sexta-feira, abril 18, 2008

Barreira do Inferno Episódio 4

Aquela semana havia sido corrida na agência. Contas novas entraram e Cláudia fora requisitada para a equipe de todas. Não teve tempo nem de se encontrar com Álvaro, muito menos de pensar na noite que teve com o namorado. Quando parava para dormir, despencava ao travesseiro.

Na quinta feira foi encontrar-se com o namorado, em sua boate. Achou-o mais carinhoso que o normal, o que atribuiu a uma gratidão masculina pelo menage. Ainda assim, sentiu-se incomodada em sua presença, como se ele fosse o culpado por algo estranho nela. Da última vez que falaram disso, ela fingiu ter adorado, não tanto para agradá-lo mas para livrar-se do assunto. Esperava que ele não tocasse mais nisso, e levou a conversa para vários tópicos que o distraíssem do ocorrido.

No meio da noite recebeu uma ligação de Ana, que estava sozinha em casa e queria chamá-la para jantar.

-Estou com o Álvaro, vem pra cá.

Desligou e notou que o namorado escutava com curiosidade.

-Quem vem pra cá?

-A Ana, ela está se sentindo sozinha.

-Você podia ter me perguntado antes.

-Ué, qual o problema? Não chamei ela pra ir a sua casa, mas a uma boate.

Cláudia notou que Álvaro mudou de humor quando mencionou Ana, e não entendeu porque.
Afinal, Ana os havia apresentado e era sua grande amiga.

Logo que ela chegou, Álvaro sumiu. Disse que precisava resolver uns problemas com a equipe e não ficou com elas. Só reaparaceu no final, para levar Claúdia para sua casa. Cumprimentou Ana com desdém e ela sussurrou algo em seu ouvido, que Cláudia não pôde escutar. Conhecendo Ana, ela deveria ter percebido a frieza de Álvaro e deve ter feito algum comentário sarcástico sobre seu humor. Cláudia riu da amiga e foi embora.

No dia seguinte almoçaram juntas, como de costume, pelo menos uma vez por semana.

-E o lance do menage, você ainda pensa nisso?

-Não, já passou, só não quero que Álvaro venha com essas idéias de novo.

-Pudica... Que nada, eu se fosse você é que pedia repeteco, quem sabe ele se assusta com você e desiste?...

-Assusta? Você não conhece o Álvaro, ele topa tudo! Tenho até medo de dar corda.

-Ah, então escancara, sugere outro menage, mas dessa vez do SEU jeito. Chama um go-go boy e faz você, com dois homens.

-ANA, credo, eu lá tenho cara de transar com go-go boy??? A maioria é gay, eu ia ficar chupando o dedo... o meu!

As duas riram, e Ana lembrou de Jonas, seu admirador da agência.

-Chama ele!

-Ana, o Álvaro é maluco, mas acho que tem ali um lado machista bem forte, ele jamais toparia isso.

-Ué, pera lá!!! Você está querendo dizer que VOCÊ toparia???

-Ah, com o Jonas até topava... Só pra ver o Álvaro lidando com a situação. Ia ser no mínimo engraçado.

Ana levantou-se para ir ao banheiro e voltou ao celular. Deteve-se um pouco antes da mesa, de costas para Cláudia, e logo sentou-se para comer a sobremesa. Dividiram um brownie com sorvete e voltaram para o trabalho.
Cláudia teve tempo ainda de passar em uma loja para trocar a blusa que ganhara de aniversário e que tinha estampas demais para seu gosto. Entrando na loja, sentiu o estômago revirar na barriga. A loira estava em sua frente, experimentando um lindíssimo vestido verde, que moldava seu corpo perfeitamente. Um corpo conhecido. Cláudia teve vontade de se virar e fugir, mas petrificada, não se moveu. A loira a avistou, e muito simpática, acostumada com uma intimidade forçada, aproximou-se:

-Não lembro o seu nome, mas lembro do do Álvaro...
-Cláudia, disse depois de pigarrear o que a travava a garganta. Hum, o seu? Eu também não me lembro.
-Rebeca. O que você acha deste vestido?... Muito óbvio?
-Óbvio? Não, acho que não, ficou bem em você.

