Acho muito interessante observar crianças que nos chegam fresquinhas da 4a série, cheios de pudor e com uma polidez ainda infantil, que em meses vai sumindo e se transformando em hábitos já bem adolescentes.
Particularmente, prefiro lidar com eles já mais maduros, vejo mais participação e podemos discutir melhor tópicos do dia a dia, coisa que é praticamente impensável quando os alunos, ao te avistarem apontar no final do corredor, ainda correm para a sala gritando
"A prô chegouuuuuuuuu!!" e se sentam religiosamente com as mãos em cima da mesa, silenciosos, respeitosos....
Mas, claro, isso é um processo...
Comigo eles levam dois choques, logo no primeiro bimestre, que é pra saberem de cara com quem estão lidando.
O primeiro vem quando me perguntam em qual igreja vou à missa... Pois é, cidade do interior tem dessas, cada um no seu galho, ou melhor, no seu genoflexório...
"Não vou à missa. Na verdade desde os 16 anos não vou à missa."
Uns abrem os olhos incrédulos, outros abrem um sorriso esperançoso, seguido de comentários como "Eu vou porque minha mãe obriga..." Mas enfim, dou uma opinião geral, falo um pouco sobre minha filosofia de vida e let´s move on, caso contrário dia seguinte terei pais raivosos querendo queimar a herege. Deixo sempre claro que religião não se discute e que eu respeito todos os tipos de fé, mesmo que aminha seja no faith at all....
O outro choque vem quando eu os faço perceber que são tão corruptos quanto alguns maus políticos.
O movimento é quase sempre o mesmo. Hoje, analisando contos de Pedro Malasartes, um velho espertalhão folclórico, tivemos a seguinte questão:
"Os contos mostram características culturais dos povos. Você acha que o brasileiro age como Pedro?"
A resposta geral foi um belo, sonoro e ofendido
"Não, de jeito nenhum, tem um ou outro que é espertalhão, mas não é típico do brasileiro, não!!!"
Aí vem a professora bruxa, advigada do diabo e pergunta:
"Ah, é? Quem de vocês já pôs o carrinho de supermercado atrás do carro vizinho e largou pra ele o trabalho de devolver? Quem de vocês já guardou lugar na fila do cinema pra um amigo que chegou tarde? Quem de vocês já não ficou alegre ao ver que, lá no comecinho da fila tem um conhecido seu, que, ufa, você pode fingir que tinha marcado com ele? Pior! Quem de vocês não entrou em um trabalho em grupo, feliz da vida porque só tinha nerd e você não ia precisar fazer nada, e mesmo assim ganhar nota? E quem de vocês não inventa desculpas esfarrapadas pra tentar me enganar quando não faz tarefa?"
Caras brancas, olhos esbugalhados, bocas semi abertas.... Lamparinas a toda...
E assim começamos mais um ano, esperando que, se chegarem ao ensino médio detestando língua portuguesa, pelo menos devolvam os carrinhos ao lugar adequado. O vizinho agradece...
Inté
quarta-feira, abril 29, 2009
sexta-feira, abril 17, 2009
Rugas, rugas e rugas....
O que você faz com a informação de que o Muro de Berlin está sendo restaurado para a festa de comemoração de 20 anos de sua queda???
Eu vou fingir que não me lembro daquele dia, de que não tenho perfeita memória do Pedro Bial ainda não grisalho anunciando o evento... Vou fingir surpresa quando rever as cenas do povo martelando o muro e me surpreender com quem disser que se lembra tão bem.....
Vou também fingir que não estive lá 4 anos depois e que, no auge da minha ainda inocência, comprei no próprio local um souvenir altamente suspeito, um pedaço do muro quebrado...
Mais ainda, apaguei da minha memória que, de volta ao Brasil, meus amigos (incluindo o já revelado Tenho Dito) correram ao pátio do colégio, selecionaram uma pedrinha qualquer e colocaram nela um aviso "Pedra do Neolítico encontrada por arqueólogos".
De lá para cá tanto aconteceu... Vou ter que fingir que não me lembro da queda da URSS, que acho que Perestróika é como as mães russas chamam a piriquita das suas filhinhas, e que Glasnost deve ser o nome de algum refrigerante da terra de Dostoiévsky....
Também tenho que dizer que nem imagino quem foram os caras pintadas...
