quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Sinal Vermelho!!!

Começo de ano é época de se por a mão no bolso e encarar alguns gastos fortes... IPVA, IPTU, Imposto de Renda, entre outros...

Já me sinto literalmente roubada cada vez que um centavo meu vai para estes impostos mal usados e nada reinvestidos. Palhaça se estampa na minha testa.

No entanto, já superaram os tributos do governo em matéria de me xingar de trouxa, besta e beócia:

PEDÁGIO DE CALOURO!

O-D-E-I-O!

Páro no sinal e lá vem um bando de novos universitários pintados de cima a baixo, alguns sem cabelo, todos com a sigla de sua insituição tatuada no rosto.

Fecho o vidro, fecho a cara e fecho o tempo!

É um excesso de cara de pau, de falta de respeito com o próximo e de ausência moral um fulano vestido de calça Diesel vir na minha janela pedir um real pra depois gastar em cerveja, com outros fulanos da mesma raça.

Foi-se a época em que estudante era pé rapado, precisava mesmo desta esmola pra comemorar a tão sofrida entrada na Universidade! Hoje eles chegam no cruzamento escolhido dirigindo seus belos carangos dados por "papi", vestidos com toda pompa e circunstância, muitos dos quais vindos de um vestibular xexelento, daqueles em que a empre.... quer dizer, a faculdade, quase pega você na calçada e põe pra dentro!

Aquele um que ralou o coco pra passar provavelmente está, às 14hs de plena quarta feira, no trampo, segurando as ondas pra conseguir pagar a graduação!

"NÃO DOU!!!! Vai na adega do "papi" do veteranto e enche a cara lá, pelo menos em casa você não aumenta as estatísticas de jovens bêbados que dão com o carro no poste!"

O pior é a tática que eles usam. Veteranos se posicionam estrategicamente na esquina à espera da bufunfa fácil pra breja do happy hour, mandam meninas irem nos carros de motoristas homens e meninos nas Penélopes Charmosas! Me sinto ofendida, como se um moleque com bigode ralo, 17, 18 anos, voz recém engrossada e tinta roxa na cara fosse me amolecer pra ganhar dinheiro!

Prefiro o Sacha Baron Cohen, aqui de baixo, vestido de BORAT!!!!!

Niiice....

Acho o fim da picada... Seria lindo ver um grupo de calouros gastando essa felicidade, essa energia de renovação em algo construtivo.

"Senhores motoristas, estamos arrecadando dinheiro para a Páscoa da creche do bairro".

ou

"Senhores motoristas, estamos levantando assinaturas para reinvidicarmos, junto à prefeitura, uma praça para as crianças da região!"

Vou parafrasear o Daniel Piza:
Não me ufano...

Enquanto isso não acontece, aviso aos calouros:

"Não me venham com churumelas, pedágio de calouro é no carro de trás!"

Inté!!

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Poder da produção....

Como podemos sequer imaginar que por trás disso




está isso??????



ô lá em casa, viu?.....

Inté!

Fim do Monopólio...

Existe, entre nós, uma tendência forte à generalização...
Eu cada vez acredito menos nos famosos axiomas da Humanidade...

A que mais dizia na minha adolescência era:
-Homem não presta. Nunca mais namoro, vou virar freira!
Não é verdade, existe, sim, um ou outro que escapam à esta regra...
E freira, hum.... Talvez em outra vida, se eu for muito má nesta...

-Panela velha é que faz comida boa.
Conta outra, né?... Nem se você for levar esta frase ao pé da letra, a comida da minha avó é das piores, minha mãe desencanou de cozinhar e cada dia que se passa fico mais preguiçosa na cozinha... Panela velha não tem mais saco, fica com dor nas pernas, na lombar, troca os temperos e se bobear pega no sono no sofá e queima o assado...

-O Brasil é o país do futuro.... Me acorda quando esse futuro chegar, tá? Pelo que vejo estamos esquecendo de viver o presente e babando num futuro que não chega nunca... A Índia, a China, a Coréia do Sul, esses sim, são países do futuro, pois estão trabalhando pesado HOJE...