Rebeca aolhou de soslaio, conhecedora da dinâmica feminina dos clientes.

-Você ficou sem graça com tudo aquilo, né? Geralmente as mulheres ficam mesmo, principalmente quando fazem pelo cara. Não esquenta não, isso acontece com quase todas. A não ser as que já têm experiência com mulheres antes, essas até curtem mais que os maridos.

Cláudia ficou muda, e provavelmente roxa também. Nunca imaginou que ela tocaria nesse assunto, acreditava ser algo como segredo de confessionário, ou sigilo de psicólogo. Rebeca falava com tanta naturalidade, que nem a olhava, checava se sua bunda ficava redonda o suficiente no vestido. De repente, a loira virou-se para Cláudia e disse:

-Sabe, na minha profissão vemos tanta coisa, que muitas meninas acabam saindo só com meninas, tamanha podridão de muitos homens por aí. Você não quer tomar um suco comigo, um dia desses?

Cláudia ainda sob o efeito traumático do encontro não sabia como reagir, e concordou, um dia desses...
Saiu da loja sem trocar a blusa, e voltou para a agência, para sua conta de produtos para gatos, sem a menor idéia para criação.
Respirou aliviada quando se lembrou que não havia trocado telefones com seu novo flerte, mas logo o alívio passou: ela sabia quem era Álvaro, algo que temia desde o primeiro momento...


continua semana que vem, aqui.

quinta-feira, abril 17, 2008

Últimas da roça

-Ah, você ainda estava aí?

-Estava, depois da consulta da Dra. ele mamou, então fiquei num consultório vazio. São 18hs, né, todos foram embora... Só sobrou eu?

(telefone berra ao fundo)

-Não, a Dra. ainda está atendendo um bebezinho.

(telefone berra e recepcionista se levanta para abrir a porta para mãe)

-Ah, agente não atende telefone depois das 18...

-Entendo, acabou o expediente, né?

-Não, é por que fica perigoso... Essa rua tem muito (!!!!) ladrão, e é perigoso atender o telefone, já pensou, você atende e ele fala "tô aqui!!!"

???

-Tô aqui, abre a porta que eu vou te assaltar???
-Ai, seu ladrão...
-Abre, ninguém mandou você atender o telefone, abre!

Assalto a fio armado?
Só na roça, mesmo...

terça-feira, abril 08, 2008

Barreira do Inferno Episódio 2

Episódio 1, aqui...

Sentada em sua mesa, Claudia não conseguia se concentrar nos papéis a sua frente. Ouvia seu colega do departamento criativo falr sobre seu final de semana mas não absorvia nada. Apenas sorria educadamente e balançava a cabeça.
-O que houve?, perguntou ele- você parece aérea...
-Eu? Não, estava com a cabeça longe.
-Esse seu namorado novo está te fazendo mal, saindo tanto à noite assim você vai acabar ficando doente, ou no mínimo sem emprego.
Cláudia sabia que por trás desse comentário havia uma ponta de ciúmes de Jonas. Ele havia se declarado a ela na festa de amigo secreto do final de ano, e desde então a lembrava de seus sentimentos. Era um rapaz bacana, de boa índole, e desde que conhecera Álvaro com sua noção de fidelidade um tanto retorcida, Cláudia se perguntava se não se sentiria mais segura com o colega de trabalho.
-Pelo menos confiaria mais nele- pensava.

Naquela manhã não foi diferente. Ao avistar o colega sentiu-se ainda mais estranha do que se sentira ao beijar a loira na noite anterior. Sabia que ele jamais pediria a ela nada parecido, e sentiu o estômago se revirar, misto de arrependimento e nojo.
Ainda assim, não sabia por que as cenas vividas não saíam de sua mente. Via a loira ao seu lado, e parece que ainda sentia seu toque macio. O rosto de Álvaro, e sua expressão de prazer também a perturbavam.

