sábado, fevereiro 25, 2012

A mãe que grita

Este não é exatamente um blog de maternidade, mas sendo o blog de uma mãe, fica aí aberta a possibilidade do tema.

Acredito que seja absolutamente desnecessária toda a filosofia de sala de espera de pediatria que atesta o quanto uma mãe sofre em meio a toda a felicidade que é ter filhos. Todos sabem. Sabem também que finda uma preocupação, outra toma seu lugar, até o dia em que sua filha (ou nora) está aberta na sala de parto, e você suspira pensando:

"Ufa, finalmente eles estão prontos, eu vou curtir minha terceira idade em uma sala de Faculdade de História na Toscana (oops, sonho meu, desculpem...) sem me preocupar com nada!!!"

E então você vê a carinha do seu netinho e percebe que a preocupação não acabou, simplesmente duplicou...

Ou seja: o ciclo é infinito.

Você tem preocupações de todo tamanho: se se alimenta bem, se tem mosquito no quarto, se vai bem na escola... Umas mães se descabelam ao ver que o filho se machucou, e outras que ele não faz amigos como ela acha que ele deveria... Somos todas descabeladas, aceite o fato, ou não.

Mas o que me deixa realmente de coração pulando, é ver o caminho que se apresenta, saber que já o vi antes e me lembrar exatamente do sofrimento que tal percurso causou.

Eu sempre fui uma pessoa altamente extrovertida, do tipo que tinha habilidades claras e louvadas constantemente. Cheia de defeitos, lógico, mas nesse ponto, boa no que decidia fazer.
Minha irmã amada, no entanto, de alma mais instrospectiva (siiim, para que conhece a Caia fica difícil acreditar que ela era tímida, pois hoje é a alma de toda a festa...) demorou para se entender.  A sensibilidade é geralmente ofuscada pelo grito...

E eu gritava, e muito...

Em um ponto do caminho, ela quis fazer aula de violão. Em um ponto não, eu tinha já 12 anos. Ela 10!! Longos 10 anos até começarmos a ver o que borbulhava dentro dela.

"Também quero, lógico!!! Vou amar fazer violão!!"

Foi ali que minha mãe, que HOJE entendo que vinha sofrendo para ajudar a caçula a se conhecer, acertou: me chamou de canto e disse:

"Vamos deixar o violão pra Caia? Você já faz outras coisas, vamos deixar que ela descubra algo em que ela brilhe?"

Alguns anos depois, lá estava ela, linda, soberana, cantando em uma banda de forró. Completamente achada...  Mas o caminho foi duro... Pra ela, e hoje vejo que talvez tão duro quanto, pra minha mãe...

Como dói ver um filho que sofre por algo que ele próprio desconhece. Vejo minha irmã no Romeo. Vejo meu marido (que passou por algo parecido) no Romeo.

Tenho um filho lindo e sensível, que ainda não sabe que é assim, e que acha que o mundo louva apenas a graça e brilho externo da irmã. E eu um pouco perdida, sem saber como ajudá-lo. Como minha mãe, há tantos anos. Com medo de ele borbulhar demais, e não achar o foco da dor.

Mas enfim... Como escrever faz parte de meu processo de compreensão do mundo, aqui estou... Se não fosse o blog, este texto começaria com "Meu querido Diário", e apenas eu o conheceria. Ficaria borbulhando dentro de páginas fechadas, sem ser gritado...

Aqui ele fica ao vento, pra quem clicar e de alguma maneira nele se achar.

Porque,  como já disse acima, eu grito... E grito muito.....

Inté!

quinta-feira, fevereiro 02, 2012

E a Jeca nasceu...


Falar da Jeca é sempre muito gostoso, pois já vão aí quase 6 anos de blog, e mesmo que há alguns eu não dê conta de atualizar, não há coragem nenhuma de exterminá-lo.
A Jeca nasceu de uma extensão terapêutica...
Pra entender a Jeca, é importante conhecer um pouco da Tatiana... Pra quem não sabe, eu fui comissária de bordo por algum tempo, lá no passado, e vivia no eixo São Paulo, Nova York, Los Angeles e Tókio. Eu trabalhava em uma companhia japonesa, e vivia de maneira bem cosmopolita.
Meus anseios acadêmicos falaram mais alto, e em 2002 eu parei de voar e voltei a dar aulas.
Ainda na metrópole São Paulo, minha casa desde que nasci, conheci o maridão, que estava de mala prontas para assumir um emprego no interior. Quase roça, diga-se de passagem... Pelo menos era assim, pra mim, quando me mudei pra cá de mala e cuia, em 2005.
Agora, coloque-se no meu lugar: Recém casada, deixei pra trás o agito de SP, a casa da mãe, o emprego, os amigos e até de carro troquei. Fiquei totalmente sem referência nenhuma.
Meu primeiro ano aqui foi terrível. Sem conhecer vivalma na cidade, sem trabalho, e em uma cidade pequena, com pouca estrutura e hábitos um tanto diferentes dos meus. Lembro que em um dia de faxina (era o que me restava) eu vi a vassoura na lavanderia e caí em prantos. Corri pra São Paulo conversar com o professor que no ano seguinte se tornaria meu orientador no mestrado.

"Preciso de movimento. Uma vassoura me fez chorar, eu sou cosmopolita demais pra viver assim!!"

Resultado, voltei pra terapia, comecei meu mestrado e em 2006 comecei a dar aulas na escola onde estou até hoje.

Nesse ano de aclimatação, comecei a escrever sobre minha visão da cidade. Lá no começo da Jeca, o tema era único, a vida de uma pessoa URBANA em uma cidade do interior. Daí, Jeca Urbana.

O maravilhoso do blog, no entanto, foi que (além de conhecer pessoas especiais por aqui) pude, ao longo do tempo, perceber que fui invertendo a ordem do título... A jequice vem tomando conta, e cada vez mais me torno um ser híbrido, que para os paulistanos é caipira e para os daqui, urbana demais...

Inté!