sexta-feira, abril 27, 2007

Folga no dia do trabalho

Todos nós adoramos um feriado, ainda mais prolongado... Mas cada vez mais eu me entristeço em ver o quanto nós deixamos de trabalhar por conta dos tais feriados...
Excessivo...
Agora querem transformar a vinda do papa em feriado!...
E o tal dia do Frei Galvão?
Não podiam fazer como o Dia das Mães, ou dos Pais?
O terceiro domingo de maio, Dia de Frei Galvão! Pronto, resolvido!
Usem os domingos, meus nem tão caros parlamentares, usem os domingos...
Sei que vocês não querem, mas "Deixem o Povo trabalhar!"
Enfim, volto na quarta!
Beijos e
Inté!!
Para quem ficar em casa, deixo um video do Gato Fedorento que cai como uma luva neste Primeiro de Maio.

quinta-feira, abril 26, 2007

Pequena Utopia

Foto: Olhares.com

Minha profissão é daquelas bem mal reconhecidas no país... Gera até adesivos e camisetas irônicas, lembram do famoso:

"Não me seqüestre, sou professor."

Lembro que quando era comissária, as pessoas ficavam espantadas, surpresas e super interessadas no que eu fazia.

"Ah, que demais, sempre sonhei em ser aeromoça..."
"Pra onde você voa? Ah, deve ser muuuito bom, né?"
"Jura? Ah, você deve conhecer o mundo todo..."
"Comissária??? Ah, fala aí, você já teve caso com piloto??"

Geralmente o comentário começava com um sonoro "Ah!" de admiração. É algo que mexe com o imaginário de todos, viajar, ser livre, descobrir portos novos...

Então, quando fechei a mala, deixei de lado o coque e a meia calça, os "Ah" passaram a ser de desapontamento.

"Ah... Professora? Legal..."
"Nossa, mas paga bem? Você não ganhava mais como comissária?"

Claro que há quem admire e entenda o valor, mas o sentimento geral é de fracasso, como se eu tivesse estudado anos, como se eu fizesse Mestrado na área por pura falta de opção...

Ninguém imagina, que no meu último dia de aula do 3o colegial, eu prometi voltar...
"I´ll be back, baby!"
(na época um "Ich komme sofort, baby..." cabia melhor...)

E mais... Poucos daqueles que menosprezam o que faço, podem sequer imaginar a emoção que sinto em alguns momentos, na sala de aula...

Como hoje...

Ver alunos de 12 anos fazendo seminários sobre grandes autores de literatura...

Ouví-los falar sobre Dostoiévsky, Cervantes, Shakespeare...
Saber que leram um trechinho, que seja, de Flaubert, Neruda, Balzac, Goethe, Dante, Borges....
Ou ainda, que agora sabem que Angola tem grandes nomes, e que sua literatura teve forte influência brasileira...
Ver que conhecem poemas de Vinicius e Cecília Meireles...
E mais que tudo... Ver que alguns deles foram realmente tocados pela pesquisa...

"Pro, eu não entendi muito bem esse conto do Julio Cortázar, é meio maluco, né? Mas eu gostei, achei diferente..."
"Eu comecei a ler o Ernest, pro. (leia-se Ernest Hemingway) Já estou na parte em que eles precisam explodir a ponte!"
"Pro, você me empresta o Madame Bovary? Eu queria ler..."
"Que tal se a gente lesse na sétima série esse do Balzac?"
"O Camões é português? Eu já tinha ouvido falar dele..."

Arte funciona assim, semente por semente... Uma pulguinha atrás da orelha deles hoje, um trecho mais complexo amanhã, e já os visualizo sentados em grupos, embaixo das árvores da escola, discutindo se "Germinal" ainda fala à alma trabalhadora; se todos nós somos um pouco Julian Sorel ou se Brás Cubas realmente representa a consciência brasileira.
Quem sabe, um dia, meus meninos já barbados e minhas meninas já mulheres tenham discussões acaloradas sobre se Hermógenes era mesmo o diabo, ou se era, quem sabe, o próprio Diadorin...

Então, se me perguntam hoje, se dar aula paga bem, eu digo:

"Paga... Muito bem... Meu salário é 3 vezes menor, mas eu sou 3 vezes mais feliz..."

Inté!

quarta-feira, abril 25, 2007

Braço de Força.


Foto: Body In Force, Olhares.com

Homens são seres muito interessantes de se estudar. Nós mulheres também possuímos nossas idiossincrasias, claro, mas algumas pérolas masculinas não me deixam esquecer que realmente viemos dos macacos! Especialmente quando o assunto é provar a masculinidade!
Hoje, com o advento do Homem Culto, algumas provas da Era Vicking já estão ultrapassadas, mas por incrível que pareça, ainda são usadas por alguns elementos da espécie. Já observei que quanto menos informado é o tal Ser Hominídeo, mais ele se apropria das provas de força Uga Uga!!
O braço de força na mesa do bar, o grito de guerra no futebol e a coçada típica "downunder", são alguns exemplos característicos. No entanto, tenho observado uma que além de patética é perigosa: A Ultrapassagem na Estrada!

Desde que virei jeca pego mais estrada que qualquer outra via de condução. De vez em quando, me deparo com um filhote de Ogro ao volante.

Se você, leitora, mas tem que ser leitorA, por acaso, estiver na fila da esquerda, na subida, e encontrar à frente um daqueles carros que foram super potentes nos anos 90, fique atenta. Você se aproxima e dá sinal pedindo passagem, sem histerismo, apenas acende o pisca esquerdo. Ele lhe deixará passar, mas calma... Não acabou ainda...
Assim que ele retomar potência nos motores, certamente a alcançará, mas precisará a todo custo mostrar para você que VOCÊ não poderia tê-lo passado, e virá já há um kilômetro dando luz alta para que você, agora, deixe passar quem realmente é poderoso: ELE.
Não satisfeito, ele a olha com cara de mau e, ao se posicionar à sua frente, acende os dois piscas, sinal conhecido de "F..a-se"...

Macho, ele, muito macho...
Queria vê-lo numa mesa de depilação, ou arrancando sobrancelha...

