais para seus filhos.
Além disso, a escola em que a Dra. matricula seus filhos seria o mais natureba possível... brinquedos de madeira (ahh, se ela voltasse no tempo até tinha se formado profissional de escola Waldorf), festas ligadas à natureza e terra, muita terra. Pais participativos na comunidade escolar levam os ingredientes para que todos façam a granola que será servida no lanche. Biscoitos recheados não precisam ser proibidos, pois a comunidade da escola tem a mesma filosofia, e nem pensa em colocar na lancheira.
Mas eu não sou a Dra. Eu sou professora, e apesar dos problemas, gosto muito da escola onde meus filhos estão. Nasceram lá... Todos me viram grávida, acompanharam cada passo deles, e lá eles são família. Não há escolas construtivistas nem Wladorf na minha cidade. A escola ideal é a minha. É onde meus filhos entram na diretoria com a maior cara de pau para roubar biscoito. É onde as professoras os tratam com carinho e dão o máximo de si para proporcionarem as atividades mais bacanas para as crianças, até se fantasiando de bicho pra fazer teatro. É o lugar que me dá confiança total para que sejam tratados como crianças devem ser tratadas, com respeito e carinho. E para mim, uma grande vantagem que muitas mães sonham em ter: trabalhar no mesmo lugar em que meus filhos crescem. Vê-los a cada intervalo, ter em suas professoras colegas de trabalho e estar presente nos momentos mais importantes não tem preço.
Confesso que é bastante difícil escrever sobre isso por alguns motivos bem óbvios:
Primeiro, sou professora. Professores tendem a sser muito críticos com relação a isso.
Segundo, meus filhos estudam na escola onde dou aulas, então rola todo um lance Apple + Facebook que pode complicar se eu quiser falar do que não acho bom. E eu costumo ver a rosa por trás dos espinhos, então foco sempre no que acho de bom.
Mas vá lá, digamos que eu fosse uma médica aterafada que não tivesse nenhum vínculo com escola alguma. O que a Dra. Tatiana Neurocirurgiã procuraria?
Bom antes de ser neurocirurgiã, a Dra. Tatiana estudou um pouco de pedagogia, e teve contato com duas filosofias que a encantaram. O construtivismo e mais radicalmente, a pedagogia Waldorf... Dentro dessas duas práticas, há algo que agrada bastante a nossa médica, que é o contato maior da criança com seu próprio aprendizado e com a natureza. Em uma escola assim, a aproximação da criança com elementos artísticos é feita de maneira MUITO pensada, desde artes plásticas até a musicalização. A Dra. acha que que a maneira construtivista de se pensar nas atividades, sem interferência escrita do professor, sem margens que comportem os alunos, sem enquadrar nada no processo de descoberta da criança seriam ideais para seus filhos.
Além disso, a escola em que a Dra. matricula seus filhos seria o mais natureba possível... brinquedos de madeira (ahh, se ela voltasse no tempo até tinha se formado profissional de escola Waldorf), festas ligadas à natureza e terra, muita terra. Pais participativos na comunidade escolar levam os ingredientes para que todos façam a granola que será servida no lanche. Biscoitos recheados não precisam ser proibidos, pois a comunidade da escola tem a mesma filosofia, e nem pensa em colocar na lancheira.
Mas eu não sou a Dra. Eu sou professora, e apesar dos problemas, gosto muito da escola onde meus filhos estão. Nasceram lá... Todos me viram grávida, acompanharam cada passo deles, e lá eles são família. Não há escolas construtivistas nem Wladorf na minha cidade. A escola ideal é a minha. É onde meus filhos entram na diretoria com a maior cara de pau para roubar biscoito. É onde as professoras os tratam com carinho e dão o máximo de si para proporcionarem as atividades mais bacanas para as crianças, até se fantasiando de bicho pra fazer teatro. É o lugar que me dá confiança total para que sejam tratados como crianças devem ser tratadas, com respeito e carinho. E para mim, uma grande vantagem que muitas mães sonham em ter: trabalhar no mesmo lugar em que meus filhos crescem. Vê-los a cada intervalo, ter em suas professoras colegas de trabalho e estar presente nos momentos mais importantes não tem preço.
terça-feira, novembro 01, 2011
Saudades...
Escrever, para mim, é um dos atos mais catárticos que tenho disponíveis para elaborar minha visão do mundo. Lendo também me equilibro, mas escrevendo eu me acho.
Fico por vezes em frente à tela em branco visualizando as palavras se formarem, mas nos últimos tempos não dou conta da quantidade dantesca de sensações e ideias que precisam ser acomodadas aqui. Sempre digo que sinto saudades da Jeca. E sinto mesmo. Sinto por que aqui a Tatiana etérea encontra o eco necessário para que a Tatiana de carne e osso continue caminhando. Por vezes releio a série que fiz com o Capitão-mor (blog já finalizado e contato infelizmente perdido) e suspiro melancolicamente relembrando as tardes que passava inserida de cabeça na blogsfera...
Agora os temas me vêm e me fogem. As letras se confundem com os gritos das crianças que me chamam a cada minuto.
Me lembro de uma crônica do Fernando Sabino em que ele começa refletindo sobre sua falta de assunto. Em seguida, entra uma família simples que comemora em uma confeitaria o aniversário da pequena filha com uma fatia de bolo comprada no balcão. Uma cena tão singela, que tirou o escritor do marasmo. Uma cena tão singela, que gerou uma crônica sublime...
Escrevo aqui, hoje, para mim mesma. Para me fazer a promessa de não me abandonar, de não deixar que o pó tome conta desse canto. Aos poucos ele continua capengando, mas vivo.
E viva continua a Jeca... Step by step, letra por letra...
Fico por vezes em frente à tela em branco visualizando as palavras se formarem, mas nos últimos tempos não dou conta da quantidade dantesca de sensações e ideias que precisam ser acomodadas aqui. Sempre digo que sinto saudades da Jeca. E sinto mesmo. Sinto por que aqui a Tatiana etérea encontra o eco necessário para que a Tatiana de carne e osso continue caminhando. Por vezes releio a série que fiz com o Capitão-mor (blog já finalizado e contato infelizmente perdido) e suspiro melancolicamente relembrando as tardes que passava inserida de cabeça na blogsfera...
Agora os temas me vêm e me fogem. As letras se confundem com os gritos das crianças que me chamam a cada minuto.
Me lembro de uma crônica do Fernando Sabino em que ele começa refletindo sobre sua falta de assunto. Em seguida, entra uma família simples que comemora em uma confeitaria o aniversário da pequena filha com uma fatia de bolo comprada no balcão. Uma cena tão singela, que tirou o escritor do marasmo. Uma cena tão singela, que gerou uma crônica sublime...
Escrevo aqui, hoje, para mim mesma. Para me fazer a promessa de não me abandonar, de não deixar que o pó tome conta desse canto. Aos poucos ele continua capengando, mas vivo.
E viva continua a Jeca... Step by step, letra por letra...
sexta-feira, outubro 07, 2011
Juliana
Tudo começou com um desabafo. Juliana procurou sua professora e disse que nada em sua vida doía mais que amar alguém mas não existir em seu mundo. Juliana tinha 11 anos.
Aqueles olhos verdes marejados por uma dor sincera e comovente fizeram a professora suspirar. Sim, ela se lembrava de quando tinha 11 anos e nada mais parecia doer que o pouco caso do amor. Com um sorriso de conforto, passou as mãos pelos cabelos loiros da aluna:
"Sei que doi, querida. É horrível se sentir rejeitada. Mas sabe? Eu mal me lembro dos meninos que me fizeram chorar. E por cada um deles eu chorei como se fosse o único da face da Terra. Você é linda, inteligente e está se mostrando bastante romântica. Isso é bom. Logo mais, vai se apaixonar por um menino que também será apaixonado por você. Não se preocupe."
Juliana até entendeu, afinal, era uma garota esperta, mas pensou que a professora não havia sentido exatamente o que ela sentia. Não era possível que alguém que amasse tanto um dia mal se lembrasse da pessoa amada...
Suas manhãs eram repletas de ansiedade. Escolhia seu melhor brinco e penteava seus cabelos dourados com a esperança nova de que naquele dia ele a notaria. Ao entrar na ssala já o via sentado envolto pelos amigos. Meninos dessa idade andam em bandos, pensava ela.
"Talvez ele tenha até medo de mim."
Suspirava e recebia como um bálsamo o olhar de bom dia que ele lhe dirigia. Mas logo batia aquela dor que Juliana compartilhara com sua professora, pois o objeto do carinho dele entrava na sala.
A manhã passava assim. A cada referência da palavra amor os colegas a olhavam, conhecedores de sua paixão. Ele, sem saber como lidar com tanto sentimento dirigido a si, olhava para o caderno encabulado, fingindo não entender nada.
Como é delicado aprender a amar e a ser amado...
No início do ano seguinte, seu galã mudou de escola. Outras paixões vieram, mas ela sempre se lembrava do sorriso encantador dele. E à distância, parecia ainda mais bonito. Por anos, nenhum menino foi igual...
Quinze anos se passaram. A escola promoveu uma festa junina que reuniu ex alunos, felizes em visitar professores e reencontrar amigos. Ninguém sabia de Juliana.
"Saiu da cidade, ouvi dizer"
"É, acho que estudou Cinema na USP, não foi?"
"Não, parece que morou fora, Paris, ouvi dizer"
Álvaro estava encostado com na barraca de quentão, rindo dos velhos tempos com os mesmos meninos que o rodeavam no 6o ano. Ainda se viam, jogavam futebol aos sábados. Vantagens de cidade pequena. Falavam dos cacoetes do professor de matemática quando viram uma mulher deslumbrante entrar na quadra, de mãos dadas com um rapaz. Aprumaram-se à medida que ela se aproximou. A loira usava um cachecol violeta que fazia seus olhos verdes saltarem do rosto. Andava com tamanha segurança que todos ficaram sem ar.
Juliana já não parecia fazer parte dali. Após anos estudando sociologia na França estava de volta à cidade, para ver a mãe. Morava agora em São Paulo, onde fazia doutorado e dirigia uma ONG.
Álvaro esboçou mentalmente algumas palavras que diria a ela, ficou ansioso e derrubou o copo de quentão que apoiava na barraca. Juliana, ainda atrelada ao namorado espanhol que a seguiu até o Brasil, sentiu que a mão suava. Olhou para Álvaro e viu o menino de 11 anos. Sentiu que os ombros baixaram, mais leves, à visão de um rapaz comum, que nada lhe dizia. A lembrança valia mais. Parou no meio do caminho, e ouviu uns gritos agudos de moças, que vinham pulando em sua direção. Sorriu com saudades daquelas amigas, e virou o corpo para elas. Após abraços, apresentações e comentários, foram em direção à fogueira.
Juliana fez menção de voltar atrás. Apenas olhou por cima do ombro, cumprimentando Álvaro com um aceno.
O que via à frente era bem mais interessante...
