sábado, abril 14, 2007

Férias em Natal. Episódio 6. O Contraponto





Rita não conseguia encontrar os amigos com aquela luz piscante da pista. Ficou parada com dois copos de caipirinha na mão tentando visualizar algum rosto conhecido. Ouviu alguns comentários típicos de boates, ao pé do ouvido, precedidos por um aperto no braço, mas deu pouca importância e seguiu sua busca.
Finalmente achou Fred, que se destacava em meio à massa.

-Nossa, achei que tinha fugido de novo. Disse sorrindo Diego, agradecendo o copo.
-Me perdi, acho que não sei mais me portar nesses lugares.
-Você está bem?
-Sim, acho que sim. Só um pouco sufocada....
-Se quiser podemos ir embora, o Alê se encarrega de levar as meninas de volta.
-Mesmo?
-Mesmo! Pra ser sincero eu também me sinto meio peixe fora d´água aqui. Acabei de encontrar alguns alunos, e essa música me dá dor de cabeça...

Pouco depois estavam sentados em um bar com visão paisagística da Lagoa Rodrigo de Freitas.

-Esta cidade não pára de me surpreender... Como pode ser tão linda?
-Pois é, eu que nasci aqui também não paro de me maravilhar. Vem cá, quero te mostrar a vista do deck.

Rita sentiu o coração acelerar. Que é isso, pensou, não tinha mais idade pra ficar nervosa. Lembrou-se dos bailes da escola, quando esperava a frase “Vamos lá fora?” ou “Estás com frio?” do menino de quem gostava. Sentiu-se colegial, respirou fundo e seguiu Diego.
A vista era mesmo linda. Já era tarde, e sendo dia de semana, o bar estava vazio. Encostou-se no gradil e sentiu o braço de Diego junto ao seu.
-Eu já disse que você está linda de vermelho, né?
-Disse? Não lembro, acho que não, disse sentindo suas bochechas quentes.

Diego a puxou contra si seus rostos se aproximaram. Rita não sabia de quem era o coração que batia a mil. Ele a olhou demoradamente, alisou seus cabelos e pousou a mão em sua nuca. Rita sentiu-se tremendo. Viu então que o olhar dele baixou dos olhos para seus lábios, sinal último do que viria a seguir. Aquele instante pareceu uma eternidade, momento mágico que há anos não sentia: os segundos anteriores ao primeiro beijo. Quando seus lábios se tocaram, Rita fechou os olhos e se entregou. Esqueceu-se de quem era e de onde estava, assim mesmo como se deve sentir. Não soube dizer, depois, quanto durou aquele beijo. Parecia eterno.
Separaram-se sorrindo. Diego movia os dedos em sua face e Rita sentiu a respiração voltar ao normal, pouco a pouco.
Também pouco a pouco, voltou à realidade. Lembrou-se que tinha algo a contar para Diego. Precisava contar, só não sabia como.

Na volta ao hotel, pararam para uma água de coco na orla de Ipanema. Rita fitou-o com seriedade.
-Acho que preciso te contar o que aconteceu ontem.
-Acha? Ou precisa?
-Diego, eu sou casada.

Diego não disse nada. Franziu a testa e deu um passo para trás. Olhou o mar, respirou fundo e perguntou:

-E você deixou chegar até aqui pra me contar? Por que não me contou no primeiro dia?
-Não sei, desde que pisei no Rio até aquela noite no samba, quando vi Lúcia beijando Alexandre eu não pensei nele. Esqueci-me. Naquele instante, ele voltou-me à lembrança. Por isso quis voltar, e por isso pareci tão confusa.
-É, não posso dizer que não desconfiei...
-Tinha decidido não te ver mais, até que Lúcia me contou algumas coisas sobre ele.
-Que coisas?
-Longa história... Para resumir, ele parece ser um mulherengo crônico. Ontem passei o dia remoendo isso, pensando no meu casamento e em todos os momentos que pude ver e não vi.
-Então, você decidiu se vingar e ficar comigo.
-Não!!! De maneira alguma!! Se fosse apenas isso, Diego, eu jamais teria te contado. Se fosse vingança, eu estaria a esta altura na sua cama, não aqui.
Caminharam em silêncio. Rita buscou a mão de Diego, que se afastou delicadamente.
-Rita, acho melhor você voltar para o hotel, já está tarde e é perigoso andar a essa hora.
Na porta do Plaza, Rita o segurou pelo braço.
-Olhe minha mão. Não tenho aliança.
-Você já não tinha.
-Sim, mas até ontem estava confiscada por Lúcia. Outra longa história. Hoje não a tenho por opção minha. Joguei-a ao mar.
Ele a fitou por algum tempo.
-Eu saí de Lisboa casada, mas não voltarei assim. Em dois meses tu chegarás a Portugal, e talvez eu possa retribuir o favor e te mostrar a cidade.
-Talvez?
-Sim, talvez. Se tu quiseres...

Diego nada disse, e se dirigiu ao carro.