Se parar para pensar, vou ter que passar por louca e dizer que é impossível me lembrar das Diretas Já, em 82..... Morte de Tancredo? Nem imagino que estava no carro da minha vizinha voltando para casa à noite....
Imagina então quem se lembra da morte da Elis Regina!!!!! E do Aureliano Chaves anunciando que a moeda ia mudar... Povo velho.....
20 anos da queda do Muro.....
E parece que foi ontem...
Ou melhor, hã?
Eu vou fingir que não me lembro daquele dia, de que não tenho perfeita memória do Pedro Bial ainda não grisalho anunciando o evento... Vou fingir surpresa quando rever as cenas do povo martelando o muro e me surpreender com quem disser que se lembra tão bem.....
Vou também fingir que não estive lá 4 anos depois e que, no auge da minha ainda inocência, comprei no próprio local um souvenir altamente suspeito, um pedaço do muro quebrado...
Mais ainda, apaguei da minha memória que, de volta ao Brasil, meus amigos (incluindo o já revelado Tenho Dito) correram ao pátio do colégio, selecionaram uma pedrinha qualquer e colocaram nela um aviso "Pedra do Neolítico encontrada por arqueólogos".
De lá para cá tanto aconteceu... Vou ter que fingir que não me lembro da queda da URSS, que acho que Perestróika é como as mães russas chamam a piriquita das suas filhinhas, e que Glasnost deve ser o nome de algum refrigerante da terra de Dostoiévsky....
Também tenho que dizer que nem imagino quem foram os caras pintadas...
Se parar para pensar, vou ter que passar por louca e dizer que é impossível me lembrar das Diretas Já, em 82..... Morte de Tancredo? Nem imagino que estava no carro da minha vizinha voltando para casa à noite....
Imagina então quem se lembra da morte da Elis Regina!!!!! E do Aureliano Chaves anunciando que a moeda ia mudar... Povo velho.....
20 anos da queda do Muro.....
E parece que foi ontem...
Ou melhor, hã?
quarta-feira, abril 08, 2009
O bico....
É interessante relacionar alguns fenômenos a outros...
Um caso que me tem deixado bicuda, no sentido de cabelos em pé, é o fenômenos dos bicos, especialmente na espécia adolescente feminina.
As fotos que vejo postadas "diariamente"!!!!! de algumas adolescentes me fazem pensar...
Primeiro na solidão delas...
Geralmente são elas por elas, ou seja, com uma câmera digital na mão, enquanto deixam as tarefas de lado, postam-se em frente ao espelho e ficam posando de Kate Moss para elas mesmas, refletindo o isolamento paradoxal que a internet causa...
Na minha época, felizarda, de pré-internet, nós nos reuníamos com as amigas (cara a cara, uma na casa da outra!!!) e nos empetecávamos de modeletes, fingindo estar no clip Freedom do George Michael (as da minha geração entendem bem......)
O segundo pensamento que me vem à cabeça é a efemeridade da imagem capturada, do instante guardado através da lente. A câmera digital permite a elas que tirem umas 500 fotos do mesmo bico, da mesma franja na cara, e da mesma lateral (sim, por que para elas, foto que se preze é escondida, como manda o bom relacionamento online), todas representações do mesmo instante solitário.
Sem querer dar uma de tia véia, na minha época, tirar foto era realmente um ato de guardar momentos especiais. Me lembro muitíssimo bem de uma briga homérica que tive com minha mãe, quando eu tinha uns 10 anos. Estávamos nós em Maceió, e prontas para uma sessão de fotos na praia. Eu bati o pé que queria fazer um "book", que queria fotos de modelo, e minha mãe me deu o maior esculacho, dizendo que as fotos eram pra marcar nossas férias na praia.
É LÓGICO que saí em TODAS as fotos com caras e bocas, esvoaçando os cabelos e olhando apertado para as lentes. Mas ao lado da minha irmã e da minha prima, com cara de "oba, estamos fazendo castelo de areia!"
Hoje em dia os momentos especiais passam batidos. De um passeio escolar, ficam as fotos do ônibus, bicos, franjas, laterais e poses. Daqui há alguns anos, quando elas quiserem se lembrar como foi o passeio ao Museu do Imigrante, ou à exposição do Einstein, ou ao Museu da Língua Portuguesa, terão as mesmíssimas imagens, delas mesmas, modificadas em poses falsas que em NADA demonstram quem são. Foram esta semana ao observatório, um passeio noturno, e como não fui, estava louca para ver as fotos. Que decepção.... "O passeio foi mara!!!!" e a mesma roda dos mesmos bicos, dentro do mesmo ônibus...