Como a vingança é algo tipicamente feminino e, neste caso, não vem a cavalo, mas a 16 V, logo vocês chegam ao pedágio, e ele entra na fila para pagar. Às 16 hs, ficará ali, seguramente, uns 15 minutos...
Você, muito serenamente, entra na fila do Sem Parar, abre o vidro e acena, com um irônico sorriso nos lábios...
SO LONG, SUUUUCKEEEER!!!!!
Inté!!!

segunda-feira, abril 23, 2007

Herege!!!



Foto: Olhares.com

Se eu pedir a você que pense na vida típica do interior, sei de algumas coisas que naturalmente aparecerão em sua mente.
-Cavalo na rua
-Praça
-Coreto
-Mulheres debruçadas na janela
-Pessoas acenando na rua
e
-Igreja Matriz...

Nem vou me arriscar a escrever sobre religião, pois, ainda que não tenha uma, prezo as crenças dos meus queridos leitores.
Mas há muito tempo quero escrever sobre esse elemento tão característico de comunidades pequenas, que é a Missa....

Lembro que, quando era pequena, morava em um bairro pacato de Sampa. Ali no Brooklin, as ruas eram calmas e nós andávamos de bicicleta sem supervisão de ninguém. As saídas de bicicleta aos domingos à noite foram meu primeiro vôo, sentia-me livre e independente.
Mas aonde ir?
Íamos à missa.
Às missas.
Várias igrejas, sem nenhuma fidelidade, íamos aonde iam nossos amigos, íamos aonde era mais longe, ou às paróquias que doavam bíblias para as crianças. (eu nem as lia, mas amava ganhar livros, do que quer que fossem)
Lembro que o maior barato não era escutar sermão, mas reparar nas pessoas.

Já adolescente, vivi outra fase assim. Mais consciente, mais religiosa.
Era moda, na escola, participar de um encontro de jovens em um colégio vizinho. Passávamos o fim de semana ouvindo palestras, cantando músicas religiosas e trocando idéias. A missa final, no domingo, era muito emotiva, todos choravam, sentindo-se iluminados pela presença Dele.
E depois disso, a missa na capela daquela escola era programa obrigatório de domingo, mais para ver os amigos que para qualquer coisa.
Foi numa dessas missas que me decepcionei, que tive o click final que me afastou de vez da Igreja. Ali, aos 16 anos, levantei-me e fui embora, para nunca mais voltar. Mas até então, sentia-me parte daquela comunidade, algo assim, meio..... Interiorano...

E hoje percebo o quanto isso ainda é forte na roça.
(descurrrrrpe, Carolzinha, mas é roça mêmo!!!)

Todos sabem qual Igreja você freqüenta, e se não freqüenta, passa por algumas situações meio complexas.
Alguns alunos me perguntam se eu acredito em Deus, e para não cair numa discussão metafísica sobre Física Quântica e Energia Cósmica, contrariando as crenças que eles têm em casa, desvio do assunto.
Mas não escapo de ser ouvinte da conversa habitual de segunda de manhã:

"Eu não te vi na Nossa Senhora de Fátima!"
"Eu não fui lá ontem. Fui no Lavapés."

"Em que missa você foi?"
"Fui na missa das crianças, minha mãe me fez irrrr"

"E você, pro?"
"Eu? Eu? hã... Bem, eu... EU JÁ ABRI A APOSTILA, VAMOS TRABALHAR???"

Inté!!!

quinta-feira, abril 19, 2007

Papo de Elevador

Papo de elevador na roça não difere muito dos papos de elevador na civilização urbana. Fica também no calor, na chuva, nos problemas do síndico, no barulho da rua, etc.
Claro que de vez em quando um comentário sobre a Festa do Caqui ou o show do Toquinho na Praça da Bandeira adentram o assunto, mas é raro...

Hoje foi diferente.

A moça entra e vê que eu moro um andar abaixo dela.
-É você que mora embaixo de mim? Ah, eu queria há tempos te perrrrguntar se você ouve muito barulho!! Pode falarrr, pode falarrr! De verrrdade...

-Olha, (digo sorrindo) ouço sim. Eu até uso vocês como relógio pois vocês sempre vão deitar à meia noite, né?

-Ai, que verrrgonha, é que a gente é filho de italiano e fala alto. Ai, prometo que vou prestar atenção! E o sapato? Você escuta o tuc tuc tuc?

-Escuto, rsrsrs, mas não se preocupe, é natural. Prédio é assim mesmo. É engraçado, pois quando eu tenho insônia e escuto vocês entrando no quarto, já sei que é meia noite. É um tipo de aviso.

-Que mais você ouve? Ai, você me perrrrdoe, não vai mais acontecerrrr...

-A descarga. Meu marido ainda brinca "alguém fez xixi", pois a gente escuta a água descendo o cano...
A moça fica sem graça, pede mil perrrrdões e eu olho o mostrador dos andares.
Mais um e chego no meu.
Se passar mais um andar eu não vou segurar o que quero REALMENTE falar.

Cresci ouvindo minha mãe dizer que eu falo demais, que preciso contar até 10 antes de falar, e parece que a escuto neste momento...
1,2,3,4,5... Mas seria engraçado ver a cara dela...
6,7,8... Mas não é adequado, ela vai ficar muito sem graça...
9, 10

-Cheguei, chau, fica tranqüila, tá? Nós temos sono pesado...

-Chau, desculpe de novo...

Abro a porta, entro em casa e suspiro.
Minha mãe me ensinou a contar até 10 para não falar besteira, mas não me ensinou o que fazer com a verborragia que tenho. Olho para o espelho e me vejo. Vai ser ali mesmo, pra Jeca do espelho, do mundo paralelo.

-Ouço você e seu marido transando, não sempre, pois parece que a freqüência é pouca.. A cama bate na parede, e meu marido se diverte adivinhando quanto tempo vai durar. E vamos combinar, na semana passada deu uns 20 minutinhos, mas esse domingo.... Que aconteceu? Ele sofre de ejaculação precoce? Nem tínhamos esquentado as apostas e a cama parou de bater.... Pro chão vocês não foram, por que com o assoalho ouviríamos também.
Dois segundos depois de cuspir tudo isso no espelho, me senti aliviada...
Ufa... Sábia mãe, essa técnica de contar até 10 foi valiosa, sem ela poderia agora estar com um belo olho roxo......

