terça-feira, abril 08, 2008

Barreira do Inferno Episódio 2

Episódio 1, aqui...

Sentada em sua mesa, Claudia não conseguia se concentrar nos papéis a sua frente. Ouvia seu colega do departamento criativo falr sobre seu final de semana mas não absorvia nada. Apenas sorria educadamente e balançava a cabeça.
-O que houve?, perguntou ele- você parece aérea...
-Eu? Não, estava com a cabeça longe.
-Esse seu namorado novo está te fazendo mal, saindo tanto à noite assim você vai acabar ficando doente, ou no mínimo sem emprego.
Cláudia sabia que por trás desse comentário havia uma ponta de ciúmes de Jonas. Ele havia se declarado a ela na festa de amigo secreto do final de ano, e desde então a lembrava de seus sentimentos. Era um rapaz bacana, de boa índole, e desde que conhecera Álvaro com sua noção de fidelidade um tanto retorcida, Cláudia se perguntava se não se sentiria mais segura com o colega de trabalho.
-Pelo menos confiaria mais nele- pensava.

Naquela manhã não foi diferente. Ao avistar o colega sentiu-se ainda mais estranha do que se sentira ao beijar a loira na noite anterior. Sabia que ele jamais pediria a ela nada parecido, e sentiu o estômago se revirar, misto de arrependimento e nojo.
Ainda assim, não sabia por que as cenas vividas não saíam de sua mente. Via a loira ao seu lado, e parece que ainda sentia seu toque macio. O rosto de Álvaro, e sua expressão de prazer também a perturbavam.

Às nova e meia seu celular tocou. Era Álvaro.
-Estranho, ele nunca está acordado a essa hora.
Ficou olhando o visor com sua foto enquanto ele esperava do outro lado da linha. Ainda com o estômago latejando, não atendeu. E assim passou o dia de trabalho, evitando a todo custo atender ao namorado.

Em casa, Álvaro não coneguia dormir. Estava em êxtase e queria agradecer a namorada com uma ligação romântica, um simples alô pela manhã, sua madrugada de sono... Já estivera antes com duas mulheres. Em Portugal, chegou a transar com três estudantes de artes cênicas ao mesmo tempo. Uma loucura dos tempos de faculdade, regada a álcool e uma dose de doce. Muito doce...
Desta vez tinha sido diferente, pois uma delas tinha uma parte de seu coração. Pequena, já que era mais fácil a ele comprometer o fígado que o coração, mas nutria algum sentimento por ela. Cláudia era uma menina linda e parecia inteligente, coisa a que Álvaro não estava acostumado.
Estranhou o fato de Cláudia não atendê-lo. Como o celular tocava, ele sabia que ela veria suas ligações, mas não retornou nenhuma.
-Será que ela ficou dormindo em casa, não agüentou a noitada? Pode ser, não vou me preocupar.

Ás três horas Álvaro saiu para a boate. Apesar de ser segunda feira, tinha reunião com um fornecedor e foi despreocupado, ainda embebido das sensações do menage.

Cláudia continuava preocupada com a possibilidade da loira reconhecer Álvaro, e tentar se aproveitar da situação. Conhecia a fama do namorado, mulherengo convicto, mas nunca se sabe até onde essas moças podem ir por dinheiro e holofotes. Na hora do almoço, ligou para Ana, sua amiga de infância, e pediu para se encontrarem.
Marcaram um happy hour, e às seis horas se encontraram em um bar à beira da praia.

-O que foi? Você parecia soturna ao telefone...
-Soturna? Que palavra é essa, de onde você tirou que eu estava soturna?
-Morreu alguém?
-Ai, Ana, que horror!!! Lógico que não, só queria te ver e conversar um pouco...
-Então desembucha, que tem coisa aí tem! manda...
Cláudia suspirou e contou tudo à amiga. Esperava dela uma palavra de horror, de desaprovação, e depois, quem sabe, de consolo. Surpreendeu-se com sua reação:
-Adooooro, menage!!! Menina, porque essa culpa toda?? Hoje é até moda, você devia ter mandado ELE embora, não ela... Que boba...
-Ana! Não é só isso, vai que ela reconhece ele, e
-E o quê? O quê, Clau? Chantageia? "Olha, moço se você não me der dinheiro eu vou pro jornal e falo pro mundo que, além de eu ser puta você é um garanhão que faz menage? Vou acabar com a minha reputação e te deixar bem na fita?" Ah, vai amiga, ele só ia se dar bem...
Ana era muito vivaz e acabou tranquilizando Cláudia, que riu de suas bobagens e até se esqueceu um pouco da noitada.

Álvaro chegou cedo à boate. Destrancou a porta de entrada e sem ver onde pisava, deixou uma marca de seu sapato em um envelope branco que havia sido deixado no chão. Olhando para uma rachadura no gesso da pista, não o notou.
Teve sua longa e cansativa reunião com o fornecedor de bebidas, que sempre tentava aplicar a famosa Lei de Gérson. Tonto com as negociações, voltou acabado para casa, e nesta noite, dormiu como há muito tempo não dormia. E mal sabia ele que não voltaria a dormir assim tão cedo...

E a bola volta ao Capitão-Mor... Vai que é sua....

9 comentários:

Cláudia disse...

ai minha nossa, e a nêga se chama Cláudia... serei obrigada a acompanhar.
beijo

Capitão-Mor disse...

Eu sabia que você não me iria desapontar. Gostei muito!
Está dado o mote para uma narrativa à la Bret Easton Ellis...

Maríita disse...

Em primeiro lugar, é bom tê-la de volta às lides narrativas, se bem que com o Romeu deva ser um pouco mais difícil.

Segundo, gostei imenso deste episódio. De facto, não acredito que muitas mulheres não ficassem pensando no ménage no dia seguinte.

Vou ficar à espera do próximo episódio.

Até para a semana!

Carla disse...

adorei esta continuação...o mistério adensa-se e fico à espera que o Capitão nos surpreenda
beijos aos dois

MH disse...

esses portugueses se metem em cada roubada... já estou adorando!! (de novo!)

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

minha nossa!! e o nego se chama alvaro,sou obrigada a fugirrrrrrr :-)))

beijo, Capitão

Gi disse...

um envelope, começou a actuar cedo a loura? não, não pode ser , temq ue haver mais qualquer coisa á mistua ou tudo seria demasiado óbvio :)

Um beijinho (não sabia que menage era assim tão usual , sou mesmo cota :) )

AnadoCastelo disse...

Nossa, que bela continuação. Amei. Vamos esperar pelos próximos episódios. Isto promete. A bola agora está do lado do capitão, que nos costuma sempre surpreender.
Bjs

osátiro disse...

Isso faz meças ao Ramalho Ortigão...e ao Eça de Queitoz.