E a que motivou este post:

-Mulher é fofoqueira.

Tá, ok, certo... Concordo...
Entretanto, tenho constatado que não temos mais o monopólio da fofoca!
Acabou a época em que mulheres ficavam em casa esperando o marido chegar do trabalho, tempo em que sua única diversão era falar da vida alheia!
O século XXI é o século da fofoca masculina!

Ainda assim, eles não atingiram nosso grau de "experties", afinal, vimos praticando a arte de comentar os percalços dos outros há centenas de anos. Homens desenvolveram um mecanismo típico de fofoca.

Semana passada, sentada no Starbucks, ouvi o papo de quatro rapazes, em horário de almoço...

"Rapaz, você tem que ver como a namorada nova do Jorge respondeu pra ele! (risos risos risos) O cara é o maior pau mandado!! Ela deu uma nele que ele ficou até branco!!!" (risos risos risos)

"Ah, mas o pior foi o Marcos, do financeiro. A namorada acabou com ele, e (risos risos risos) o cara caiu no choro!!!!" (gargalhadas gargalhadas gargalhadas)

Hoje, na academia, ouço o papo de dois amigos.

"Cara, vi o Fulano no supermercado, (risos) ele tá com uma barriga enorme!!!" (gargalhadas)

Pois é, meninos, vocês ainda têm um longo caminho até ouvirem a máxima:

-Homem é tudo fofoqueiro

Mas, pelo andar da carruagem, que vão ouvir vão...

Deixa eu ir que minhha vizinha está gritando com a empregada...

Inté!!

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Humor Negro

Este fim de semana fiz algo que há muito tempo não fazia. Fui ver o mesmo filme duas vezes no cinema.
Nada intelectual...
Nada cult...
Nada, mas naaada politicamente correto...

Fui ver "Borat"!

Mas por que trazê-lo da tela do cinema pra tópico de post?

Por causa da platéia...

Muitos ainda não assistiram, mas todos já sabem que o judeu Sacha Cohen faz o papel de um jornalista cazaqui que viaja pelos "U S and A" para ver os costumes do povo norte americano. Ele acaba desvendando, através da comédia dura e ácida, a grande hipocrisia que impera na terra do Tio Sam. Piadas de mulher, gays, cristãos e principalmente judeus dominam o filme. Tem que ter estômago...

E pouco pudor!
Pudor pra rir, digo...

Assisti em dois shoppings diferentes, em duas cidades diferentes.

Na sexta à tarde, sessão das 14hs 30, no Morumbi. Casais de velhinhos por toda a vazia platéia. Eu e minha irmã...

Nas primeiras cenas você já saca qual o perfil do grupo. Ninguém ri... Mas olho os rostos ilumiados pela tela e alguns esboçam um leve sorriso...

"Mas que vergonha, rir disso... O que vão achar de mim?... Vão me acusar de anti semitismo??? De preconceituoso? de machista????"

Aí parece que começa a cair a ficha nas pessoas, "se o próprio ator é judeu e ri de si mesmo, acho que não pega tããão mal assim rir.... Ou pega?"

E começam, aos poucos, a entender o movimento do filme. A crítica, o desvelo da falsidade ideológica. Mas ainda assim, alguns resistem. Um senhor sai no meio, naturalmente ofendido.

Luzes acesas, olho em volta pra ver se fui a única herege e rir... Ufa, não... Mas todos se olham, para achar seus cúmplices...

Domingo, sessão das 15 hs 30, Iguatemi, Campinas. Eu e Sr. Jeca. Sala cheia. Jovens dominam a sala.
Vergonha???
Todos riem descaradamente, sem se preocupar em afirmar seu humor negro com os vizinhos.
Riso despreocupado, ácido como o filme.

Eu rio menos, a segunda vez é sempre menos surpreedente, mas ainda me pego com dor de barriga em algumas cenas. Dor de barriga de tanto rir...