Aqueles olhos verdes marejados por uma dor sincera e comovente fizeram a professora suspirar. Sim, ela se lembrava de quando tinha 11 anos e nada mais parecia doer que o pouco caso do amor. Com um sorriso de conforto, passou as mãos pelos cabelos loiros da aluna:
"Sei que doi, querida. É horrível se sentir rejeitada. Mas sabe? Eu mal me lembro dos meninos que me fizeram chorar. E por cada um deles eu chorei como se fosse o único da face da Terra. Você é linda, inteligente e está se mostrando bastante romântica. Isso é bom. Logo mais, vai se apaixonar por um menino que também será apaixonado por você. Não se preocupe."
Juliana até entendeu, afinal, era uma garota esperta, mas pensou que a professora não havia sentido exatamente o que ela sentia. Não era possível que alguém que amasse tanto um dia mal se lembrasse da pessoa amada...
Suas manhãs eram repletas de ansiedade. Escolhia seu melhor brinco e penteava seus cabelos dourados com a esperança nova de que naquele dia ele a notaria. Ao entrar na ssala já o via sentado envolto pelos amigos. Meninos dessa idade andam em bandos, pensava ela.
"Talvez ele tenha até medo de mim."
Suspirava e recebia como um bálsamo o olhar de bom dia que ele lhe dirigia. Mas logo batia aquela dor que Juliana compartilhara com sua professora, pois o objeto do carinho dele entrava na sala.
A manhã passava assim. A cada referência da palavra amor os colegas a olhavam, conhecedores de sua paixão. Ele, sem saber como lidar com tanto sentimento dirigido a si, olhava para o caderno encabulado, fingindo não entender nada.
Como é delicado aprender a amar e a ser amado...
No início do ano seguinte, seu galã mudou de escola. Outras paixões vieram, mas ela sempre se lembrava do sorriso encantador dele. E à distância, parecia ainda mais bonito. Por anos, nenhum menino foi igual...
Quinze anos se passaram. A escola promoveu uma festa junina que reuniu ex alunos, felizes em visitar professores e reencontrar amigos. Ninguém sabia de Juliana.
"Saiu da cidade, ouvi dizer"
"É, acho que estudou Cinema na USP, não foi?"
"Não, parece que morou fora, Paris, ouvi dizer"
Álvaro estava encostado com na barraca de quentão, rindo dos velhos tempos com os mesmos meninos que o rodeavam no 6o ano. Ainda se viam, jogavam futebol aos sábados. Vantagens de cidade pequena. Falavam dos cacoetes do professor de matemática quando viram uma mulher deslumbrante entrar na quadra, de mãos dadas com um rapaz. Aprumaram-se à medida que ela se aproximou. A loira usava um cachecol violeta que fazia seus olhos verdes saltarem do rosto. Andava com tamanha segurança que todos ficaram sem ar.
Juliana já não parecia fazer parte dali. Após anos estudando sociologia na França estava de volta à cidade, para ver a mãe. Morava agora em São Paulo, onde fazia doutorado e dirigia uma ONG.
Álvaro esboçou mentalmente algumas palavras que diria a ela, ficou ansioso e derrubou o copo de quentão que apoiava na barraca. Juliana, ainda atrelada ao namorado espanhol que a seguiu até o Brasil, sentiu que a mão suava. Olhou para Álvaro e viu o menino de 11 anos. Sentiu que os ombros baixaram, mais leves, à visão de um rapaz comum, que nada lhe dizia. A lembrança valia mais. Parou no meio do caminho, e ouviu uns gritos agudos de moças, que vinham pulando em sua direção. Sorriu com saudades daquelas amigas, e virou o corpo para elas. Após abraços, apresentações e comentários, foram em direção à fogueira.
Juliana fez menção de voltar atrás. Apenas olhou por cima do ombro, cumprimentando Álvaro com um aceno.
O que via à frente era bem mais interessante...
sexta-feira, setembro 30, 2011
A mãe do metaleiro
João sempre foi rock and roll. Desde pequeno mantinha os cachos grandes, pra poder bater a cabeça enquanto ouvia o cd de cantigas que a mãe lhe comprava.
Beth adorava as expressões radicais do filho, ela mesma um pouco radical em sua adoração à arte. Artista Plástica, era a mãe perfeita para liberar as ânsias metaleiras do pequeno João.
Logo começaram os shows. Morando no interior, Beth foi permitindo aos poucos as saídas do filho adolescente. Ela mesma começou levando a São Paulo. Depois, ela mesma fretava a van, e depois ela mesma arrumava os grupos que o levariam às pistas de rock. Sempre o deixava voar, mas ficava à sua espera, e o via chegar, por vezes encharcado de chuva, com um sorriso no rosto, animada pela animação dele.
Até que um dia João comunicou que o passo era mais longo.
"Rock in Rio, mãe. Eu vou."
Sem "ok?" no final da frase. Sem "tá?". Um seco ponto final avisava Beth que chegara a hora do voo solo.
Sentiu a boca seca, mas manteve o semblante sereno que passou a segurança de que João precisava. Sem voz, não fez perguntas.
Na tarde em que o ônibus sairia da Praça da Matriz, Beth perguntou o que ele queria levar de lanche.
"Nada, mãe, eu como antes de sair. Não se preocupa!"
Beth se preocupou. Foi ao mercado e encheu a mochila do filho de bolos "Ana Maria" e caixinhas de Toddynhos, que ele só veria quando batesse a fome. Ao sair de casa, ofereceu-lhe uma manta.
"Que manta, mãe, pelamordedeus, manta??? Eu vou num grupo que nem conheço, só metaleiro, e eu de mantinha?"
"Filho, de madrugada faz frio, leva?..."
"Não."
Ponto final. Aquele, seco, de antes.
Aproximaram-se da praça e avistaram os fãs descoladamente vestidos de preto, cabeludos, com mochilas para a aventura e nenhuma manta nas mãos... João pediu para descer ali mesmo. Não deixou de dar um rápido beijo de despedida em Beth. Era um bom menino.
"Vai, mãe, pode ir. Vai demorar um pouco para sair. Amanhã à noite eu volto. Tchau."
Beth, lógico, não foi. Deu a volta na praça e estacionou em um ponto de onde via o ônibus. Esperou seu pequeno João entrar e só depois partiu.
João só encontrou um lugar vago no ônibus. Sentou-se ao lado de um metaleiro mais velho, grisalho, gordo, barbado. Ainda mantinha os cabelos longos, mesmo que na frente a testa anunciasse que por ali já houvera mais tufos. Olharam-se e com a cumplicidade de dois homens que passarão a noite dormindo lado a lado, cumprimentaram-se com um breve e sisudo balançar de cabeças. Sem palavras. João sentiu frio nas pernas...
No meio da noite, João teve fome. Acordou com o roncar do estômago. Sentiu uma leve esperança de que acharia um resto de biscoito perdido na mochila e intuitivamente a abriu. Sorriu, cheio de ternura pela mãe.
Olhou em volta e abriu silenciosamente o pacote que trazia uma menininha loira comendo um bolinho de chocolate deliciosamente recheado... Em seguida, pegou o leitinho, mas ao rasgar o plástico do canudo, ouviu uma risada de escárnio de seu vizinho.
"Toddynho do Toy Story???"
Tremeu. Viu que a caixinha tinha um enorme Buzz Lightyear quase gritando "Ao infinito... E Aléééém!". Ainda sem respirar, já pensando que seria largado no acostamento, ouviu o companheiro dizer, mostrando-lhe uma outra caixinha, parecida:
"O meu é do Shrek... Minha véia não me deixa sair sem lanche. Boa, a minha coroa."
Riu e terminou seu leite. Seu novo amiguinho também ria, enquanto abria um papel alumínio com bisnaguinhas de sanduíche de atum.
No dia seguinte, voltou ao mesmo lugar na praça, onde viu que o jornal da cidade tirava fotos do grupo de roqueiros que tinha ido ao Rock in Rio. Atrás, Beth acenava de dentro do carro, receosa de aproximar-se e fazer João passar vergonha. Ele atravessou a rua, entrou no carro e lhe beijou.
"Como foi, filho? Deu tudo certo?"
"Deu, mãe. Deu tudo certo..."
Com o carro em movimento, viu seu companheiro de banco atravessar a rua e dar a mochila a uma senhora de vestido florido e chinelas. Viu que ela o beijava enquanto arrumava seu rabo de cavalo amassado da viagem.
Apoiou a cabeça no encosto e disse:
"Mãe, na próxima você me compra uma manta pequena? Das que cabem na mochila, sabe? Nunca imaginei que no Rio de Janeiro ia fazer frio..."
Dedicado a uma amiga maravilhosa que me conta os causos mais deliciosos... Baseado em fatos reais...
Beth adorava as expressões radicais do filho, ela mesma um pouco radical em sua adoração à arte. Artista Plástica, era a mãe perfeita para liberar as ânsias metaleiras do pequeno João.
Logo começaram os shows. Morando no interior, Beth foi permitindo aos poucos as saídas do filho adolescente. Ela mesma começou levando a São Paulo. Depois, ela mesma fretava a van, e depois ela mesma arrumava os grupos que o levariam às pistas de rock. Sempre o deixava voar, mas ficava à sua espera, e o via chegar, por vezes encharcado de chuva, com um sorriso no rosto, animada pela animação dele.
Até que um dia João comunicou que o passo era mais longo.
"Rock in Rio, mãe. Eu vou."
Sem "ok?" no final da frase. Sem "tá?". Um seco ponto final avisava Beth que chegara a hora do voo solo.
Sentiu a boca seca, mas manteve o semblante sereno que passou a segurança de que João precisava. Sem voz, não fez perguntas.
Na tarde em que o ônibus sairia da Praça da Matriz, Beth perguntou o que ele queria levar de lanche.
"Nada, mãe, eu como antes de sair. Não se preocupa!"
Beth se preocupou. Foi ao mercado e encheu a mochila do filho de bolos "Ana Maria" e caixinhas de Toddynhos, que ele só veria quando batesse a fome. Ao sair de casa, ofereceu-lhe uma manta.
"Que manta, mãe, pelamordedeus, manta??? Eu vou num grupo que nem conheço, só metaleiro, e eu de mantinha?"
"Filho, de madrugada faz frio, leva?..."
"Não."
Ponto final. Aquele, seco, de antes.
Aproximaram-se da praça e avistaram os fãs descoladamente vestidos de preto, cabeludos, com mochilas para a aventura e nenhuma manta nas mãos... João pediu para descer ali mesmo. Não deixou de dar um rápido beijo de despedida em Beth. Era um bom menino.
"Vai, mãe, pode ir. Vai demorar um pouco para sair. Amanhã à noite eu volto. Tchau."
Beth, lógico, não foi. Deu a volta na praça e estacionou em um ponto de onde via o ônibus. Esperou seu pequeno João entrar e só depois partiu.
João só encontrou um lugar vago no ônibus. Sentou-se ao lado de um metaleiro mais velho, grisalho, gordo, barbado. Ainda mantinha os cabelos longos, mesmo que na frente a testa anunciasse que por ali já houvera mais tufos. Olharam-se e com a cumplicidade de dois homens que passarão a noite dormindo lado a lado, cumprimentaram-se com um breve e sisudo balançar de cabeças. Sem palavras. João sentiu frio nas pernas...
No meio da noite, João teve fome. Acordou com o roncar do estômago. Sentiu uma leve esperança de que acharia um resto de biscoito perdido na mochila e intuitivamente a abriu. Sorriu, cheio de ternura pela mãe.
