Foto, aqui
Desculpem o atraso, mas o coelhino da páscoa me seqüestrou na quinta e só me devolveu agora...
Às 10 em ponto Diego e Alexandre estavam no hall do hotel. Lúcia desceu sozinha, e viu a expressão de decepção do carioca.
“Ela não passa bem, Diego. Prometeu unir-se a nós à noite, mas quer passar o dia sozinha.”
“O que houve? Posso subir e falar com ela!”
“Ela saiu cedo, não está. Estou certa de que ela prefere contar-te pessoalmente. Mas não te preocupes, daqui para frente, serão dias bem melhores...”
Rita não dormiu mais desde a chegada repentina da amiga. A conversa que tiveram lhe tirou o chão, e caminhava mecanicamente. Com certeza, aquela madrugada quente jamais sairia de sua cabeça, não apenas pelas palavras de Lúcia, mas pela dor no coração que sentiu.
Abandono.
Traição.
Ainda tinha dificuldade em respirar, e achava que nem os óculos escuros escondiam seus olhos inchados.
Lúcia sempre soube muito bem dos segredos do quinteto, desde uma viagem que fizeram para Londres, muitos anos antes. Ao chegar em casa, Fonseca distraiu-se e deixou sob a pilha de roupas três fotos comprometedoras. Lúcia as achou e, assim como Rita naquela manhã, sentiu que a Terra se abria sob seus pés. Os cinco amigos apareciam agarrados a inglesas bêbadas, e não faziam a menor questão de esconder suas intenções. Viu seu marido beijando uma loira, enquanto Reis e Luis se agarravam a duas ruivas. Ferreira estava em outra foto, já de volta ao hotel, em que aparecia sem calças com sua britânica sem camisa no colo.
Naquela noite esperou Fonseca chegar do trabalho e jogou as fotos em seu rosto. Tiveram uma discussão séria da qual Fonseca saiu com a bochecha arranhada. Confessou tudo. Suas viagens com os amigos sempre acabavam com gajas nuas nos quartos de hotel. Nos quartos dos cinco. Desesperado com a descoberta da esposa, Fonseca pintou a ficha dos amigos e tentou se fazer de santo.
“Eu sou o que menos faço, meu bem, acabo sendo levado por eles, especialmente Luis e Ferreira. Eles são insaciáveis, só pensam nisso. São capazes de ir para China e não visitar a Muralha, só as chinesas.”
Fonseca, enfraquecido pela fúria de Lúcia, contou tudo. Cada viagem, cada mulher, cada comentário.
Lúcia foi embora de casa, e ficou 1 mês com a mãe. Estava perdida, confusa. Fonseca a procurava diariamente, jurando melhorar, buscar terapia, ir ao papa ou ao rabino. Chegou a dizer que se os representantes Dele não resolvessem, iria visitar o Próprio, pois se mataria sem ela.
“E tu voltastes, Lúcia? Tu? Tão dona de si, tão independente?” Rita não acreditava.
“Voltei. Não tenho mais 20 anos, Rita, e muito desta aparente auto estima é um pouco teatral... Conheci o safado do Fonseca aos 15 anos, queria acreditar que era possível. Achava que era... Mas as coisas nunca mais foram iguais...... Perdoar é uma coisa. Esquecer é outra.
Não sei se fiz nenhuma das duas. Voltei um pouco raivosa, disposta e me vingar diariamente dele. Rita, a vida que Fonseca me dá, eu não teria sem ele. Comecei a gastar mais que gastava antes. Ele não reclama, vejo a dor que sente a cada fatura do cartão de crédito, e me prometo ir além no mês seguinte.
Agora tu entendes por que não sinto culpa nos braços de outro homem? Não sinto, de maneira alguma. Sei que enquanto eu beijava Alexandre ele deveria estar na cama de alguma brasileira de 5a categoria. Isso se chegar à 5a categoria, pois aqueles gajos não têm mais cara de garotão. A moda, amiga, mudou. Meninotas não querem mais os velhos, mas os garotos sim, às mais maduras.
E contei-te, amiga, pois me sufoca ver-te perder tempo com o imbecil do Luis, enquanto tens a chance de conhecer alguém melhor.”
Rita havia chegado ao Leme, caminhando e escutando as palavras de Lúcia como se fossem um martelo em sua cabeça. Muita coisa, agora, fazia sentido.
“Como não percebi aquele telefonema estranho?”
“Aquela blusa azul! Como fui burra!”
