segunda-feira, março 05, 2012

Dia da Condessa

Nestes últimos dias eu ando com o coração um pouco apertado... Apertado de preocupação mesmo, de tristeza e saudades...Fuçando um álbum de fotos, encontrei uma foto antiiiiga, 3x4 de uma professora minha. Uma professora, não. "A" professora. "A" professora em que me inspirei para me tornar, também, professora. A que me inspira ainda hoje. A minha referência. Tanto que, adolescente, guardei uma foto dela... Doido, não?...

Lembrei-me de que ouvi que ela havia tirado uma licença de saúde. Sabe como é, o boato que não é informação mais atrapalha que ajuda. Liguei então no colégio, e descobri que realmente o estado de saúde dela é delicado. Precisei parar por um segundo pra pensar nela. Não da maneira em que sempre penso, como a bela professora de sorriso doce que me ensinou português na 8a série, mas como a linda mulher que agora está passando por uma batalha... E, como preciso escrever pra pensar melhor, aqui estou.

Pra começo de conversa, ela é condessa... Ela sempre me impressionou pelo porte, pelo nome, pela atitude. É condessa mas tem nome de Rainha. Eu, na inocência dos meus 14 anos me abismava em ver que uma mulher tão elegante fosse professora. Sim, eu como vários outros adolescentes via o docente como um velho barrigudo que não teve perspectiva outra na vida. Ela não... Era advogada, estrangeira, linda.... Ela falava e movia as mãos com tanta delicadeza que eu me lembro até hoje de um anel de dedinho que usava, prata com uma pedra preta. Ele dançava em frente aos meus olhos e eu me sentia hpnotizada por ele. Por ela... Mais tarde comprei um anel igual. Usei por anos, talvez buscando matar dela a saudade que uma escola nova me deixou.

Nunca deixei de visitá-la. Minha identificação tinha um motivo, ela também se via em mim. Cada passo que dei mostrei a ela. Ela viu meus poemas. Ela soube quando fiz Letras. Ela me atendeu quando, já colega de trabalho, tinha dúvidas. E mesmo depois de adulta, a cada vez que ligava pra ela, meu coração disparava de ansiedade, e desligava com um nó na garganta. Tipo, ídolo mesmo.

Um dos dias mais felizes da minha vida foi quando, em uma visita na própria escola, ela me disse que sempre quis que eu a substituísse. Ela via em mim sua sucessora... "Pena que você se mudou pra longe, Tati Argeiro."
Nunca esqueci esse elogio. Ela se via em mim? Ela??? Em mim??? Mas ela é o máximo!!!

Ela me ensinou demais. Lembro, sim da letra arredondada dela na lousa. Mas isso não aprendi...
Aprendi com a Condessa que um professor pode mudar a vida de um aluno. Não estou sugerindo que eu cheguei aos pés dela, porque sei que estou longe disso. Mas sei, através de minha relação com ela, que tudo que faço tem força. Aprendi que o que dizemos aos alunos pode ser inesquecível. E que isso é bom demais, mas perigoso demais também. A Condessa nunca usou uma palavra atravessada conosco. Fazia tudo de cima de um salto que só um sobrenome basco consegue ter. Chique. Fina. Humana...

Eu sou a professora que sou por causa dela. Por causa daquele anel que me envolvia em mágica numa sala de aula.

Sem notícias, só posso dar uma choradinha básica enquanto escrevo (mas sem ser choro feio, que não combinaria com ela...) e mandar todas as minhas energias positivas pra que ela se recupere logo. Eu sei que vai ficar boa. E que logo vou poder ligar de novo, pra simplesmente ouvir aquele alô doce e aveludado, falando, surpresa
"Tati Argeeeeiro, que delííícia falar com você!"

Condessa, fica boa logo. Eu já estou com saudades....

Com muito amor

18 comentários:

Karina Matsushita disse...