Que pena....
Delas.....
Inté!!
Um caso que me tem deixado bicuda, no sentido de cabelos em pé, é o fenômenos dos bicos, especialmente na espécia adolescente feminina.
As fotos que vejo postadas "diariamente"!!!!! de algumas adolescentes me fazem pensar...
Primeiro na solidão delas...
Geralmente são elas por elas, ou seja, com uma câmera digital na mão, enquanto deixam as tarefas de lado, postam-se em frente ao espelho e ficam posando de Kate Moss para elas mesmas, refletindo o isolamento paradoxal que a internet causa...
Na minha época, felizarda, de pré-internet, nós nos reuníamos com as amigas (cara a cara, uma na casa da outra!!!) e nos empetecávamos de modeletes, fingindo estar no clip Freedom do George Michael (as da minha geração entendem bem......)
O segundo pensamento que me vem à cabeça é a efemeridade da imagem capturada, do instante guardado através da lente. A câmera digital permite a elas que tirem umas 500 fotos do mesmo bico, da mesma franja na cara, e da mesma lateral (sim, por que para elas, foto que se preze é escondida, como manda o bom relacionamento online), todas representações do mesmo instante solitário.
Sem querer dar uma de tia véia, na minha época, tirar foto era realmente um ato de guardar momentos especiais. Me lembro muitíssimo bem de uma briga homérica que tive com minha mãe, quando eu tinha uns 10 anos. Estávamos nós em Maceió, e prontas para uma sessão de fotos na praia. Eu bati o pé que queria fazer um "book", que queria fotos de modelo, e minha mãe me deu o maior esculacho, dizendo que as fotos eram pra marcar nossas férias na praia.
É LÓGICO que saí em TODAS as fotos com caras e bocas, esvoaçando os cabelos e olhando apertado para as lentes. Mas ao lado da minha irmã e da minha prima, com cara de "oba, estamos fazendo castelo de areia!"
Hoje em dia os momentos especiais passam batidos. De um passeio escolar, ficam as fotos do ônibus, bicos, franjas, laterais e poses. Daqui há alguns anos, quando elas quiserem se lembrar como foi o passeio ao Museu do Imigrante, ou à exposição do Einstein, ou ao Museu da Língua Portuguesa, terão as mesmíssimas imagens, delas mesmas, modificadas em poses falsas que em NADA demonstram quem são. Foram esta semana ao observatório, um passeio noturno, e como não fui, estava louca para ver as fotos. Que decepção.... "O passeio foi mara!!!!" e a mesma roda dos mesmos bicos, dentro do mesmo ônibus...
Que pena....
Delas.....
Inté!!
segunda-feira, abril 06, 2009
Cenas Jecas...
Quatro anos se passaram desde que pisei pela primeira vez no chão de terra da roça.
Quatro anos aqui, representam quatro Festas do Caqui, que acontecem anualmente.
Cada uma com uma progressão de expectativas que me ensinam muito sobre a Jeca que venho me tornando.
Para quem não sabe do que se trata, as cidades do interior realizam festas para honrar suas frutas típicas. Conhecidas são a Festa do Morango, de Atibaia e da Uva, de Jundiaí, por exemplo.
Aqui na nossa pequena cidade, temos a mais saborosa festa, a do caqui!
Lembro-me de que no primeiro ano de cidade, sabendo do evento, eu e Sr. Jeca saímos mais cedo do sítio para passarmos nas barracas. Minha expectativa era grande. Uma festa baseada em caqui deveria ter exemplares maravilhosos de doces, pães, sorvetes.... Hummm, vim com água na boca.
Minha felicidade prévia se deparou com a frustração em frente a 4 barracas de produtores diferentes vendendo o MESMO produto, o caqui. Só. Apenas.
Claro, que havia barracas de tudo, tapioca, churros, doces (de tudo, menos de caqui...), pesca, prenda, etc.
Do caqui mesmo, só a fruta. Nem os preços mudavam.
No segundo ano não fui, revoltada com o provincianismo da festa. Em fase urbaníssima, comprei minhas caixinhas de caqui 0,50 centavos mais caras no mercado mesmo e enquanto a sanfona rolava na rua, eu os deliciava geladinhos, no meu confortável sofá.