Olhou em volta e abriu silenciosamente o pacote que trazia uma menininha loira comendo um bolinho de chocolate deliciosamente recheado... Em seguida, pegou o leitinho, mas ao rasgar o plástico do canudo, ouviu uma risada de escárnio de seu vizinho.
"Toddynho do Toy Story???"
Tremeu. Viu que a caixinha tinha um enorme Buzz Lightyear quase gritando "Ao infinito... E Aléééém!". Ainda sem respirar, já pensando que seria largado no acostamento, ouviu o companheiro dizer, mostrando-lhe uma outra caixinha, parecida:
"O meu é do Shrek... Minha véia não me deixa sair sem lanche. Boa, a minha coroa."
Riu e terminou seu leite. Seu novo amiguinho também ria, enquanto abria um papel alumínio com bisnaguinhas de sanduíche de atum.
No dia seguinte, voltou ao mesmo lugar na praça, onde viu que o jornal da cidade tirava fotos do grupo de roqueiros que tinha ido ao Rock in Rio. Atrás, Beth acenava de dentro do carro, receosa de aproximar-se e fazer João passar vergonha. Ele atravessou a rua, entrou no carro e lhe beijou.
"Como foi, filho? Deu tudo certo?"
"Deu, mãe. Deu tudo certo..."
Com o carro em movimento, viu seu companheiro de banco atravessar a rua e dar a mochila a uma senhora de vestido florido e chinelas. Viu que ela o beijava enquanto arrumava seu rabo de cavalo amassado da viagem.
Apoiou a cabeça no encosto e disse:
"Mãe, na próxima você me compra uma manta pequena? Das que cabem na mochila, sabe? Nunca imaginei que no Rio de Janeiro ia fazer frio..."
Dedicado a uma amiga maravilhosa que me conta os causos mais deliciosos... Baseado em fatos reais...
domingo, setembro 18, 2011
O bailinho
Ouvindo uma música postada por minha querida Rubina, me lembrei de uma das épocas mais mágicas e angustiantes de minha vida. A época dos bailinhos...
Mágica, claro, pela descoberta do universo chamado "meninos", que, (como creio acontecer em toda escola) era liderada sempre por um galã específico que arrasava corações de levas de meninas. No meu caso era assim. Um lindo garoto repetente (os mais velhos são sempre os mais interessantes, e repetente ainda melhor, vem com toda uma pose rebelde...) me fez sofrer muito!
E daí portanto o segundo adjetivo: angustiante. Era angustiante ir aos bailinhos sabendo que o Fulano Sicrano (as iniciais são mera coincidência. Ou não) estaria lá. E pior. Estaria lá para mostrar o prazer que tinha em me humilhar. Sim, ele sabia da minha paixonite, e brincava com ela. Até porque, para todo galã teen há uma "musa do ginasião" que no caso era loira, linda e legal. Não me esqueço da brincadeira tosca que fazíamos, contrariando qualquer defesa da dignidade feminina, em que as meninas ficavam sentadas com as palmas das mãos para cima. Os meninos vinham e batiam na mão da menina com quem queriam dançar.
A cena me aparece nítida até hoje.... Eu, ao lado da tal Joana Penteado (novamente, iniciais puramente coincidentes. Ou não) ambas de palmas para cima. Fulano Sicrano se aproxima, sorri para mim. Meu coração dispara. Ele ameaça me chamar, e ao aproximar a mão da minha, bate na mão dela...... DELA.....
Eu estava de saia branca rodada, camisa polo amarela e bota branca, daquelas que usávamos nos anos 80, com laço, tipo bota Xuxa. Eu estava uma GATA. Juro... Meu cabelo repicado era última moda. E ele escolheu ELA.... (para fins de confessionário, eu bem que me vingava, passando trotes para ele de madrugada. #prontofalei)
A música??? Como esquecer!... Até hoje os acordes iniciais me levam para 1989, praquele salão de festas em um prédio no Brooklin (mais precisamente na esquina da Califórnia com a Padre Antonio José dos Santos) e pra tantos outros salões de prédios de São Paulo em que essa música marcou minhas alegrias e minhas fossas... Ela segue abaixo, e ainda hoje me emociono ao ouví-la.
Nossos bailinhos eram bons demais, mesmo com toda a ansiedade dos primeiros amores. Ou melhor, eram tão bons JUSTAMENTE por causa da ansiedade dos primeiros amores.
E só pra constar, em outro bailinho, em um canto escuro, com a mesma saia e bota (não, nós não tínhamos taaaantas roupas como as adolescentes hoje em dia têm) eu ganhei um beijo do Fulano Sicrano.
E um ano depois, do irmão dele. Só pra dar o troco!!!
E com vocês, Don´t dream, it´s over, diretamente do túnel do tempo...
Mágica, claro, pela descoberta do universo chamado "meninos", que, (como creio acontecer em toda escola) era liderada sempre por um galã específico que arrasava corações de levas de meninas. No meu caso era assim. Um lindo garoto repetente (os mais velhos são sempre os mais interessantes, e repetente ainda melhor, vem com toda uma pose rebelde...) me fez sofrer muito!
E daí portanto o segundo adjetivo: angustiante. Era angustiante ir aos bailinhos sabendo que o Fulano Sicrano (as iniciais são mera coincidência. Ou não) estaria lá. E pior. Estaria lá para mostrar o prazer que tinha em me humilhar. Sim, ele sabia da minha paixonite, e brincava com ela. Até porque, para todo galã teen há uma "musa do ginasião" que no caso era loira, linda e legal. Não me esqueço da brincadeira tosca que fazíamos, contrariando qualquer defesa da dignidade feminina, em que as meninas ficavam sentadas com as palmas das mãos para cima. Os meninos vinham e batiam na mão da menina com quem queriam dançar.
A cena me aparece nítida até hoje.... Eu, ao lado da tal Joana Penteado (novamente, iniciais puramente coincidentes. Ou não) ambas de palmas para cima. Fulano Sicrano se aproxima, sorri para mim. Meu coração dispara. Ele ameaça me chamar, e ao aproximar a mão da minha, bate na mão dela...... DELA.....
Eu estava de saia branca rodada, camisa polo amarela e bota branca, daquelas que usávamos nos anos 80, com laço, tipo bota Xuxa. Eu estava uma GATA. Juro... Meu cabelo repicado era última moda. E ele escolheu ELA.... (para fins de confessionário, eu bem que me vingava, passando trotes para ele de madrugada. #prontofalei)
A música??? Como esquecer!... Até hoje os acordes iniciais me levam para 1989, praquele salão de festas em um prédio no Brooklin (mais precisamente na esquina da Califórnia com a Padre Antonio José dos Santos) e pra tantos outros salões de prédios de São Paulo em que essa música marcou minhas alegrias e minhas fossas... Ela segue abaixo, e ainda hoje me emociono ao ouví-la.
Nossos bailinhos eram bons demais, mesmo com toda a ansiedade dos primeiros amores. Ou melhor, eram tão bons JUSTAMENTE por causa da ansiedade dos primeiros amores.
E só pra constar, em outro bailinho, em um canto escuro, com a mesma saia e bota (não, nós não tínhamos taaaantas roupas como as adolescentes hoje em dia têm) eu ganhei um beijo do Fulano Sicrano.
E um ano depois, do irmão dele. Só pra dar o troco!!!
E com vocês, Don´t dream, it´s over, diretamente do túnel do tempo...
sexta-feira, setembro 16, 2011
O lado ruim
Nem tudo são flores, não é?... Ok, sei que ninguém JAMAIS disse que vida de professor era baseada em felicidades eternas e retribuição constante, mas eu até que sou bem feliz no que faço. Geralmente tenho ótimo relacionamento com os alunos, falo a linguagem deles e como AMO a matéria que leciono, parece que minhas aulas são bacaninhas. Mas tem UMA coisa que me tira do sério...
Não é papo em aula.
Não é o eventual comentário negativo em redes sociais.
Não é o eventual aluno dorminhoco em sala. (coitados, eu até falo mais baixo...)
É a falta de vontade ABSOLUTA que alguns (leia-se MUITOS) alunos têm de ler... A simples menção do próximo livro bimestral causa suspiros profundos de preguiça crônica, que são a maior causa do meu desânimo.
Na minha época (ai, que frase envelhecedora...) ninguém tinha que me mandar ler. Eu simplesmente lia. Lia tudo que caísse em minhas mãos, lia bula de remédio, lia Seleções da empregada, lia "O pacto secreto de Hitler e Stalin", (livro que me deixou marcas profundas pois fiz a burrice de emprestar para a então professora de História e a fulana jamais me devolveu) lia manual de video cassete, de walk man, de fax... (e eu que achava que a frase lá de cima que ia me envelhecer...)
A vontade de se relacionar com algo misterioso parece que sumiu nesta geração. Claro que há excessões, mas mais parece regra. Falta sede de conhecimento, sede de aprofundamento.
Eu me questiono muito sobre a prática da leitura obrigatória na escola. Acredito que numa escola ideal (inserida em um país ideal cuja cultura popular também seria ideal) não haveria obrigatoriedade para se ler. O professor indicaria o livro e discutiria em um sarau com todos, sem notas, sem perguntas, sem cobrança. A única cobrança é que o aluno não falte ao sarau. Tipo clube do livro.
Mas faça a seguinte experiência: após fazer a chamada, olhe para a sala e diga:
"Vou indicar o livro do bimestre, e vai ler apenas quem quiser."
Após um breve momento de vácuo, em que você nota nas pupilas o processamento da informação, você verá as caras de alegria contaminarem o ar.
"É opcional?", "Não PRECISO ler?"
Acabou sua atividade. Tenha certeza que raros serão os alunos que se embrenharão nas letras.
A nota ainda é o maior motivador. E geralmente, pela minha experiência, a própria leitura é feita às pressas com o único intuito de acabar até o dia da prova.
Acabou a fruição, acabou prazer da entrega, acabou o luto pelo livro acabado.
Fico pensando em um adolescente que estou conhecendo. Um tal de Arkádi que um amigo amado chamado Dostoiévski me apresentou, no livro apropriadamente chamado O Adolescente. O menino vive uma crise existencial, repleto de conflitos, buscas de afirmação paterna e questionamentos. Em muito Arkádi se parece com nossos jovens. Ele tem apenas um "algo a mais", que talvez fizesse dele hoje um alien: ele tem um ideal. Ele ambiciona crescer.
Ele tem sede.
Eu tenho medo... Muito medo...
Inté
Não é papo em aula.
Não é o eventual comentário negativo em redes sociais.
Não é o eventual aluno dorminhoco em sala. (coitados, eu até falo mais baixo...)
É a falta de vontade ABSOLUTA que alguns (leia-se MUITOS) alunos têm de ler... A simples menção do próximo livro bimestral causa suspiros profundos de preguiça crônica, que são a maior causa do meu desânimo.
Na minha época (ai, que frase envelhecedora...) ninguém tinha que me mandar ler. Eu simplesmente lia. Lia tudo que caísse em minhas mãos, lia bula de remédio, lia Seleções da empregada, lia "O pacto secreto de Hitler e Stalin", (livro que me deixou marcas profundas pois fiz a burrice de emprestar para a então professora de História e a fulana jamais me devolveu) lia manual de video cassete, de walk man, de fax... (e eu que achava que a frase lá de cima que ia me envelhecer...)