Lindo Tati!! A Profa Carmen tb é uma referência para mim, de mulher linda, feliz, forte, inteligente, delicada... Digna de uma linda Condessa... Sua letra da lousa era maravilhosa!! Vamos enviar muitas boas energias! Beijo amiga!

Carol Contreras disse...

Tati, adorei! Sério! Acho muito interessante e única essa relação professor-aluno, principalmente quando ela se prolonga para fora da escola.
Só uma coisa: um dia você vai me dar a 'foto' 3X4?

Tati disse...

Não me faça chorar.... Se a Carmen te conhecesse, ia se ver em você também, assim como eu me vejo em você. É uma pena que você vai fazer Engenharia. Se fizesse Letras, seria minha sucessora...

E sobre a foto... A Carmen é uma condessa, ela sai divina até em foto 3x4... Te dou uma maior, kkkkkk
beijos

Tati disse...

Matsu, você acredita que eu me lembro dela brincando com aquele ditado que fizemos em seu nome, lembra??? "É culpa da Matsu!!!"
kkkkkkk

Daniel Lutfi disse...

Parabéns pelo lindo texto Tati. De arrepiar... E a Carmem faz por merecer cada linha.
Ela vai vencer essa e nós vamos comemorar juntos.
Assim como da última vez em que estive com ela, no clube espanhol celebrando o título da nossa España campeã da Copa 2010 !

Carol Contreras disse...

Se eu fizesse Letras eu não seria uma sucessora à sua altura...
Espero que um dia eu chegue pelo menos perto do que você é, pois eu sempre me senti maravilhada com o seu conhecimento e senso crítico.
Duvido que você não saia bem em foto 3X4, mas ok.

Tati disse...

Dani, quando ela se recuperar, a gente organiza uma comemoração à altura dela!!!!! O difícil vai ser caber tanta gente que a quer bem... Bj

Tati disse...

Não quero que Chegue perto do que sou! Quero que passe!!!!!! E sei que vai, you rock.... Bjs

Camila C. Zanatta Alexandre disse...

Parabéns!!! Seu texto esta maravilhoso. Não conheço sua professora, mas conheço vc e se sua referencia foi ela. Não tenho não o que falar.
Saiba que te admiro muito, vc e um exemplo a seguir.
Beijos e estou torcendo para recuperação da professora Condessa!

MH disse...

Lindo, Tati!

Eu tive alguns professores que me marcaram. Mas nenhum nobre! Rs...
Mas deu uma certa nostalgia!

Que a condessa se recupere logo!

Ana Luísa disse...

Puxa, tem pessoas que deixam marcas enormes na nossa vida. Dessas que se tornam, realmente, nossos ídolos! Que nos enfeitiçam! Quando eu era criança tinha minhas professoras amadas. No colegial tive uma professora grande amiga. Foi na aula de inglês, chata que só ela, que conheci minha primeira professora ídola mesmo. Ela fazia uma turma de uns 15 adolescentes irem FELIZES pra aula de inglês, em plena segunda-quarta de tarde. E ninguém faltava, porque a gente queria ficar perto dela, ter aula com ela, ganhar um abraço dela. Bem no semestre de aulas com ela descobri que ia me mudar pra Curitiba. Não perderia aulas com ela, pois seria só no fim do semestre, mas mesmo assim, chorei na sala, e no último dia de aula ela me abraçou bem forte, com lágrimas nos olhos também, dizendo que eu era uma pessoa especial, que ela tinha muito orgulho de mim, e que eu faria muita falta. E eu chorei mais ainda pensando: Como assim, especial, eu?? Olha só quem tá falando!
Já em Curitiba, no curso de teatro, conheci mais uma grande ídola. Eu estava em uma turma, consegui um estágio, tive que mudar de horário, e enfim, cheguei arrasada no horário novo, sofrendo por ter deixado a turma antiga, as aulas já tinham começado há 1 mês, e eu não conhecia ninguém da turma nova, e estava em pânico. Ela me abraçou 10 vezes no primeiro dia, e fez questão de dizer que eu era super bem vinda. O semestre foi passando e eu fui ficando encantada, cada dia mais! Daquelas ídolas MESMO, que vem falar comigo eu eu tremo! Eu quase não conversava com ela, porque achava ela tão TÃO, que não tinha coragem! Foi um semestre de aula incrível, e no semestre seguinte, passei sentindo saudades, e correndo pra dar aquele abraço apertado sempre que encontrava ela nos corredores da escola, haha. Nesse semestre, um dia, ela veio falar comigo no chat do facebook, eu fiquei feliz da vida, e desde então a gente bate altos papos, praticamente todo dia, e ela disse que eu era uma grande amiga dela, e que sentia um carinho enorme por mim. E eu, de novo: O que? Eu? Olha só pra você!
Hahaha.
Professoras podem mesmo ser mágicas! E eu imagino que vários alunos seus devem se apaixonar por você! Porque você sabe o que é isso!
(Desculpa pelo comentário gigante, mas senti tanto amor nesse teu post, me reconheci tanto, que quis falar!)