Às nova e meia seu celular tocou. Era Álvaro.
-Estranho, ele nunca está acordado a essa hora.
Ficou olhando o visor com sua foto enquanto ele esperava do outro lado da linha. Ainda com o estômago latejando, não atendeu. E assim passou o dia de trabalho, evitando a todo custo atender ao namorado.

Em casa, Álvaro não coneguia dormir. Estava em êxtase e queria agradecer a namorada com uma ligação romântica, um simples alô pela manhã, sua madrugada de sono... Já estivera antes com duas mulheres. Em Portugal, chegou a transar com três estudantes de artes cênicas ao mesmo tempo. Uma loucura dos tempos de faculdade, regada a álcool e uma dose de doce. Muito doce...
Desta vez tinha sido diferente, pois uma delas tinha uma parte de seu coração. Pequena, já que era mais fácil a ele comprometer o fígado que o coração, mas nutria algum sentimento por ela. Cláudia era uma menina linda e parecia inteligente, coisa a que Álvaro não estava acostumado.
Estranhou o fato de Cláudia não atendê-lo. Como o celular tocava, ele sabia que ela veria suas ligações, mas não retornou nenhuma.
-Será que ela ficou dormindo em casa, não agüentou a noitada? Pode ser, não vou me preocupar.

Ás três horas Álvaro saiu para a boate. Apesar de ser segunda feira, tinha reunião com um fornecedor e foi despreocupado, ainda embebido das sensações do menage.

Cláudia continuava preocupada com a possibilidade da loira reconhecer Álvaro, e tentar se aproveitar da situação. Conhecia a fama do namorado, mulherengo convicto, mas nunca se sabe até onde essas moças podem ir por dinheiro e holofotes. Na hora do almoço, ligou para Ana, sua amiga de infância, e pediu para se encontrarem.
Marcaram um happy hour, e às seis horas se encontraram em um bar à beira da praia.

-O que foi? Você parecia soturna ao telefone...
-Soturna? Que palavra é essa, de onde você tirou que eu estava soturna?
-Morreu alguém?
-Ai, Ana, que horror!!! Lógico que não, só queria te ver e conversar um pouco...
-Então desembucha, que tem coisa aí tem! manda...
Cláudia suspirou e contou tudo à amiga. Esperava dela uma palavra de horror, de desaprovação, e depois, quem sabe, de consolo. Surpreendeu-se com sua reação:
-Adooooro, menage!!! Menina, porque essa culpa toda?? Hoje é até moda, você devia ter mandado ELE embora, não ela... Que boba...
-Ana! Não é só isso, vai que ela reconhece ele, e
-E o quê? O quê, Clau? Chantageia? "Olha, moço se você não me der dinheiro eu vou pro jornal e falo pro mundo que, além de eu ser puta você é um garanhão que faz menage? Vou acabar com a minha reputação e te deixar bem na fita?" Ah, vai amiga, ele só ia se dar bem...
Ana era muito vivaz e acabou tranquilizando Cláudia, que riu de suas bobagens e até se esqueceu um pouco da noitada.

Álvaro chegou cedo à boate. Destrancou a porta de entrada e sem ver onde pisava, deixou uma marca de seu sapato em um envelope branco que havia sido deixado no chão. Olhando para uma rachadura no gesso da pista, não o notou.
Teve sua longa e cansativa reunião com o fornecedor de bebidas, que sempre tentava aplicar a famosa Lei de Gérson. Tonto com as negociações, voltou acabado para casa, e nesta noite, dormiu como há muito tempo não dormia. E mal sabia ele que não voltaria a dormir assim tão cedo...

E a bola volta ao Capitão-Mor... Vai que é sua....

sexta-feira, abril 04, 2008

Surpresa...