A vontade de se relacionar com algo misterioso parece que sumiu nesta geração. Claro que há excessões, mas mais parece regra. Falta sede de conhecimento, sede de aprofundamento.
Eu me questiono muito sobre a prática da leitura obrigatória na escola. Acredito que numa escola ideal (inserida em um país ideal cuja cultura popular também seria ideal) não haveria obrigatoriedade para se ler. O professor indicaria o livro e discutiria em um sarau com todos, sem notas, sem perguntas, sem cobrança. A única cobrança é que o aluno não falte ao sarau. Tipo clube do livro.
Mas faça a seguinte experiência: após fazer a chamada, olhe para a sala e diga:
"Vou indicar o livro do bimestre, e vai ler apenas quem quiser."
Após um breve momento de vácuo, em que você nota nas pupilas o processamento da informação, você verá as caras de alegria contaminarem o ar.
"É opcional?", "Não PRECISO ler?"
Acabou sua atividade. Tenha certeza que raros serão os alunos que se embrenharão nas letras.
A nota ainda é o maior motivador. E geralmente, pela minha experiência, a própria leitura é feita às pressas com o único intuito de acabar até o dia da prova.
Acabou a fruição, acabou prazer da entrega, acabou o luto pelo livro acabado.
Fico pensando em um adolescente que estou conhecendo. Um tal de Arkádi que um amigo amado chamado Dostoiévski me apresentou, no livro apropriadamente chamado O Adolescente. O menino vive uma crise existencial, repleto de conflitos, buscas de afirmação paterna e questionamentos. Em muito Arkádi se parece com nossos jovens. Ele tem apenas um "algo a mais", que talvez fizesse dele hoje um alien: ele tem um ideal. Ele ambiciona crescer.
Ele tem sede.
Eu tenho medo... Muito medo...
Inté
sábado, setembro 10, 2011
Imaginário Jeca
Acabei de voltar de uma pequena visita frustrada à praia. Fomos tentar ver o sol mas a chuva nos é mais grata... Por conta da simples observação a que o tempo nos obrigou, voltei às minhas divagações tão típicas... Fiquei me alimentando um pouco das sensações que o mar me traz.
Olhando para trás, associo minha vida amorosa às areias e à maresia. Sempre me apaixonei muito na praia. Ouvia aquele clichê básico de que amor de verão não sobe a serra, mas os meus negavam tal premissa.
Meu primeiro namorado me conquistou ali. Foi em Maceió, 1989 (ok, ok, para quem insiste em fazer contas, eu tinha então meros 13 anos...) e foi o inverno mais quente da História. Tudo intenso, a descoberta da paixão, o namorado surfista e todo o estereótipo global desse romantismo brejeiro. Teve até cena de novela das 7 horas: No aeroporto, família já na sala de embraque e eu o puxando para a fila do táxi: Vamos fugir!!! Ele, menos ousado e talvez mais medroso do pai, amarelou. Que pena, hoje eu teria um bom conto para meus filhos...
Só que para melhorar, ele era carioca. Por alguns anos nos reencontramos nas minhas areias prediletas: Ipanema e Leblon. O Rio se tornou, para mim, o centro da paixão, da rebeldia amorosa, da esperança quase hippie do amor eterno. Se não tudo isso, pelo menos o lugar para onde eu ia nas férias dar uns amassos.
Findo este amor, outros à beira mar vieram. Guarujá, Rio, Rio, Rio, Cassino, Los Angeles, Camboriú, Camboriú... (sim, tive minha fase de "argentinos", até que um deles teve a pachorra de vir a São Paulo atrás de mim, enfiado na minha própria casa desafiando meu então nada praiano namorado e meu nada simpático pai... Mas essa doideira é assunto para outro post...)
Areia sempre me trouxe palpitação.
Até que em um feriado de outubro de 2002 um rapagão alto me chamou a atenção... No Guarujá... A visão dele que me fez pensar "hmmmm, óia!" tive enquanto ele caminhava de costas. Hmm, costas largas.... Tatuagem grande na perna. Jipeiro... Roqueiro... Um estilo rebelde sem causa que nunca tinha me atraído. Até aquele momento. Caminhando ao seu lado, com os pés na água, percebi que queria demais estar ao seu lado. E o rebelde virou príncipe...
Nos quase 9 anos que se passaram depois daquele momento, corremos sempre para a praia de novo. É nosso ponto de reencontro, por menos que ele tenha essa consciência. Eu tenho pelos dois.
Nove anos, 2 filhos, outras tatuagens, uma vida construída juntos. E eu ali, sentada olhando o mar e me vendo amadurecer no amor à frente deste cenário tão romântico. Imbuída ainda das sensações de paixão que a vida me proporcionou, e as procurando sempre no meu dia a dia.
A chuva? Ah, que chuva... Tem algo mais romântico que um beijo na chuva? Com o cabelo grudado no rosto, a roupa gelada no corpo e a areia colada na perna? Tá, tá, menos... Acho bom voltar da divagação... Tem uma criança chorando ali porque o irmão tacou uma pá na cabe.... Opa, é meu... Deixa eu ir... A realidade me chama!
Inté!
Olhando para trás, associo minha vida amorosa às areias e à maresia. Sempre me apaixonei muito na praia. Ouvia aquele clichê básico de que amor de verão não sobe a serra, mas os meus negavam tal premissa.
Meu primeiro namorado me conquistou ali. Foi em Maceió, 1989 (ok, ok, para quem insiste em fazer contas, eu tinha então meros 13 anos...) e foi o inverno mais quente da História. Tudo intenso, a descoberta da paixão, o namorado surfista e todo o estereótipo global desse romantismo brejeiro. Teve até cena de novela das 7 horas: No aeroporto, família já na sala de embraque e eu o puxando para a fila do táxi: Vamos fugir!!! Ele, menos ousado e talvez mais medroso do pai, amarelou. Que pena, hoje eu teria um bom conto para meus filhos...
Só que para melhorar, ele era carioca. Por alguns anos nos reencontramos nas minhas areias prediletas: Ipanema e Leblon. O Rio se tornou, para mim, o centro da paixão, da rebeldia amorosa, da esperança quase hippie do amor eterno. Se não tudo isso, pelo menos o lugar para onde eu ia nas férias dar uns amassos.
Findo este amor, outros à beira mar vieram. Guarujá, Rio, Rio, Rio, Cassino, Los Angeles, Camboriú, Camboriú... (sim, tive minha fase de "argentinos", até que um deles teve a pachorra de vir a São Paulo atrás de mim, enfiado na minha própria casa desafiando meu então nada praiano namorado e meu nada simpático pai... Mas essa doideira é assunto para outro post...)
Areia sempre me trouxe palpitação.
Até que em um feriado de outubro de 2002 um rapagão alto me chamou a atenção... No Guarujá... A visão dele que me fez pensar "hmmmm, óia!" tive enquanto ele caminhava de costas. Hmm, costas largas.... Tatuagem grande na perna. Jipeiro... Roqueiro... Um estilo rebelde sem causa que nunca tinha me atraído. Até aquele momento. Caminhando ao seu lado, com os pés na água, percebi que queria demais estar ao seu lado. E o rebelde virou príncipe...
Nos quase 9 anos que se passaram depois daquele momento, corremos sempre para a praia de novo. É nosso ponto de reencontro, por menos que ele tenha essa consciência. Eu tenho pelos dois.
Nove anos, 2 filhos, outras tatuagens, uma vida construída juntos. E eu ali, sentada olhando o mar e me vendo amadurecer no amor à frente deste cenário tão romântico. Imbuída ainda das sensações de paixão que a vida me proporcionou, e as procurando sempre no meu dia a dia.
A chuva? Ah, que chuva... Tem algo mais romântico que um beijo na chuva? Com o cabelo grudado no rosto, a roupa gelada no corpo e a areia colada na perna? Tá, tá, menos... Acho bom voltar da divagação... Tem uma criança chorando ali porque o irmão tacou uma pá na cabe.... Opa, é meu... Deixa eu ir... A realidade me chama!
Inté!
terça-feira, setembro 06, 2011
O Sino
Já vivo há 6 anos no interior. Já me acostumei a muita coisa. Mas muita coisa, mesmo! Já sei que não devo dirigir sem olhar por calçadas ou carros vizinhos para evitar a falta de educação de não cumprimentar um conhecido. Já acho digna a Festa do Caqui, que cresceu muito com o passar do tempo... Já me acostumei com a invasão de turistas no final de semana que nos tiram o sossego... Já uso o "nós" em uma frase como a anterior... Enfim, muita coisa.
Mas ainda me surpreendo com o simples tocar do sino...
Toda cidade dos reinos cristãos se organizaram em torno de sua igrejinha, sede de poder e ponto social. Quase uma "boate" dos antigos... Só que eu cresci em Sampa, e a tal igrejinha ficava bem longe, lá na Sé, e o som de seus sinos jamais chegaram ao Morumbi...
Por isso, associei tal som ao bucolismo dos campos, ou ainda mais longe nas minhas divagações, ao imaginário medieval que Hollywood nos incrustou...
Quem me conhece sabe bem que eu vivo a chamada "nostalgia de passado", que me leva a qualquer leitura ou manifestação artística que possa me fazer sentir no século XIII, XIV...
E o sino faz isso...
Cada vez que passo no centro da cidade ao meio dia ou às seis da tarde sinto cheiro de máquina do tempo. Adoro o badalar do sino da Matriz, é uma pequena gota homeopática de máquina do tempo.
Sinto também uma sensação de identificação coletiva, talvez reminiscente dos meus anos de colégio de freira, tão rechaçados mais tarde na minha vida. O sino nos chama a todos, mesmo àqueles que não entrarão na igreja. Nos chama a parar por um segundo e pensar "que horas serão? Onde estou? Que som gostoso..."
O sino da Matriz é um "wake up call" para um breve momento de introspecção que aprendi fundamental para meu equilíbrio.
Recomendo o sino... Quem sabe se a metrópole não tivesse um por bairro, os seus habitantes seriam menos agitados?
Se não, pelo menos os que têm necessidade de viajar no tempo como eu ficariam mais felizes, brincando de se ver em plena Piazza, esperando os sermões obrigatórios em alguma cidade antiga...
Blén, Blén e Inté!
Mas ainda me surpreendo com o simples tocar do sino...
Toda cidade dos reinos cristãos se organizaram em torno de sua igrejinha, sede de poder e ponto social. Quase uma "boate" dos antigos... Só que eu cresci em Sampa, e a tal igrejinha ficava bem longe, lá na Sé, e o som de seus sinos jamais chegaram ao Morumbi...
Por isso, associei tal som ao bucolismo dos campos, ou ainda mais longe nas minhas divagações, ao imaginário medieval que Hollywood nos incrustou...
Quem me conhece sabe bem que eu vivo a chamada "nostalgia de passado", que me leva a qualquer leitura ou manifestação artística que possa me fazer sentir no século XIII, XIV...
E o sino faz isso...
Cada vez que passo no centro da cidade ao meio dia ou às seis da tarde sinto cheiro de máquina do tempo. Adoro o badalar do sino da Matriz, é uma pequena gota homeopática de máquina do tempo.
