sexta-feira, março 11, 2011

Big in Japan

Voltei à Jeca hoje, movida pela tristeza das imagens do terremoto no Japão. Tenho um carinho enorme por esse país, com que me relacionei por 5 anos, mas parece que em dias assim esse carinho fica quase doído, mais evidenciado pela dor...

Viver no Japão e vivê-lo foi uma das minhas experiências mais marcantes. Eu era tão jovem... Me lembro tão bem do dia em que pousei em Narita, 21 anos, pés descalços pelo inchaço e um sentimento de pura descoberta. Éramos todos jovens...Éramos 6... Até o Antonio, que era o mais velho, ainda era um menino. Dentro do ônibus que nos levou a nossa casa nos meses seguintes, um comentário nunca saiu da minha lembrança: "Nossa, todos os carros são importados!"... Éramos quase puros...

Quase, e esse quase nos rendeu uma diversão ímpar, na cidade mais louca e incompreensível que conheci.

Nos próximos 5 anos me relacionei com a cultura japonesa, e acompanhei o povo de perto. Aprendi demais. Viver a rotina do país ainda é uma cicatriz em mim, e levo pra onde for a noção de respeito, de hierarquia e de civilidade que ganhei lá. E de superação. "Gambate kudasai", era a frase que mais ouvíamos dos colegas japoneses, quase ordenando: "Se esforcem! Por favor!"

Carrego muito do Japão em mim.

Os cheiros... Bons e nem tão bons... São lembranças absurdamente fortes, de tão emotivas. O cheiro do metrô pela manhã era um terror para narizes acostumados ao pãozinho francês com manteiga. A saudável combinação de repolho e ovo no café da manhã produzia um trem quase nefasto. Hoje é engraçado...

Os cheiros de comida, que impregnam Tóquio. Que delícia perceber a variedade de temperos que nem sonhamos existirem no Brasil.

Os sons... Tóquio é uma cidade sonora, viva, mas nada histérica... Entrar nas feiras livres, ou em qualquer loja e ser ovacionado com Irashaimasééééé era quase um abraço materno. Os sons dos corvos que dominam a cidade como os nossos pardais, se misturando aos ding dongs das lojas que apitam quando entramos...Os sons dos bêbados oficialmente perimitidos no happy hour de sexta feira, cantando nas estações... Os sons dos trilhos dos trens, chegando em Shinagawa e partindo dela, a vozinha em Yurakucho line anunciando a próxima estação: Gotanda, Gotanda desu... Até dói de saudades....

As luzes... Ah, as luzes... Como tentamos captar as luzes nas nossas máquinas, incapazes de traduzir a imensidão de Akihabara, ou de Ginza à noite!... Como consegue ser tão caótica e tão colorida, Tóquio San? Aquelas luzes insanas de Roppongi, para onde íamos à loucura na agitada noite... Os africanos enormes de braços dados com mini japonesas, os modelos internacionais na Lexington Queen, os Kahlua Drinks no bar, a saudade de casa no Acarajé... Não disse que nossa pureza era relativa? Alí, nós éramos as luzes. As luzes de uma cidade regrada de dia, mas que ao som da happy hour se permite a insanidade.

Os gostos... Como esquecer a primeira vez com o doce de feijão? Os sorvetes de batata doce, os sushis fresquinhos vendidos no mercado? Mas não é de sushi que vive o japonês. Inesquecível mesmo é o Udon vendido em minúsculas lojas, em que cabem no máximo 4 clientes. Em pé... Ou os empanados cheirosíssimos que fazem o maior sucesso no almoço. E os sorvetes.... Ah, o sorvete japonês... O doce japonês... Ali aprendi que doce não precisa de tanto açúcar, mas de leveza e carinho.

Ali na verdade aprendi muito... Com o infinito sorriso do povo. Só quem viveu lá conhece a sensação de esperar pela abertura de uma loja de departamento, e ao se abrirem as portas, ser recebido por uma fileira de funcionárias que te saúdam desejando boas vindas... Ou com a cordialidade deles, que o ocidental confunde com servilidade. Lembro de entrar no ônibus da tripulação ao deixar o hotel e ver a recepcionista dando tchau para nós, até que virássemos a esquina.

Foi em Tóquio que descobri o real sentido de ser cosmopolita. Nem Nova York, nem São Paulo jamais me ensinaram isso tão bem quanto a futurista Tóquio. E é com episódios como esse triste de hoje que eles nos ensinam, novamente, sobre a resistência, a disciplina e a capacidade de se reconstruir, tão tristemente características do povo nipônico.

Penso nos meus queridos amigos que viveram comigo essa expeeriência... Penso nas comissárias japonesas com quem voei, e que fizeram parte dessa minha jornada tão  essencial para minha formação. A estas pessoas, meu muito obrigada por cada sorriso, cada lágrima e cada descoberta juntos.

E ao Japão, força na reconstrução! Vocês mesmos me ensinaram: GAMBATE!!!!!!

Dedicado ao grupo dos 6: Karina, Maria, Deivy, Antonio e Christian... Olhando depois de tantos anos... foi bom demais.....

2 comentários:

Rubi disse...

Uma bela homenagem. Um grande abraço!

Anônimo disse...

Nossa, lindo demais!!!

Você consegue, como sempre, traduzir tão bem em palavras sentimentos que habitam em tantas pessoas.

Obrigada pela lembrança, ler seu post foi como voltar à terra do sol nascente e trazer à tona memórias olfativas, gustativas, visuais que já estavam quase se perdendo!!!

Beijos, amiga. E você tem razão: foi bom demais!!!

Karina