Inté!!

quarta-feira, abril 18, 2007

Férias em Natal. Episódio Final. O Contraponto

Finalmente chegamos ao último episódio. Como ficou talvez longo demais, quero deixar no início meu agradecimento ao Capitão-Mor que me desafiou na escrita desta série. Escrevê-la foi delicioso, e mais delicioso foi ver o quanto as pessoas se envolveram com nossas personagens, tanto aqui quanto no espaço do Capitão. Espero que gostem.....







A volta a Portugal foi tortuosa. Rita chegou em casa e encontrou um Luís carinhoso e prestativo, com culpa estampada na testa. Ela estava disposta a se separar, contou a ele que sabia de suas infidelidades, e viu-o empalidecer. Luís ficou atônito. Sua primeira reação foi negar tudo, chamar Lúcia de mentirosa, atacar Fonseca. Vendo que a esposa não amolecia, resolveu tentar inverter a situação.
-Rio, hein? Encontrou por acaso Adriano? Eu sabia, sabia que na primeira oportunidade tu corrias ao Brasil a visitar aquele índio!
-Nem tente ir por aí, Luís. Nem tente. Já passei há tempos dos 15 anos, isso não funciona mais.
Discutiram dias, Luís enfim chorou, pediu perdão, prometeu fazer terapia, e usou seu último recurso: a chantagem.
-Não acredito que vais jogar uma relação tão longa pela janela. Pense, amor, em tudo que vivemos juntos, isso é apenas um momento ruim, tenho certeza que seremos melhores depois que superarmos. Por favor, eu simplesmente não vivo sem ti, nem saberia por onde recomeçar.

Rita se sentiu tocada pela história que tinham. Tinha sentimentos confusos, mas achava que devia pelo menos tentar, afinal, os anos que viveram haviam sido felizes, quem sabe ele realmente poderia mudar.

Assim foram reconstruindo aos poucos a relação, buscando curar a ferida enorme que Rita levava. Luís agia impecavelmente, não saía tanto com Ferreira, a acompanhava ao teatro, tentava ler os livros que ela lia. Ela, por sua vez, trabalhava para esquecer. Vivia na Universidade, se entregava às aulas e palestras. Sabia bem que perdoar não era o problema, mas esquecer, sim. Suas conversas com Luís sempre se mesclavam à desconfiança. Se ele saía com os amigos, ela ficava aflita, e sempre achava que ele mentia em alguma coisa.

Na Universidade, sentia-se livre, diferente. De sua sala, comunicava-se pela internet com Diego. No último dia de aula, próximo ao Natal, recebeu um e-mail dele dizendo que seu intercâmbio com a Universidade havia sido transferido para o outro ano letivo, pois o professor que iria ao Brasil falecera. Ele perguntava se podia telefonar, que queria escutar sua voz, mas Rita não respondia. Tinha medo de ouvi-lo, não era o momento para isso. Seu casamento ainda sangrava, e sabia que qualquer pancada acabaria com ele. Falar com Diego não seria uma pancada, seria um tiro...

Passou o Natal aliviada. Tinha achado bom Diego não vir mais, pelo menos por ora.
Com o passar do tempo, foi se reaproximando de Luís, e a rotina voltou ao normal. Ainda se perguntava se havia tomado a decisão certa, se não estaria agindo exatamente como Lúcia, mas logo afastava a hipótese. Eram diferentes, Lúcia aceitava Fonseca por conveniência, Rita ainda se apegava à possibilidade de amor.

Passaram-se meses, e aos poucos o episódio foi ficando para trás. Rita até aceitava melhor a presença do quarteto, e ficou feliz ao saber que Reis se casaria de novo. Afinal de contas, Sónia se mudara com os filhos para o Rio, onde morava com Fred. Rita sentiu pena de Reis, que adorava as crianças agora as veria apenas duas vezes por ano. Um casamento certamente o animaria, ainda mais com a tal deusa brasileira.

Rita ainda não a conhecia. Sempre que mencionava Reis, ela perguntava a Luis quando sairiam juntos, afinal, já sabia que seriam padrinhos de casamento do par. Luis ficava de marcar um jantar, mas nunca dava certo.

-Eles estão aninhados, Rita, não vêem a hora de casar, esquecem-se até dos amigos.

Lisboa, 15 de agosto.

Os casais de padrinhos estavam alinhados à porta da cerimônia, prontos para entrar. Rita estava lindíssima, com um vestido verde que mostrava seu colo, ornado com um lindo colar de strass. Prendera os cabelos no alto da cabeça, deixando apenas alguns cachos pendentes. Era uma cerimônia simples, mas por algum motivo, Rita queria se sentir especialmente bonita.
-Não gosto nada disso, Luís, é estranhíssimo ser madrinha de uma noiva que nem conheço. Não entendi por que até agora não nos vimos.
-É, mas não deve ser por nada, afinal, todas as festas de despedida dela foram feitas em Natal, pois a maioria das amigas não pôde vir. Tenho certeza de que logo estarão à vontade.

Rita e Luís ficaram de frente a Ferreira e Constança, que foram padrinhos de Patrícia, a brasileira misteriosa que de repente mudou a vida de Reis. Rita fitou Constança por uns instantes, pensando em tudo que sabia sobre o marido dela. Não eram muito amigas, mas sentiu-se triste por ela. Ficou imaginando se Constança sabia, como Lúcia, ou se preferia acreditar nas desculpas de Ferreira e seguir adiante. Ouviu, então, a música de entrada da noiva, suspirou e voltou de seus pensamentos.

Ao vê-la entrar, braços dados com o pai, Rita surpreendeu-se com a beleza da moça. Morena, contrastava com o tecido branco do vestido, e segurava um lindo buquê de rosas vermelhas. A brasileira olhou para Reis, fixou nele o olhar e seguiu confiante até o altar.
Ao chegar ali, deu as mãos ao noivo, e pôde então, contemplar quem estava em volta.
Rita pareceu, naquele instante, flutuar sobre seu próprio corpo. Em uma fração de segundo, sentiu que Luís suava mais do que de costume. A mão que segurava a sua pareceu, de repente, gelada e molhada. Olhando a noiva, percebeu algo que só as mulheres parecem conseguir perceber. O olhar de Patrícia se deteve rapidamente em Luís, de maneira nervosa. O sorriso deixou por um segundo de ser espontâneo, e a noiva logo o transferiu para Rita. Nela, se demorou um segundo a mais. Voltou a sorrir um sorriso estranho. Patrícia então respirou fundo e voltou-se para o noivo, novamente feliz, sorrindo com o olhar.
Rita virou-se para o marido, e ele a olhava com um rápido movimento dos olhos, como se quisesse fugir dos olhos da esposa. Também respirou fundo e fez, com a cabeça, um movimento para Rita prestar atenção na cerimônia, que já começava.
Não conseguia mais. Não escutava as palavras, a música, ninguém. Pensou em Constança. Não estava triste pela companheira de altar, mas por si mesma. Era ela quem queria acreditar no marido.