Saio pensando em como um filme, assim como livros e pinturas, atinge pessoas de maneiras tão diferentes.

E também, que somos resultado cabal do politicamente correto e ver alguém quebrar este comportamento causa profundo embaraço, ainda que seja como ferramenta de crítica ao lado hipócrita desta cultura.

O filme toca em feridas, e é naturalmente polêmico. Mas tendo coragem e consciência, garante boas risadas....

Inté!!


quarta-feira, fevereiro 21, 2007

A roda da decoração...

Eu adoro datas comemorativas. Adoro! Natal, Carnaval, Páscoa, Ano Novo... O que detesto são as decorações relacionadas a elas!

Confesso, detesto árvore de natal!

Não suporto aquele monte de serpentina e máscaras de purpurina que todos insistem em pendurar na parede de lojas e escolas...

Coelho de algodão e nariz pintadinho de rosa??? Cadê o lixo reciclável???

Quando eu trabalhava em escola infantil, esse era meu martírio... Amava o trabalho, amava as crianças e a filosofia da escola, mas era um sufoco ter que começar a fazer decoração uma semana antes da data, pra durar exatamente.... uma semana....

"Gente, acabou o carnaval, tira a decoração!"

E o pior é que emenda na próxima, varre o confeti do chão e corre pra esconder ovos de páscoa!
É um ciclo interminável!

Quando chegava Festa Junina e Halloween, então.... Eu passava as semanas decorativas em plena depressão profunda! Até hoje tenho vontade de martelar aquelas abóboras que dão risada pra você, as Jack O´lanterns. Elas não estão rindo pra você, mas DE você...

E a saga continua em casa.... Eu deisti de decorar casa pra Natal. Comprei uma árvore pequena na ETNA que pra ser bem sincera ainda está em cima da minha mesa...
Não é uma questão de pouco caso, mas de preguiça crônica mesmo...

A esposa do meu tio, lá em Santa Catarina transformou a casa dela em uma loja de decoarção natalina, impressionante. Pra onde você olhava pulava um papai noel. Tapete da cozinha, pano de prato, enfeite na sala, no banheiro, na varanda... Bonito, mas eu me cansava só de pensar no dia 2 de janeiro...

"Ok, ok, onde está seu espírito natalino, Jeca?"

Não sei, mas o espírito prático anda na bolsa, e me diz ao pé do ouvido:

"E pra tirar tudo isso depois? E guardar?"

Ai, não, não é pra mim...
E agora começa a correria pra arrancar as Globelezas das paredes, trocar os uniformes dos atendentes do mercado, estocar os colares de havaiana distribuídos...

E começar a pensar nas tiaras de orelhinhas peludas, no suporte para os ovos de páscoa e nos esconderijos mais eficientes.....

E se for mesmo prevenido, já pode começar a remendar a camisa xadrez e comprar lenha pra fogueira.... Além de treinar fazer canjica, bolo de milho e quentão!

E se for mesmo corajoso pra isso tudo, encarar a 25 de março!

Te encontro no Mercadão, vou ficar por lá comendo um pastel de bacalhau...
Sem decoração!!!

Inté!!

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Vem no Vira da Mangueira

Tuca Vieira/Folha Imagem

Quem não viu a Mangueira entrar perdeu um espetáculo absolutamente único, maravilhoso e emocionante! A escola carioca falou da nossa língua portuguesa e, além de um samba fenomenal, caprichou na interpretação dele nas fantasias e carros...

Fiquei maravilhada com a comissão de frente, com letreiros formando palavras e frases diferentes e com a troca de personagens... De Camões para portuguesas que dançavam o vira...

Rogerio Cassimiro/Folha Imagem

Adorei Preta Gil de madrinha de bateria.... Vamos valorizar comunidade, não peito siliconado e barriga sarada! Ser bonita, independente de células adiposas a mais...

