Sempre perto das férias ouço a mesma pergunta: Me indica um livro pra eu ler nas férias?
Essa pergunta vem tanto de alguns alunos (raridade, must say...), quanto de mães de alunos e de algumas ex alunas fiéis que felizmente continuam amigas!
Lá no portfolio, eu pus uma barra lateral com meus livros prediletos para ajudar quem tiver vontade de ler algo e não tiver ideias. Mas confesso que acho bem difícil dar dicas de livros... O gosto pela leitura varia tanto, que é raro acertar na mosca... Eu, por exemplo, agora estou completamente apaixonada por um livro da História de Florença na época do Renascimento.... Não é ficção, mas nenhum outro me leva tão profundamente ao meu período favorito.
Não só o gosto do cliente dificulta o processo de dica... A faixa etária conta, e bagagem cultural, as experiências de cada um, tudo isso pesa na escolha de um livro. "A Insustentável leveza do ser", por exemplo, virou meu xodó depois que eu fui pra Praga.... A partir dele devoro Kundera, mas o pontapé inicial foi uma experiência pessoal minha...
Conheci Amós Oz por meio de uma professora (Berta Waldman, maravilhosa) de literatura hebraica que fiz na faculdade... (PS, foi dela um dos elogios mais bizarramente adorados que recebi: "Você vai se casar???? Não acredito, você não tem jeito nenhum de menina casadoira!!!" Me senti pertecente a um clã de mulheres academicamente independentes, ainda que afetivamente mal resolvidas...) Ela me apresentou o Mestre isaraelense e até hoje leio cada linha que ele publica...
Assim, vou tentar neste post falar um pouco para os perfis que me pedem as dicas, e quero muito receber os feedbacks de quem as aceitou, ok?
Alunas e ex alunos que querem algo para as férias...
Penso em algo leve, porém estético de se ler... Quem quiser, procure o livro e leia a sinopse, para sentir o clima do livro.
"A Sombra do Vento", do Carlos Ruíz Zafón.
"O Morro dos Ventos Uivantes", Emily Bronte
"A catedral do mar", Ildefonso Falcones de Sierra
"Criança 44", Tom Rob Smith
Para os que querem algo mais adulto, desafiador, aqui vão os meus favoritos:
"É isto um homem?", Primo Levi. Um livro forte, sobre o dia a dia em um campo de conccentração.
"Meu Michel", do Amós Oz, que nos leva para uma cultura que não conhecemos, o dia a dia do israelense,
"A insustentável leveza do ser", Milan Kundera. Lindo livro de amor nos tempos da primavera de Praga...
"A geração da Utopia", Pepetela. Autor angolano bastante influenciado pela escrita brasileira fala sobre a busca da identidade do povo angolano em meio à revolução de independência de Portugal... Lindo demais...
"As Meninas", Lygia Fagundes Telles. Três amigas estudantes universitárias dos anos 70, super diferentes e cada uma com seus obstáculos nos mostram seus universos em meio ao Brasil ditatorial. Sem falar nada de ditadura...
"Madame Bovary", Gustave Flaubert. Primeiro romance realista do século XIX conta o drama de Emma, uma típica madame angustiada pela rotina fútil que de repente, conhece..... ah, não vou dar detalhes, né?
"Incidente em Antares", Érico Veríssimo. Lembram-se da minissérie da Globo? O livro é mil vezes melhor.
Agora quero falar de dois escritores em particular, que são os meus favoritos. Li tudo deles e me seguro para não reler todos, pois assim não leria mais nada. Se você tem um bom nível de leitura e gosta de desafios, esses são os que mudaram minha vida:
Dostoiévski.... O clássico russo não perde atualidade. E por incrível que pareça, os livros grossos dele são os melhores. Comece por "Crime e Castigo". Se te envolver, se prepare para comprar todos, pois é viciante a visão que ele nos dá do ser humano.
Gabriel Garcia Marques. Autor do chamado realismo maravilhoso, ou realismo mágico da América Latina, descreve nossas idiossincrasias sulamericanas da maneira que mais nos descreve mesmo: magicamente.
"Cem Anos de Solidão" é a saga de uma família da fictícia Macondo, na Colômbia, escrita com tamanha beleza e elementos fantásticos que nos faz sair da realidade. Dele pulamos para toda obra dele, sensível e criativa.
E para aqueles que gostam realmente de desafios, meu predileto da nossa literatura: "Grande Sertão Veredas." Ao lado de Machado, é nosso grande escritor. Minha história com esse livro é engraçada.
Durante a faculdade de Letras, me sentia meio inferior aos outros, que viviam discutindo o livro, com ele embaixo do braço pra cima e pra baixo, "uhuuu, adooooro Grande Sertão..." Chegava a mentir, dizendo que "uhuuuu, também adoooro Grande Sertão", mas não conseguia sair da primeira página. "Não é possível, todo mundo AMA esse livro e eu não entendo patavina dele. Estou na faculdade errada, acho que vou desistir e fazer contabilidade..."
Anos depois de formada, resolvi dar uma 4a chance a ele. Quarta chance MESMO... Era a quarta vez que eu tentava. Estava fazendo terapia, e passava um tempo na ante sala esperando. Levei Rosa... Foi difícil sim, mas de repente, tive um clique. Comecei a ler como se a voz de Riobaldo estivesse na minha cabeça. O sotaque dele literalmente me abriu as portas do livro, e tive a felicidade de conhecer essa obra maravilhosa.
Bom, falar de livro é algo que me move, mas vou ficar por aqui. Meu livro sobre Florença me espera....
Inté