Em meio a essa tormenta de pensamentos, viu-se caminhando para o pequeno salão onde serviriam um almoço combinando cardápios portugueses e brasileiros. Luís não se afastava, e percebia que algo em Rita estava diferente.
-Vou ao banheiro, já volto, disse ela, querendo sair de perto dele para poder respirar melhor.
Lavou o rosto, apoiou-se na pia e uma convidada brasileira perguntou a ela se passava bem.
-Sim, sim, obrigada. Só estou um pouco tonta, mas não é nada.
Em seguida, outra amiga da noiva entrou e as duas começaram a conversar.
-Lindo né? Nossa, a Pati está maravilhosa!
-Ai, eu chorei quando a vi de noiva! Eles estão tão apaixonados, né?
-Pois é, menina, e foi tudo tão rápido!
-E pensar que ela veio atrás daquele outro lá, o casado...
-Nem fale, Lucas, né?
-Não, Luís. Lembra, ela falou pra gente quando saiu com ele no Brasil.
-Ah, é, verdade. Imagina, ela é louca, pegar um avião e vir até aqui atrás de um cara. E ainda por cima chegar e descobrir que o safado é casado.....
-Bom, pelo menos deu tudo certo... Ela e o Reis fazem um casal lindo...

Rita ficou com medo de vomitar. Sentiu o coração pular no peito, como se fosse cair fora dele. Mal conseguia respirar e não tinha mais lágrimas...
Ficou ainda um tempo apoiada na pia, olhando-se no espelho, raivosa e triste consigo mesma.
Ao sair do banheiro viu Luís a esperando na porta.
-O que houve? Fiquei preocupado.
-Quando ias me contar que ela era um caso seu?
-Caso meu? Quem?
-Chega... Chega, Luís. Quero ir embora. Vamos, diga a Reis que estou tonta, não sei, diga qualquer coisa, estarei no carro.
-Não, não podemos sair assim, somos padrinhos dele!
Rita se aproximou e disse baixo, olhando fixamente para o marido.
-Diga que tua mulher descobriu que a mulher dele veio a Portugal atrás de ti.
Luís ficou calado.
-Estarei no carro.

Lisboa, Outubro

O outono chegou em Lisboa, e Rita se arrumava no apartamento novo. Mudara-se para um prédio mais perto da Universidade, pois Luís se recusava a sair de casa. Rita saiu sem brigas. Deixou-o falar sozinho, dias a fio, até que tivesse tudo pronto para ir.
-Não quero mais discutir, Luís. Não consigo mais confiar em ti, sem confiança não temos relação... Se tu não sais saio eu, acho que um dia poderemos até ser amigos, mas agora, eu só quero ficar sozinha.

Durante os meses que se seguiram, Rita organizou sua vida. Continuou focada no trabalho, viu as amigas e ficou mais tempo com sua mãe. No final dos dias, voltava para casa, e se dedicava a organizar sua biblioteca.
Antes que percebesse, era Natal. Passou-o em Paris com duas amigas, e lá ficaram até o Ano Novo.

De volta das férias, recebeu um e-mail de Diego. De repente tudo voltou a sua mente. Um ano! Havia se passado um ano, e agora Diego viria a Lisboa para seus três anos de intercâmbio. Nesse período tinham trocado mensagens, e conversaram por telefone algumas vezes. Mas sentia-se segura, por estarem tão longe. Em uma semana isso acabaria. Ele estaria ali, no mesmo prédio da universidade que ela, dando aulas nos mesmos corredores. Uma semana... Sabia que passaria muito mais devagar que o ano todo.

15 de janeiro, Saguão do Aeroporto da Portela

Rita estava nervosa, em frente à porta do desembarque. O vôo vindo do Rio já estava em solo, e cada vez que a porta se abria, seu coração batia forte.
Ficou ali por 20 minutos, quando de repente avistou Diego empurrando o carrinho cheio de malas. Ele parou, atrapalhando quem vinha atrás. Rita mal sentia as pernas, e sentiu-se ruborizar ao ver que ele parara para a admirar, como se buscasse a certeza de que a via, depois de tanto tempo. Aquele sorriso, aquele olhar maroto que a deixara com um beijo no Galeão, mais de um ano antes.

Finalmente ele se aproximou, e antes de abraçá-la, ainda a fitou por alguns minutos, calado.
Rita já ficava sem graça, quando ele disse:
-Linda... Mais linda do que na minha lembrança...
Abraçaram-se e Rita começou a ajudá-lo com o carrinho.
Diego a puxou contra si e ela sentiu que sua respiração acelerava. Lembrava-se bem daquela noite no píer do restaurante, e voltou a corar.
-E agora? Perguntou ele
-Agora quê? Agora levo-te a teu prédio, depois podemos almoçar.
-Não, agora que estou aqui. Agora que vim pra ficar. Quero saber se você vai estar muito ocupada nos próximos três anos.
Rita alisou os cabelos de Diego, desceu os dedos por sua face, e muito serenamente respondeu:
-Posso te garantir que hoje minha agenda é toda sua. E amanhã talvez. Depois de tudo, só o que posso prometer é um dia depois do outro, que tal?
-Um dia depois do outro? Está bem. Um dia depois do outro é bom.

E caminharam abraçados, empurrando juntos a bagagem para a porta da saída.

FIM!

terça-feira, abril 17, 2007

Jeca de Moraes

Eu sempre discordei da célebre frase do Vinícius de Moraes "as feias que me desculpem, mas beleza é fundamental."

Sempre a achei vazia e típica de um boêmio mulherengo, nada inspiradora...

Talvez por que, como mulher, o inverso não seja válido. Para nós, em grande maioria, a beleza masculina NÃO é fundamental. Mulher gosta mesmo é de homem charmoso, envolvente e pelas estatísticas das minhas amigas, homem com cara de homem!