Sinto também uma sensação de identificação coletiva, talvez reminiscente dos meus anos de colégio de freira, tão rechaçados mais tarde na minha vida. O sino nos chama a todos, mesmo àqueles que não entrarão na igreja. Nos chama a parar por um segundo e pensar "que horas serão? Onde estou? Que som gostoso..."
O sino da Matriz é um "wake up call" para um breve momento de introspecção que aprendi fundamental para meu equilíbrio.
Recomendo o sino... Quem sabe se a metrópole não tivesse um por bairro, os seus habitantes seriam menos agitados?
Se não, pelo menos os que têm necessidade de viajar no tempo como eu ficariam mais felizes, brincando de se ver em plena Piazza, esperando os sermões obrigatórios em alguma cidade antiga...
Blén, Blén e Inté!
segunda-feira, setembro 05, 2011
É tudo uma questão de técnica...
Como já andei dizendo aos quatro ventos, sinto muita falta de meus momentos de leitura. Sim, sou nerd assumida, leitora fanática e tarada pela letra declarada... Mas tenho pouco tempo.
Além disso, preciso guardar tempo para dividir entre meus livros escolhidos e os que indico aos alunos.
Desta maneira, me viro nos 30, literalmente, para dar conta de tudo e fui arranjando técnicas razoavelmente eficientes para mergulhar nas páginas dos livros. Tenho também que dar conta de uma mania antiga que não consigo largar e que deve ser típica de outros vícios: leio mais de um livro por vez... Dizem que quem bebe também fuma, (entre outras cositas más) então quem lê um lê dois, três, quatro...
Assim, aqui vão algumas táticas que descobri...
1- Mantenha um livro fixo em cada canto da casa.
O meu livro de cabeceira é sempre o favorito, aquele com que quero sonhar. SIM, eu sonhei com a Catarina de Bragança, só não fico falando pra não acentuar minha loucura, mas sonhei sim... Era algo entre ela e o Charles, eu acho que o via a traindo, acordei suada, aflita, etc. Afinal, Catarina se tornou minha amiga, minha BFF, minha "bé", então, peguei birra do sacana do Charles. Cabeceira...
Na sala fica o livro que indico aos alunos, geralmente uma leitura mais fácil que posso interromper por conta dos berros dos filhos, com os inúmeros "mamãe, xixi!", "mamãe, cocô!", "mamãe, xixi E cocô!!!"
E na hora do MEU xixi, do MEU cocô, ali está o terceiro, em cima do cesto de roupa suja, bem em frente ao trono que me iguala à doce Catarina, em bem menos doce posição. O problema é que meu serviço é rápido, já não sou a adolescente travada que um dia fui e que gastava longos minutos no banheiro. Hoje é pá pum... (perdoem o trocadilho escatológico). Ali a categoia é de livro ainda mais rápido, e este, em geral, é algum informativo, pedagógico, que pode ser consultado mais do que exatamente fruido. O que hoje ocupa tal posto nem vou citar, pois é emprestado e a pessoa pode não querer de volta, sei lá...
2- Fuja!
Esta dica parece malvada, interesseira, mas funciona. Quando percebo que os dois estão brincando quietinhos dou uma escapada para algum cômodo da casa de onde ainda posso ouvi-los mas onde eles não me avistam e me permito uns 5 minutos de leitura. Escondida.
Ou então, quando o marido chega e eu vou tomar banho, disfarçadamente apresso o banho para me estirar na cama por mais um ou dois capítulos. Funciona, mas tenho que compensar no banho seguinte qualquer falha no processo higiênico.
3- Faça um bom aproveitamento logístico de espaços temporais vazios.
O nome é difícl mas a técnica é fácil. É só otimizar tempo ocioso. No meu caso, são os 20 minutos que levo para fazer o Romeo dormir à tarde. A Iolanda, como boa representante do gênero feminino é independente e dorme sozinha. Mas o Romeo ainda pede minha presença ao lado e já entendendo a técnica supracitada me diz "mamãe, vai pegar seu livro!" Pronto, 20 minutos de leitura silenciosa, apenas atrapalhada pela pouca iluminação do recinto... (nem tudo são flores...)
Já li em fila de mercado, em intervalo de aula e até mesmo enquanto eles tomam banho...
Isso é o que funciona para mim... Ler na praia é um "no can do"... Mar leva criança de mãe distraída... Ler na rede é outro "yeah, right", especialmente quando se tem filhos que amam a sensação enjoativa de looping...
O único porém é que pode ser um processo um tansto lento... Ainda mais para quem passa longe de loja de roupa mas não resiste às prateleiras da Cultura ou Saraiva. Os títulos se acumulam... Esperam a vez de serem devorados por mim em sua sábia paciência de livros... Estes que aparecem aqui são os da fila.
Tudo por um "fix" literário!
Inté
Além disso, preciso guardar tempo para dividir entre meus livros escolhidos e os que indico aos alunos.
Desta maneira, me viro nos 30, literalmente, para dar conta de tudo e fui arranjando técnicas razoavelmente eficientes para mergulhar nas páginas dos livros. Tenho também que dar conta de uma mania antiga que não consigo largar e que deve ser típica de outros vícios: leio mais de um livro por vez... Dizem que quem bebe também fuma, (entre outras cositas más) então quem lê um lê dois, três, quatro...
Assim, aqui vão algumas táticas que descobri...
1- Mantenha um livro fixo em cada canto da casa.
O meu livro de cabeceira é sempre o favorito, aquele com que quero sonhar. SIM, eu sonhei com a Catarina de Bragança, só não fico falando pra não acentuar minha loucura, mas sonhei sim... Era algo entre ela e o Charles, eu acho que o via a traindo, acordei suada, aflita, etc. Afinal, Catarina se tornou minha amiga, minha BFF, minha "bé", então, peguei birra do sacana do Charles. Cabeceira...
Na sala fica o livro que indico aos alunos, geralmente uma leitura mais fácil que posso interromper por conta dos berros dos filhos, com os inúmeros "mamãe, xixi!", "mamãe, cocô!", "mamãe, xixi E cocô!!!"
E na hora do MEU xixi, do MEU cocô, ali está o terceiro, em cima do cesto de roupa suja, bem em frente ao trono que me iguala à doce Catarina, em bem menos doce posição. O problema é que meu serviço é rápido, já não sou a adolescente travada que um dia fui e que gastava longos minutos no banheiro. Hoje é pá pum... (perdoem o trocadilho escatológico). Ali a categoia é de livro ainda mais rápido, e este, em geral, é algum informativo, pedagógico, que pode ser consultado mais do que exatamente fruido. O que hoje ocupa tal posto nem vou citar, pois é emprestado e a pessoa pode não querer de volta, sei lá...
2- Fuja!
Esta dica parece malvada, interesseira, mas funciona. Quando percebo que os dois estão brincando quietinhos dou uma escapada para algum cômodo da casa de onde ainda posso ouvi-los mas onde eles não me avistam e me permito uns 5 minutos de leitura. Escondida.
Ou então, quando o marido chega e eu vou tomar banho, disfarçadamente apresso o banho para me estirar na cama por mais um ou dois capítulos. Funciona, mas tenho que compensar no banho seguinte qualquer falha no processo higiênico.
3- Faça um bom aproveitamento logístico de espaços temporais vazios.
O nome é difícl mas a técnica é fácil. É só otimizar tempo ocioso. No meu caso, são os 20 minutos que levo para fazer o Romeo dormir à tarde. A Iolanda, como boa representante do gênero feminino é independente e dorme sozinha. Mas o Romeo ainda pede minha presença ao lado e já entendendo a técnica supracitada me diz "mamãe, vai pegar seu livro!" Pronto, 20 minutos de leitura silenciosa, apenas atrapalhada pela pouca iluminação do recinto... (nem tudo são flores...)
Já li em fila de mercado, em intervalo de aula e até mesmo enquanto eles tomam banho...
Isso é o que funciona para mim... Ler na praia é um "no can do"... Mar leva criança de mãe distraída... Ler na rede é outro "yeah, right", especialmente quando se tem filhos que amam a sensação enjoativa de looping...
O único porém é que pode ser um processo um tansto lento... Ainda mais para quem passa longe de loja de roupa mas não resiste às prateleiras da Cultura ou Saraiva. Os títulos se acumulam... Esperam a vez de serem devorados por mim em sua sábia paciência de livros... Estes que aparecem aqui são os da fila.
Tudo por um "fix" literário!
Inté
sábado, setembro 03, 2011
Número 300
Meu post número 300.... Travei no teclado...
Entrei para escrever sobre algo bastante típico daqui da minha escolhida jequice, a solidão...
Porém acho que um post marco não deve ser triste, mas sim memorável.
Não, não estou me dispondo a escrever algo tão maravilhoso que se torne memorável para as gerações vindouras, mas sim, fazer uma breve recordação (memória, memorável, hã? hã?) deste espaço que me fez tão feliz...
Comecei aqui para lidar com toda a mudança que me aconteceu ao vir para o interior. Em questão de meses me casei, saí de casa, saí do meu emprego, saí da cidade, saí, saí, saí.... Até de carro eu troquei, e me lembro da querida Tânia me dizendo "Não troque de carro, é sua única referência!"... Ah, tá, no que um carro vai me ajudar? Caí em uma tristeza difícil de aguentar, mesmo com a felicidade do casamento...
Escrever me salvou... (e a terapia, claro)
Criar a Jeca me fez me enxergar melhor, me abriu os olhos para meu crescimento e para a pessoa em que eu estava me tornando. A jeca, sim, mas que se recusava a deixar para trás sua urbanidade. Seu resquício cosmopolita, tão instrínseco à paulistana que viveu em Tóquio e Nova York. Como abrir mão disso?
Com o tempo percebi que não era uma questão de abrir mão de nada, mas sim de incorporar elementos novos, e filtrar antigos. Fico no meio termo. Como uma amada tia argentina que vive há quase 40 anos no Brasil. Ela se recusou a aprender português, talvez para, assim como eu, não se sentir traindo suas origens, mas deixou de viver o dinamismo de sua língua materna... Criou uma língua própria, quase, e aqui é sempre argentina, enquanto lá, por vezes passa por brasileira... Me vejo nela...
Aqui, sou paulistana, tiram sarro do meu "r" que não enrola e lêem em mim um ar de "ah, ela se acha por que é de São Paulo" que não condiz com o que realmente sou... Mas é assim mesmo.
Lá, já sou meio lerda... Já tiram sarro de mim por que às vezes, na brincadeira, enrolo o "r". Criticam-me pois critico o trânsito, a poluição e os motoboys histéricos que não nos respeitam e a quem também não respeitamos.
Fico no limbo.
Já devo mesmo ser um tanto Jeca. Adoro chegar do trabalho e ir pegar amora, adoro ter que lavar os sapatos das crianças pois estão cheios de terra e adoro ter uma visão 360 graus do sol nascendo.
Mas guardo minha necessidade de movimento urbano. Viajar me acalma, me reconecta. Continuo com a sede de cultura, de um bom museu, de um bom restaurante, de uma caminhada na multidão. Isso me recarrega.
Sei que após tanto tempo sem vir à Jeca, da qual sinto tanta falta quanto hoje sinto da Via Larga, ela está aqui para me ajudar e me pensar.
Aqui sei quem sou.