Nos três dias seguintes, Diego não apareceu. Alexandre e Fred levaram-nas aos pontos mais belos da cidade, e a cada manhã, Rita esperava vê-lo no hall.
Conheceram o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, a Urca. Passearam pelo Flamengo e pelo Botafogo.
No centro histórico da cidade, Rita sentiu muita falta de Diego, sabia que ele, mais que Alexandre e Fred, saberia como guiá-las ali. Sentados na antiga Confeitaria Colombo, Rita desanimou, sentiu que não voltaria a vê-lo. Tinha apenas mais um dia, antes da partida.

A última manhã carioca das visitantes portuguesas começou nostálgica.
-Fred disse que quer me ver em Lisboa, disse Sónia, enquanto vestiam os biquínis comprados nas lojas do Leblon.
-E eu prometi a Alexandre que volto ainda este ano. Mesmo sem ele, essa cidade é mágica!
Sentiam muito ter que ir embora. Ainda mais, sabendo o que lhes esperava em casa.
Sónia voltaria a lutar para sustentar seus filhos, mas sabia que seria diferente. A viagem a fortalecera como mulher, e não tinha mais medo da vida de divorciada. Estava, na verdade, ansiosa.
Lúcia chegaria em casa para a hipocrisia de seu casamento, e já não tinha mais ânimo para os jogos de vingança e falsidade. Não queria pensar em Fonseca, queria curtir seu último dia de Brasil.
E Rita antecipava a batalha que teria que enfrentar ao voltar.

Suspiraram, lindas em seus trajes brasileiros, e foram à praia. Almoçaram em um restaurante no Leblon e no fim da tarde, Alexandre e Fred a buscaram para seu último passeio.
-Deixamos o melhor para o final. Vocês vão ter a vista mais linda da cidade. Vamos à Vista Chinesa.

Só o caminho até o lugar valia o passeio. Ao descer do carro, ficaram sem ar, tamanha a beleza que tinham à frente.

Rita se afastou um pouco e sentou-se para apreciar o Rio de Janeiro. Pensou em cada dia da viagem, em cada palavra que trocou com Diego. Suspirou, feliz pela semana, mas triste pelo final que tiveram.
De repente, sentiu alguém sentando-se ao seu lado. Não quis olhar, temerosa da decepção. Sentiu um perfume conhecido e ouviu a voz que tanto queria ouvir:

-Esse é meu lugar favorito do Rio. Quando eu era criança vinha sempre com meu pai.

Ela não disse nada, ficou apenas olhando para ele, sorrindo. Viu aquela mão, que tanto desejou segurar, apertar seus dedos miúdos. Ele a olhou e sorriu.

-É lindo, mesmo. Acho que se tornou também o meu favorito...

-Lisboa tem lugares assim?
-Assim? Assim, não, mas tem lugares únicos, que tenho certeza que vais amar....
-Você me leva?
-Talvez?
-Não, não talvez. Não gosto dessa palavra.


último episódio, semana que vem...

8 comentários:

Capitão-Mor disse...

Sem dúvida que este foi o meu episódio preferido. Estou espantado com a sua capacidade de escrita. Você é excelente a descrever ambientes físicos e emocionais. Vista Chinesa? Nunca tinha ouvido falar...
Ainda não acredito que Rita se vá divorciar do Luís.
Abraço

Tati disse...

Nossa, capitão, muito obrigada pelo elogio. Estava esperando acabarmos para te agradecer pela maravilhosa idéia do contraponto, escrevê-lo tem sido uma experiência deliciosa. Vou postar esse mesmo comentário no seu blog, para que fique registrado meu agradecimento!
Grande beijo

Roberta disse...

Adoro quando o coração bota a vida de pernas pro ar!
Quando uma aparente loucura, uma aventura, bota tudo em seu devido lugar.
Eu acho que no fim das contas a Rita nem precisa ficar de vez com o Diego. Mas adoraria que ela se separasse do marido. E o Diego pode ter sido um meio para ela cair na real e tomar coragem para se divorciar. Até porque, poxa, ter deslizes é uma coisa, mas tirar fotos com loiras vagais é outra. :S
bjs

ps: jogar aliança no mar do Rio de Janeiro é o q há! hehehe. Já joguei um anelzinho numa lixeira da Av. Paulista, mas no mar deve dar uma sensação melhor ainda. ;)

Rubi disse...

Adorei. Tati manda o endereço do Diego, um homem desses não pode andar solto...lol...Beijos

Anônimo disse...

Demais!!!!
Pena que tá acabando... eu quero maisssss....
Beijos pra ti Tati!
Parabéns!!!
Carolzinha

Sofia disse...

Tati,
Essa história está cada vez mais deliciosa e romântica. Que seja a primeira de uma série de muitas!
Amanhã viajo para as férias, mas não perderei o último capítulo por nada nesse mundo ( vou ler nem que seja em um cybercafé ).
Abraços,

A Autora disse...

Tati que delícia este episódio...eu já tinah lido no começo, mas depois me perdi da história por causa da correira....que romântico, sexy, instigante a sua forma de escrever...tem climax total...adorei...voltarei com toda certeza para ler o final...
e a propósito, quando o homem em questão abaixa o olhar para nossos lábios...o frio na barriga acho que é inevitável em qualquer idade amiga....
muito bom te ver viu? Tomara que voltemos a praticar juntas em alguns horários....tem dias que vou à tarde de quarta e sexa...vamos ver...
beijos
Carol Montone

Anônimo disse...

blognovela... .interessante a ideia....