Minha irmã bióloga pode até ajudar nesta tese, mas entendo que gostemos dos traços mais rústicos e brutos por nos remeterem às nossas "primavós" das cavernas, que precisavam de um macho alfa que cuidasse delas e da prole.
Cara de macho alfa é cara de macho alfa, ou seja, cara de testosterona. Acredito que os modelinhos da Hugo Boss de hoje em dia seriam ridicularizados e deixados de lado pelas nossas ancestrais Uga Uga.

A questão de hoje, no entanto não é beleza, pois isso não se discute.
Mas é algo fortemente relacionado à mesma testosterona que deixa nossos pares com barba, pescoço grosso, nariz grande e mãos poderosas.....

VOZ!!!!!

Se não precisamos mais tanto daquele macho alfa cuidando da porta da caverna, ainda precisamos SIM ouvir a voz grossa do outro lado da linha, ou na base da orelha...

Fiquei pensando nisso outro dia, ao entrar em um consultório médico.

Fui ao otorrino da roça, para investigar minhas gastas cordas vocais. Sabia que ele iria fazer um nada lisongeiro exame, que consiste em enfiar pelas minhas narinas um cano com um video na ponta. A imagem não é nada agradável.

Já fui nervosa, sabendo da situação constrangedora e possivelmente dolorida. Ele abre a porta e em uma fração de segundo desisti do exame. Cara de macho alfa. Médico gato com nome de ex namorado, não ia permitir que fizesse o exame, estava quase dando meia volta quando ele me diz:

"Bom dia, Tatiana."

Opá... peraí, não vi a enfermeira ao lado dele.

Enfermeira? Não tem enfermeira nenhuma. Aquela voz doce, delicada, meio mineira de ser era dele mesmo. Cara de macho alfa com voz de fêmea beta.... Mais suave que a minha....
Ah, agora sim, pode mandar ver no caninho com a câmera, com essa voz de vendedora de pão de queijo não fico mais sem graça.

Imagino meus leitores homens nesse instante falando "alô" para o computador para se auto testar....

E se algum perceber que está um tom abaixo (ou melhor, vários tons abaixo) do grave aceitável, minha dica é "FINJA". Engrosse um pouco a voz, aos poucos você até se acostuma e incorpora...

Por que como diria Jeca de Moraes, "os finos que me desculpem, mas voz de macho é fundamental...."

sábado, abril 14, 2007

Férias em Natal. Episódio 6. O Contraponto





Rita não conseguia encontrar os amigos com aquela luz piscante da pista. Ficou parada com dois copos de caipirinha na mão tentando visualizar algum rosto conhecido. Ouviu alguns comentários típicos de boates, ao pé do ouvido, precedidos por um aperto no braço, mas deu pouca importância e seguiu sua busca.
Finalmente achou Fred, que se destacava em meio à massa.

-Nossa, achei que tinha fugido de novo. Disse sorrindo Diego, agradecendo o copo.
-Me perdi, acho que não sei mais me portar nesses lugares.
-Você está bem?
-Sim, acho que sim. Só um pouco sufocada....
-Se quiser podemos ir embora, o Alê se encarrega de levar as meninas de volta.
-Mesmo?
-Mesmo! Pra ser sincero eu também me sinto meio peixe fora d´água aqui. Acabei de encontrar alguns alunos, e essa música me dá dor de cabeça...

Pouco depois estavam sentados em um bar com visão paisagística da Lagoa Rodrigo de Freitas.

-Esta cidade não pára de me surpreender... Como pode ser tão linda?
-Pois é, eu que nasci aqui também não paro de me maravilhar. Vem cá, quero te mostrar a vista do deck.

Rita sentiu o coração acelerar. Que é isso, pensou, não tinha mais idade pra ficar nervosa. Lembrou-se dos bailes da escola, quando esperava a frase “Vamos lá fora?” ou “Estás com frio?” do menino de quem gostava. Sentiu-se colegial, respirou fundo e seguiu Diego.
A vista era mesmo linda. Já era tarde, e sendo dia de semana, o bar estava vazio. Encostou-se no gradil e sentiu o braço de Diego junto ao seu.
-Eu já disse que você está linda de vermelho, né?
-Disse? Não lembro, acho que não, disse sentindo suas bochechas quentes.

Diego a puxou contra si seus rostos se aproximaram. Rita não sabia de quem era o coração que batia a mil. Ele a olhou demoradamente, alisou seus cabelos e pousou a mão em sua nuca. Rita sentiu-se tremendo. Viu então que o olhar dele baixou dos olhos para seus lábios, sinal último do que viria a seguir. Aquele instante pareceu uma eternidade, momento mágico que há anos não sentia: os segundos anteriores ao primeiro beijo. Quando seus lábios se tocaram, Rita fechou os olhos e se entregou. Esqueceu-se de quem era e de onde estava, assim mesmo como se deve sentir. Não soube dizer, depois, quanto durou aquele beijo. Parecia eterno.
Separaram-se sorrindo. Diego movia os dedos em sua face e Rita sentiu a respiração voltar ao normal, pouco a pouco.
Também pouco a pouco, voltou à realidade. Lembrou-se que tinha algo a contar para Diego. Precisava contar, só não sabia como.

Na volta ao hotel, pararam para uma água de coco na orla de Ipanema. Rita fitou-o com seriedade.
-Acho que preciso te contar o que aconteceu ontem.
-Acha? Ou precisa?
-Diego, eu sou casada.