No ano passado demos outra chance à festa. Com mais barracas, pudemos comprar também goiabas e uvas,e para minha enorme felicidade, pude provar um mousse de caqui. Em um daqueles copinhos de café, sabe? Mas deu para ver, pelo menos, a evolução da galera.
Neste ano estou bem mais jeca. Ao ver a safra invadindo os mercados, logo pensei "A Festa do Caqui deve estar chegando!" Não que minha expectativa tenha aumentado, lógico, mas pelo menos minhadesconfiança diminuiu. Já fico feliz de economizar um real em duas caixas de uma das frutas mais deliciosas do mundo.
O evento deste ano cresceu foi para o parque da cidade, e ainda acompanhados das barracas de churros, esfiha, cachorro quente, os produtores se enfileiraram em suas 5barracas, onde pude comprar meus queridos vermelhinhos.
Entretanto, apesar de minha aumentada tolerância, não posso deixar de registrar uma cena absolutamente medieval, que certamente caberia em um quadro de Hieronymus Bosch:
Uma fila de pessoas se amontoava entre cordas para uma bela exposição de ...... caquis. É. Uma mesa alta foi montada com as mais belas espécies da fruta, (na minha visão leiga de Caqui Arte, todas do mesmo tom de vermelho...)e os visitantes passavam obedientemente enfileirados, coçando as barbichas, como se coça ao espremer os olhos no Louvre...
Será que o caqui sorri para mim, à la Monalisa????
A fila era grande demais, desisti....
Inté
Quatro anos aqui, representam quatro Festas do Caqui, que acontecem anualmente.
Cada uma com uma progressão de expectativas que me ensinam muito sobre a Jeca que venho me tornando.
Para quem não sabe do que se trata, as cidades do interior realizam festas para honrar suas frutas típicas. Conhecidas são a Festa do Morango, de Atibaia e da Uva, de Jundiaí, por exemplo.
Aqui na nossa pequena cidade, temos a mais saborosa festa, a do caqui!
Lembro-me de que no primeiro ano de cidade, sabendo do evento, eu e Sr. Jeca saímos mais cedo do sítio para passarmos nas barracas. Minha expectativa era grande. Uma festa baseada em caqui deveria ter exemplares maravilhosos de doces, pães, sorvetes.... Hummm, vim com água na boca.
Minha felicidade prévia se deparou com a frustração em frente a 4 barracas de produtores diferentes vendendo o MESMO produto, o caqui. Só. Apenas.
Claro, que havia barracas de tudo, tapioca, churros, doces (de tudo, menos de caqui...), pesca, prenda, etc.
Do caqui mesmo, só a fruta. Nem os preços mudavam.
No segundo ano não fui, revoltada com o provincianismo da festa. Em fase urbaníssima, comprei minhas caixinhas de caqui 0,50 centavos mais caras no mercado mesmo e enquanto a sanfona rolava na rua, eu os deliciava geladinhos, no meu confortável sofá.
No ano passado demos outra chance à festa. Com mais barracas, pudemos comprar também goiabas e uvas,e para minha enorme felicidade, pude provar um mousse de caqui. Em um daqueles copinhos de café, sabe? Mas deu para ver, pelo menos, a evolução da galera.
Neste ano estou bem mais jeca. Ao ver a safra invadindo os mercados, logo pensei "A Festa do Caqui deve estar chegando!" Não que minha expectativa tenha aumentado, lógico, mas pelo menos minhadesconfiança diminuiu. Já fico feliz de economizar um real em duas caixas de uma das frutas mais deliciosas do mundo.
O evento deste ano cresceu foi para o parque da cidade, e ainda acompanhados das barracas de churros, esfiha, cachorro quente, os produtores se enfileiraram em suas 5barracas, onde pude comprar meus queridos vermelhinhos.
Entretanto, apesar de minha aumentada tolerância, não posso deixar de registrar uma cena absolutamente medieval, que certamente caberia em um quadro de Hieronymus Bosch:
Uma fila de pessoas se amontoava entre cordas para uma bela exposição de ...... caquis. É. Uma mesa alta foi montada com as mais belas espécies da fruta, (na minha visão leiga de Caqui Arte, todas do mesmo tom de vermelho...)e os visitantes passavam obedientemente enfileirados, coçando as barbichas, como se coça ao espremer os olhos no Louvre...
Será que o caqui sorri para mim, à la Monalisa????
A fila era grande demais, desisti....
Inté
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