domingo, dezembro 04, 2011

Sonho de desconsumo

Eu acabei de chegar do Shopping. Pois é, fui comprar uma blusa verde para passar o reveillon.  Durante anos passei de rosa, até que achei que o amor estava bem resolvido. Agora, quero saúde, então visto a família toda de verde.
TEM que ser verde. E TEM que ser nova... Sei lá por que, mas é assim que minha superstição capitalista funciona.

Enquanto eu lia este texto aqui, a blusinha me olhava, deitada ao meu lado na cama.  E ela me lembrava de um percurso que eu tenho percorrido nos últimos tempos, em uma tentativa de simplificar minha vida e meus valores...
Seria hipocrisia demais, da minha parte, dizer que eu tenho uma essência hippie que nega a cultura capitalista e que me "enjoo" de ver o consumismo ocidental... Me enjoo é de ver quanta coisa meu bolso impede meu bom gosto de realizar, isso sim... Entretanto, tenho me questionado muito sobre o quanto eu compro e pra que tanta coisa... Esse questionamento aconteceu com mais força depois da minha viagem à Itália, em junho.  Sempre fui fanática por viagens, mas tinha me esquecido do valor delas depois de uns anos parada.
Filhos, casa, papagaio, enfim, o estereótipo completo do "brazilian dream" me envolveu exatamente como a jornalista do texto supracitado descreveu.
Ao voltar de viagem, já reservei outra, que vou fazer em companhia das minhas cunhadas e de uma prima, e o simples ato da reserva me tirou o tesão de fazer compras. Achei meu high de novo... Achei a motivação de que preciso para viver com mais simplicidade... Ter uma viagem à vista me põe os pés no chão e me faz querer cortar cada vez mais. Pra quê tanta coisa no armário? Em que meu "estilo" me define? Prefiro me definir pelos lugares que visito, pelos pratos que experimento, pelas pontes que atravesso... De verdade.

Meu sonho de consumo é, no fim das contas, um sonho de "desconsumo", com o perdão do neologismo:  ter uma casa MENOR, em que as crianças também tomem as rédeas da manutenção para que dispensemos a figura cômoda, porém incômoda da empregada doméstica. Assim, poderemos, além de proporcionar aos nossos filhos mais oportunidades de viajar e de conhecer outras culturas, ensiná-los a ter uma visão diferente da vida, com maior consciência e mais afastados da banalidade do "ter" para "ser".

Não faça essa cara de "ah, tá... até parece"... Acho isso possível mesmo... O que nos falta é força de vontade de colocar em prática um movimento que vai contra a corrente de nossa cultura. É difícil, mas possível... Meus filhos já ajudam a secar a louça (de plástico, lógico), já colocam a roupa no cesto, já arrumam (do jeito deles) os brinquedos... E eu estou me policiando quando entro em Shopping... É um caminho longo, mas eu estou bem ansiosa por ele. Afinal, a "metáfora da jornada,. é a metáfora da vida"...

Inté!

4 comentários:

Anne disse...

Eu tb estou nessa! Menos, menos, menos... Só assim a gente abre espaço para enxergar oq realmente importa!!
Bjo

Rubi disse...

Concordo em absoluto. Ouvi recentemente um europeu que vive no Rio há mais de 20 anos, já é mais brasileiro que europeu, comentando que vive muito perto do trabalho, que vai de carro e não usa transportes e que a empregada vive na casa dele e faz tudo, cozinha e limpa, e nunca tem férias, só se ele quiser dar folga. Fiquei boquiaberta. Será que as pessoas não entendem que toda a gente merece direitos e deveres, e férias e ser tratado como um ser humano? Será que ele não percebe que vive numa 'bolha' no Rio, na parte boa, e que é precisamente essa sociedade classista e que trata os serviçais como gente de segunda que cria a pobreza, a revolta e a criminalidade? Fiquei estupefacta com a mentalidade. Beijos

Tati disse...

Rubi, esse rapaz logo mais vai cair do cavalo, pois as empregadas domésticas no Brasil já estão bem mais conhecedoras de seus direitos e se ela for consciente, assim que sair do emprego o processa, e se tem algo que funciona aqui é a Justiça Trabalhista... Além disso, com o crescimento do país, essas profissionais estão escasseando, pois conseguem posições melhores. Eu tive uma por anos, que viu as crianças nascerem, e durante esse tempo, ela foi fazendo um curso aqui, outro ali, e agora é funcionária de uma praça dde pedágio. Cresceu! Ótimo pra ela e pro país!!!
Pessoas com essa mentalidade ainda existem, mas há esperança de que SUMAM com as próximas gerações! Oxalá!
Beijos, aniversariante!!!

Mariana - viciados em colo disse...

também tô nessa, do desconsumo... é um esforço, mas estou caminhando. quanto à empregada: aqui ainda necessito, mas assim que as crianças crescerem digo adeus a este cômodo-incômodo.
beijoca