Diego não disse nada. Franziu a testa e deu um passo para trás. Olhou o mar, respirou fundo e perguntou:

-E você deixou chegar até aqui pra me contar? Por que não me contou no primeiro dia?
-Não sei, desde que pisei no Rio até aquela noite no samba, quando vi Lúcia beijando Alexandre eu não pensei nele. Esqueci-me. Naquele instante, ele voltou-me à lembrança. Por isso quis voltar, e por isso pareci tão confusa.
-É, não posso dizer que não desconfiei...
-Tinha decidido não te ver mais, até que Lúcia me contou algumas coisas sobre ele.
-Que coisas?
-Longa história... Para resumir, ele parece ser um mulherengo crônico. Ontem passei o dia remoendo isso, pensando no meu casamento e em todos os momentos que pude ver e não vi.
-Então, você decidiu se vingar e ficar comigo.
-Não!!! De maneira alguma!! Se fosse apenas isso, Diego, eu jamais teria te contado. Se fosse vingança, eu estaria a esta altura na sua cama, não aqui.
Caminharam em silêncio. Rita buscou a mão de Diego, que se afastou delicadamente.
-Rita, acho melhor você voltar para o hotel, já está tarde e é perigoso andar a essa hora.
Na porta do Plaza, Rita o segurou pelo braço.
-Olhe minha mão. Não tenho aliança.
-Você já não tinha.
-Sim, mas até ontem estava confiscada por Lúcia. Outra longa história. Hoje não a tenho por opção minha. Joguei-a ao mar.
Ele a fitou por algum tempo.
-Eu saí de Lisboa casada, mas não voltarei assim. Em dois meses tu chegarás a Portugal, e talvez eu possa retribuir o favor e te mostrar a cidade.
-Talvez?
-Sim, talvez. Se tu quiseres...

Diego nada disse, e se dirigiu ao carro.

Nos três dias seguintes, Diego não apareceu. Alexandre e Fred levaram-nas aos pontos mais belos da cidade, e a cada manhã, Rita esperava vê-lo no hall.
Conheceram o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, a Urca. Passearam pelo Flamengo e pelo Botafogo.
No centro histórico da cidade, Rita sentiu muita falta de Diego, sabia que ele, mais que Alexandre e Fred, saberia como guiá-las ali. Sentados na antiga Confeitaria Colombo, Rita desanimou, sentiu que não voltaria a vê-lo. Tinha apenas mais um dia, antes da partida.

A última manhã carioca das visitantes portuguesas começou nostálgica.
-Fred disse que quer me ver em Lisboa, disse Sónia, enquanto vestiam os biquínis comprados nas lojas do Leblon.
-E eu prometi a Alexandre que volto ainda este ano. Mesmo sem ele, essa cidade é mágica!
Sentiam muito ter que ir embora. Ainda mais, sabendo o que lhes esperava em casa.
Sónia voltaria a lutar para sustentar seus filhos, mas sabia que seria diferente. A viagem a fortalecera como mulher, e não tinha mais medo da vida de divorciada. Estava, na verdade, ansiosa.
Lúcia chegaria em casa para a hipocrisia de seu casamento, e já não tinha mais ânimo para os jogos de vingança e falsidade. Não queria pensar em Fonseca, queria curtir seu último dia de Brasil.
E Rita antecipava a batalha que teria que enfrentar ao voltar.

Suspiraram, lindas em seus trajes brasileiros, e foram à praia. Almoçaram em um restaurante no Leblon e no fim da tarde, Alexandre e Fred a buscaram para seu último passeio.
-Deixamos o melhor para o final. Vocês vão ter a vista mais linda da cidade. Vamos à Vista Chinesa.

Só o caminho até o lugar valia o passeio. Ao descer do carro, ficaram sem ar, tamanha a beleza que tinham à frente.

Rita se afastou um pouco e sentou-se para apreciar o Rio de Janeiro. Pensou em cada dia da viagem, em cada palavra que trocou com Diego. Suspirou, feliz pela semana, mas triste pelo final que tiveram.
De repente, sentiu alguém sentando-se ao seu lado. Não quis olhar, temerosa da decepção. Sentiu um perfume conhecido e ouviu a voz que tanto queria ouvir:

-Esse é meu lugar favorito do Rio. Quando eu era criança vinha sempre com meu pai.

Ela não disse nada, ficou apenas olhando para ele, sorrindo. Viu aquela mão, que tanto desejou segurar, apertar seus dedos miúdos. Ele a olhou e sorriu.

-É lindo, mesmo. Acho que se tornou também o meu favorito...

-Lisboa tem lugares assim?
-Assim? Assim, não, mas tem lugares únicos, que tenho certeza que vais amar....
-Você me leva?
-Talvez?
-Não, não talvez. Não gosto dessa palavra.


último episódio, semana que vem...

quinta-feira, abril 12, 2007

Malandragem...

Malandro, é o cavalo marinho que se finge de peixe pra não puxar a carroça...

Diálogos

Hoje, 5 série, em um jeca horário, em um jeca local...

-Bom, seguindo nosso estudo sobre as personagens na narrativa, hoje todos vão criar super heróis. Mas não qualquer super herói, um super herói tipicamente brasileiro. Depois, escreveremos narrartivas usando-os como protagonistas.

-Pro, como tipicamente brasileiro?

-Quando pensamos em Brasil, pensamos em que?

-Ah, em praia, caRRRnaval, feijoada...
-Pro, chimarrão também, né? Tapioca, forró, música de raíz... (essa é boa, hein? bom eufemismo pro velho e talvez não tão bom sertanejo...)
-PRO!!!!!! Mazzaropi!!!! Ah, eu já sei, o MEU supeRRR herói vai seRRR o SupeRRR Caipira!

Minutos depois.....

-Olha, pro, ficou muito legal! Vou leRRR, tá?

-Tá...

-Nome = SupeRRR Caipira.
Poderes = Seu falaRRR enrolado enrola todo mundo.
Ajudante = SupeRRR Caipirinha
Ponto Fraco = Pão de queijo
MaioRRR inimigo = O PoulidoRRR dos Rios

Pausa....

-Mas pro, eu tenho uma dúvida... Aqui na ficha de peRRRsonagens pede a cidade onde mora o herói...

-Sim, e qual a sua dúvida?

- Eu não sei em que cidades do Brasil tem muito caipira....... Voce sabe, pro?????

Não.... Não sei, não faço neeeem idéia.....

Inté!!!

tentarei postar o Contraponto amanhã, mas Jeca passará por uma endoscopia de manhã, se ficar sóbria rápido volto pra tela.....

terça-feira, abril 10, 2007

Só na Roça, mesmo...

Diálogos assim são exclusividade nossa...

-Oi, amor, como foi seu dia?

-Foi tudo bem. Na volta do trabalho atropelei uma capivara!

-Uma capivara???

-Putz, o carro deu um pulo, mas a estrada estava cheia e não parei.

Dia seguinte, à mesma hora...

-Oi, amor, como foi seu dia?