Publius Vergilius/UOL

E o carro final, representando a Estação da Luz, casa do Museu da Língua Portuguesa??? Chorei ao ver os "imortais" das letras e do samba juntos, cantando animados o samba!

Só pegou mal expulsarem Beth Carvalho do desfile...

Mas como nada é perfeito, a Verde e Rosa aqueceu meu coração, ao tratar com tamanha beleza e sensibilidade o material que eu escolhi como meu de trabalho... A língua que eu estudei e estudo com tanto carinho e dedicação...

"Eu vou nos versos de Camões, às folhas secas, caídas de Mangueira.
É chama eterna, dom da criação, que fala ao pulsar o coração"


PS: o video é ruim, mas dá pra ouvir muito bem o samba, pra quem quiser...



Inté!

sábado, fevereiro 17, 2007

Click...

Escolha sua trilha...





Você percebe que já alcançou certa idade quando no MP3 que você leva para correr estão as seguintes músicas:

Easy Lover, Genesis
Land of Confusion, Genesis
Express Yourself, Madonna
Deeper and Deeper, Madonna
Causing a commotion, Madonna
Stop, Erasure
Together forever, Rick Astley
Running, Information Society
West end girls, Pet Shop Boys
Good Life, Inner Circle
Tell it to my heart, Taylor Dane
The Promise, When in Rome
I promise Myself, Nick Kamen

E para aqueles 5 minutos finais de "cool down" você gravou:

Last note of freedom, David Coverdale
Africa, Toto
Holiday, Scorpions
Cry little sister, Sisters of Mercy
The Boxer, Paul Simon
Live to tell, Madonna
Freedom 90´s, George Michael
In the air tonight, Genesis
Todo amor que houver nesta vida, Cazuza

E mais alguns sinais da idade...

1- Você se empolga tanto nos refrões que aumenta consideravelmente a velocidade da esteira, a ponto de ter coxas doloridas no dia seguinte.
2- Ao acabar o treino, desligar o MP3 e ouvir a música ambiente da academia, se pega pensando: "Nossa, que música horrível... Juventude perdida"

E o melhor dos sinais, o mais libertador...

3- Você não tem pudor nenhum de cantar alto, parecer louca e enfrentar os olhares ressabiados de quem passa ao lado....

Ah.... como é bom passar dos 30.....

Bom fim de semana

Inté!

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Gosta de boa música???


Então anota na sua agenda!!!

Dia 25, às 18hs, na Saraiva do Shopping Morumbi,

esta banda excepcional fará o lançamento de seu primeiro cd...

Quem gira as baladas de Sampa deve conhecer o Insônica... Tocam no Kia Ora, no Barrogan, All Black, entre outros!

Músicos de verdade, som de primeira e um baixista com o nome de Vinícius Colla.... Ring any bells???

Pois é, não é corujice, mas o baixista é meu lindo primo, que além de uma linha de sangue privilegiada, tem o dom!!! É músico de verdade, vive disso e pra isso...

Aproveita o domingão, antes do cineminha passa ali no Starbucks, e dá uma conferida! Quem falar pro Vinícius que é amigo da Jeca ganha.... Bom acho que não ganha nada...

E pra conferir se os caras são bons mesmo, checa a agenda de shows... No Barrogan é noitada garantida!!!

Inté!!!

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Pró Ativa


Minha pequena parte em favor da Natureza....

Já que nossos super mercados ainda não nos oferecem a opção do embrulho de papel, resolvi boicotar ao máximo os anti-ecológicos saquinhos plásticos. Comprei uma cesta e é nela que carrego minhas compras!
O engraçado foi notar os funcionários do mercado "sutilmente" de olho em mim, afinal, não é todo dia que uma doida coloca dentro do carrinho uma cesta!

Inté!

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Positivo operante...


Eu ainda me impressiono com a linguagem masculina... Os homens possuem, entre si, códigos peculiares, baseados na conhecida economia lingüística que tanto os caracteriza...