Estou absolutamente surpresa com o contador de visitas do blog... Mesmo nesse período de férias, vocês, meus caros leitores, insistiram e vieram em grande número, diariamente, conferir se eu não tinha escrito... E alguns ainda voltaram no mesmo dia...
Isso é que é incentivo a escrever, obrigada............
Inté!!

Carta ao filho

Promessa é dívida, e pra ser bem sincera, já estava morrendo de saudades de voltar a escrever...
Não tem sido nada fácil, e sentar com tempo para o blog (tendo que acabar minha dissertação também) será um grande desafio, mas vou encarar!
Para reinaugurar a Jeca, pensei em postar a carta que escrevi para ele, naqueles caderninhos de bebê...
Não se esqueçam, semana que vem tem episódio parceria com Capitão-mor!! Venham conferir...

"Romeo,
Foi numa linda tarde de sol que você arrebatou minha vida. Chegou aos berros e encheu meus olhos e de seu pai de lágrimas. Não existem palavras que possam agradecer o suficiente a felicidade que você nos proporcionou naquele dia. À noite, quando todos já haviam nos deixado a sós, seu pai resumiu, com você pequenino co colo "é uma felicidade absurda, parece que não falta mais nada..."
E é mesmo.
Ainda sob o efeito da correria desse começo, das noites mal dormidas e das preocupações que vêm junto com a maternidade, quero que você saiba que todo pai e mãe têm expectativas quando um filho nasce. Comigo não é diferente. Eu espero coisas de você.
Ou melhor, para você...

Espero que você seja feliz. Que escolha o caminho que seu coração mandar, e que de vez em quando deixe de ouvir a razão para dar voz ao coração. Nunca deixe de escutá-lo.

Espero que sua vida seja leve... Que você não se leve tão a sério e ria de si mesmo. Que você olhe seus obstáculos com perspectiva, sabendo que são excelentes momentos de aprendizagem...

Espero que você escolha sua profissão com paixão, sabendo que acordar com vontade de trabalhar vale mais que todo dinheiro do mundo. Só não passe fome, sua mãe morre do coração...

Espero que econtre sua Julieta, da maneira que sua opção quiser. Independente disso, que a respeite e a ame e que seja seu melhor amigo. Não sua metade, pois você é inteiro, único. Ela também deve ser inteira, única, para que vocês caminhem juntos. Use seu pai de exemplo, ele é muito bom nisso...

Espero que sua primeira vez seja por amor, na hora certa. E que por trás do prazer, você encontre a essência da alma. Pelo menos na maioria das vezes...

Espero que você seja um cidadão. Cidadão de verdade, que faz sua parte para um mundo melhor, nem que seja no seu micro universo. Recicle, use menos energia e vote conscientemente. Se puder fazer isso e ainda ajudar outros, melhor para você! Lembre-se de que sua liberdade termina onde a do outro começa, portanto, respeito, sempre!

Espero que você suspire muito, seja por um amor, seja por um tipo de arte, seja por uma causa. Suspire a cada encantamento, e não deixe nunca de se encantar. Seja um pouco Pequeno Príncipe, a vida fica mais bonita...

Espero que você se dê o prazer de contemplar as estrelas de vez em quando, e de ficar no escuro com quem ama, conversando e se entregando. E que você cultive seus amigos para que esteja sempre rodeado de alegria!

Espero que você viaje! Não artificialmente, que essa viagem não vale a pena. Mas pelo Brasil, pelo mundo. Não se contente com o seu umbigo, abra a cabeça e conheça o outro, você se surpeenderá.

Espero que você seja você. A medida que você cresce essa frase vai fazer mais e mais sentido, portanto não a esqueça. Seja você, independente do que eu ou o resto do mundo espera.

E espero que nunca, mas nunca mesmo você deixe de sonhar. Realizar sonhos é muito bom, mas tê-los é melhor ainda. Tenha sempre em mente que por mais que a cachoeira seja linda, o que vale é a jornada até ela.

Eu te amo imensamente.
Sua mãe."