-Foi tudo bem. Cheguei hoje na fábrica e um funcionário veio me dizer que ontem, na volta de casa, fez o freezer do mês.

-Como assim?

-Voltando do trabalho, ele encontrou uma capivara morta na estrada, ainda quente...

Aê rapái, motoquêro ocêis péga, mas capivara????? Duvido!!!

Inté!!

domingo, abril 08, 2007

Férias em Natal. Episódio 5. O Contraponto

Foto, aqui


Desculpem o atraso, mas o coelhino da páscoa me seqüestrou na quinta e só me devolveu agora...



Às 10 em ponto Diego e Alexandre estavam no hall do hotel. Lúcia desceu sozinha, e viu a expressão de decepção do carioca.
“Ela não passa bem, Diego. Prometeu unir-se a nós à noite, mas quer passar o dia sozinha.”
“O que houve? Posso subir e falar com ela!”
“Ela saiu cedo, não está. Estou certa de que ela prefere contar-te pessoalmente. Mas não te preocupes, daqui para frente, serão dias bem melhores...”

Rita não dormiu mais desde a chegada repentina da amiga. A conversa que tiveram lhe tirou o chão, e caminhava mecanicamente. Com certeza, aquela madrugada quente jamais sairia de sua cabeça, não apenas pelas palavras de Lúcia, mas pela dor no coração que sentiu.
Abandono.
Traição.
Ainda tinha dificuldade em respirar, e achava que nem os óculos escuros escondiam seus olhos inchados.

Lúcia sempre soube muito bem dos segredos do quinteto, desde uma viagem que fizeram para Londres, muitos anos antes. Ao chegar em casa, Fonseca distraiu-se e deixou sob a pilha de roupas três fotos comprometedoras. Lúcia as achou e, assim como Rita naquela manhã, sentiu que a Terra se abria sob seus pés. Os cinco amigos apareciam agarrados a inglesas bêbadas, e não faziam a menor questão de esconder suas intenções. Viu seu marido beijando uma loira, enquanto Reis e Luis se agarravam a duas ruivas. Ferreira estava em outra foto, já de volta ao hotel, em que aparecia sem calças com sua britânica sem camisa no colo.
Naquela noite esperou Fonseca chegar do trabalho e jogou as fotos em seu rosto. Tiveram uma discussão séria da qual Fonseca saiu com a bochecha arranhada. Confessou tudo. Suas viagens com os amigos sempre acabavam com gajas nuas nos quartos de hotel. Nos quartos dos cinco. Desesperado com a descoberta da esposa, Fonseca pintou a ficha dos amigos e tentou se fazer de santo.
“Eu sou o que menos faço, meu bem, acabo sendo levado por eles, especialmente Luis e Ferreira. Eles são insaciáveis, só pensam nisso. São capazes de ir para China e não visitar a Muralha, só as chinesas.”
Fonseca, enfraquecido pela fúria de Lúcia, contou tudo. Cada viagem, cada mulher, cada comentário.
Lúcia foi embora de casa, e ficou 1 mês com a mãe. Estava perdida, confusa. Fonseca a procurava diariamente, jurando melhorar, buscar terapia, ir ao papa ou ao rabino. Chegou a dizer que se os representantes Dele não resolvessem, iria visitar o Próprio, pois se mataria sem ela.

“E tu voltastes, Lúcia? Tu? Tão dona de si, tão independente?” Rita não acreditava.

“Voltei. Não tenho mais 20 anos, Rita, e muito desta aparente auto estima é um pouco teatral... Conheci o safado do Fonseca aos 15 anos, queria acreditar que era possível. Achava que era... Mas as coisas nunca mais foram iguais...... Perdoar é uma coisa. Esquecer é outra.
Não sei se fiz nenhuma das duas. Voltei um pouco raivosa, disposta e me vingar diariamente dele. Rita, a vida que Fonseca me dá, eu não teria sem ele. Comecei a gastar mais que gastava antes. Ele não reclama, vejo a dor que sente a cada fatura do cartão de crédito, e me prometo ir além no mês seguinte.
Agora tu entendes por que não sinto culpa nos braços de outro homem? Não sinto, de maneira alguma. Sei que enquanto eu beijava Alexandre ele deveria estar na cama de alguma brasileira de 5a categoria. Isso se chegar à 5a categoria, pois aqueles gajos não têm mais cara de garotão. A moda, amiga, mudou. Meninotas não querem mais os velhos, mas os garotos sim, às mais maduras.
E contei-te, amiga, pois me sufoca ver-te perder tempo com o imbecil do Luis, enquanto tens a chance de conhecer alguém melhor.”

Rita havia chegado ao Leme, caminhando e escutando as palavras de Lúcia como se fossem um martelo em sua cabeça. Muita coisa, agora, fazia sentido.

“Como não percebi aquele telefonema estranho?”
“Aquela blusa azul! Como fui burra!”
“Luis ficou desesperado naquele restaurante na Madeira ao ver a tal morena de cabelos cacheados entrar! Ataque de asma? Rita, como fostes cega...”

Peças se encaixavam...

Sentou em um quiosque e pediu uma água de coco. Rita se lembraria, anos depois, daquele dia como o "dia das idéias turvas". Lembraria-se de um dia confuso e longo, como se estivesse anestesiada.
Voltou o longo percurso refazendo mentalmente os anos de convivência com Luis, e se chocava ao perceber que não o conhecia. Sentou-se ao lado de uma estátua, em Copacabana. Percebeu que era a estátua do famoso poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade.
Lembrou-se de Diego.
Lembrou-se de que estava a milhares de kilômetros de Luis e de sua realidade em Portugal.
Lembrou-se de que ainda tinha 5 dias no Rio.

Suspirou e buscou retomar a calma. Aproveitaria o resto de suas férias, e pensaria no que fazer ao final dela.
Tinha apenas uma certeza.
Olhou para o dedo, e viu que não havia tirado a aliança.Pediu licença ao poeta de bronze e caminhou até o mar.
Ali, com os pés molhados, tirou o anel e jogou-o longe.
“Iemanjá é a rainha dos mares, não é? Pois aqui vai, então, Iemanjá. Receba esta aliança como uma oferenda!”