E os que mais me chamam a atenção são os códigos gestuais.

Carinho de amigo é geralmente expresso com um tapa no ombro... Amigos muuuito íntimos apelam mesmo pro soco no braço, pra chave no pescoço (que no meu entender feminino substitui o abraço...) e chegam ao auge da intimidade ao xingar a mãe do outro... Isso sim que é amigo.... Amigo que é amigo xinga a mãe em sinal de carinho...

Mas enfim...

Semana passada passei com o Sr. Jeca, por um momento extremo de comunicação masculina... Mas tão extremo que nem o outro homem o entendeu...

Fomos a uma formatura, e o garçom veio oferecer bebida. Sr. Jeca, do outro lado da mesa, ao ver o rapaz apontar a cerveja para seu copo, levantou o polegar.

Ok, linguagem clara, não?

Polegar para cima, sinal de positivo!

Os imperadores romanos apontavam o polegar para cima quando queriam salvar a vida do gladiador, não?

"Sim, salvem-no, POSITIVO"

O sitema de ensino que se chama Positivo tem como símbolo o que?? Um polegar apontando o céu...

O astronauta brasileiro do pau oco quando voltou do espaço (antes de decidir se aposentar e virar político... humpf) saiu da cápsula e....... polegar acima, positivo....

O que mais o garçom poderia fazer ao sinal do polegar pra cima?????

Encher o copo!

"Não, não quero, valeu!"

"Como é? Mas você falou que sim!"

"Não, eu falei que NÃO!" e me mostra o polegar pra cima...

"Mas esse sinal é SIM!"

"Não é, não!! Siginifica não, valeu!"

Fico confusa...

Deixo passar e resolvo testar a eficiência da linguagem do meu marido.... Mais tarde, ele me oferece água. Eu levanto o polegar e ele me serve.....

"Mas assim não significa não, valeu???? Não quero água"

Ele sorri e me diz, cheio de si em sua confiança na comunicação masculina:

"Você não entende nada de linguagem de bar...."

Será???

Inté!

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Coração e Mente...

É sabido que certas duplas profissionais são absolutamente complementares...
Médico e enfermeiro, cozinheiro e garçon, estilista e costureiro, etc. E para uma pessoa como eu, que está na jornada final de se construir uma casa, a dupla de super heróis:

O Arquiteto e O Engenheiro!

Sempre ouvi que entre ambos havia uma rixa secular, "arquiteto é engenheiro que não sabe fazer conta", "engenheiro é arquiteto frustrado", e por aí vai...

Mas depois de alguns anos de estrada, vemos que as cosias não são bem assim. Cada um busca na profissão algo que fale à sua alma, às suas características... De preferência....

Hoje presenciei um momento de trabalho muito interessante, o arquiteto que projetou nossa casa e a acompanha desde o início e seu novo engenheiro, que chegou para dar um gás na reta final. (havia um outro, mas isso é outro post...)
Ambos bem típicos, quase caricaturais... Assim sendo, chamá-lo-emos de Sr. Arquiteto e Sr. Engenheiro...

Arquiteto é um tipo sorridente e expansivo, sempre de camisa para fora da calça, barba por fazer e por vezes bem barbado. Cabelo à revelia. Hoje o chamei de Che.... Sentado, Arquiteto parece se jogar na cadeira, confortável e esparramado, tipo relaxado mesmo... Marca às 11 e chega às 11hs 30, nos recebe com um abraço carinhoso e fala de sua filha, dando risada....

Engenheiro, mais novo que Arquiteto, barba bem feita, cabelos raspados curtos, camisa por dentro da calça e seu par de óculos. Marca às 8 da manhã e já está na obra às 7hs 50! Senta-se ereto, e nos recebe com um sorridente, mas tímido aperto de mão.

