sábado, dezembro 24, 2011

Para não falar de Natal...

Peço desculpas aos leitores que esperam um post natalino, com os costumeiros desejos, reflexões, etc., mas eu sou um pouco empapuçada desta temática que já permeia minha vida diária. Vou falar então, de outra coisa...

Acabei de acabar (perdoem-me, mais uma vez, agora pela expressão quase pleonástica) um livro que vinha me desafiando há algumas semanas: O Cemitério de Praga. Por que escrever sobre um livro, dentre tantos outros maravilhosos que passaram pela minha cabeceira em 2011? Talvez porque ele tenha me mostrado um sentimento antagônico que há tempos eu não vivia: amor-ódio, assim, juntos pelo hífen. Uma coisa só.

Já disse por aí antes que não estava apaixonada por ele. E não estava, mesmo. Foi árido, foi difícil e por vezes pensei em desistir dele. Mas algo me fazia seguir em frente, e ao fechar a última página, ssenti necessidade de registrar essa sensação, talvez para fechar em mim o famoso "gostei ou não gostei".

Seria loucura da minha parte dizer que o Umberto Eco fez um livro ruim. O livro é genial nos aspectos formais e da própria ideia do enredo. Fiquei impressionada com a erudição do autor, com a profundiade da pesquisa histórica e com a habilidade fora do normal de juntar as personagens verídicas em um texto ficcional. Gênio.
Amei a estrutura narrativa, o afastamento e criação de um narrador praticamente misturado ao autor e da personalidade típica na escrita dos outtros narradores. Preferi ler o Abade ao falsário, preferi o Abade ao narrador. De tirar o chapéu.

Fenomenal também é a capacidade de se criar um pensamento que naturalmente não seja o do autor. Eco é canônico ao se afastar tanto de seus protagonistas a ponto de mostrar seus pensamentos preconceituosos que hoje fariam dele um vilão. Quase um Dostoiévsky. Falar mal dos judeus e maçons da maneira como "Simonini" fala incomoda, remexe nossas enranhas e mostra que o livro não é para qyalquer um, mesmo. É necessário ter a consciência de que quem fala não é o autor. Ele apenas transforma em protagonista um típico antagonista.

E talvez justamente isso tenha sido meu terreno árido. Muita conspiração, muito ódio, muita preparação para o que Hitler fez no século XX.
Mas não vou falar do árido. Muita gente vai ler e formular sua própria relação com o livro. E essa é a magia do natal, oops, quer dizer, a magia da literatura, da Arte: a relação que criamos com o texto.
Esta foi a minha.

Inté!

3 comentários:

Anônimo disse...

Nao vejo a hora de começar! Depois te conto... MH

Anônimo disse...

Ai, agora vc me desafiou.. vou comprar..
Caia

Anônimo disse...

Lido! Em 3 dias. Considerando a presença de um bebe hiperativo, nada mal. Gostei muito, e vejo como você descreveu. Achei árido sim, mas me envolvi com a história. Nao amei como amei O Nome da Rosa, um dos melhores livros que já li na vida. Mas gostei muito, apesar do no no estômago com tudo que foi feito e criado...
Beijo e aproveita bem Orlando por mim, estou há anos com coceira pra voltar (mas sempre tem alguma outra viagem furando a fila, por isso nao me queixo!)
MH