Chegou ao hotel e encontrou Sónia lívida, com as faces coradas.
“Rita, o que houve? Estás com os olhos inchados!”
Sónia não se mostrou surpresa com as notícias do quinteto de portugueses, e ficou feliz ao saber que Rita não era mais cega.
“Vamos, agora se arrume. Lúcia nos encontrará lá, foi se arrumar na casa de Alexandre."

Às 20 horas Diego estava novamente no hall, ansioso em conversar com Rita. Deixara Alexandre e Lúcia na Barra e voltara para casa, preocupado com o mistério todo. Ao avista-la saindo do elevador, suspirou aliviado.
Ela se aproximou e lhe deu um beijo na face.

“Desculpe por hoje, Tive um dia perturbador.”
“Não se preocupe. Vai me contar o que houve?”
“Vou... Mas não hoje. Não hoje...”
“Tudo bem. Vamos então? Fred e Sónia já estão lá fora.”
“Vamos. Estou faminta!”
“Rita?”
“Sim?”
“Você está maravilhosa de vermelho.... maravilhosa...”

quinta feira, penúltimo capítulo.

terça-feira, abril 03, 2007

O Jogo

Este é um jogo que vem sendo matéria de desafio entre blogueiros, e ainda que eu não tenha sido diretamente desafiada, adorei a idéia, que me lembrou os cadernos de perguntas que fazíamos na escola... Adicionei alguns ítens, como os que usava nos tais cadernos...
Desafio feito pela Rubina!

Sete coisas que faço bem

Escrever
Aprender Línguas
Dar aula
Escutar
Aconselhar
Brownies
Perdoar

Coisas que não faço e/ou não sei fazer

Andar de biciclteta
Trocar pneu
Contas
Cantar
Social!

Coisas que me atraem no sexo oposto

Mãos
Olhar
Timidez
Perfume
Barba por fazer
Tatuagem
"Pegada"...

Coisas que não suporto no sexo oposto

Burrice
Aperto de mão mole
Falta de estilo
Linguagem de adolescente
Metrossexualismo
Bigode

Coisas que digo frequentemente

"Pessoal! Postura de sala de aula!"
"Eu te amo"
"Acabou o chocolate?"
"Vamos fazer pipoca?"
"Tô com uma saudades da minha irmã..."
"Preciso sentar e escrever a dissertação"
"Ainda vou morar no Rio!"

Actores/Actrizes que admiro
Edward Norton
Anthony Hopkings
Matheus Nachetrgale
Graziela Moretto
Susan Sarandon

Filmes favoritos
Sociedade dos Poetas Mortos
Amadeus
Diários de Motocicleta
Crianças Invisíveis
De Volta para o Futuro 2
A Chave de Casa
O Nome da Rosa

Livros Favoritos

Grande Sertão Veredas (Guimarães Rosa)
Cem anos de solidão (Gabriel García Marques)
Ensaio sobre a lucidez (Saramago)
Crime e Castigo (Dostoiévsky)
Os Demônios (Dostoiévsky)
A Insustentável leveza do ser (Milan Kundera)
Geração da utopia (Pepetela)
Kadish (Imre Kértez)
É isto um homem (Primo Levi)
Meu Michel (Amos Oz)
As Brumas de Avalon (Marion Zimmer Bradley)
Harry Potter

Lugares favoritos

Varanda da minha futura casa
Casa do Tio Sadi





Ipanema
Prédio da Letras, USP
Plaza Mayor em Madrid

Times Square
Third Street, Promenade, LA
Museo del Prado


Padaria que vende bolo de marzipã em Toledo


Salão de cavalos do castelo de Praga
Calle de Judería, em Sevilla


(alguns lugares que me enchem o coração ao lembrar.... Muitos deles são da Era pré foto digital, então não deixo aqui o registro....)

Como o tal desafio deve ser lançado a outro blogueiros, aqui vão os meus:
Gastón
Cláudia
Garota do Zippo
Mônica Montone
Vicky
MC
MH

Inté!!!

segunda-feira, abril 02, 2007

Um dia bom... Muito bom...

Jeca achou um bom mercado na roça.
Ufa...
Só essa notícia já me garantiria um dia feliz...
Mas qual não foi a minha surpresa ao achar uma prateleira de importados, com algo que faz falta há anos na minha despensa....
PEANUT BUTTER!!!!!!!!!
e MARSHMALLOW!!!!!!!!!!!!
Que dia bom......
Ai, ai......
Inté!

Orkut vivo

Viva o anonimato! Esta é a frase que melhor define minha saudades da capitarrrrr.
Anonimato!
Poder viver sua vida sem que milhares de habitantes saibam cada passo seu, se você é filha de fulano, se você namorou e levou um fora de cicrano ou ainda se você engravidou solteira do beltrano.
Aqui tudo se sabe.

Até pouco tempo atrás eu ficava bem de fora desta rede de conhecimentos, mas aos poucos fico sabendo de fofocas fortes de pessoas que nem sei se são loiras, morenas ou carecas.
Sei que um conhecido era considerado o nerd da cidade.... Já me deixaram a par das roupas que o coitado usava nos bailes da escola, dos penteados Porky´s dele e até da sua falta crônica de namoradas.

Já me alertaram que outro é o maior picareta e "rolero" da vila.

"Não venda nem uma porca véia pra ele, ele te paga com a mãe, com o pai e ainda te passa escritura falsa!"

Filho do Fulano é gay.
Pai da Cicrana é putanheiro.
Cicrano é falido.
Marido da Beltrana é impotente.
Esposa do Beltrano é amante da irmã do Fulano... oops.....

E por aí vai.

E o mais engraçado é ouvir como as pessoas se expressam para fazerem as outras se lembrarem do assunto da fofoca.

"Sabe o João, filho do Seu Eduardo?"
"Sei, o João que casou com a Joana?"
"Isso. A Joana que é filha do dono da sorveteria."
"Sei!!!! O pai dela foi patrão do meu pai!"
"Ah, é? O pai dela namorou minha tia!"
"Qual tia?"
"A tia Rita, mulher do tio José!"
"A mãe da Flavinha?"
"É!!!"
"Ai, que legal!! A Flavinha tá namorando o Rui, sabia???!"
"Que Rui? O neto do Seu Agostinho?"
"Não, esse Rui é gay! É o neto do Seu Antonio da padaria."
"Ah, não sabia...."
"Mas e aí? E o João?"
"João? Que João?"

Inté!!