Inté!
Entrei para escrever sobre algo bastante típico daqui da minha escolhida jequice, a solidão...
Porém acho que um post marco não deve ser triste, mas sim memorável.
Não, não estou me dispondo a escrever algo tão maravilhoso que se torne memorável para as gerações vindouras, mas sim, fazer uma breve recordação (memória, memorável, hã? hã?) deste espaço que me fez tão feliz...
Comecei aqui para lidar com toda a mudança que me aconteceu ao vir para o interior. Em questão de meses me casei, saí de casa, saí do meu emprego, saí da cidade, saí, saí, saí.... Até de carro eu troquei, e me lembro da querida Tânia me dizendo "Não troque de carro, é sua única referência!"... Ah, tá, no que um carro vai me ajudar? Caí em uma tristeza difícil de aguentar, mesmo com a felicidade do casamento...
Escrever me salvou... (e a terapia, claro)
Criar a Jeca me fez me enxergar melhor, me abriu os olhos para meu crescimento e para a pessoa em que eu estava me tornando. A jeca, sim, mas que se recusava a deixar para trás sua urbanidade. Seu resquício cosmopolita, tão instrínseco à paulistana que viveu em Tóquio e Nova York. Como abrir mão disso?
Com o tempo percebi que não era uma questão de abrir mão de nada, mas sim de incorporar elementos novos, e filtrar antigos. Fico no meio termo. Como uma amada tia argentina que vive há quase 40 anos no Brasil. Ela se recusou a aprender português, talvez para, assim como eu, não se sentir traindo suas origens, mas deixou de viver o dinamismo de sua língua materna... Criou uma língua própria, quase, e aqui é sempre argentina, enquanto lá, por vezes passa por brasileira... Me vejo nela...
Aqui, sou paulistana, tiram sarro do meu "r" que não enrola e lêem em mim um ar de "ah, ela se acha por que é de São Paulo" que não condiz com o que realmente sou... Mas é assim mesmo.
Lá, já sou meio lerda... Já tiram sarro de mim por que às vezes, na brincadeira, enrolo o "r". Criticam-me pois critico o trânsito, a poluição e os motoboys histéricos que não nos respeitam e a quem também não respeitamos.
Fico no limbo.
Já devo mesmo ser um tanto Jeca. Adoro chegar do trabalho e ir pegar amora, adoro ter que lavar os sapatos das crianças pois estão cheios de terra e adoro ter uma visão 360 graus do sol nascendo.
Mas guardo minha necessidade de movimento urbano. Viajar me acalma, me reconecta. Continuo com a sede de cultura, de um bom museu, de um bom restaurante, de uma caminhada na multidão. Isso me recarrega.
Sei que após tanto tempo sem vir à Jeca, da qual sinto tanta falta quanto hoje sinto da Via Larga, ela está aqui para me ajudar e me pensar.
Aqui sei quem sou.
Inté!
Garotas super duper prendadas
Hoje eu vim à Jeca para mudar minha lista de links... Eu precisava com urgência adicionar dois sites que PRECISAM ser visitados. Quase uma ordem...
O primeiro é o Super Duper, blog de uma querida amiga que foi minha companheira de "teaching" para os pequenos. Ela, Anne Rammi, uma senhora artista plástica que me ebriu a mente para o mundo criativo. Aprendi HORRORES com ela, e ainda hoje uso com meus filhos dicas que ela me ensinou. Hoje ela é multiseriada... Como todo furacão criativo. O blog Super Duper é um divertido passeio pela maternidade (ela é mãe orgulhosa do Joaquinho, ooops, Joaquim e espera a chegada de mais um) sem ser chato e sem virar aqueles ´cansativos papos de mãe que quem não é tem vontade de enfiar o dedo na goela... Ela é divertida para todos os públicos. Publicou até uma série de como se livrar do vício de empregada doméstica. Rimos. Ponto!
E o segundo é o Garota Prendada, que também tem origens bem pessoais, e bem mais remotas... A revista eletrônica é comandada por 6 moças prendadas, cada qual falando de sua especialidade. Três delas são praticamente família... A Giulliana é amiga da minha irmã desde pequena, e ia comer carne crua e spaghhetti cru em casa. Quando ela chegava eu escondia minhas caixas de Sucrilhos pois ela terminava com uma caixa em uma sentada... Cresceu ali, no nosso seio, e era das poucas amigas nossas que se sentava no colo do meu austero pai e o conquistava! Do outro lado, foi o pai dela, o tio Sérgio que abriu nossos olhos para o dom que a Caia tem de cantar! Ele praticamente obrigou minha mãe a colocá-la em aula de canto. Família de artistas... A Grazi, além de atriz, é bordadeira. A Vanne, estilista MARAVILHOSA, para a qual eu tive a enorme honra de posar. E sob as lentes de quem? Da Simone, que no site vai falar do meu assunto prredileto, a fotografia.
Enfim, dois sites que trazem ternura para nosso dia a dia tão corrido. O humor da Anne e a delicadeza das garotas, são mais uma pequena pílula de respiro de que tanto precisamos...
Vale a visita...
Inté!
O primeiro é o Super Duper, blog de uma querida amiga que foi minha companheira de "teaching" para os pequenos. Ela, Anne Rammi, uma senhora artista plástica que me ebriu a mente para o mundo criativo. Aprendi HORRORES com ela, e ainda hoje uso com meus filhos dicas que ela me ensinou. Hoje ela é multiseriada... Como todo furacão criativo. O blog Super Duper é um divertido passeio pela maternidade (ela é mãe orgulhosa do Joaquinho, ooops, Joaquim e espera a chegada de mais um) sem ser chato e sem virar aqueles ´cansativos papos de mãe que quem não é tem vontade de enfiar o dedo na goela... Ela é divertida para todos os públicos. Publicou até uma série de como se livrar do vício de empregada doméstica. Rimos. Ponto!
E o segundo é o Garota Prendada, que também tem origens bem pessoais, e bem mais remotas... A revista eletrônica é comandada por 6 moças prendadas, cada qual falando de sua especialidade. Três delas são praticamente família... A Giulliana é amiga da minha irmã desde pequena, e ia comer carne crua e spaghhetti cru em casa. Quando ela chegava eu escondia minhas caixas de Sucrilhos pois ela terminava com uma caixa em uma sentada... Cresceu ali, no nosso seio, e era das poucas amigas nossas que se sentava no colo do meu austero pai e o conquistava! Do outro lado, foi o pai dela, o tio Sérgio que abriu nossos olhos para o dom que a Caia tem de cantar! Ele praticamente obrigou minha mãe a colocá-la em aula de canto. Família de artistas... A Grazi, além de atriz, é bordadeira. A Vanne, estilista MARAVILHOSA, para a qual eu tive a enorme honra de posar. E sob as lentes de quem? Da Simone, que no site vai falar do meu assunto prredileto, a fotografia.
Enfim, dois sites que trazem ternura para nosso dia a dia tão corrido. O humor da Anne e a delicadeza das garotas, são mais uma pequena pílula de respiro de que tanto precisamos...
Vale a visita...
Inté!
domingo, agosto 14, 2011
Dia dos Pais
Eu te escrevo justamente em uma data das chamadas especiais... Justo para você, que me ensinou a não ligar a mínima para essas datas. Lembro bem de você reclamando de Natal, de Ano Novo, dizendo que não ligava para nada disso. E não ligava mesmo... Acostumamo-nos com suas ausências natalinas com o passar do tempo.
Mas hoje, é praticamente impossível não pensar em você. A saudades é diária, cada detalhe que me lembra você aguça a saudades, principalmente a cada novidade dos seus netos. Me pego chorando de vontade que os visse crescendo, dizendo "vovô Antonio" para o porta retrato, virando gente... Sei como você os amou tanto no final, e o quanto eles foram sua única razão para segurar os últimos sopros de vida.
Não peguei a pena para te idealizar, para santificar o que já passou. Mas acho ainda mais difícil a sua falta pois aceitei todos os seus defeitos no final. E aceitá-los valorizou suas qualidades.
Minha grande felicidade foi ter ajustado todas as nossas contas. Fizemos o balanço. Te disse coisas que havia dito apenas para meu terapeuta, fui dura, e aquilo apesar de ter doído, me aliviou. Percebendo que você partia, te escrevi a carta final, te garantindo que apenas ficariam as coisas boas.
Te lembrei de cada detalhe bacana e te prometi falar apenas deles para seus netos. Dos gibis que você me trazia, do seu cuidado extremo conosco, das suas piadas infames. Das viagens de carro pelo Brasil afora, do cheiro de cebola dos Ceasas de norte a sul, das histórias de Portugal... Sinto tanta falta disso....
Sei que você chorou ao ler a carta... Você chorou...
Um mês depois você foi embora. E em mais uma peça da vida, a música que escolhemos para te velar foi , sem perceber, de comercial de sabonete.... Vivaldi... Não era do Phebo que ainda arde no meu nariz, mas teve uma certa graça, quase uma piada de português. Tão a sua cara. Sinto falta disso...
Vou sentir sempre...
Há dois anos que ensaio escrever algo sobre sua partida. A cada tentativa saem apenas as lágrimas e o dedo trava no teclado. É impossível escrever tudo, todo o sentimento que se envolve na perda de um pai. É uma dor que não passa, e uma saudades que não pára de crescer.
Se algo de sua consciência ainda paira, sei que lerá esse post como leu aquela carta. Se não, se vivemos a ilusão da continuidade, escrevo-te para me sentir um pouco mais próxima. E isso tem que me bastar. Tem que me bastar...
Obrigada por ter sido o pai que foi. Com tudo! O bom que me aperta o peito e o não tão bom que me moldou. Sou grata por tudo. Sua essência permanece em mim e na Caia, e a levaremos aos seus netos.
Você só termina, quando a lembrança de você termina.
Eu te amo.
Mas hoje, é praticamente impossível não pensar em você. A saudades é diária, cada detalhe que me lembra você aguça a saudades, principalmente a cada novidade dos seus netos. Me pego chorando de vontade que os visse crescendo, dizendo "vovô Antonio" para o porta retrato, virando gente... Sei como você os amou tanto no final, e o quanto eles foram sua única razão para segurar os últimos sopros de vida.
Não peguei a pena para te idealizar, para santificar o que já passou. Mas acho ainda mais difícil a sua falta pois aceitei todos os seus defeitos no final. E aceitá-los valorizou suas qualidades.
Minha grande felicidade foi ter ajustado todas as nossas contas. Fizemos o balanço. Te disse coisas que havia dito apenas para meu terapeuta, fui dura, e aquilo apesar de ter doído, me aliviou. Percebendo que você partia, te escrevi a carta final, te garantindo que apenas ficariam as coisas boas.
Te lembrei de cada detalhe bacana e te prometi falar apenas deles para seus netos. Dos gibis que você me trazia, do seu cuidado extremo conosco, das suas piadas infames. Das viagens de carro pelo Brasil afora, do cheiro de cebola dos Ceasas de norte a sul, das histórias de Portugal... Sinto tanta falta disso....
Sei que você chorou ao ler a carta... Você chorou...
Um mês depois você foi embora. E em mais uma peça da vida, a música que escolhemos para te velar foi , sem perceber, de comercial de sabonete.... Vivaldi... Não era do Phebo que ainda arde no meu nariz, mas teve uma certa graça, quase uma piada de português. Tão a sua cara. Sinto falta disso...