“Luis ficou desesperado naquele restaurante na Madeira ao ver a tal morena de cabelos cacheados entrar! Ataque de asma? Rita, como fostes cega...”
Peças se encaixavam...
Sentou em um quiosque e pediu uma água de coco. Rita se lembraria, anos depois, daquele dia como o "dia das idéias turvas". Lembraria-se de um dia confuso e longo, como se estivesse anestesiada.
Voltou o longo percurso refazendo mentalmente os anos de convivência com Luis, e se chocava ao perceber que não o conhecia. Sentou-se ao lado de uma estátua, em Copacabana. Percebeu que era a estátua do famoso poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade.
Lembrou-se de Diego.
Lembrou-se de que estava a milhares de kilômetros de Luis e de sua realidade em Portugal.
Lembrou-se de que ainda tinha 5 dias no Rio.
Suspirou e buscou retomar a calma. Aproveitaria o resto de suas férias, e pensaria no que fazer ao final dela.
Tinha apenas uma certeza.
Olhou para o dedo, e viu que não havia tirado a aliança.Pediu licença ao poeta de bronze e caminhou até o mar.
Ali, com os pés molhados, tirou o anel e jogou-o longe.
“Iemanjá é a rainha dos mares, não é? Pois aqui vai, então, Iemanjá. Receba esta aliança como uma oferenda!”
Chegou ao hotel e encontrou Sónia lívida, com as faces coradas.
“Rita, o que houve? Estás com os olhos inchados!”
Sónia não se mostrou surpresa com as notícias do quinteto de portugueses, e ficou feliz ao saber que Rita não era mais cega.
“Vamos, agora se arrume. Lúcia nos encontrará lá, foi se arrumar na casa de Alexandre."
Às 20 horas Diego estava novamente no hall, ansioso em conversar com Rita. Deixara Alexandre e Lúcia na Barra e voltara para casa, preocupado com o mistério todo. Ao avista-la saindo do elevador, suspirou aliviado.
Ela se aproximou e lhe deu um beijo na face.
“Desculpe por hoje, Tive um dia perturbador.”
“Não se preocupe. Vai me contar o que houve?”
“Vou... Mas não hoje. Não hoje...”
“Tudo bem. Vamos então? Fred e Sónia já estão lá fora.”
“Vamos. Estou faminta!”
“Rita?”
“Sim?”
“Você está maravilhosa de vermelho.... maravilhosa...”
quinta feira, penúltimo capítulo.
8 comentários:
Tati,
Ficção ou não, conseguiste transmitir muito bem o que sente alguém que descobre que foi traida por alguém em que confia a 100%.
Espero que estas mulheres superem os seus traumas e que desistam desses maridos tão pouco cuidadosos.
Ainda bem que o coelhinho da Páscoa te devolveu!
Beijinhos
Esse coelhinho estava mesmo querendo aumentar a nossa ansiedade ;)
Adorei esse capítulo e estou torcendo pela Rita ( suspiros ).
Abraços,
Tati
Não tenho nada a ver com a morena madeirense de cabelos cacheados, ok? lollollol....Muito bom :)
mariíta, nada como a famosa estrada da vida, não? Com 21 anos eu jamais saberia descrever algo assim, mas a vida nos dá ferramentas...
Sofia, você percebeu como os comentários masculinos sumiram do contraponto? Homens não gostam de ver as mulheres virar a mesa.....
Rubina.... Não sei de nada, tenho que averiguar onde vc estava quando Rita e Luis foram visitar a Madeira.... hehehe, mas confesso, pensei em você nesta hora... rsrsrs
beijos a todas
Pronto, confesso que conheci um Luís uma vez. Mas não tenho nada a ver com isso!!! Risos, daqui a pouco começo a ser apedrejada e apelidada de infame...lol...
Muito bom! Não tenho nada contra mulheres que viram a mesa, desde que o saibam fazer com elegância. Mas creio que nada é justificativa para trair. Se ela/e descobre que o parceiro trai, basta sair da relação, não é verdade? Como vingança, acho ridículo.
Ferreira sem calças e com inglesa no colo? Ops, imagino... LOL!!!!
A Rita concorda plenamente com você, a Lúcia não.... A Lúcia tem um quê ridículo mesmo, mas a Rita tem charme, é uma mulher elegante. Por isso jogou a aliança no mar.... Pra ela, aquela oferenda a Iemanjá, e uma forte representação, necessária pra ela seguir adiante.....
Grande Beijo
A tragico-comédia... mas infelizmente muito actual hoje em dia!
Postar um comentário