Tati disse...

Obrigada, Ca, e eu sinto orgulho de fazer parte de um grupo tão preocupado em educação como o nosso!!! Bj

Tati disse...

MH, eles foram nobres de outras maneiras, rsrsrs
bj

Ana, quando a gente escreve o faz mesmo para que outras pessoas se identifiquem... Seu comentário dava um post, é uma delícia ver que esse sentimento de amor modifica a vida de tanta gente, em tantos lugares e jeitos diferentes!
Um beijo grande
Tati
PS: Adorei o "ela era tão TÃO!".... Nada expressa melhor, né?

Anônimo disse...

Lindo, chorei muito, Tati.. não tive aula com ela mas pra mim ela sempre foi uma versão adulta de vc.. até fisicamente sao parecidas.. Linda! Que ela fique boa logo!
Caia

Pilar Alava disse...

Oi Tati!
Que lindo texto. Parabéns!
Quando vi o post no face da Caia, já sabia de quem se tratava.
A Mentxu (como nós da colônia basca a chamamos) é sem dúvida nenhuma uma Condessa!
As vezes me pergunto porque algumas pessoas precisam passar por certas angústias, dúvidas, inseguranças??
Mas eu concordo com vc! Ela sairá dessa! É guerreira e basca e tem muita gente torcendo por ela!!

Um super beijo!
Pilar

Paula Gava disse...

Lindo Tati!
Vc já havia me contado pessoalmente, mas perceber e sentir sua emoção em falar de sua professora realmente é tocante...
Infelizmente não a conheço, mas conheço um "pocadinho" de ti, "pocadinho" esse que a cada dia me encanta mais e mais...
Agradeço por poder compartilhar de pequenos e maravilhosos momentos em sua companhia...
Ficaremos aqui enviando todas as vibrações positivas para a melhora da Condessa...
bjão

Cláudia disse...

Quando a Bela estava na oitava série do Pio XII, fui a mãe representante da classe dela. No Field Day, aquela coisa de desfile etc e eu tinha recém-operado o apêndice, estava ainda com pontos, meio esquisita porque tinha tomado anestesia geral e anestesia deixa a gente meio mais ou menos durante um tempo né?
Aí, todo mundo no palco, professores, mãe representantes etc, e toca o Hino Nacional. O Hino Nacional sempre me emociona, mas dessa vez eu caí num choro incontrolável de pura emoção e cantei o Hino soluçando.
Quando acabou, a Carmen me deu um abraço apertado, compriiiido, me deu um beijo e disse que agora ela entendia porque a Isabela era como era.
A Carmen foi a professora cujo nome eu mais ouvi aqui dentro de casa. Ela sabia exatamente como era cada um dos alunos e como tirar o melhor deles. Uma professora como poucas, e só alguém assim para inspirar profundamente os demais.

Tchuls disse...

Chorei também...
E no serviço...