Entro na obra. O olhar de Arquiteto vaga voador pela casa, olhos flutuantes que pensam a cor certa, o desenho do guardil da escada e a pedra do banheiro. Penso em Salvador Dalí, andando por seu estúdio com uma capa nas costas... (nosso Dalí joga a capa por cima do ombro, segura a paleta com uma mão e com o pincel apontado diz:)

"Nossa, essa sala vai ficar maravilhosa com o revestimento de madeira!"

Atrás dele, lá está Engenheiro, com um caderno nas mãos, anotando cada passo a ser tomado.

"Pedir a tinta, projetar guardil, verificar largura da pedra!"

Faço uma pergunta prática ao sonhador que está criando o visual de uma parede.

"Nós já compramos todos os spots da iluminação?"

"Hum... Não sei, Engenheiro, já compramos os spots?"

"Não, preciso antes ver o projeto quantitativo! Não posso comprar molde, temos que ver tudo de uma vez!"

Os olhos de Engenheiro não vagam! Apontam precisos, acurados! Fazem contas em um Matrix calculador nos ares! Me diz:

"Não comprei todas as tintas. Não quero arriscar sobrar, prefiro pedir mais se faltar do que pagar e depois ficar aí estocado!"

Objetivo, prático!

"Esse verde vai ficar maravilhoso com o vermelho da parede!!", suspira Arquiteto.

"Parabéns pela escolha, o verde fica melhor.", me parabeniza Engenheiro.

Pergunto sobre um armário de lavanderia. Arquiteto olha para o vão, aquele olhar que flutua, imaginando ali o melhor desenho. Engenheiro pega sua trena...

"60 x 126 x 260"

Saímos da obra, à frente da casa Arquiteto pára encostado ao carro, admirado com a beleza de sua criação. Se eu olhasse de perto talvez visse a sombra de uma lágrima por cair, feliz....
Engenheiro também a admira, mas menos encostado na caçamba da Saveiro. Está segurando o caderno, e marca a visita amanhã, às 8....

Penso em Yin e Yang, em atração de opostos, nas duas mentes brilhantes ali, cada uma à sua maneira, que criaram e construíram meu futuro lar...

Sem Engenheiro, a casa estaria no papel, linda, desenhada a lápiz de cor, pronta para colocarmos no quadro.
Sem Arquiteto, estaríamos sonhando com uma possível casa, acampados no terreno baldio...

Inté!!

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Rumo certo!

Foto: Olhares.com

Segunda feira, primeira aula da semana, uma 5a série super tranquila, quase sonífera... Sinto que preciso dançar o xaxado, pular dinossauramente sobre suas cabeças ou até jogar-lhes baldes de água, para ver se recebo algum sinal de que estão respirando...
Ao invés de entrar logo na matéria, resolvo bater um pouco de papo furado, pra ver se despertamos. (eu também sinto que trouxe meu travesseiro colado na face...)

Falamos da natureza, do efeito estufa, de como economizarmos papel, e de repente, estamos na máquina do tempo... (papo muito louco, se fosse uma turma de 3o colegial eu pedia pra cuspirem na minha mão e procurava colírio na mala...)

Uma aluna de 10 anos, miudinha, tipo boa moça diz:
"Ah, se eu pudesse voltar no tempo, eu ia corrigir tuuuuudo que eu fiz de errado na vida!"

10 anos! Boa moça! O que cargas d´água esse mini ser humano, esse protótipo de criatura pode ter feito de errado que exigisse uma máquina do tempo???
Curiosa, perguntei...

"Ah, pro, um mooonte de coisa... As tarefas que não fiz, as vezes que eu briguei com a minha mãe... Ah!!! E tem uma horrível, quando eu joguei um lápiz em um menino e ele nem tinha feito nada..."

Suspirei...

Mal sabe ela que um dia quererá usar a máquina para consertar coisas que poderiam ter mudado o rumo de sua vida... Acabar um namoro no momento certo, sem se deixar arrastar por tempo demais; passar mais tempo com aquela uma pessoa que ela amou tanto e que um dia deixou a carne; mudar de cidade quando teve a chance ideal....
E mal sabe ela que mesmo assim, mesmo sem a chance de mudar os erros, tudo dá certo no final. Que os erros a ajudarão a acertar no futuro, e que o lápiz que ela injustamente jogou, a avisará sobre nova possível injustiça. Que não fazer tarefa de vez em quando não repete de ano e que brigar com mãe é parte do seu processo de se tornar mulher...
Mal sabe ela...
Inté!!