Vou sentir sempre...
Há dois anos que ensaio escrever algo sobre sua partida. A cada tentativa saem apenas as lágrimas e o dedo trava no teclado. É impossível escrever tudo, todo o sentimento que se envolve na perda de um pai. É uma dor que não passa, e uma saudades que não pára de crescer.
Se algo de sua consciência ainda paira, sei que lerá esse post como leu aquela carta. Se não, se vivemos a ilusão da continuidade, escrevo-te para me sentir um pouco mais próxima. E isso tem que me bastar. Tem que me bastar...
Obrigada por ter sido o pai que foi. Com tudo! O bom que me aperta o peito e o não tão bom que me moldou. Sou grata por tudo. Sua essência permanece em mim e na Caia, e a levaremos aos seus netos.
Você só termina, quando a lembrança de você termina.
Eu te amo.
quarta-feira, junho 29, 2011
Dicas de livros
Sempre perto das férias ouço a mesma pergunta: Me indica um livro pra eu ler nas férias?
Essa pergunta vem tanto de alguns alunos (raridade, must say...), quanto de mães de alunos e de algumas ex alunas fiéis que felizmente continuam amigas!
Lá no portfolio, eu pus uma barra lateral com meus livros prediletos para ajudar quem tiver vontade de ler algo e não tiver ideias. Mas confesso que acho bem difícil dar dicas de livros... O gosto pela leitura varia tanto, que é raro acertar na mosca... Eu, por exemplo, agora estou completamente apaixonada por um livro da História de Florença na época do Renascimento.... Não é ficção, mas nenhum outro me leva tão profundamente ao meu período favorito.
Não só o gosto do cliente dificulta o processo de dica... A faixa etária conta, e bagagem cultural, as experiências de cada um, tudo isso pesa na escolha de um livro. "A Insustentável leveza do ser", por exemplo, virou meu xodó depois que eu fui pra Praga.... A partir dele devoro Kundera, mas o pontapé inicial foi uma experiência pessoal minha...
Conheci Amós Oz por meio de uma professora (Berta Waldman, maravilhosa) de literatura hebraica que fiz na faculdade... (PS, foi dela um dos elogios mais bizarramente adorados que recebi: "Você vai se casar???? Não acredito, você não tem jeito nenhum de menina casadoira!!!" Me senti pertecente a um clã de mulheres academicamente independentes, ainda que afetivamente mal resolvidas...) Ela me apresentou o Mestre isaraelense e até hoje leio cada linha que ele publica...
Assim, vou tentar neste post falar um pouco para os perfis que me pedem as dicas, e quero muito receber os feedbacks de quem as aceitou, ok?
Alunas e ex alunos que querem algo para as férias...
Penso em algo leve, porém estético de se ler... Quem quiser, procure o livro e leia a sinopse, para sentir o clima do livro.
"A Sombra do Vento", do Carlos Ruíz Zafón.
"O Morro dos Ventos Uivantes", Emily Bronte
"A catedral do mar", Ildefonso Falcones de Sierra
"Criança 44", Tom Rob Smith
Para os que querem algo mais adulto, desafiador, aqui vão os meus favoritos:
"É isto um homem?", Primo Levi. Um livro forte, sobre o dia a dia em um campo de conccentração.
"Meu Michel", do Amós Oz, que nos leva para uma cultura que não conhecemos, o dia a dia do israelense,
"A insustentável leveza do ser", Milan Kundera. Lindo livro de amor nos tempos da primavera de Praga...
"A geração da Utopia", Pepetela. Autor angolano bastante influenciado pela escrita brasileira fala sobre a busca da identidade do povo angolano em meio à revolução de independência de Portugal... Lindo demais...
"As Meninas", Lygia Fagundes Telles. Três amigas estudantes universitárias dos anos 70, super diferentes e cada uma com seus obstáculos nos mostram seus universos em meio ao Brasil ditatorial. Sem falar nada de ditadura...
"Madame Bovary", Gustave Flaubert. Primeiro romance realista do século XIX conta o drama de Emma, uma típica madame angustiada pela rotina fútil que de repente, conhece..... ah, não vou dar detalhes, né?
"Incidente em Antares", Érico Veríssimo. Lembram-se da minissérie da Globo? O livro é mil vezes melhor.
Agora quero falar de dois escritores em particular, que são os meus favoritos. Li tudo deles e me seguro para não reler todos, pois assim não leria mais nada. Se você tem um bom nível de leitura e gosta de desafios, esses são os que mudaram minha vida:
Dostoiévski.... O clássico russo não perde atualidade. E por incrível que pareça, os livros grossos dele são os melhores. Comece por "Crime e Castigo". Se te envolver, se prepare para comprar todos, pois é viciante a visão que ele nos dá do ser humano.
Gabriel Garcia Marques. Autor do chamado realismo maravilhoso, ou realismo mágico da América Latina, descreve nossas idiossincrasias sulamericanas da maneira que mais nos descreve mesmo: magicamente.
"Cem Anos de Solidão" é a saga de uma família da fictícia Macondo, na Colômbia, escrita com tamanha beleza e elementos fantásticos que nos faz sair da realidade. Dele pulamos para toda obra dele, sensível e criativa.
E para aqueles que gostam realmente de desafios, meu predileto da nossa literatura: "Grande Sertão Veredas." Ao lado de Machado, é nosso grande escritor. Minha história com esse livro é engraçada.
Durante a faculdade de Letras, me sentia meio inferior aos outros, que viviam discutindo o livro, com ele embaixo do braço pra cima e pra baixo, "uhuuu, adooooro Grande Sertão..." Chegava a mentir, dizendo que "uhuuuu, também adoooro Grande Sertão", mas não conseguia sair da primeira página. "Não é possível, todo mundo AMA esse livro e eu não entendo patavina dele. Estou na faculdade errada, acho que vou desistir e fazer contabilidade..."
Anos depois de formada, resolvi dar uma 4a chance a ele. Quarta chance MESMO... Era a quarta vez que eu tentava. Estava fazendo terapia, e passava um tempo na ante sala esperando. Levei Rosa... Foi difícil sim, mas de repente, tive um clique. Comecei a ler como se a voz de Riobaldo estivesse na minha cabeça. O sotaque dele literalmente me abriu as portas do livro, e tive a felicidade de conhecer essa obra maravilhosa.
Bom, falar de livro é algo que me move, mas vou ficar por aqui. Meu livro sobre Florença me espera....
Inté
Essa pergunta vem tanto de alguns alunos (raridade, must say...), quanto de mães de alunos e de algumas ex alunas fiéis que felizmente continuam amigas!
Lá no portfolio, eu pus uma barra lateral com meus livros prediletos para ajudar quem tiver vontade de ler algo e não tiver ideias. Mas confesso que acho bem difícil dar dicas de livros... O gosto pela leitura varia tanto, que é raro acertar na mosca... Eu, por exemplo, agora estou completamente apaixonada por um livro da História de Florença na época do Renascimento.... Não é ficção, mas nenhum outro me leva tão profundamente ao meu período favorito.
Não só o gosto do cliente dificulta o processo de dica... A faixa etária conta, e bagagem cultural, as experiências de cada um, tudo isso pesa na escolha de um livro. "A Insustentável leveza do ser", por exemplo, virou meu xodó depois que eu fui pra Praga.... A partir dele devoro Kundera, mas o pontapé inicial foi uma experiência pessoal minha...
Conheci Amós Oz por meio de uma professora (Berta Waldman, maravilhosa) de literatura hebraica que fiz na faculdade... (PS, foi dela um dos elogios mais bizarramente adorados que recebi: "Você vai se casar???? Não acredito, você não tem jeito nenhum de menina casadoira!!!" Me senti pertecente a um clã de mulheres academicamente independentes, ainda que afetivamente mal resolvidas...) Ela me apresentou o Mestre isaraelense e até hoje leio cada linha que ele publica...
Assim, vou tentar neste post falar um pouco para os perfis que me pedem as dicas, e quero muito receber os feedbacks de quem as aceitou, ok?
Alunas e ex alunos que querem algo para as férias...
Penso em algo leve, porém estético de se ler... Quem quiser, procure o livro e leia a sinopse, para sentir o clima do livro.
"A Sombra do Vento", do Carlos Ruíz Zafón.
"O Morro dos Ventos Uivantes", Emily Bronte
"A catedral do mar", Ildefonso Falcones de Sierra
"Criança 44", Tom Rob Smith
Para os que querem algo mais adulto, desafiador, aqui vão os meus favoritos:
"É isto um homem?", Primo Levi. Um livro forte, sobre o dia a dia em um campo de conccentração.
"Meu Michel", do Amós Oz, que nos leva para uma cultura que não conhecemos, o dia a dia do israelense,
"A insustentável leveza do ser", Milan Kundera. Lindo livro de amor nos tempos da primavera de Praga...
"A geração da Utopia", Pepetela. Autor angolano bastante influenciado pela escrita brasileira fala sobre a busca da identidade do povo angolano em meio à revolução de independência de Portugal... Lindo demais...
"As Meninas", Lygia Fagundes Telles. Três amigas estudantes universitárias dos anos 70, super diferentes e cada uma com seus obstáculos nos mostram seus universos em meio ao Brasil ditatorial. Sem falar nada de ditadura...
"Madame Bovary", Gustave Flaubert. Primeiro romance realista do século XIX conta o drama de Emma, uma típica madame angustiada pela rotina fútil que de repente, conhece..... ah, não vou dar detalhes, né?
"Incidente em Antares", Érico Veríssimo. Lembram-se da minissérie da Globo? O livro é mil vezes melhor.
Agora quero falar de dois escritores em particular, que são os meus favoritos. Li tudo deles e me seguro para não reler todos, pois assim não leria mais nada. Se você tem um bom nível de leitura e gosta de desafios, esses são os que mudaram minha vida:
Dostoiévski.... O clássico russo não perde atualidade. E por incrível que pareça, os livros grossos dele são os melhores. Comece por "Crime e Castigo". Se te envolver, se prepare para comprar todos, pois é viciante a visão que ele nos dá do ser humano.
Gabriel Garcia Marques. Autor do chamado realismo maravilhoso, ou realismo mágico da América Latina, descreve nossas idiossincrasias sulamericanas da maneira que mais nos descreve mesmo: magicamente.
"Cem Anos de Solidão" é a saga de uma família da fictícia Macondo, na Colômbia, escrita com tamanha beleza e elementos fantásticos que nos faz sair da realidade. Dele pulamos para toda obra dele, sensível e criativa.
E para aqueles que gostam realmente de desafios, meu predileto da nossa literatura: "Grande Sertão Veredas." Ao lado de Machado, é nosso grande escritor. Minha história com esse livro é engraçada.
Durante a faculdade de Letras, me sentia meio inferior aos outros, que viviam discutindo o livro, com ele embaixo do braço pra cima e pra baixo, "uhuuu, adooooro Grande Sertão..." Chegava a mentir, dizendo que "uhuuuu, também adoooro Grande Sertão", mas não conseguia sair da primeira página. "Não é possível, todo mundo AMA esse livro e eu não entendo patavina dele. Estou na faculdade errada, acho que vou desistir e fazer contabilidade..."
