A tela está em aberto há muito tempo. Nada sai. Se eu fosse
uma grande escritora, diria que estou em “bloqueio criativo”, mas não sou nada
grande. O que estou vivendo, é a pouco glamourosa crise da meia idade... Assim,
seca, dura, cheia de pontas de reflexão e muitas lágrimas...
E “pouco glamourosa” porque toda crise da meia idade tem um
quê de glamour... A gente alcança os 40 sabendo que pra tudo temos que ter
classe. Até pra crise.
E é minha primeira crise existencial poderosa, então é
melhor que seja, pelo menos elegante.
Não me ajudou muito o fato de estar fazendo 40 em meio a uma
mudança gigante na minha vida. Na vida da minha família. Tudo de cabeça pra
baixo, exatamente no lugar onde queríamos e do jeito que queríamos. Paradoxal,
não? (Não disse que tem uma ponta de glamour?) Estar longe de pessoas que amo,
perceber que fazer uma rede de amigos leva tempo, e que minha carreira como eu
a conhecia acabou é pimenta na ferida. Paralisei. A escrita faz parte da
primeira fase da minha vida. Será que ela também acabou? Será que perdi a mão?
Se você cansa rápido de clichês, pode parar de ler. Fica
chato. Fica repetitivo. Mas eu preciso tocar nesse tópico. Infelizmente a
rotina é clichê.
Exclusividade, só bungalow no Tahiti.
Eu lembro bem do meu pai dizendo pra mim que eu era super
inteligente e que ia ser grande. Ia fazer grandes coisas. Muito amor envolvido
nessas expectativas. Muito mesmo, não tenho dúvida. Era nessa expectativa que
eu sentia o calor dele.
“Nunca dependa de marido nenhum, tenha a sua carreira”,
dizia o homem que proibia a esposa de trabalhar...
De uma maneira torta, eu acreditava. Precisava acreditar. Se
era meu pai dizendo, devia ser verdade.
Eu busquei essa grandeza por anos. E até acho que cheguei
perto em alguns momentos.
Olho com muito carinho pro que fiz em sala de aula, o
que fiz no pouco tempo de fotografia.
O problema é que essa busca era pra
atingir a expectativa dele, não minha. Então durava pouco. (tá aí, Francisco, a
resposta pra tanta energia gasta e não concluída. Quanta terapia pra chegar
nisso, né?)
E de repente, tudo que ele pediu pra eu não fazer aconteceu. Sem
carreira, me dedicando 100% à família. É como a criança que ouve pra não
colocar o dedo na tomada e, pum, enfia a mão inteira de uma vez. Eu olho pra
trás e só consigo ver a frustração de expectativas.
“Fui grande nada, pai...
Desculpa aí...”
Só que se fosse assim claro e bem resolvido seria fácil. Eu
teria tomado uma por ele e pronto. Tudo resolvido. Mas não é. Dói porque essa
visão dele se tornou minha. (Clichê, eu avisei...) E agora?
Quem sou eu?
(Francisco, essa ainda não deu pra descobrir, viu? Preciso de mais das nossas
queridas e doloridas sessões...)
Eu não cresci ouvindo que ser mãe é grandioso. Nunca ouvi
ninguém me dizer que a felicidade estaria em ser quem eu sou, por si só. Sem
ter que alcançar nada, sem ter que fazer nada.
Apenas sendo eu.
(Tá o Paulo
Coelho disse isso algumas vezes, mas eu detesto Paulo Coelho, então, tipo, ele
não pode estar certo, né?)
E é com isso que eu preciso apagar as 40 velas do meu bolo.
“Quem sou eu?” (ah, Tatiana, você realmente perdeu a mão! Sério?? “Quem sou
eu?” That’s all you can come up with?) “O que vai ser daqui pra frente?”, “De
onde eu vou alimentar minha felicidade?”
E quando eu percebi que estas são minhas perguntas pras
próximas 4 décadas (espero que eu responda em bem menos que isso. Só assim
estendo essa bagaça e vivo mais umas 5 décadas...) entrei em pânico.
“Ué, a felicidade não está no carinho dos meus alunos?”
-Béééémmmm
“Não está no elogio que fazem das minhas fotos?”
-Béééémmmm
“Não está no olhar de admiração dos outros?”
-Béééémmmm
Então peraí que eu vou ali rever minha vida toda, chorar litros e já volto.
Corta pra hoje. 8 de janeiro de 2016. Pula as “saídas da
casinha” dos últimos tempos. (Como bem disse uma amiga que também está passando pela
crise dos 40! Valeu, querida, saber que não sou a única ajuda muito a passar
por isso. E voltar pra casinha...) Pula o ombro do meu marido que me escuta,
escuta e escuta.
Corta pra hoje. 8 de janeiro de 2016.
Nova York.
Meu presente de aniversário não veio embrulhado em caixinha
nenhuma. Veio na forma que eu mais amo: passagem e reserva de hotel. E pra uma
das cidades que mais marcou minha vida. Uma cidade onde eu aprendi, lá nos meus
20 anos, a ser livre. Hoje eu sei disso. Na época não sabia de nada.
Estar em NY nesse momento, com meu marido e meus filhos, me
ensina a ser livre de novo. Mas de uma maneira totalmente diferente. Não livre
tipo “vou fazer as malas e ir morar na China”, mas livre tipo “eu sou eu”... O
tipo de liberdade que quero aprender. Fazer as malas e sair pelo mundo é fácil
pra mim. Sempre foi. Minha lição agora é mais difícil.
Mas estar aqui, e olhar
pras 3 pessoas que estão do meu lado me dá ânimo pra encarar. Eu já chorei o
que tinha pra chorar, já questionei o que tinha pra questionar. Quero
transformar esse dia, esse momento em um marco. Quero chegar nos 90 (lembra,
quero esticar essa brincadeira aqui pelo menos por mais 5 décadas...), olhar
pros meus 40 e poder dizer pros meus netos que foi a idade em que eu me refiz,
em que eu me conectei. (não boceja não...)
E que a partir dos 40, a leveza que
me faltou veio em abundância.
Quero ser uma velhinha leve.
Ta aí, minha meta pros próximos 50 anos.
Ser uma velhinha leve.
Que venham os 40!