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Elas

Foto: 1000imagens



... e estava molhado. Levantaram-se então da grama, checando as possíveis manchas de terra na calça e continuaram caminhando juntas. Já era tarde, mas não queriam se separar, havia ainda tanto para contar.

Ana estivera em Paris, tinha ido aos cafés literários que tanto queria conhecer e um francês de olhos fundos tinha cruzado sua vida.

Tanto para contar...

René havia perdido Zezé, sua companheira há 12 anos. Seu arfar doente feneceu em seu colo, na mesa fria do veterinário. E estava lendo Cortázar, tanto para contar...

Decidiram então sentar e comer algo, mais uma desculpa para continuarmos conversando. René estava ainda triste, não queria deixá-la sem algumas risadas, e minhas histórias francesas certamente a animariam. Comecei a falar de Albert , que conheci no café Cluny. Só René entenderia minha dor, minhas dúvidas e saudades, e só ela teria o conselho de que precisava. Sentia-me segura a seu lado, conhecia seus olhares e podia garantir que Ana lia meus pensamentos. Contou-me do Cluny, de Albert e me fez rir.
Pedi um sanduíche, e Ana um prato de massa. Voltou de Paris com saudades de comida farta e de René...

Juntas passaram por tanto... Difícil aceitar que era noite e que teriam que se despedir. Aquela companhia fácil e conhecida as confortava e não havia distância que as desligasse. Um simples toque de telefone, uma mensagem, e tudo se conectava.

Ana saboreava seu prato como uma criança que se lambuza de sorvete. /Que saudades disso/, murmurei enquanto fechava os olhos para melhor sentir o molho em minha boca. René riu, e continuou falando do livro que estava em cima da mesa. “62 Modelo para armar”, ela continuava insistindo para que eu experimentasse Cortázar, /É como esse prato de massa que comes, há que se fechar os olhos para saboreá-lo/. Seu entusiasmo era quase pueril, falei que leria, mesmo sabendo que não o faria, pois Ana preferia o fantástico real, seu francês de olhos fundos e sua mala aberta ao pé da cama.

Noite adentro falaram, René chorou por Zezé, riu ao ouvir que Ana cochilou na final da Roland Garros, ambas se sentindo protegidas por aquele laço que tinham.
Em um certo momento, Ana suspirou e comunicou à amiga a decisão já tomada. Não queria falar disso, estavam ali tão isoladas em si, tão em nosso mundo, nossos códigos. Ali nada nos alcançava, podíamos tudo.

Mas era preciso dizer-lhe logo. / Os olhos fundos de Albert me mandam de volta a Paris/ Quanto tempo?/ Sem data/ Vais quando?/ Duas semanas/ ......./ ......./ Levas tudo?/ O que couber./ Lês o livro do Cortazar, se eu te der ?/ Claro!/ Promete!/ Prometo!/ Sem prometer e depois não ler. Promessa verdadeira, pactual!!!/ Leio, me cobras depois./ ......./ Vens me visitar?/ Em Paris? Achas que não... Te visito na Sibéria, se trocares o francês por um russo...
Riram... Russos não tinham os olhos fundos dos franceses...

Ficaram um pouco em silêncio, sorrindo, processando mais um pouco a dor da separação próxima. Levantaram-se e caminhamos juntas. Ofereci ajuda com as malas, Ana aceitou. Propus cinema, / Vamos à Mostra, René, Comme un Air passa amanhã/ Não, nada francês/ Boba/ Passa algum filme russo?...
Riram, engolidas pela noite e pela calçada reta.

Sabiam que tudo ficaria bem.