Anos depois de formada, resolvi dar uma 4a chance a ele. Quarta chance MESMO... Era a quarta vez que eu tentava. Estava fazendo terapia, e passava um tempo na ante sala esperando. Levei Rosa... Foi difícil sim, mas de repente, tive um clique. Comecei a ler como se a voz de Riobaldo estivesse na minha cabeça. O sotaque dele literalmente me abriu as portas do livro, e tive a felicidade de conhecer essa obra maravilhosa.
Bom, falar de livro é algo que me move, mas vou ficar por aqui. Meu livro sobre Florença me espera....
Inté
quarta-feira, março 16, 2011
Vixe, my bad...
Gente, acabei de levar um susto.... Estava reparando que ninguém mais comantava na Jeca... Fiquei até triste, abandonada, pensando que ninguém mais me lia...
Até que reparei que a moderação estava ativada!!! 77 comentários guardados me aguardavam!!!
Peço desculpas às minhas fiéis leitoras, Rubi, Clau, MH, Caia, entre outras que vieram me ler... Acabei de postar todos os comentários, e os li com muito carinho..
Foi bom, isso me animou a escrever mais.
beijinhos
Até que reparei que a moderação estava ativada!!! 77 comentários guardados me aguardavam!!!
Peço desculpas às minhas fiéis leitoras, Rubi, Clau, MH, Caia, entre outras que vieram me ler... Acabei de postar todos os comentários, e os li com muito carinho..
Foi bom, isso me animou a escrever mais.
beijinhos
sexta-feira, março 11, 2011
Big in Japan
Voltei à Jeca hoje, movida pela tristeza das imagens do terremoto no Japão. Tenho um carinho enorme por esse país, com que me relacionei por 5 anos, mas parece que em dias assim esse carinho fica quase doído, mais evidenciado pela dor...
Viver no Japão e vivê-lo foi uma das minhas experiências mais marcantes. Eu era tão jovem... Me lembro tão bem do dia em que pousei em Narita, 21 anos, pés descalços pelo inchaço e um sentimento de pura descoberta. Éramos todos jovens...Éramos 6... Até o Antonio, que era o mais velho, ainda era um menino. Dentro do ônibus que nos levou a nossa casa nos meses seguintes, um comentário nunca saiu da minha lembrança: "Nossa, todos os carros são importados!"... Éramos quase puros...
Quase, e esse quase nos rendeu uma diversão ímpar, na cidade mais louca e incompreensível que conheci.
Nos próximos 5 anos me relacionei com a cultura japonesa, e acompanhei o povo de perto. Aprendi demais. Viver a rotina do país ainda é uma cicatriz em mim, e levo pra onde for a noção de respeito, de hierarquia e de civilidade que ganhei lá. E de superação. "Gambate kudasai", era a frase que mais ouvíamos dos colegas japoneses, quase ordenando: "Se esforcem! Por favor!"
Carrego muito do Japão em mim.
Os cheiros... Bons e nem tão bons... São lembranças absurdamente fortes, de tão emotivas. O cheiro do metrô pela manhã era um terror para narizes acostumados ao pãozinho francês com manteiga. A saudável combinação de repolho e ovo no café da manhã produzia um trem quase nefasto. Hoje é engraçado...
Os cheiros de comida, que impregnam Tóquio. Que delícia perceber a variedade de temperos que nem sonhamos existirem no Brasil.
Os sons... Tóquio é uma cidade sonora, viva, mas nada histérica... Entrar nas feiras livres, ou em qualquer loja e ser ovacionado com Irashaimasééééé era quase um abraço materno. Os sons dos corvos que dominam a cidade como os nossos pardais, se misturando aos ding dongs das lojas que apitam quando entramos...Os sons dos bêbados oficialmente perimitidos no happy hour de sexta feira, cantando nas estações... Os sons dos trilhos dos trens, chegando em Shinagawa e partindo dela, a vozinha em Yurakucho line anunciando a próxima estação: Gotanda, Gotanda desu... Até dói de saudades....
As luzes... Ah, as luzes... Como tentamos captar as luzes nas nossas máquinas, incapazes de traduzir a imensidão de Akihabara, ou de Ginza à noite!... Como consegue ser tão caótica e tão colorida, Tóquio San? Aquelas luzes insanas de Roppongi, para onde íamos à loucura na agitada noite... Os africanos enormes de braços dados com mini japonesas, os modelos internacionais na Lexington Queen, os Kahlua Drinks no bar, a saudade de casa no Acarajé... Não disse que nossa pureza era relativa? Alí, nós éramos as luzes. As luzes de uma cidade regrada de dia, mas que ao som da happy hour se permite a insanidade.
Os gostos... Como esquecer a primeira vez com o doce de feijão? Os sorvetes de batata doce, os sushis fresquinhos vendidos no mercado? Mas não é de sushi que vive o japonês. Inesquecível mesmo é o Udon vendido em minúsculas lojas, em que cabem no máximo 4 clientes. Em pé... Ou os empanados cheirosíssimos que fazem o maior sucesso no almoço. E os sorvetes.... Ah, o sorvete japonês... O doce japonês... Ali aprendi que doce não precisa de tanto açúcar, mas de leveza e carinho.
Ali na verdade aprendi muito... Com o infinito sorriso do povo. Só quem viveu lá conhece a sensação de esperar pela abertura de uma loja de departamento, e ao se abrirem as portas, ser recebido por uma fileira de funcionárias que te saúdam desejando boas vindas... Ou com a cordialidade deles, que o ocidental confunde com servilidade. Lembro de entrar no ônibus da tripulação ao deixar o hotel e ver a recepcionista dando tchau para nós, até que virássemos a esquina.
Foi em Tóquio que descobri o real sentido de ser cosmopolita. Nem Nova York, nem São Paulo jamais me ensinaram isso tão bem quanto a futurista Tóquio. E é com episódios como esse triste de hoje que eles nos ensinam, novamente, sobre a resistência, a disciplina e a capacidade de se reconstruir, tão tristemente características do povo nipônico.
Penso nos meus queridos amigos que viveram comigo essa expeeriência... Penso nas comissárias japonesas com quem voei, e que fizeram parte dessa minha jornada tão essencial para minha formação. A estas pessoas, meu muito obrigada por cada sorriso, cada lágrima e cada descoberta juntos.
E ao Japão, força na reconstrução! Vocês mesmos me ensinaram: GAMBATE!!!!!!
Dedicado ao grupo dos 6: Karina, Maria, Deivy, Antonio e Christian... Olhando depois de tantos anos... foi bom demais.....
Viver no Japão e vivê-lo foi uma das minhas experiências mais marcantes. Eu era tão jovem... Me lembro tão bem do dia em que pousei em Narita, 21 anos, pés descalços pelo inchaço e um sentimento de pura descoberta. Éramos todos jovens...Éramos 6... Até o Antonio, que era o mais velho, ainda era um menino. Dentro do ônibus que nos levou a nossa casa nos meses seguintes, um comentário nunca saiu da minha lembrança: "Nossa, todos os carros são importados!"... Éramos quase puros...
Quase, e esse quase nos rendeu uma diversão ímpar, na cidade mais louca e incompreensível que conheci.
Nos próximos 5 anos me relacionei com a cultura japonesa, e acompanhei o povo de perto. Aprendi demais. Viver a rotina do país ainda é uma cicatriz em mim, e levo pra onde for a noção de respeito, de hierarquia e de civilidade que ganhei lá. E de superação. "Gambate kudasai", era a frase que mais ouvíamos dos colegas japoneses, quase ordenando: "Se esforcem! Por favor!"
Carrego muito do Japão em mim.
Os cheiros... Bons e nem tão bons... São lembranças absurdamente fortes, de tão emotivas. O cheiro do metrô pela manhã era um terror para narizes acostumados ao pãozinho francês com manteiga. A saudável combinação de repolho e ovo no café da manhã produzia um trem quase nefasto. Hoje é engraçado...
Os cheiros de comida, que impregnam Tóquio. Que delícia perceber a variedade de temperos que nem sonhamos existirem no Brasil.
Os sons... Tóquio é uma cidade sonora, viva, mas nada histérica... Entrar nas feiras livres, ou em qualquer loja e ser ovacionado com Irashaimasééééé era quase um abraço materno. Os sons dos corvos que dominam a cidade como os nossos pardais, se misturando aos ding dongs das lojas que apitam quando entramos...Os sons dos bêbados oficialmente perimitidos no happy hour de sexta feira, cantando nas estações... Os sons dos trilhos dos trens, chegando em Shinagawa e partindo dela, a vozinha em Yurakucho line anunciando a próxima estação: Gotanda, Gotanda desu... Até dói de saudades....
As luzes... Ah, as luzes... Como tentamos captar as luzes nas nossas máquinas, incapazes de traduzir a imensidão de Akihabara, ou de Ginza à noite!... Como consegue ser tão caótica e tão colorida, Tóquio San? Aquelas luzes insanas de Roppongi, para onde íamos à loucura na agitada noite... Os africanos enormes de braços dados com mini japonesas, os modelos internacionais na Lexington Queen, os Kahlua Drinks no bar, a saudade de casa no Acarajé... Não disse que nossa pureza era relativa? Alí, nós éramos as luzes. As luzes de uma cidade regrada de dia, mas que ao som da happy hour se permite a insanidade.
Os gostos... Como esquecer a primeira vez com o doce de feijão? Os sorvetes de batata doce, os sushis fresquinhos vendidos no mercado? Mas não é de sushi que vive o japonês. Inesquecível mesmo é o Udon vendido em minúsculas lojas, em que cabem no máximo 4 clientes. Em pé... Ou os empanados cheirosíssimos que fazem o maior sucesso no almoço. E os sorvetes.... Ah, o sorvete japonês... O doce japonês... Ali aprendi que doce não precisa de tanto açúcar, mas de leveza e carinho.
Ali na verdade aprendi muito... Com o infinito sorriso do povo. Só quem viveu lá conhece a sensação de esperar pela abertura de uma loja de departamento, e ao se abrirem as portas, ser recebido por uma fileira de funcionárias que te saúdam desejando boas vindas... Ou com a cordialidade deles, que o ocidental confunde com servilidade. Lembro de entrar no ônibus da tripulação ao deixar o hotel e ver a recepcionista dando tchau para nós, até que virássemos a esquina.
Foi em Tóquio que descobri o real sentido de ser cosmopolita. Nem Nova York, nem São Paulo jamais me ensinaram isso tão bem quanto a futurista Tóquio. E é com episódios como esse triste de hoje que eles nos ensinam, novamente, sobre a resistência, a disciplina e a capacidade de se reconstruir, tão tristemente características do povo nipônico.
Penso nos meus queridos amigos que viveram comigo essa expeeriência... Penso nas comissárias japonesas com quem voei, e que fizeram parte dessa minha jornada tão essencial para minha formação. A estas pessoas, meu muito obrigada por cada sorriso, cada lágrima e cada descoberta juntos.
E ao Japão, força na reconstrução! Vocês mesmos me ensinaram: GAMBATE!!!!!!
Dedicado ao grupo dos 6: Karina, Maria, Deivy, Antonio e Christian... Olhando depois de tantos anos... foi bom demais.....
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